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quinta-feira, 25 de agosto de 2016

JACÓ E A FACE DE DEUS


CRIAÇÃO
Conta-nos o livro Gênesis que Isaac, com 40 anos, tomou Rebeca por sua mulher e sendo esta estéril oraram a Deus para que ela pudesse conceber. Vieram-lhe dois filhos, os quais lutavam desde o ventre, ocasião que Isaac já estava com 60 anos de idade. Rebeca consultou a Deus sobre os motivos desta luta tão precoce. E Deus a esclareceu: “Duas nações há no seu ventre, e dois reinos de tuas entranhas se dividirão; uma nação, mais que outra nação se fortalecerá, e a maior servirá a menor”.

Nasceram Esaú, o primogênito, e depois, agarrado ao seu calcanhar, Jacob. Esaú tornou-se caçador. Jacob habitava em tendas (era íntegro). O patriarca Isaac preferia a Esaú, interessado em comer de sua caça, enquanto Rebeca amava Jacob.

QUEDA
Certo dia, Jacob, aproveitando o cansaço e fome de seu irmão Esaú, lhe propõe adquirir sua primogenitura. Esaú, faminto e cansado, despreza-a em troca de pão, bebida e cozido de lentilhas, que estavam sendo preparados por Jacob.

Mais tarde, Isaac, cego e velho, pede a Esaú para caçar e lhe fazer um cozido, para, assim, receber a benção paterna. Sabendo disto, sua esposa Rebeca trama para que a benção seja dada a Jacob que, mesmo relutante, submete-se à sua mãe, contrariando a própria consciência. Rebeca cozinha um guisado, veste Jacob como se fosse Esaú, engana Isaac, que abençoa Jacob no lugar de Esaú.(O efeito desse ato para Jacob será trabalhar penosamente na casa de Labão, seu tio, onde será humilhado e, também, enganado durante longos anos. E, estes anos o ensinarão que a justiça Divina não desconsidera nenhuma falta cometida. Mesmo que o objetivo seja importante e justo, toda injustiça contra terceiros será penitenciada).

FUGA
Descoberta a farsa, Esaú promete vingança de morte a Jacob. Rebeca, acreditando tratar-se de ira passageira, envia Jacob para a casa de Labão, seu irmão, lugar onde, por lamentação de Rebeca, Isaac determina que Jacob tome por mulher das filhas de Labão. Jacob, então, segue a Padam-Aram, onde ficará exilado por mais de 20 anos.

ALIANÇA
No caminho de Padam-Aram Jacob, após dormir, sonha com uma escada por onde sobem e descem mensageiros de Deus. Estando de pé no alto da escada o Senhor se apresenta como Deus de Abraão e de Isaac e propõe aliança com Jacob, prometendo-lhe terra e descendência abundante. Por sua descendência Deus abençoará todos os povos do mundo. Promete estar com Jacob, acompanha-lo por onde for, fazê-lo voltar à sua terra e não abandoná-lo até que todo o prometido se cumpra.

EXÍLIO
Chegando em um poço, Jacob conhece Rachel, filha de Labão. Conta-nos a história em Gênesis que a pedra da “boca” do poço era tão pesada que precisava de todos os pastores do lugar para move-la. Ao ver Rachel, Jacob, sozinho, movimenta a pedra da boca do poço, dá de beber às ovelhas e se apresenta. Rachel, então, o leva até seu pai e lhe fala sobre o ocorrido. Jacob conta toda a história que o fez chegar até a casa do tio e Labão o convida a ficar em sua casa pedindo que ele ponha preço para servir-lhe. Jacob propõe trabalhar sete anos em troca de se casar com Rachel.

