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quarta-feira, 29 de março de 2023

ROUSSEAU E A PROFECIA: "O Espiritismo ressuscitará o Espiritualismo!"

 

Rousseau foi um filósofo, teórico político, escritor e compositor. Nascido em Genebra, suas ideias influenciaram várias áreas das ciências humanas. Conhecido por suas ideias sobre Estado, poder e soberania, é autor da célebre obra O Emílio ou Da Educação.

Por rejeitar a religião revelada, Rousseau foi bastante censurado, perseguido e retaliado. Todavia, foi um ferrenho defensor da moral, identificado como filósofo espiritualista, porquanto desconfiava, como se fosse um cristão rebelado, das interpretações eclesiásticas sobre os Evangelhos.

Teve como desafeto o famoso iluminista François-Marie Arouet, mais conhecido como M. de Voltaire. Aliás, em sua obra Confissões, Rousseau responderá a muitas acusações de Voltaire.

Importa salientar que no pensamento de Rousseau as instituições educativas tradicionais corrompem o ser humano e lhe tira a liberdade. Assim, para a criação do homem-novo e uma nova sociedade, seria preciso educar a criança de acordo com a natureza, desenvolvendo progressivamente seus sentidos e a razão com vistas à liberdade e a capacidade de julgar.

Interessante notar como o pensamento de Rousseau está presente na Doutrina Espírita, cuja teoria moral é a da autonomia e da liberdade. Portanto, não é sem sentido que Rousseau comparece, agora como Espírito, para trazer ensinamentos não menos dignos do seu magistério quando ainda envergava a personalidade humana.

Da obra O Livro dos Médiuns – 2ª Parte – Capítulo 31, Dissertações Espíritas, item III, destacamos suas belas palavras, às quais ousamos acompanhar de algumas perguntas que fizemos ao texto durante nossa meditação sobre o seu conteúdo e o presente artigo:

1. O que é o Espiritismo?

"Penso que o Espiritismo é um estudo todo filosófico das causas secretas dos movimentos interiores da alma, até agora nada ou pouco definidos. Explica, mais do que desvenda, horizontes novos.

2. O que pensar do seu conteúdo, do ponto de vista da fé raciocinada? 

A reencarnação e as provas, sofridas antes de atingir o Espírito a meta suprema, não são revelações, porém uma confirmação importante. Tocam-me ao vivo as verdades que por esse meio são postas em foco. Digo intencionalmente — meio — porquanto, a meu ver, o Espiritismo é uma alavanca que afasta as barreiras da cegueira".

3. A humanidade já está realmente focada nas questões morais?

"Está toda por criar-se a preocupação das questões morais. Discute-se a política, que agita os interesses gerais; discutem-se os interesses particulares; o ataque ou a defesa das personalidades apaixonam; os sistemas têm seus partidários e seus detratores. Entretanto, as verdades morais, as que são o pão da alma, o pão de vida, ficam abandonadas sob o pó que os séculos hão acumulado".

4. O que pensar da Educação que é proporcionada na atualidade? 

"Aos olhos das multidões, todos os aperfeiçoamentos são úteis, exceto o da alma. Sua educação, sua elevação não passam de quimeras, próprias, quando muito, para ocupar os lazeres dos padres, dos poetas, das mulheres, quer como moda, quer como ensino".

5. O Espiritismo tem algum papel a desempenhar no que tange à Educação Moral da humanidade?

"Ressuscitando o espiritualismo, o espiritismo restituirá à sociedade o surto, que a uns dará a dignidade interior; a outros, a resignação; a todos, a necessidade de se elevarem para o Ente supremo, olvidado e desconhecido pelas suas ingratas criaturas - J. J. Rousseau".

Para aqueles que ainda insistem que o Espiritismo é uma religião ou, ainda, que é balela a questão do estudo da teoria moral de autonomia e liberdade, assim como as bases do Espiritualismo Racional, filosofia que, segundo Allan Kardec, o Espiritismo se filia por ser uma de suas fases (Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita - O Livro dos Espíritos), J. J. Rousseau responde com objetividade. Basta ter olhos de ver e ouvidos de ouvir ou, por decisão que respeitamos, ficar na ignorância negando o óbvio.

Uberaba-MG, 29/03/2023
Beto Ramos & Lauro Rodrigues

domingo, 12 de fevereiro de 2023

O SUPOSTO TRÍPLICE ASPECTO DO ESPIRITISMO É FALSO

É possível que você tenha ouvido falar que o espiritismo possui tríplice aspecto, qual seja: científico, filosófico e religioso.

A introdução desta ideia (porque há outras fontes que a mencionam) pode ser atribuída ao conteúdo da obra O Consolador, psicografia de Chico Xavier, ditada por Emmanuel (FEB, 1940), onde há remissão a um diálogo ocorrido em 31.10.1939, intitulado definição, cujas questões propostas são respondidas, aparentemente, em 08.03.1940.

Importa salientar que consta no referido texto que foi iniciado um estudo de 'temas doutrinários' realizado por meio de "perguntas nossas à entidade Emmanuel, a fim de ampliar-se a esfera dos nossos conhecimentos". Esse texto informa ainda que o estudo foi inaugurado com duas questões, as quais são precedidas de uma INFORMAÇÃO curiosa, a saber:

1. Afirma o autor da nota, que, SEGUNDO O GRUPO DE ESTUDOS DAQUELE CENTRO, o "espiritismo, na sua feição de Consolador prometido pelo Cristo", APRESENTA "três aspectos diferentes: científico, filosófico e religioso";

2. Em seguida à informação, o autor da nota diz que a dúvida capital para AQUELE GRUPO seria acerca de "qual desses aspectos é o maior"?

3. A segunda questão, refere-se ao DESEJO DO GRUPO de intensificar os conhecimentos, relativamente ao tríplice aspecto do Espiritismo (sic) e, se neste sentido, poderiam continuar perguntando a respeito.

