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domingo, 12 de fevereiro de 2023

O SUPOSTO TRÍPLICE ASPECTO DO ESPIRITISMO É FALSO

É possível que você tenha ouvido falar que o espiritismo possui tríplice aspecto, qual seja: científico, filosófico e religioso.

A introdução desta ideia (porque há outras fontes que a mencionam) pode ser atribuída ao conteúdo da obra O Consolador, psicografia de Chico Xavier, ditada por Emmanuel (FEB, 1940), onde há remissão a um diálogo ocorrido em 31.10.1939, intitulado definição, cujas questões propostas são respondidas, aparentemente, em 08.03.1940.

Importa salientar que consta no referido texto que foi iniciado um estudo de 'temas doutrinários' realizado por meio de "perguntas nossas à entidade Emmanuel, a fim de ampliar-se a esfera dos nossos conhecimentos". Esse texto informa ainda que o estudo foi inaugurado com duas questões, as quais são precedidas de uma INFORMAÇÃO curiosa, a saber:

1. Afirma o autor da nota, que, SEGUNDO O GRUPO DE ESTUDOS DAQUELE CENTRO, o "espiritismo, na sua feição de Consolador prometido pelo Cristo", APRESENTA "três aspectos diferentes: científico, filosófico e religioso";

2. Em seguida à informação, o autor da nota diz que a dúvida capital para AQUELE GRUPO seria acerca de "qual desses aspectos é o maior"?

3. A segunda questão, refere-se ao DESEJO DO GRUPO de intensificar os conhecimentos, relativamente ao tríplice aspecto do Espiritismo (sic) e, se neste sentido, poderiam continuar perguntando a respeito.

É de se estranhar que no bojo da obra NÃO SE ENCONTRA nenhuma questão sobre o tema TRÍPLICE ASPECTO, além do fato capital de que este NUNCA FORA MENCIONADO POR KARDEC. Portanto, é o autor da nota (que não é assinada) quem AFIRMA que o espiritismo possui um tríplice aspecto.

Ora, um grupo de estudos deveria partir da premissa que pouco conhecem e questionar SE o espiritismo possui ou não tal aspecto, cuja ideia é fruto do pouco ou nada que compreenderam dessa ciência filosófica. Outro ponto crucial é perquirir sobre o fato de que o organizador do espiritismo não o apresentou dessa forma, como veremos no desenvolvimento do artigo.

Além disto, o 'porta-voz' do grupo, declarou que haveria o objetivo de ampliar-se a esfera de conhecimentos do grupo quanto a 'temas doutrinários'. Bem se vê que essa informação, por si só, já traz muita controvérsia. É que Allan Kardec apresenta o espiritismo como ciência filosófica (O que é o Espiritismo, preâmbulo), afirma que o seu trabalho foi sempre para apresentar o caráter moral da doutrina espírita (Viagem Espírita em 1862, primeiro discurso), assim como refuta peremptoriamente a ideia de 'religião espírita' no artigo onde responde ao Abade Chesnel (Revista Espírita, 1859).

controvérsia se dá na ausência de explicação pelo autor da nota (esclarecimento) o que o grupo entende por DOUTRINA. O fato é que a expressão doutrina refere-se a um conjunto coerente de ideias fundamentais a serem transmitidas, ensinadas; ideias básicas que compõem um sistema filosófico, político ou religioso. Nem é preciso dizer quem decide qual é o conteúdo de sua obra.

Mas, é importante esclarecer que Kardec trata da natureza do conteúdo do ensino dos Espíritos superiores. Com clareza solar enfatiza que o conteúdo de O Livro dos Espíritos é a Doutrina Espírita (como especialidade). E diz mais, ao contrário de política ou religião, o organizador do espiritismo esclarece que o conteúdo da obra filia-se ao Espiritualismo (como generalidade), razão porque traz o enunciado Filosofia Espiritualista (Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita, item I). Há alguma dúvida ainda? Se ainda restar, mostraremos o equívoco a seguir.