Ao final dos sete anos Jacob pede a Labão que lhe dê sua mulher. Labão convida todos os homens do lugar, dá um banquete, toma Lea, sua filha maior, e a traz para Jacob. A farsa será percebida no dia seguinte. Desapontado Jacob cobra Labão que o enganou. Após uma semana de dias, Labão entrega Rachel em troca de mais sete anos do trabalho de Jacob. Lea levou consigo, por escrava, Zilpá e Rachel levou consigo, por escrava, Bilá. Lea era desprezada por Jacob e Rachel era estéril. Estas irmãs, filhas de Labão e esposas de Jacob, serão as matriarcas do povo de Israel.

EXPIAÇÃO – O enganador enganado.
Jacob pagou logo por sua culpa. O pai, nas trevas pela cegueira; Jacob na obscuridade noturna. O pai subornado pela comida de sua preferência; Jacob pela beleza e pelo desejo. O pai não vê e reconhece pelo tato; Jacob não reconhece antes de ver. Pelo costume o pai não podia mais abençoar a Esaú; Pelo costume Jacob não podia exigir a filha mais nova antes do casamento da mais velha. Jacob amou mais a Raquel do que a Lea. Repartiu seu amor sem faltar a seus deveres, mas, não renunciou à sua preferência.

GERAÇÃO DE JACOB

Lia concebeu:
- Rúben (ra’a = ver); - Simeão (shm’ = ouvir); - Levi (lwh = ligar); Judá (hwdh = dar graças); Issacar (skr = paga); Zabulon (zbl = presentear);

Bilá (a escrava de Rachel) concebeu:
- Dã (dyn = julgar); Neftali (nptl = competir);

Zilpá (escrava de Lea) concebeu:
- Gad (gd = sorte); Aser (‘shr = felicidade);

Rachel concebeu:
- José (ysp = acrescentar)

Findo o tempo (14 anos) de serviços prestados de Jacob a Labão, este deseja partir. Reconhecendo que prosperou por causa de Jacob, Labão lhe propõe salário. Após estarem combinados, algum tempo depois, Jacob prospera e provoca o ciúme dos filhos de Labão, que influenciam a este fazendo-o mudar o salário de Jacob por dez vezes. O Senhor diz a Jacob, “volta à terra de teus pais, tua terra natal, e eu estarei contigo” por duas vezes, mas, somente após a segunda é que Jacob se põe a caminho da casa de seu pai Isaac, na terra cananeia.


ÊXODO

Jacob convoca o conselho familiar e as mulheres estão dispostas a segui-lo. Na fuga a filha Rachel rouba os amuletos do pai (deuses penates ou lares – politeísmo?). Jacob foge com tudo que lhe pertence e se dirige aos montes de Gallad. Três dias depois Labão é avisado, reúne seu pessoal e sai em perseguição a Jacob, por não lhe informar da partida, priva-lo da despedida paterna e pelo “furto dos amuletos”. No sétimo dia Labão alcança Jacob nos montes de Gallad.

Antes do encontro entre Labão e Jacob Deus aparece em sonho para Labão e lhe adverte: “Cuidado para não te envolveres com Jacob para o bem ou para o mal!”. No encontro são feitas cobranças de parte a parte. Temendo a Deus Labão propõe uma aliança a Jacob que a aceita. Dessa aliança elegem um monte por testemunha, sob o qual Jacob ofereceu um sacrifício e convidou seu pessoal para comer. Despediram-se todos. Labão beijou seus filhos e filhas e retornou. Jacob prosseguiu seu caminho. Durante a jornada encontrou mensageiros de Deus e ao vê-los comentou: “É um acampamento de Deus”. Chamou o lugar de Maanaim.


REDENÇÃO

Na volta à casa de seu pai Isaac, Jacob envia mensageiros ao seu irmão Esaú, chamando-o de “meu senhor” e propondo reconciliação. Os mensageiros retornam a Jacob dizendo que Esaú vinha ao seu encontro com 400 homens. Com medo e angústia Jacob dividiu seu pessoal em duas caravanas com ovelhas, vacas e camelos, calculando que em caso de ataque uma delas se salvaria.