É de se estranhar que no bojo da obra NÃO SE ENCONTRA nenhuma questão sobre o tema TRÍPLICE ASPECTO, além do fato capital de que este NUNCA FORA MENCIONADO POR KARDEC. Portanto, é o autor da nota (que não é assinada) quem AFIRMA que o espiritismo possui um tríplice aspecto.

Ora, um grupo de estudos deveria partir da premissa que pouco conhecem e questionar SE o espiritismo possui ou não tal aspecto, cuja ideia é fruto do pouco ou nada que compreenderam dessa ciência filosófica. Outro ponto crucial é perquirir sobre o fato de que o organizador do espiritismo não o apresentou dessa forma, como veremos no desenvolvimento do artigo.

Além disto, o 'porta-voz' do grupo, declarou que haveria o objetivo de ampliar-se a esfera de conhecimentos do grupo quanto a 'temas doutrinários'. Bem se vê que essa informação, por si só, já traz muita controvérsia. É que Allan Kardec apresenta o espiritismo como ciência filosófica (O que é o Espiritismo, preâmbulo), afirma que o seu trabalho foi sempre para apresentar o caráter moral da doutrina espírita (Viagem Espírita em 1862, primeiro discurso), assim como refuta peremptoriamente a ideia de 'religião espírita' no artigo onde responde ao Abade Chesnel (Revista Espírita, 1859).

controvérsia se dá na ausência de explicação pelo autor da nota (esclarecimento) o que o grupo entende por DOUTRINA. O fato é que a expressão doutrina refere-se a um conjunto coerente de ideias fundamentais a serem transmitidas, ensinadas; ideias básicas que compõem um sistema filosófico, político ou religioso. Nem é preciso dizer quem decide qual é o conteúdo de sua obra.

Mas, é importante esclarecer que Kardec trata da natureza do conteúdo do ensino dos Espíritos superiores. Com clareza solar enfatiza que o conteúdo de O Livro dos Espíritos é a Doutrina Espírita (como especialidade). E diz mais, ao contrário de política ou religião, o organizador do espiritismo esclarece que o conteúdo da obra filia-se ao Espiritualismo (como generalidade), razão porque traz o enunciado Filosofia Espiritualista (Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita, item I). Há alguma dúvida ainda? Se ainda restar, mostraremos o equívoco a seguir.

Sobre a entidade espiritual que o autor da nota diz ter consultado, sabemos que se trata de um Espírito que apresentou um alto nível de conhecimento no conteúdo da obra Pensamento e Vida, ditada ao mesmo médium. E, curiosamente, nas suas supostas respostas contidas na nota intitulada DEFINIÇÃO (O Consolador, FEB, 1940) o Espírito NÃO MENCIONA SEQUER UMA LINHA sobre o conteúdo da REVISTA ESPÍRITA DE DEZEMBRO DE 1868, onde Allan Kardec, o organizador do Espiritismo, DEMONSTROU em minúcias porque o espiritismo NÃO É uma religião, como se verá mais à frente.

Saliente-se que a obra O CONSOLADOR foi dividida em três partes, a saber: ciência, filosofia e religião. Quem se der ao trabalho de analisar a parte que se refere ao tema RELIGIÃO, observará que as perguntas feitas não possuem qualquer conteúdo relacionado com a teoria moral espírita, pois que, no limite, buscou-se interpretar textos contidos nas narrativas dos Evangelhos de João, Lucas, Marcos e Mateus, etc.

Note-se que o texto retro mencionado da obra O Consolador é datado, mas NÃO É ASSINADO nem pelo Espírito, nem pelo autor. Pela construção textual, parece se tratar de documento produzido por terceiros, ocasião em que se atribui a autoria das tais respostas ao Espírito Emmanuel.

Esse fato é sobremaneira importante! É que não se pode trabalhar com uma afirmação peremptória de que o Espírito tenha respondido ou não, validado ou não, o suposto tríplice aspecto, objeto de investigação desse trabalho.

Na prática verifica-se a seguinte situação ambígua:

a. A afirmação sobre o suposto tríplice aspecto do espiritismo parte da crença, sob palavra, em um autor que não assina o documento; Mais ou menos assim: "foi o outro que falou, mas eu ouvi e estou atestando";

b. Não há, além do texto em livro, qualquer informação sobre a existência de documento original que comprove a afirmação de que tais perguntas, de fato, foram encaminhadas à entidade espiritual declarada em seu conteúdo e, ainda, que a respectiva entidade as tenha respondido realmente;

c. O texto fonte menciona, tão somente, ao final: Pedro Leopoldo, 8 de março de 1940, SEM O NOME DO AUTOR da nota que teria ouvido/transcrito as respostas.  Nesse sentido, há defeito de autoria. Estamos diante de uma notícia apócrifa (não autêntica por falta de assinatura).

Informamos ainda que, na obra Pensamento e Vida (FEB, 1958), o Espírito Emmanuel, apresentando uma singela cartilha falada a respeito dos problemas do Espírito, utilizada nas escolas de regeneração, entre a morte e o renascimento, junto aos companheiros em trânsito para o berço (reencarnação)NÃO TRATA DO TEMA RELIGIÃO, limitando-se a trazer, nos capítulos 6 e 26, os temas Fé Oração, respectivamente.

Neste sentido, pode-se questionar se em uma obra que dialoga com a teoria moral espírita de autonomia e liberdade, caso o espiritismo possuísse um tríplice aspecto, não seriam apresentados aos reencarnantes informações sobre tal ideia?

Todavia Emmanuel trata de ciência e filosofia na obra Pensamento e Vida. Não é curioso?