Sobre a entidade espiritual que o autor da nota diz ter consultado, sabemos que se trata de um Espírito que apresentou um alto nível de conhecimento no conteúdo da obra Pensamento e Vida, ditada ao mesmo médium. E, curiosamente, nas suas supostas respostas contidas na nota intitulada DEFINIÇÃO (O Consolador, FEB, 1940) o Espírito NÃO MENCIONA SEQUER UMA LINHA sobre o conteúdo da REVISTA ESPÍRITA DE DEZEMBRO DE 1868, onde Allan Kardec, o organizador do Espiritismo, DEMONSTROU em minúcias porque o espiritismo NÃO É uma religião, como se verá mais à frente.

Saliente-se que a obra O CONSOLADOR foi dividida em três partes, a saber: ciência, filosofia e religião. Quem se der ao trabalho de analisar a parte que se refere ao tema RELIGIÃO, observará que as perguntas feitas não possuem qualquer conteúdo relacionado com a teoria moral espírita, pois que, no limite, buscou-se interpretar textos contidos nas narrativas dos Evangelhos de João, Lucas, Marcos e Mateus, etc.

Note-se que o texto retro mencionado da obra O Consolador é datado, mas NÃO É ASSINADO nem pelo Espírito, nem pelo autor. Pela construção textual, parece se tratar de documento produzido por terceiros, ocasião em que se atribui a autoria das tais respostas ao Espírito Emmanuel.

Esse fato é sobremaneira importante! É que não se pode trabalhar com uma afirmação peremptória de que o Espírito tenha respondido ou não, validado ou não, o suposto tríplice aspecto, objeto de investigação desse trabalho.

Na prática verifica-se a seguinte situação ambígua:

a. A afirmação sobre o suposto tríplice aspecto do espiritismo parte da crença, sob palavra, em um autor que não assina o documento; Mais ou menos assim: "foi o outro que falou, mas eu ouvi e estou atestando";

b. Não há, além do texto em livro, qualquer informação sobre a existência de documento original que comprove a afirmação de que tais perguntas, de fato, foram encaminhadas à entidade espiritual declarada em seu conteúdo e, ainda, que a respectiva entidade as tenha respondido realmente;

c. O texto fonte menciona, tão somente, ao final: Pedro Leopoldo, 8 de março de 1940, SEM O NOME DO AUTOR da nota que teria ouvido/transcrito as respostas.  Nesse sentido, há defeito de autoria. Estamos diante de uma notícia apócrifa (não autêntica por falta de assinatura).

Informamos ainda que, na obra Pensamento e Vida (FEB, 1958), o Espírito Emmanuel, apresentando uma singela cartilha falada a respeito dos problemas do Espírito, utilizada nas escolas de regeneração, entre a morte e o renascimento, junto aos companheiros em trânsito para o berço (reencarnação)NÃO TRATA DO TEMA RELIGIÃO, limitando-se a trazer, nos capítulos 6 e 26, os temas Fé Oração, respectivamente.

Neste sentido, pode-se questionar se em uma obra que dialoga com a teoria moral espírita de autonomia e liberdade, caso o espiritismo possuísse um tríplice aspecto, não seriam apresentados aos reencarnantes informações sobre tal ideia?

Todavia Emmanuel trata de ciência e filosofia na obra Pensamento e Vida. Não é curioso?

É espantoso como outra questão importante passou ao largo desta controvérsia. É que os textos acima mencionados foram publicados, conforme informações extraídas das próprias obras, nos anos de 1940 (O Consolador) e 1958 (Pensamento e Vida), enquanto que, segundo o pesquisador e filósofo José Herculano Pires, na obra O Verbo e a Carne:

"Toda a coleção da Revista Espírita do tempo de Kardec indispensável ao estudo da doutrina, só foi publicada no Brasil, a revelia e contra a vontade da FEB, na década de 60, em tradução de Júlio Abreu Filho. O importante livrinho de Kardec O Espiritismo na sua mais simples expressão só apareceu em 1970". 

Destarte, fica comprovado que a maioria dos integrantes do grupo de estudos, senão todos, DESCONHECIAM todo o conteúdo das revistas espíritas (neste trabalho traremos o conteúdo de importantes publicações de Allan Kardec na Revista Espírita).