Jacob, neste momento de aflição ora a Deus: “Deus de meu pai Abraão, Deus de meu pai Isaac! Senhor que me mandaste voltar à minha terra natal, para me coroar de benefícios. Não sou digno dos favores e da lealdade com que trataste teu servo; pois com um bastão atravessei este Jordão e agora conduzo duas caravanas. Livra-me do poder de meu irmão, do poder de Esaú, pois tenho medo que venha e mate as mães com os filhos. Tu me prometeste cumular-me de benefícios e tornar minha descendência como a areia incontável do mar”.


Do que estava à mão em sua caravana Jacob escolhe presentes para Esaú e os envia pelos seus criados mandando-os dizer: “Da parte de seu servo Jacó, um presente que ele envia a seu senhor Esaú. Ele vem atrás”. Com isto Jacob pensou em aplacar a ira de Esaú, pretendendo ser bem recebido. E passou o presente adiante.


Naquela noite Jacob dormiu no acampamento. Talvez por receio, levantou-se, tomou suas duas mulheres, suas duas servas, seus onze filhos e os fez cruzar a passagem do rio laboc e fez passar o que era dele. E ficou Jacob só, e lutou Um Homem com ele, até levantar-se a aurora.


O Homem vendo que não podia com ele tocou-lhe na juntura de sua coxa e o desconjuntou, pedindo a Jacob para deixá-lo ir porque o dia já estava raiando. Jacob disse só o deixaria ir se recebesse a bênção. O Homem pergunta a Jacob qual o seu nome e depois de Jacob responder o Homem lhe diz: teu nome será Israel, pois lutaste com Deus e homens e venceste. Jacob então pergunta o nome do Homem que não lhe responde, mas, lhe abençoa. Jacob então chamou o lugar Peniel porque viu Deus face a face e teve salva a sua alma.


De volta à jornada, quando se encontram, Jacob prostrou-se diante de Esaú por sete vezes. Todos da família Jacob prostraram-se diante de Esaú. Esaú correu para receber Jacob, abraçou-o, lançou-se ao pescoço dele e o beijou chorando. Ao final, Esaú aceitou os presentes e separaram-se indo Esaú para Seir e Jacó para Sucot. Em Siquém Jacob compra terra de Hemor e ergue um altar dedicando-o ao Deus de Israel.


CONCLUSÃO:

A narrativa sobre a vida de Jacob ainda continuará e se confundirá com a história de José, um de seus filhos.Mas, o que podemos aprender de lição da história de Jacob desde seu nascimento até o reencontro com o seu irmão Esaú? Falamos sobre o Livro de Gênesis Capítulo 25:19 ao Capítulo 33:20.

Lembremo-nos que Deus esclareceu a Rebeca que “Duas nações há no seu ventre, e dois reinos de tuas entranhas se dividirão; uma nação, mais que outra nação se fortalecerá, e a maior servirá a menor”.  Cumpriu-se a profecia. O maior serviu ao menor. Neste caso, Jacob se postou como o que serve (o maior). Esaú o que é servido (o menor). Um ensinamento que será repetido por Jesus em Lucas 22:24-27: [...] o mais importante entre vós seja como o mais jovem, e quem manda seja como quem serve. Quem é maior: Aquele que está à mesa ou aquele que serve? Não é o que está à mesa? Pois eu estou no meio de vós como quem serve”.


A história que parece não fazer sentido, observada atentamente, assim se desenrola:


Jacob nasce agarrando o calcanhar de seu irmão Esaú. Além de não se manter firme e errar, sofre quedas morais. Desconfortável em enganar seu pai sucumbe à ideia descaridosa de sua mãe. E qual é o objetivo de toda a farsa? Colher a bênção do pai que estava reservada ao irmão. É a criatura humana sempre em busca de apreço humano, valorizando convenções humanas e se esquecendo dos bens espirituais. Vemos que nenhum mérito tem a bênção buscada por Jacob.