É espantoso como outra questão importante passou ao largo desta controvérsia. É que os textos acima mencionados foram publicados, conforme informações extraídas das próprias obras, nos anos de 1940 (O Consolador) e 1958 (Pensamento e Vida), enquanto que, segundo o pesquisador e filósofo José Herculano Pires, na obra O Verbo e a Carne:

"Toda a coleção da Revista Espírita do tempo de Kardec indispensável ao estudo da doutrina, só foi publicada no Brasil, a revelia e contra a vontade da FEB, na década de 60, em tradução de Júlio Abreu Filho. O importante livrinho de Kardec O Espiritismo na sua mais simples expressão só apareceu em 1970". 

Destarte, fica comprovado que a maioria dos integrantes do grupo de estudos, senão todos, DESCONHECIAM todo o conteúdo das revistas espíritas (neste trabalho traremos o conteúdo de importantes publicações de Allan Kardec na Revista Espírita).

E, a sua impressão sobre o conteúdo da Doutrina Espírita é fruto da maneira equivocada como o Espiritismo foi divulgado no Brasil, principalmente após os anos de 1917 e seguintes, quando os precursores do Espiritismo no Brasil, que estudavam essa ciência filosófica como desenvolvida por Allan Kardec, já haviam sido "substituídos" por um grupo de religiosos dissidentes da igreja católica (ver obra AUTONOMIA - a história jamais contada do espiritismo).

Será que o a entidade espiritual mencionada na nota intitulada DEFINIÇÃO, não sabia da existência da resposta dada por Allan Kardec na Revista Espírita de dezembro de 1868, onde o organizador deixa claro que o espiritismo não é uma religião? O que dizer sobre a resposta de Kardec ao Abade Chesnel na Revista Espírita de Maio de 1859 sobre o mesmo assunto? E quanto ao conteúdo das demais Revistas Espíritas, que tratam de refutar, peremptoriamente, a suposta existência de um caráter religioso da Doutrina Espírita, bem como as demais obras até aqui citadas?

Se sabia, por quais motivos não as citou e apresentou suas refutações (ou concordância), como procedeu no caso da questão envolvendo o tema metades eternas quando usou uma nota ao final da obra para se explicar?

Aproveitamos para lembrar que a entidade Emmanuel, segundo relato de Francisco Xavier, o instruiu para ficar com Jesus e Kardec quando, em qualquer hipótese, ele apresentasse qualquer contradição com a Doutrina Espírita em suas dissertações. Observamos que no caso da obra O Consolador, nota-se que houve clara contradição em mais de uma vez (caso das metades eternas e o suposto tríplice aspecto do espiritismo).

Antes de prosseguir com as provas irrefutáveis de que o suposto tríplice aspecto do espiritismo é falso, pois o espiritismo não é uma religião, vamos trazer alguns conhecimentos importantes para a nossa pesquisa, cujo conteúdo poderá guiar melhor o pesquisador sério que se dedicar à temática do presente artigo.

Todo questionamento é importante para uma investigação, pois o objetivo do espiritismo é revelar a verdade, conforme aprendemos no capítulo 1 da obra A Gênese, Allan Kardec, 1868. Por isto mesmo é preciso nos entendermos quanto às palavras.

I. Por que o suposto tríplice aspecto do espiritismo é falso? Por se tratar de uma falácia. Vejamos, então, o significado:

FALÁCIA na FILOSOFIA de Aristóteles é qualquer enunciado ou raciocínio falso que, entretanto, simula a veracidade; trata-se de um sofisma (uma mentira com aparência de verdade).

Até que se prove peremptoriamente a autoria das respostas, o que o documento supõe é a simulação de uma verdade por meio de um sofisma, pois que apresenta um raciocínio falso quando tentamos aproximar o seu conteúdo dos postulados, princípios, teoria moral, ensinamento dos Espíritos superiores e os textos legados de Allan Kardec.

II. Por que o espiritismo é filosofia? Sobre a obra O Livro dos Espíritos, Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita, item I, Espiritismo e Espiritualismo, no último parágrafo, Allan Kardec esclarece qual é o seu conteúdo: 

"Como especialidade "O Livro dos Espíritos" contém a Doutrina Espírita; como generalidade liga-se ao Espiritualismo, do qual apresenta uma das fases. Essa a razão porque traz sobre o título as palavras: Filosofia Espiritualista".

III. O que é teodiceia?  Na Filosofia Espiritualista, própria do pensamento francês do século 19, vamos verificar a presença da matéria TEODICÉIA, que era estudada nos liceus e na universidade de Sorbonne, importando ao estudante do espiritismo compreender seu significado e origem. Vejamos:

TEODICEIA (FILOSOFIA):

1. No leibnizianismo, conjunto de argumentos que, em face da presença do mal no mundo, procuram defender e justificar a crença na onipotência e suprema bondade do Deus criador, contra aqueles que, em vista de tal dificuldade, duvidam de sua existência ou perfeição.
2. Qualquer doutrina ou argumentação com características semelhantes.
3. Teoria que, no pensamento francês do séc. XIX, além de contestar os argumentos antirreligiosos decorrentes da existência da maldade, explicava racionalmente a natureza divina e seus atributos.


IV. O que é religião natural? Outra informação relevante é compreender, em filosofia, o que se entende por religião natural, a fim de não fazer confusão e criar aspectos para conteúdos doutrinários onde eles não existem.

RELIGIÃO NATURAL: significa a "religião da natureza", na qual Deus, as almas, os espíritos, e todos os objetos do sobrenatural são considerados como parte da natureza e não separados dela; É uma expressão usada na filosofia para descrever alguns aspectos da religião (que devem ser conhecidos à parte da revelação divina) apenas através da lógica e razão, por exemplo, a existência da causa primeira do universo. Portanto, religião natural é assunto da FILOSOFIA.

Não há consenso entre os autores consagrados, pois uns consideram a religião natural como o fundamento das religiões monoteístas (judaísmo, o cristianismo e islamismo) e outros como diferente delas. Segundo alguns autores são encontrados universalmente, entre todos os povos, aspectos da religião natural. O que não ocorre com as seitas, oriundas da cultura e tradição, que possuem aspectos singulares, diferindo-se entre si.