E, a sua impressão sobre o conteúdo da Doutrina Espírita é fruto da maneira equivocada como o Espiritismo foi divulgado no Brasil, principalmente após os anos de 1917 e seguintes, quando os precursores do Espiritismo no Brasil, que estudavam essa ciência filosófica como desenvolvida por Allan Kardec, já haviam sido "substituídos" por um grupo de religiosos dissidentes da igreja católica (ver obra AUTONOMIA - a história jamais contada do espiritismo).

Será que o a entidade espiritual mencionada na nota intitulada DEFINIÇÃO, não sabia da existência da resposta dada por Allan Kardec na Revista Espírita de dezembro de 1868, onde o organizador deixa claro que o espiritismo não é uma religião? O que dizer sobre a resposta de Kardec ao Abade Chesnel na Revista Espírita de Maio de 1859 sobre o mesmo assunto? E quanto ao conteúdo das demais Revistas Espíritas, que tratam de refutar, peremptoriamente, a suposta existência de um caráter religioso da Doutrina Espírita, bem como as demais obras até aqui citadas?

Se sabia, por quais motivos não as citou e apresentou suas refutações (ou concordância), como procedeu no caso da questão envolvendo o tema metades eternas quando usou uma nota ao final da obra para se explicar?

Aproveitamos para lembrar que a entidade Emmanuel, segundo relato de Francisco Xavier, o instruiu para ficar com Jesus e Kardec quando, em qualquer hipótese, ele apresentasse qualquer contradição com a Doutrina Espírita em suas dissertações. Observamos que no caso da obra O Consolador, nota-se que houve clara contradição em mais de uma vez (caso das metades eternas e o suposto tríplice aspecto do espiritismo).

Antes de prosseguir com as provas irrefutáveis de que o suposto tríplice aspecto do espiritismo é falso, pois o espiritismo não é uma religião, vamos trazer alguns conhecimentos importantes para a nossa pesquisa, cujo conteúdo poderá guiar melhor o pesquisador sério que se dedicar à temática do presente artigo.

Todo questionamento é importante para uma investigação, pois o objetivo do espiritismo é revelar a verdade, conforme aprendemos no capítulo 1 da obra A Gênese, Allan Kardec, 1868. Por isto mesmo é preciso nos entendermos quanto às palavras.

I. Por que o suposto tríplice aspecto do espiritismo é falso? Por se tratar de uma falácia. Vejamos, então, o significado:

FALÁCIA na FILOSOFIA de Aristóteles é qualquer enunciado ou raciocínio falso que, entretanto, simula a veracidade; trata-se de um sofisma (uma mentira com aparência de verdade).

Até que se prove peremptoriamente a autoria das respostas, o que o documento supõe é a simulação de uma verdade por meio de um sofisma, pois que apresenta um raciocínio falso quando tentamos aproximar o seu conteúdo dos postulados, princípios, teoria moral, ensinamento dos Espíritos superiores e os textos legados de Allan Kardec.

II. Por que o espiritismo é filosofia? Sobre a obra O Livro dos Espíritos, Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita, item I, Espiritismo e Espiritualismo, no último parágrafo, Allan Kardec esclarece qual é o seu conteúdo: 

"Como especialidade "O Livro dos Espíritos" contém a Doutrina Espírita; como generalidade liga-se ao Espiritualismo, do qual apresenta uma das fases. Essa a razão porque traz sobre o título as palavras: Filosofia Espiritualista".

III. O que é teodiceia?  Na Filosofia Espiritualista, própria do pensamento francês do século 19, vamos verificar a presença da matéria TEODICÉIA, que era estudada nos liceus e na universidade de Sorbonne, importando ao estudante do espiritismo compreender seu significado e origem. Vejamos:

TEODICEIA (FILOSOFIA):

1. No leibnizianismo, conjunto de argumentos que, em face da presença do mal no mundo, procuram defender e justificar a crença na onipotência e suprema bondade do Deus criador, contra aqueles que, em vista de tal dificuldade, duvidam de sua existência ou perfeição.
2. Qualquer doutrina ou argumentação com características semelhantes.
3. Teoria que, no pensamento francês do séc. XIX, além de contestar os argumentos antirreligiosos decorrentes da existência da maldade, explicava racionalmente a natureza divina e seus atributos.