Depois da queda a aplicação da Justiça Divina - Lei de Causa e Efeito. Jacob aprende a duras penas que nenhuma falta ficará impune diante das leis divinas, e expia no exílio por mais de 20 anos. Aqui, nos lembramos do Espírito Telésforo, no livro “Os Mensageiros”, ditado pelo Espírito André Luiz ao médium Francisco Xavier, no capítulo 6, cujo título é “Advertências Profundas”: “Cesse, para nós outros, a concepção de que a Terra é o vale tenebroso, destinado a quedas lamentáveis, e agasalhemos a certeza de que a esfera carnal é uma grande oficina de trabalho redentor. Preparemo-nos para a cooperação eficiente e indispensável. Esqueçamos os erros do passado e lembremo-nos de nossas obrigações fundamentais”.


Em todo o processo Jacob está perante a Justiça de Deus. O benfeitor Emmanuel no prefácio do livro “No Mundo Maior”, ditado pelo Espírito André Luiz ao médium Francisco Xavier, cujo título “Na Jornada Evolutiva” nos lembra como somos avaliados perante a Suprema Justiça: “Perante a suprema Justiça, o malgaxe (habitante da República Democrática de Madagascar) e o inglês fruem os mesmos direitos. Provavelmente, porém, estarão distanciados entre si, pela conduta individual, diante da Lei Divina, que distingue invariavelmente, a virtude do crime, o trabalho da ociosidade, a verdade e a simulação, a boa vontade e a indiferença”.


Jacob e Esaú representam estes indivíduos que tem o mesmo ponto de partida (são gêmeos, compartilharam o mesmo ventre), mas, são avaliados por sua conduta individual. Apesar dos erros cometidos por cada um, vemos que Esaú trai um princípio evangélico básico: honrar pai e mãe. Para aquela sociedade patriarcal a primogenitura era algo de suma importância, mas, Esaú a troca por um cozido. Por sua vez, Jacob a desejava.


Perante a Lei Divina, podemos escolher a horizontalidade terrena ou a verticalidade para Deus, representada pela Escada de Jacob, na qual os mensageiros de Deus desciam e subiam. Mas, no seu topo, na parte mais Alta, encontra-se Deus, de pé, pronto para estar conosco. De nossa parte temos que estar prontos para ouvir a “vontade do Senhor” e cumpri-la.


Mas, há em Jacob uma luta. Veremos essa luta sendo travada com “um homem” e travada com Deus. Luta que acontece à noite, nas trevas. Quando vence já é dia, então está diante da Luz. E nessa aurora um renascimento. Já não é mais Jacob quem vive, mas Israel. Os detalhes dessa luta são importantes. Jacob se agarra ao seu oponente e o segura firme. Repete o mesmo ato praticado ao nascer quando segurou o calcanhar de Esaú. Para soltar o mensageiro pede algo que nunca recebeu quando criança: a bênção. Mas, uma que fez por merecer e que não é dada por iguais, por humanos: a bênção de Deus. Por isso o novo nome: Israel (aquele que luta com Deus). Jacob lutou intimamente contra todos os seus defeitos. Quando passou a ouvir Deus, venceu o “homem velho”, venceu a si mesmo. Vencido Jacob surge Israel, o novo homem. Um evento tão importante na história dos patriarcas, pois, até então o povo de Israel era conhecido como Hebreus e agora passam a ser conhecidos como “o povo de Israel”.


Outro fato muito importante: durante sua luta Jacob declara que viu Deus face a face e ao encontrar seu irmão Esaú reconciliando-se, obtendo o perdão e vendo bondade em seu rosto, Jacob diz que é como ver a face de Deus. Lembramos, então, de Emmanuel, no Capítulo 1 do Livro “Pensamento e Vida” denominado “O Espelho da Vida”, ditado ao médium Francisco Xavier: “A mente é o espelho da vida em toda parte. [...] definindo-a por espelho da vida, reconhecemos que o coração lhe é a face e que o cérebro é o centro de suas ondulações, gerando força do pensamento que tudo move, criando e transformando, destruindo e refazendo para acrisolar e sublimar”.