V. O espiritismo pertence ao conhecimento humano:

O caráter do espiritismo é sua universalidade. Sobre a influência do Espiritismo no Progresso, Kardec indagou aos Espíritos superiores na questão 798: O Espiritismo se tornará crença comum, ou ficará sendo partilhado, como crença, apenas por algumas pessoas? No que eles responderam:

“Certamente que se tornará crença geral e marcará nova era na história da humanidade, porque está na natureza e chegou o tempo em que ocupará lugar entre os conhecimentos humanos”.

O conhecimento humano é fruto de sua ciência, da sua filosofia. O pensamento religioso é todo conjectural, baseado numa fé cega, não importando em zetética (perguntar, questionar, refutar, etc.), mas, repleto de dogmas particulares (conceitos inquestionáveis).

VI. O espiritismo é uma lei da natureza:

Quanto ao Espiritismo, eis o ensinamento contido na resposta à questão 222:

"[...]. Nunca dissemos ser de invenção moderna a Doutrina Espírita. Constituindo uma lei da Natureza, o Espiritismo há de ter existido desde a origem dos tempos e sempre nos esforçamos por demonstrar que dele se descobrem sinais na antiguidade mais remota".

Se é uma lei da natureza e não é um conhecimento moderno, verifica-se que não possui aspecto de religião.

Importa, agora, obter respostas a algumas questões que deveriam ser as premissas de todos os estudantes sérios a fim de evitar desdizer o que foi afirmado por Allan Kardec, o organizador do espiritismo.

VII. O que é a religião? é o inverso da filosofia, pois se baseia na fé cega, em acreditar em algo no qual não se pode comprovar, na crença inabalável de ensinamentos impostos por revelações divinas, o que leva a rotinas e dogmas.

Refletindo sobre os conceitos e definições, bem como nas informações compartilhadas alhures, o que é que se pretendeu afirmar com a ideia de um suposto aspecto religioso do espiritismo?

Será que o espiritismo busca explicar a origem do universo sem uso da razão?

É objetivo do espiritismo demostrar o inexplicável como vontade divina?

Há no espiritismo um confronto entre fé e razão?

Obviamente todas as respostas são negativas, uma vez que o espiritismo se ocupa da fé raciocinada. Por outro lado, A FILOSOFIA reflete a busca do ser humano pelo conhecimento de si mesmo e do mundo onde vive.

Não seria essa busca presente na Doutrina Espírita, conforme podemos verificar nas respostas às questões 918 e 919 de O Livro dos Espíritos?

VIII. Ainda é preciso perguntar: como surgiu a filosofia?

Foi da tentativa de superar uma fé cega em que os gregos viviam, tentando explicar os fenômenos através de causas racionais e não através dos mitos. O Iluminismo é uma expressão desse movimento, quando se esperava a superação total das crenças pela razão.

E, sem dúvida, a Filosofia Espiritualista Racional tem suas raízes nesse grande movimento do pensamento científico humano. Alguns filósofos acreditam que o melhor meio de alcançar a divindade é através da razão. E não é outra a busca que se estabelece na Doutrina Espírita?

XI. Qual a diferença entre religião e filosofia? 

a. RELIGIÃO é a crença na existência de um poder ou princípio superior, sobrenatural, do qual depende o destino do ser humano e ao qual se deve respeito e obediência.

É isto que o espiritismo propõe? Ou a proposta espírita é a conformação às leis divinas por meio da aquisição do conhecimento e do uso dos atributos do Espírito, para fins de uma decisão individual de fazer o bem, pelo bem de todos, sem qualquer tipo de coação, seja íntima ou externa?(questões 629 e seguintes de O Livro dos Espíritos).

Além do mais, o religioso (partidário de qualquer religião) toma uma postura intelectual e moral que resulta de sua crença religiosa.

É essa a proposta do espiritismo ou ele ensina que há apenas uma conduta moral a ser atingida como meta: fazer o bem, pelo bem e para o bem de todos? (questão 629 e ss. LE).

b. FILOSOFIA é uma ciência com vários conceitos a depender do campo científico de sua aplicação. Sobremaneira, refere-se à razão e à sabedoria. Trata-se de um pensamento onde o ser humano busca compreender a si mesmo e a realidade circundante, e que determinará o seu caráter prescritivo ou prático, voltado para a ação concreta e suas consequências éticas, políticas ou psicológicas.

Veremos, mais à frente, que Kardec, respondendo à questão: o que é o espiritismo? Vai responder em consonância com essa definição.

É verdade que, no campo da metafísica, como é próprio da filosofia, que o espiritismo apresenta um conjunto de especulações teóricas, busca as verdades primeiras e incondicionadas relativas à natureza de Deus, da alma e do universo, mas utilizando procedimentos argumentativos, lógicos e dedutivos, sem prescindir da observação (método próprio da Filosofia do século 19).

É possível verificar em O Livro dos Espíritos, já no início da obra, respostas sobre Deus, Alma e Universo. Portanto, o espiritismo é filosófico.

Para algumas informações contidas até aqui, sem prescindir de outras fontes, remetemos o leitor ao seguinte endereço eletrônico: https://blog.portaleducacao.com.br/religiao-e-filosofia-o-que-sao-e-quais-as-diferencas/ (acesso em 03.02.2023).


O SUPOSTO TRÍPLICE ASPECTO DO ESPIRITISMO É FALSO:

Se bem entendidos os conceitos de filosofia, religião, teodiceia, metafísica, religião natural, filosofia espiritualista, entre outros, é possível compreender a afirmação de Kardec na obra O Espiritismo em sua Mais Simples Expressão (Histórico do Espiritismo, pg. 27):

"Do ponto de vista religioso, o Espiritismo tem por base as verdades fundamentais de todas as religiões: Deus, a alma, imortalidade, as penas e recompensas futuras, sendo, porém, independente de qualquer culto em particular. Seu objetivo é provar àqueles que negam, ou que duvidam, que a alma existe, que ela sobrevive ao corpo e que sofre, após a morte, as consequências do bem ou do mal que praticar durante a vida corpórea: o objetivo de todas as religiões".