IV. O que é religião natural? Outra informação relevante é compreender, em filosofia, o que se entende por religião natural, a fim de não fazer confusão e criar aspectos para conteúdos doutrinários onde eles não existem.

RELIGIÃO NATURAL: significa a "religião da natureza", na qual Deus, as almas, os espíritos, e todos os objetos do sobrenatural são considerados como parte da natureza e não separados dela; É uma expressão usada na filosofia para descrever alguns aspectos da religião (que devem ser conhecidos à parte da revelação divina) apenas através da lógica e razão, por exemplo, a existência da causa primeira do universo. Portanto, religião natural é assunto da FILOSOFIA.

Não há consenso entre os autores consagrados, pois uns consideram a religião natural como o fundamento das religiões monoteístas (judaísmo, o cristianismo e islamismo) e outros como diferente delas. Segundo alguns autores são encontrados universalmente, entre todos os povos, aspectos da religião natural. O que não ocorre com as seitas, oriundas da cultura e tradição, que possuem aspectos singulares, diferindo-se entre si.

V. O espiritismo pertence ao conhecimento humano:

O caráter do espiritismo é sua universalidade. Sobre a influência do Espiritismo no Progresso, Kardec indagou aos Espíritos superiores na questão 798: O Espiritismo se tornará crença comum, ou ficará sendo partilhado, como crença, apenas por algumas pessoas? No que eles responderam:

“Certamente que se tornará crença geral e marcará nova era na história da humanidade, porque está na natureza e chegou o tempo em que ocupará lugar entre os conhecimentos humanos”.

O conhecimento humano é fruto de sua ciência, da sua filosofia. O pensamento religioso é todo conjectural, baseado numa fé cega, não importando em zetética (perguntar, questionar, refutar, etc.), mas, repleto de dogmas particulares (conceitos inquestionáveis).

VI. O espiritismo é uma lei da natureza:

Quanto ao Espiritismo, eis o ensinamento contido na resposta à questão 222:

"[...]. Nunca dissemos ser de invenção moderna a Doutrina Espírita. Constituindo uma lei da Natureza, o Espiritismo há de ter existido desde a origem dos tempos e sempre nos esforçamos por demonstrar que dele se descobrem sinais na antiguidade mais remota".

Se é uma lei da natureza e não é um conhecimento moderno, verifica-se que não possui aspecto de religião.

Importa, agora, obter respostas a algumas questões que deveriam ser as premissas de todos os estudantes sérios a fim de evitar desdizer o que foi afirmado por Allan Kardec, o organizador do espiritismo.

VII. O que é a religião? é o inverso da filosofia, pois se baseia na fé cega, em acreditar em algo no qual não se pode comprovar, na crença inabalável de ensinamentos impostos por revelações divinas, o que leva a rotinas e dogmas.

Refletindo sobre os conceitos e definições, bem como nas informações compartilhadas alhures, o que é que se pretendeu afirmar com a ideia de um suposto aspecto religioso do espiritismo?

Será que o espiritismo busca explicar a origem do universo sem uso da razão?

É objetivo do espiritismo demostrar o inexplicável como vontade divina?

Há no espiritismo um confronto entre fé e razão?

Obviamente todas as respostas são negativas, uma vez que o espiritismo se ocupa da fé raciocinada. Por outro lado, A FILOSOFIA reflete a busca do ser humano pelo conhecimento de si mesmo e do mundo onde vive.

Não seria essa busca presente na Doutrina Espírita, conforme podemos verificar nas respostas às questões 918 e 919 de O Livro dos Espíritos?

VIII. Ainda é preciso perguntar: como surgiu a filosofia?

Foi da tentativa de superar uma fé cega em que os gregos viviam, tentando explicar os fenômenos através de causas racionais e não através dos mitos. O Iluminismo é uma expressão desse movimento, quando se esperava a superação total das crenças pela razão.

E, sem dúvida, a Filosofia Espiritualista Racional tem suas raízes nesse grande movimento do pensamento científico humano. Alguns filósofos acreditam que o melhor meio de alcançar a divindade é através da razão. E não é outra a busca que se estabelece na Doutrina Espírita?