Ora, porque Jacob menciona a face de Deus por duas vezes e diz ter visto Deus face a face? Jesus, nas “Bem Aventuranças”, em Mateus 5:8, vai ensinar como Deus é visto: “Bem aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus”. Ao vencer a si mesmo na sua luta íntima Jacob se depura. Penitenciando suas faltas, passa a ouvir Deus. Fazendo o caminho de volta permite a reconciliação com o irmão. Temendo, mas, confiando em Deus e fazendo a Sua vontade Jacob permite que seu irmão o perdoe.


Conclui-se, portanto, que Jacob que viu Deus face a face, limpou seu coração e, também, pode ver o coração de Deus. Deus, então, é visto com o coração limpo. Essa depuração passa por vencermos o homem velho que trazemos em nosso íntimo. Jacob venceu o seu "homem velho", pois, reconciliou com seu adversário enquanto estava a caminho com ele (Mateus, 5:25), passando a valorizar os bens espirituais.

quarta-feira, 27 de abril de 2016

FRASES E EXPRESSÕES BÍBLICAS


"No princípio, criou Deus os céus e a terra"


 Sem dúvida, é de se afirmar que os primeiros capítulos de Gênesis, narram o princípio da criação, referindo-se a céus, terra e todo o necessário para a existência de vida (humana, animal, vegetal e espiritual). Porém, não nos cabe esquecer que, no princípio, não existia a língua portuguesa e que a ciência comprovou a existência do universo anterior à terra, como também a própria existência do planeta anterior ao período que faz referência à Adam (ou Adão), do hebraico אדם, que significa: homem, ser humano, humanidade (derivado de  - אדמה - ’adamah: terra, território, país,"a terra", solo).

É imprescindível que o leitor atento, buscando compreender a profundidade da Mensagem Divina, procure abeberar-se na fonte. Nela, a possibilidade de encontrar uma “água” turva, contaminada ou imprópria para “saciar a sede” é muito menor. Em hebraico bíblico(3), o primeiro versículo de Gênesis,  está assim escrito:


SIGNIFICADOS (2):

bə: em, com, por, dentro.
re’shiyth: primeiro, começo, melhor, principal, princípio, parte principal, parte selecionada. [pertence à raiz de ro’sh: cabeça (corpo), topo, cume, parte superior, chefe, total, soma, altura, fronte, começo, altura (estrelas), líder, cabeça (homem, cidade, nação, lugar, família, sacerdote), e etc.].
bara’: moldar, formar; criar; dar forma a (tendo Deus com sujeito) - referindo-se a: céu e terra; homem individualmente; novas condições e circunstâncias; a transformações.
’E-lohiym (plural): governantes, juízes, seres divinos, anjos, deuses; [forma singular -  אֵל - ’el : deus, semelhante a deus, poderoso, deus falso, (demônios, imaginações), Deus (o único Deus verdadeiro)].
et: tem função apenas gramatical, indicando o objeto seguinte; sem tradução em português.
ha: este sim é o artigo definido (o, a, os, as);
shamayim: céus;
ve’:conjunção aditiva “e”;
’aretz: terra.

Diante dos significados, é possível que o leitor inicie o processo de análise do texto bíblico, promovendo saudável interpretação. Antes porém, importa saber que:
a) Um texto de Tebas, no Egito, trata do deus Amon e faz alusão à “criação” valendo-se da expressão: “na primeira ocasião”. Desta forma, os egiptólogos interpretam-na como uma referência a um evento ocorrido pela primeira vez e não como ideia abstrata(5);
b) A língua hebraica tem um número reduzido de tempos verbais (diferente da língua portuguesa). Uma única forma verbal hebraica pode ser usada para duas ou mais formas verbais em português.
c) No sistema verbal do hebraico o significado de cada verbo está relacionado com os outros tempos dos verbos do contexto;
d) Como visto acima, o texto bíblico usa a expressão 'E-lohyim  em sua forma plural, o que não é nenhuma novidade, pois o judaísmo comenta isto há muito tempo.