Não, Kardec não está afirmando que o Espiritismo é uma religião, pois, se assim fosse, ele não continuaria esclarecendo que:

"Católicos - gregos ou romanos - protestantes, judeus ou mulçumanos podem crer nas manifestações dos Espíritos e ser, por conseguinte, Espíritas. A prova está em que o Espiritismo tem adeptos em todas as religiões".

Nessa mesma obra o organizador do Espiritismo ainda vai afirmar que "o Espiritismo [...] não constitui uma religião especial, pois não possui sacerdotes nem templos".

Na obra O Que é o Espiritismo, Allan Kardec, em seu 3º diálogo (com o Padre), vai esclarecer de onde surgiu a falaciosa afirmação do Espiritismo como uma religião: 

"O Espiritismo não era mais que simples doutrina filosófica, foi a própria Igreja que o desenvolveu, apresentando-o como um temível inimigo. Foi ela, enfim, quem o proclamou como nova religião. Era uma demonstração de inépcia, mas a paixão na raciocina".

Em verdade é preciso raciocinar, a fim não confundir uma doutrina filosófica com consequências morais em razão das relações que se podem estabelecer entre os Espíritos com uma mera religião. É oportuno, também, uma vez que estamos mencionando a obra O Que é o Espiritismo, colacionar como Allan Kardec define o Espiritismo:

"O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática, consiste nas relações que se podem estabelecer com os Espíritos; como filosofia, compreende todas as consequências morais que decorrem dessas relações. Podemos assim defini-lo: o Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, da origem e do destino dos Espíritos e de suas relações com o mundo corporal".

Não se verifica, em nenhuma hipótese, qualquer expressão na definição de Kardec que se trataria de uma doutrina com tríplice aspecto. No máximo, dois, se não se considerar como o próprio organizador do Espiritismo o define em última instância: ciência.

Neste sentido, o que pede Allan Kardec para os Espíritas quanto a esse tema? Trata-se do estudo e da observação, conforme suas palavras no diálogo com o Padre, que reproduzimos:

"Melhor observado depois que se vulgarizou, o Espiritismo vem derramar luz sobre grande número de questões, até hoje insolúveis ou mal compreendidas. Seu verdadeiro caráter é, pois, o de uma ciência, e não de uma religião; e a prova disso é que ele conta entre os seus aderentes homens de todas as crenças, que por esse fato não renunciaram às suas convicções: católicos fervorosos que não deixam de praticar todos os deveres do seu culto, quando a Igreja os não repele; protestantes de todas as seitas, israelitas, muçulmanos e mesmo budistas e bramanistas".

Além de não ser uma religião, ter entre seus adeptos pessoas de todas as crenças, o Espiritismo é um grande aliado para fazer a ponte entre ciência e religião, uma vez que:

"Não será isso um pequeno serviço prestado à humanidade e à Religião? Porém, não é ainda tudo: a certeza da vida futura, o quadro vivo daqueles que nos precederam nela, mostram a necessidade do bem e as consequências inevitáveis do mal. Eis por que, sem ser uma Religião, o Espiritismo se prende essencialmente às ideias religiosas, desenvolve-as naqueles que não as possuem, fortifica-as nos que as têm incertas".

 

Kardec anteviu que o Espiritismo sofreria ataques por meio de interpretações sistemáticas e errôneas. Eis o que escreveu sobre isso no texto impressões gerais, preâmbulo da obra Viagem Espírita em 1862:

"Quando a ciência espírita estiver solidamente constituída e escoimada de todas as interpretações sistemáticas e errôneas, que caem a cada dia ante o exame sério, eles se ocuparão de estabelecê-la em âmbito universal, para isso empregando poderosos meios".

O esforço de Allan Kardec sempre foi no sentido de demonstrar a face grave e sublime dessa nova ciência:

"[...] fazendo-a sair do caminho puramente experimental para fazê-la penetrar no da filosofia e da moral [...]" (idem, primeiro discurso).

Os graves erros, as interpretações errôneas, com toda certeza é fruto de ausência total ou da deficiência de estudos da Doutrina Espírita em obras genuinamente espíritas, pois, como o próprio Kardec afirmou:

"Onde quer que minhas obras penetraram e servem de guia, o Espiritismo é visto sob o seu verdadeiro aspecto, isto é, sob um caráter EXCLUSIVAMENTE MORAL (idem)".

Certamente, Allan Kardec falou sobre ASPECTO DO ESPIRITISMO, mas, como podemos comprovar, tratou do verdadeiro aspecto, DO MAIOR ASPECTO DO ESPIRITISMO, que é o ASPECTO MORAL. Portanto, divergindo totalmente daquela afirmação feita na nota apócrifa da obra O Consolador, Kardec não afirmou existir um suposto aspecto religioso e, sem dúvida, não há tríplice aspecto.

Cabe, ainda, trazer ao presente artigo as palavras profundas e esclarecedoras sobre esse tema: o suposto tríplice aspecto do espiritismo. Segundo Allan Kardec NÃO EXISTE o aspecto religioso, pois, o espiritismo não é uma religião. É o que se depreende da longa resposta contida na RE – Maio/1859 – Respondendo a um artigo do Abade François Chesnel publicado no Jornal Univers.

Segundo Allan Kardec, o artigo do Abade "contém um erro grave e pode dar uma ideia muito falsa, quer do Espiritismo em geral, quer em particular do caráter e do objetivo dos trabalhos da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas".

Assim, Kardec responde o clérigo nos seguintes termos:

"[...] Senhor abade, o artigo que publicastes no Univers, relativamente ao Espiritismo, contém vários erros que importa retificar e que procedem, fora de dúvida, de um incompleto estudo da matéria".