XI. Qual a diferença entre religião e filosofia? 

a. RELIGIÃO é a crença na existência de um poder ou princípio superior, sobrenatural, do qual depende o destino do ser humano e ao qual se deve respeito e obediência.

É isto que o espiritismo propõe? Ou a proposta espírita é a conformação às leis divinas por meio da aquisição do conhecimento e do uso dos atributos do Espírito, para fins de uma decisão individual de fazer o bem, pelo bem de todos, sem qualquer tipo de coação, seja íntima ou externa?(questões 629 e seguintes de O Livro dos Espíritos).

Além do mais, o religioso (partidário de qualquer religião) toma uma postura intelectual e moral que resulta de sua crença religiosa.

É essa a proposta do espiritismo ou ele ensina que há apenas uma conduta moral a ser atingida como meta: fazer o bem, pelo bem e para o bem de todos? (questão 629 e ss. LE).

b. FILOSOFIA é uma ciência com vários conceitos a depender do campo científico de sua aplicação. Sobremaneira, refere-se à razão e à sabedoria. Trata-se de um pensamento onde o ser humano busca compreender a si mesmo e a realidade circundante, e que determinará o seu caráter prescritivo ou prático, voltado para a ação concreta e suas consequências éticas, políticas ou psicológicas.

Veremos, mais à frente, que Kardec, respondendo à questão: o que é o espiritismo? Vai responder em consonância com essa definição.

É verdade que, no campo da metafísica, como é próprio da filosofia, que o espiritismo apresenta um conjunto de especulações teóricas, busca as verdades primeiras e incondicionadas relativas à natureza de Deus, da alma e do universo, mas utilizando procedimentos argumentativos, lógicos e dedutivos, sem prescindir da observação (método próprio da Filosofia do século 19).

É possível verificar em O Livro dos Espíritos, já no início da obra, respostas sobre Deus, Alma e Universo. Portanto, o espiritismo é filosófico.

Para algumas informações contidas até aqui, sem prescindir de outras fontes, remetemos o leitor ao seguinte endereço eletrônico: https://blog.portaleducacao.com.br/religiao-e-filosofia-o-que-sao-e-quais-as-diferencas/ (acesso em 03.02.2023).


O SUPOSTO TRÍPLICE ASPECTO DO ESPIRITISMO É FALSO:

Se bem entendidos os conceitos de filosofia, religião, teodiceia, metafísica, religião natural, filosofia espiritualista, entre outros, é possível compreender a afirmação de Kardec na obra O Espiritismo em sua Mais Simples Expressão (Histórico do Espiritismo, pg. 27):

"Do ponto de vista religioso, o Espiritismo tem por base as verdades fundamentais de todas as religiões: Deus, a alma, imortalidade, as penas e recompensas futuras, sendo, porém, independente de qualquer culto em particular. Seu objetivo é provar àqueles que negam, ou que duvidam, que a alma existe, que ela sobrevive ao corpo e que sofre, após a morte, as consequências do bem ou do mal que praticar durante a vida corpórea: o objetivo de todas as religiões".

Não, Kardec não está afirmando que o Espiritismo é uma religião, pois, se assim fosse, ele não continuaria esclarecendo que:

"Católicos - gregos ou romanos - protestantes, judeus ou mulçumanos podem crer nas manifestações dos Espíritos e ser, por conseguinte, Espíritas. A prova está em que o Espiritismo tem adeptos em todas as religiões".

Nessa mesma obra o organizador do Espiritismo ainda vai afirmar que "o Espiritismo [...] não constitui uma religião especial, pois não possui sacerdotes nem templos".

Na obra O Que é o Espiritismo, Allan Kardec, em seu 3º diálogo (com o Padre), vai esclarecer de onde surgiu a falaciosa afirmação do Espiritismo como uma religião: 

"O Espiritismo não era mais que simples doutrina filosófica, foi a própria Igreja que o desenvolveu, apresentando-o como um temível inimigo. Foi ela, enfim, quem o proclamou como nova religião. Era uma demonstração de inépcia, mas a paixão na raciocina".