Em relação à letra 'd' acima, alguns comentários rabínicos sobre o Antigo Testamento dizem se tratar de um “plural majestático” (3). Explicam que, à época da escritura, reis usavam expressões no plural quando se referiam a si mesmos. Ousamos pensar que tal assertiva é a figura denominada antropomorfismo, isto é, uma forma de pensamento comum a diversas crenças religiosas que atribui a deuses, a Deus ou a seres sobrenaturais comportamentos e pensamentos característicos do ser humano. Esta figura foi bastante criticada pela filosofia grega desde seus primórdios.

Sabemos que o texto bíblico conta a história de um povo e do seu relacionamento com Deus, visando abolir o politeísmo (culto a diversos deuses) e diversas práticas abomináveis (como o sacrifício de crianças em fogueiras).

A missão de apresentar esse Deus Verdadeiro e Único coube a um Patriarca: Abrão. Era costume naquele tempo que o indivíduo que promovia a aliança com a divindade modificasse seu nome, incorporando o nome da mesma. Foi assim que aquele Patriarca passou a chamar-se: אברהם (’Abraham) ou Abraão: “pai de uma multidão” ou “chefe de multidão” e ficou conhecido como amigo de Deus e fundador da nação dos hebreus através da aliança e eleição de Deus (2). É que Deus revelou-se à figura de um Pai para a humanidade terrestre.
 
Portanto, para as reflexões seguintes, convidamos o leitor a pensar sobre o texto bíblico considerando a forma como se dava a manifestação e o relacionamento de Deus com as criaturas.

Tomando como exemplo a família, vemos que Deus nos confia, cada um, aos cuidados daqueles que tem a tarefa de prover uma variedade de necessidades que temos desde o nascimento. Por esta lógica, havia prepostos do Criador operando na formação da terra? O texto bíblico pode atestar essa hipótese?

Tendo como ponto de partida a fé raciocinada, verificamos que o texto bíblico, em hebraico, nos oferece a palavra ’E-lohiym, escrita na forma plural, cujos significados já foram apresentados, bem como a crítica ao plural "majestático". Lado outro, o  texto faz uso do verbo bara'. Comentaristas do Antigo Testamento afirmam que o mesmo foi usado para expressar "criar" (Ele Criou) por se apresentar na forma singular. Contudo, o mesmo verbo pode indicar a expressão: "formar". 

Apesar de usualmente assimilada como correta desde há muito tempo, hoje, é possível pensar noutro sentido para a frase inicial da Primeira Revelação, sem que, com isto, possa haver qualquer ideia (mesmo oculta) de existirem outras "divindades". A reflexão proposta, definitivamente, não adota esta posição primitiva. Por tudo isto, trazemos à colação alguns fundamentos que nos levam a admitir que havia prepostos de Deus atuando na formação do orbe.


USO DE PALAVRAS NO PLURAL ATRIBUÍDAS À DIVINDADE

No fragmento de texto abaixo (Gênesis 1:26) se repete o uso do plural pelo Verbo Divino (majestático?), vejamos:


Segundo um comentário contido no Midrash (Bereshit Rabá8) "Deus se aconselhou com os anjos sobre a conveniência de criar o homem ou não". (3). Independente do que se possa pensar acerca desta afirmação, o fato é que o Judaísmo nunca afastou a ideia de que Deus, quando da formação do orbe terrestre, já possuía prepostos com atuação ativa no processo, podendo ser denominados cocriadores. Não seria coerente com a ideia de Deus Único que os "anjos" citados no Midrash fossem "incriados", assim como sabemos que, sendo Deus a inteligência suprema e causa primeira das coisas, não foi criado, posto que não seria Deus e sim aquele que o teria criado.


NOVO TESTAMENTO (a lei não foi destruída)

Observando a "Boa Mensagem" com vistas à utilização do texto bíblico como  "inspiração para a inteligência adulta" (6), obtemos valiosas informações. 