O tema central, bem como o título do artigo é “Uma nova religião em Paris”. Sobre o qual Kardec responde que:

"Admitindo que tal fosse, com efeito, o caráter do Espiritismo, aí haveria um primeiro erro, considerando-se que ele está longe de circunscrever-se a Paris. Conta milhões de aderentes espalhados nas cinco partes do mundo e Paris não foi o foco primitivo. Em segundo lugar, o Espiritismo é uma religião? Fácil é demonstrar o contrário".

Destarte, esclarece Kardec sobre o VERDADEIRO CARÁTER DO ESPIRITISMO que:

"[...] Seu verdadeiro caráter é, pois, o de uma ciência e não o de uma religião, e a prova disso é que conta, entre seus aderentes, homens de todas as crenças, e que nem por isso renunciaram às suas convicções: católicos fervorosos, que praticam todos os deveres de seu culto, protestantes de todas as seitas, israelitas, muçulmanos e até budistas e bramanistas. Há de tudo, exceto materialistas e ateus, porque essas ideias são incompatíveis com as observações espíritas".

Além do mais, Kardec explica os fundamentos da Doutrina Espírita, advertindo que:

"O Espiritismo, pois, repousa sobre princípios gerais, independentes de toda questão dogmática. É verdade que tem consequências morais, como todas as ciências filosóficas. Essas consequências são no sentido do Cristianismo, porque, de todas as doutrinas, o Cristianismo é a mais esclarecida, a mais pura, razão por que, de todas as seitas religiosas do mundo, são as cristãs as mais aptas a compreendê-lo em sua verdadeira essência".

Vamos traduzir o que Kardec está afirmando. As consequência morais das relações que se podem estabelecer entre e com os Espíritos se conformam ao Cristianismo. O Cristianismo é uma doutrina, que por seus fundamentos está em melhores condições (ou apta) a entender, compreender os princípios, postulados e filosofia espírita (no geral em relação ao Espiritualismo e no particular quanto à doutrina espírita).

Dessa forma, para quem julga equivocadamente o espiritismo, é preciso prestar atenção nas palavras de Kardec, pois, ele afirma que:

"O Espiritismo não é, pois, uma religião. Se o fosse teria seu culto, seus templos, seus ministros. Sem dúvida cada um pode fazer uma religião de suas opiniões e interpretar à vontade as religiões conhecidas, mas daí à constituição de uma nova Igreja há uma grande distância e creio que seria imprudência seguir tal ideia".

E continua:

"Em resumo, o Espiritismo se ocupa da observação dos fatos e não das particularidades de tal ou qual crença, da pesquisa das causas, da explicação que esses fatos podem dar de fenômenos conhecidos, assim na ordem moral como na ordem física, e não impõe nenhum culto aos seus partidários, como a astronomia não impõe o culto dos astros, nem a pirotecnia o culto do fogo".

Fato de não somenos importância é a explicação de Kardec sobre o próprio nome dado à instituição que fundou para pesquisar o espiritismo. Ele afirma que:

"[...] a denominação Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas não se assemelha ao de nenhuma seita; tão diferente é o seu caráter que seu estatuto proíbe tratar de questões religiosas".

E que:

"[...] está classificada na categoria das sociedades científicas, porque, com efeito, seu objetivo é estudar e aprofundar todos os fenômenos que resultam das relações entre os mundos visível e invisível; tem seu presidente, seu secretário e seu tesoureiro, como todas as sociedades".

Além do fato de que, quanto a fazer prosélitos:

"[...] não convida o público às suas sessões; ali não se faz nenhum discurso, nem coisa alguma que tenha o caráter de um culto qualquer".

Bem como, sobre a condução de suas sessões e trabalhos:

"[...] Conduz os seus trabalhos com calma e recolhimento, primeiro porque é uma condição necessária para as observações e, segundo, porque sabe que devem ser respeitados aqueles que não vivem mais na Terra".

Inclusive, esclarece sob a forma de convidar os Espíritos para comparecerem às sessões e a realização das mesmas, dizendo que:

"[...] Ela os chama em nome de Deus porque crê em Deus, em sua Onipotência e sabe que nada se faz neste mundo sem a sua permissão. Abre as sessões com um apelo geral aos Espíritos bons, uma vez que, sabendo que os há bons e maus, cuida para que estes últimos não venham se misturar fraudulentamente nas comunicações que recebe e induzi-la em erro".

Finalmente, pergunta Allan Kardec ao Abade:

[...] O que prova isso? Que não somos ateus; mas de modo algum implica que sejamos partidários de uma religião.

O que chama a atenção é a seriedade de Allan Kardec quanto aos que insistem em atribuir um caráter religioso ao espiritismo, quando adverte e convida a todos os incautos:

"Disso deveria ter ficado convencida a pessoa que vos descreveu o que se passa entre nós, se tivesse acompanhado os nossos trabalhos e, sobretudo, se os tivesse julgado com menos leviandade e talvez com espírito menos prevenido e menos apaixonado. Assim, os próprios fatos protestam contra a qualificação de nova seita que destes à Sociedade, certamente por não a conhecerdes melhor".

Nem se perca de vista que, tão importante quanto aos argumentos de Allan Kardec, são as respostas apresentadas pelo espiritista Senhor Dombre a um pregador que havia afirmado em sermão que o espiritismo seria uma religião. Na Revista Espírita de setembro de 1862, assevera o Senhor Dombre:

"Não; o Espiritismo não é uma religião, nem pretende ser uma religião. O Espiritismo se baseia na existência de um mundo invisível, formado por seres incorpóreos que povoam o espaço e que são apenas as almas dos que viveram na Terra ou em outros globos. [...] O Espiritismo desvenda-nos o mundo invisível; não é novidade, já que é mencionado pela história de todos os povos. Repousa sobre princípios gerais, independentes de toda questão dogmática. [...]; cada um pode fazer de suas opiniões uma religião, mas daí para a constituição de uma nova Igreja a distância é grande. Portanto, o Espiritismo não é uma nova religião". 

Para aqueles que ainda não compreenderam o que Allan Kardec quer dizer a respeito do espiritismo quando afirma que não possui culto nem templos, vejamos sua exposição em algumas refutações na Revista Espírita de maio de 1863. Verbis:

"Pareceis ignorar uma coisa que é bom saibais. Os grupos espíritas não são absolutamente necessários; são simples reuniões onde se sentem felizes por encontrar-se pessoas que pensam do mesmo modo. E a prova disto é que hoje, na França, há mais de 600.000 espíritas, 99% dos quais não fazem parte de nenhum grupo e neles jamais puseram os pés; que eles não existem numa porção de cidades";

E prossegue:

"[...] que nem os grupos nem as sociedades abrem suas portas ao público para pregar suas doutrinas aos transeuntes; que o Espiritismo se prega por si mesmo e pela força das coisas, porque responde a uma necessidade da época; que as ideias espíritas estão no ar e são aspiradas por todos os poros da inteligência; que o contágio está no exemplo dos que são felizes com essas crenças e que são encontrados por toda parte, na sociedade, sem que se precise procurá-los nos grupos".

 

Em 1864, conforme se depreende da Revista Espírita do mês de setembro, novamente, Allan Kardec responde sobre a esdrúxula afirmação dos representantes da igreja, os quais proclamavam o Espiritismo como nova religião do século 19. Verbis:

"Observação – Eis mais um príncipe da Igreja que proclama, num ato oficial, que o Espiritismo é uma religião que se cria. É o caso de repetir aqui o que já dissemos a respeito: Se algum dia o Espiritismo se tornar uma religião, a Igreja terá sido a primeira a dar tal ideia".


Muitos ainda vão afirmar que o espiritismo adotando as preces será, de fato, uma religião, ao que o próprio Allan Kardec, tecendo considerações sobre a prece no espiritismo,  responde na Revista Espírita do mês de janeiro de 1866, afirmando:

"Cada um é livre de encarar as coisas à sua maneira, e nós, que reclamamos esta liberdade para nós, não podemos recusa-la aos outros. Mas, do fato de uma opinião ser livre, não se segue que não se possa discuti-la, examinar o lado forte e o fraco, pesar suas vantagens e inconveniências. [...] O Espiritismo é uma ciência puramente filosófica; não só não é uma religião, como não deve ter nenhum caráter religioso. Toda prece dita nas reuniões tende a manter a superstição e a hipocrisia religiosa".

E, ainda na Revista Espírita de 1866, agora no mês de fevereiro, o organizador do espiritismo, apresentando o espiritismo segundo os espíritas, reportando a um artigo publicado por um periódico sério da França do século 19, demonstrou que era corrente entre os espíritas, entre outras coisas, a seguinte compreensão sobre a Doutrina Espírita:

“Não é uma Religião, pois não tem dogmas, nem culto, nem sacerdotes, nem artigos de fé; é mais que uma filosofia, porque sua doutrina é estabelecida sobre a prova certa da imortalidade da alma. É para fornecer esta prova que os espíritas evocam os Espíritos de além-túmulo".

Mas, todos sabemos de onde vem, de fato, esse ranço empedernido de querer fazer da Doutrina Espírita e do Espiritismo o que não é e nem nunca foi. Ao artigo da Revista Espírita de 1859, onde Kardec trava um diálogo com o Abade Chesnel, refutando o aspecto religioso da Doutrina Espírita, se somou furtivamente uma nota (de n. 9 na edição em pdf - FEB) do tradutor da revista, em um acerbo desserviço para a propagação, divulgação e disseminação da ciência filosófico-espírita, conforme transcrição a seguir:

"NOTA DO TRADUTOR DA REVISTA À AFIRMAÇÃO DE KARDEC QUANTO AO ESPIRITISMO NÃO SER UMA RELIGIÃO - Em vão se tentará negar o aspecto religioso do Espiritismo, tomando por base, de forma isolada, o presente raciocínio de Allan Kardec. Há que se examinar o conjunto de sua obra, a fim de não se chegar a conclusões precipitadas. Na Revista Espírita de dezembro de 1868 o Codificador defende de maneira peremptória o caráter religioso da Doutrina Espírita".

É uma nota de um deficiente intelectual, ao qual falta discernimento e cognição a priori. Sem dúvida, ao fazer uma afirmação rasteira destas, estará num daqueles grupos citados por Kardec: ou dos levianos ou dos apaixonados. Estudando a obra Viagem Espírita em 1862, veremos que o autor dessa nota está longe de pertencer à categoria dos verdadeiros espíritas.

Como visto, demonstrou-se nesse artigo que o tradutor da revista e autor da nota ora guerreada (sobre a afirmação de Kardec) está LONGE/DISTANTE de ter procedido um exame acurado do conjunto da obra. Não deve ter lido, porque estudar seria pedir muito para quem já vem com o copo cheio, nenhuma das informações que colacionamos nesse artigo. VEJAM QUE ESTAMOS ANALISANDO O CONJUNTO DA OBRA, isto é, nas Revistas Espíritas, bem como em todas as demais produzidas por Allan Kardec. O autor da nota, sem dúvida, não procedeu da mesma forma, pois já vinha com o seu julgamento antecipado sobre o tema.

Kardec, não só pela quantidade de informações, mas em face da qualidade das mesmas, afirmou em mais de uma ocasião qual é o verdadeiro caráter do espiritismo - uma ciência. Vale, finalmente, apresentar o conteúdo usado por muitos para afirmar que Allan Kardec mudou seu pensamento sobre o fato de não ser o Espiritismo uma religião. Pois bem, é o contrário. Na Revista a seguir verificamos que o suposto tríplice aspecto do espiritismo é falso:

Na Revista Espírita de dezembro de 1868, Kardec foi instado a responder se o espiritismo é uma religião. Apesar da profundidade daquele texto, onde são dadas minuciosas explicações sobre o significado e sentido da palavra religião; além do fato de Kardec demonstrar cabalmente que o Espiritismo não se enquadra na compreensão humana do que se convencionou denominar religião, ainda há muita má vontade nesse campo de estudo.