Atentemos para ditoso ensinamento contido na Carta aos Hebreus (1:1-2):
“Muitas vezes e de muitas formas, Deus falou no passado a nossos pais por meio dos profetas. Nesta etapa final nos falou por meio de um Filho, a quem nomeou herdeiro de tudo, por quem criou o universo. Ele é reflexo de sua glória, expressão do seu ser, e tudo sustenta com sua palavra poderosa” (4).

Ao seu turno, esclarece o Evangelho de João(1:1-5):
“No princípio havia o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava, no princípio, junto de Deus. Todas as coisas foram feitas por meio dele, e sem ele nada que se encontra feito se faria. Nele havia vida, e a vida era a luz dos homens; e a luz brilha na treva, e a treva não a reteve” (1).

CONFIRMAÇÕES DOS TESTAMENTOS

A literatura espírita séria e comprometida com a evolução humana, tendo como um de seus maiores colaboradores o Espírito Emmanuel (7), pela psicografia mediúnica de Francisco C. Xavier, corroborando a Epístola acima, assevera:
“[...] em tudo e sobre todos, irradia-se a luz desse fio de espiritualidade que diviniza a matéria, [...] vemos a fonte de extraordinária luz, de onde parte o primeiro ponto geométrico desse fio de vida e de harmonia, que equilibra e satura toda a Terra numa apoteose de movimento e divinas claridades. [...] É Ele quem sustenta todos os elementos ativos e passivos da existência planetária. No seu coração augusto e misericordioso está o Verbo do princípio. [...] Só Jesus não passou [...]. Ele é a luz do princípio e nas suas mãos misericordiosas repousam os destinos do mundo”.

PROPOSIÇÃO

Deste modo, pensamos: seria possível que os autores bíblicos fizessem referência, ao contrário da convenção comum, a anjos? Sabemos que não pretendiam se referir a “deuses”, pois, ensinaram para a humanidade que há somente um Deus. Todavia, sendo um texto considerado inspirado, transcendendo o humano, não se pode admitir “equívoco do Espírito”. Isto vale, também, para o sentido como verbo “Criar” foi interpretado dos manuscritos? Então, como o bom senso pode guiar a compreensão da expressão? Entendemos que é possível compreender, sem cometer qualquer ofensa aos que pensam diferentemente, que a expressão pode ser escrita da seguinte forma:

              “Primeiro, os seres divinos formaram os céus e a terra”.

Poder-se-ia especular a respeito do emprego da expressão reshit, cuja raiz é ro'sh. Assim, construindo a expressão Be'reshit, por meio do emprego de uma tradução não usual: cabeça ou líder. Onde, então, a frase seria construída da seguinte forma: "Com o cabeça, seres divinos formaram os céus e a terra"; ou, ainda, "Com o líder, seres divinos formaram os céus e a terra".

CONCLUSÃO?!

Para aqueles que sustentarem que a expressão é inverossímil, pedimos vênia para refletir a questão à luz da Doutrina Espírita, vez que no ano de 1938 o Espírito Emmanuel, a respeito da Gênese Planetária (7), falou acerca da Comunidade de Espíritos puros nos seguintes termos:
“Rezam as tradições do mundo espiritual que na direção de todos os fenômenos, do nosso sistema, existe uma comunidade de Espíritos puros e eleitos pelo Senhor supremo do universo, em cujas mãos se conservam as rédeas diretoras da vida de todas as coletividades planetárias. Essa comunidade de seres angélicos e perfeitos, da qual é Jesus um dos membros divinos, ao que nos foi dado saber, apenas se reuniu, nas proximidades da Terra, para a solução de problemas decisivos da organização e da direção do nosso planeta, por duas vezes no curso dos milênios conhecidos".

E, prossegue o benfeitor (7):
"A primeira, verificou-se quando o orbe terrestre desprendia da nebulosa solar, a fim de que lançassem, no tempo e no espaço, as balizas do nosso sistema cosmogônico e os pródromos da vida na matéria em ignição, do planeta, e a segunda, quando se decidia a vinda do Senhor à face da Terra, trazendo à família humana a lição imortal do seu Evangelho de amor e redenção”.