Kardec citou o significado da expressão religião como sendo um laço que religa os seres humanos entre si (e não com Deus, com o qual NUNCA perdeu sua ligação) numa comunhão de sentimentos, de princípios e de crenças.

Além disto, a obra A Gênese traz importante esclarecimento nesse sentido, pois que, para se afastar do Criador haveria de ter algum distanciamento entre Deus e os seres inteligentes, implicando na ausência de unidade do Universo, hipótese falsa, senão vejamos:

"O Universo é, ao mesmo tempo, um mecanismo imenso conduzido por um número incontável de inteligências, um enorme governo onde cada ser inteligente tem sua parte de ação sob o olhar do soberano Criador, cuja vontade única mantém a UNIDADE POR TODA A PARTE. Sob o império desse vasto poder regulador tudo se movimento, tudo funciona numa perfeita ordem". (Capítulo 18, item 4).

Explicou que o nome religião foi dado ao conjunto de princípios codificados e formulados em dogmas ou artigos de fé (observe que Kardec critica a ideia de codificar, codificador, etc., mas isso é matéria para outro artigo).

Como exemplo disto citou a hipótese da religião política, que implica uma fé política, consubstanciada numa ideia particular, ocasião em que demonstrou, ainda, que os seres humanos podem se filiar a um partido por um interesse, mas sem fé nesse partido. O mal da reunião por interesse é que há uma permanência, uma persistência à custa dos maiores sacrifícios. Não há fé sincera e nem renúncia dos interesses pessoais.

Portanto, Kardec explicou qual o sentimento que une os seres humanos nas seitas. Não é um laço de fraternidade e de solidariedade, mas apenas compromissos materiais e interesses pessoais, que podem ser rompidos facilmente.

Destarte, asseverou que:

"Não tendo o Espiritismo nenhum dos caracteres de uma religião, na acepção usual da palavra, não podia nem devia enfeitar-se com um título sobre cujo valor inevitavelmente se teria equivocado. Eis por que simplesmente se diz: DOUTRINA FILOSÓFICA E MORAL".

Neste sentido, fico com Kardec. Uma vez QUE EXISTE NO MUNDO APENAS A EXPRESSÃO RELIGIÃO e a mesma não traduz a ideia de uma religião natural ou filosófica sem os caracteres próprios de uma seita, o Espiritismo NÃO É UMA RELIGIÃO.

Mas, não se engane, o próprio Kardec esclareceu que o ser humano pode transformar qualquer ideia numa religião, fruto de sua interpretação equivocada, do seu erro, bem como do seu interesse pessoal.

Além do mais, importa colacionar uma importante instrução de Allan Kardec, contida no vocabulário espírita, obra Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas, ao explicar o significado do vocábulo ESFERA, ocasião que adverte sobre a precaução que devemos ter com pseudo sábios e expressões viciosas. Verbis:

"[...] Se um homem  que julgais sábio sustenta uma teoria evidentemente absurda, duvidais do seu saber [...]".

O profundo cuidado de Kardec com expressões viciosas e equivocadas usadas vulgarmente, como é o caso da palavra religião tratada na Revista Espírita de dezembro de 1868, o impulsionou a escrever o que segue (idem):

"Essas expressões são viciosas, mesmo tomadas em sentido figurado, porque podem induzir em erro sobre o sentido verdadeiro pelo qual se deve entender [...]".


Por fim, não pediremos ao leitor que tire suas próprias conclusões acerca do assunto nessa oportunidade, pois o próprio Allan Kardec refutou o suposto tríplice aspecto do espiritismo.

Assim, a conclusão é de uma lógica solar, visto que o organizador do Espiritismo deixa claro o VERDADEIRO CARÁTER DO ESPIRITISMO, ou seja, uma ciência.

Neste sentido, O SUPOSTO TRÍPLICE ASPECTO DO ESPIRITISMO É FALSO. Trata-se de uma falácia.

Uberaba-MG, 10/02/2023 (atualização/finalização: 23/02/2023)
Autor e revisor: Beto Ramos
Rev. textual/conteúdo: Lauro Rodrigues

quinta-feira, 14 de julho de 2022

QUADRO COM CITAÇÕES DE KARDEC SOBRE A GÊNESE

A obra A Gênese, sem dúvidas, é um marco para os Espíritas, aqueles que estudam e se aprofundam nas pesquisas desta ciência-filosófica, uma vez que o objetivo da Teoria Moral Espírita é conduzir os indivíduos à perfeição por meio de esforços individuais (autônomos). Vários elementos que servem à educação moral do ser humano estão contidas na obra A Gênese.

Neste sentido, verifica-se que, entre no período compreendido entre Novembro de 1867 até Abril de 1869, Allan Kardec efetuou várias observações apontando para a importância do estudo do conteúdo da obra A Gênese. Oferecemos ao leitor o quadro abaixo para fins da reflexão necessária quanto a essa edição da obra que surgiu para o mundo no ano de 1868, cujo conteúdo permaneceu inalterado durante até a morte do seu autor. Vejamos:












Esperamos que esse quadro possa contribuir para a reflexão daqueles que meditam seriamente sobre o conjunto da obra espírita, bem como de sua teoria moral.

Uberaba-MG, 14/07/2022.
Beto Ramos.

DESTAQUE DA SEMANA

A DOUTRINA DOS ESPÍRITOS NÃO É ASSUNTO QUE SE ESGOTA EM UMA PALESTRA

  EM SUAS VIAGENS KARDEC MINISTRAVA ENSINOS COMPLEMENTARES AOS QUE JÁ POSSUIAM CONHECIMENTO E ESTUDO PRÉVIO. Visitando a cidade Rochefort, n...