André Luiz, Espírito, tratando de questões relacionadas com o fluído cósmico, plasma divino, Criador e cocriação nos planos maiores e menores, na obra mediúnica "Evolução em Dois Mundos" (8), refere-se às inteligências gloriosas, que, sob o influxo do próprio Senhor supremo, eis que a Ele agregadas em processo de comunhão indescritível, operam da seguinte maneira:
Extraem "[...] desse hálito espiritual os celeiros da energia com que constroem os sistemas da imensidade, em serviço de cocriação em plano maior, de conformidade com os desígnios do Todo-Misericordioso, que faz deles agentes orientadores da Criação excelsa. Essas Inteligências gloriosas toma o plasma divino e convertem-no em habitações cósmicas, de múltiplas expressões, radiantes ou obscuras, gaseificadas ou sólidas, obedecendo a leis predeterminadas, quais moradias que perduram por milênios e milênios, mas que se desgastam e se transformam por fim, uma vez que o Espírito criado pode formar ou cocriar, mas só Deus é o Criador de toda a eternidade. [...] Devido à atuação desses arquitetos maiores, surgem nas galáxias as organizações estelares como vastos continentes do Universo em evolução e as nebulosas intragaláticas como imensos domínios do Universo, encerrando a evolução em estado potencial, todas gravitando ao redor de pontos atrativos com admirável uniformidade coordenadora. [...] A Engenharia celeste equilibra rotação e massa, harmonizando energia e movimento [...].".


Sabemos das divergências existentes acerca dos modos de como interpretar as Escrituras Sagradas. Respeitamos o ponto de vista de cada um. Contudo, parece que a interpretação trazida a lume promove a integração das três revelações: Judaísmo (Moisés), Evangelho (Jesus) e Espiritismo (Consolador). Trouxemos o pequeno estudo como contribuição a um ensaio de interpretação e motivo para reflexão. Sua consequência moral é que, vencido o materialismo, comprovamos por meio da aliança entre ciência e religião que não estamos à deriva, não somos produto do acaso, pertencemos a uma ordem, criados com vistas à perfectibilidade, rumo à comunidade de Espíritos puros. Que vença a Religião Cósmica: o Amor; Eis que Dele somos criação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

1. DIAS, Haroldo Dutra. Novo Testamento. Trad. Haroldo Dutra Dias. Brasília, FEB, 2013.
2. DICIONÁRIO BÍBLICO STRONG. Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de Strong. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2002.
3. FRIDLIN, Jairo (Coord.). Torá – A lei de Moisés. São Paulo: Sêfer, 2001.
4. SCHÖKEL, Luís Alonso. Bíblia do Peregrino. Paulo Bazaglia (Coord.). 3. Ed. São Paulo: Paulus, 2011.
5. WALTON, John H.; MATTHEWS, Victor H.; CHAVALAS, Mark W. Comentário bíblico Atos: Antigo Testamento. (Trad. Noemi Valéria Altoé). Belo Horizonte: Editora Atos, 2003.
6. WOUK, Herman. Este é o Meu Deus. São Paulo: Séfer, 2002.
7. XAVIER, Francisco Cândido. A Caminho da Luz. Ditado pelo Espírito Emmanuel. Brasília: FEB, 2015.
8. XAVIER, Francisco Cândido. Evolução em Dois Mundos. Ditado pelo Espírito André Luiz. Brasília: FEB, 2013.

DESTAQUE DA SEMANA

A DOUTRINA DOS ESPÍRITOS NÃO É ASSUNTO QUE SE ESGOTA EM UMA PALESTRA

  EM SUAS VIAGENS KARDEC MINISTRAVA ENSINOS COMPLEMENTARES AOS QUE JÁ POSSUIAM CONHECIMENTO E ESTUDO PRÉVIO. Visitando a cidade Rochefort, n...