Em verdade é preciso raciocinar, a fim não confundir uma doutrina filosófica com consequências morais em razão das relações que se podem estabelecer entre os Espíritos com uma mera religião. É oportuno, também, uma vez que estamos mencionando a obra O Que é o Espiritismo, colacionar como Allan Kardec define o Espiritismo:

"O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática, consiste nas relações que se podem estabelecer com os Espíritos; como filosofia, compreende todas as consequências morais que decorrem dessas relações. Podemos assim defini-lo: o Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, da origem e do destino dos Espíritos e de suas relações com o mundo corporal".

Não se verifica, em nenhuma hipótese, qualquer expressão na definição de Kardec que se trataria de uma doutrina com tríplice aspecto. No máximo, dois, se não se considerar como o próprio organizador do Espiritismo o define em última instância: ciência.

Neste sentido, o que pede Allan Kardec para os Espíritas quanto a esse tema? Trata-se do estudo e da observação, conforme suas palavras no diálogo com o Padre, que reproduzimos:

"Melhor observado depois que se vulgarizou, o Espiritismo vem derramar luz sobre grande número de questões, até hoje insolúveis ou mal compreendidas. Seu verdadeiro caráter é, pois, o de uma ciência, e não de uma religião; e a prova disso é que ele conta entre os seus aderentes homens de todas as crenças, que por esse fato não renunciaram às suas convicções: católicos fervorosos que não deixam de praticar todos os deveres do seu culto, quando a Igreja os não repele; protestantes de todas as seitas, israelitas, muçulmanos e mesmo budistas e bramanistas".

Além de não ser uma religião, ter entre seus adeptos pessoas de todas as crenças, o Espiritismo é um grande aliado para fazer a ponte entre ciência e religião, uma vez que:

"Não será isso um pequeno serviço prestado à humanidade e à Religião? Porém, não é ainda tudo: a certeza da vida futura, o quadro vivo daqueles que nos precederam nela, mostram a necessidade do bem e as consequências inevitáveis do mal. Eis por que, sem ser uma Religião, o Espiritismo se prende essencialmente às ideias religiosas, desenvolve-as naqueles que não as possuem, fortifica-as nos que as têm incertas".

 

Kardec anteviu que o Espiritismo sofreria ataques por meio de interpretações sistemáticas e errôneas. Eis o que escreveu sobre isso no texto impressões gerais, preâmbulo da obra Viagem Espírita em 1862:

"Quando a ciência espírita estiver solidamente constituída e escoimada de todas as interpretações sistemáticas e errôneas, que caem a cada dia ante o exame sério, eles se ocuparão de estabelecê-la em âmbito universal, para isso empregando poderosos meios".

O esforço de Allan Kardec sempre foi no sentido de demonstrar a face grave e sublime dessa nova ciência:

"[...] fazendo-a sair do caminho puramente experimental para fazê-la penetrar no da filosofia e da moral [...]" (idem, primeiro discurso).

Os graves erros, as interpretações errôneas, com toda certeza é fruto de ausência total ou da deficiência de estudos da Doutrina Espírita em obras genuinamente espíritas, pois, como o próprio Kardec afirmou:

"Onde quer que minhas obras penetraram e servem de guia, o Espiritismo é visto sob o seu verdadeiro aspecto, isto é, sob um caráter EXCLUSIVAMENTE MORAL (idem)".

Certamente, Allan Kardec falou sobre ASPECTO DO ESPIRITISMO, mas, como podemos comprovar, tratou do verdadeiro aspecto, DO MAIOR ASPECTO DO ESPIRITISMO, que é o ASPECTO MORAL. Portanto, divergindo totalmente daquela afirmação feita na nota apócrifa da obra O Consolador, Kardec não afirmou existir um suposto aspecto religioso e, sem dúvida, não há tríplice aspecto.

Cabe, ainda, trazer ao presente artigo as palavras profundas e esclarecedoras sobre esse tema: o suposto tríplice aspecto do espiritismo. Segundo Allan Kardec NÃO EXISTE o aspecto religioso, pois, o espiritismo não é uma religião. É o que se depreende da longa resposta contida na RE – Maio/1859 – Respondendo a um artigo do Abade François Chesnel publicado no Jornal Univers.

Segundo Allan Kardec, o artigo do Abade "contém um erro grave e pode dar uma ideia muito falsa, quer do Espiritismo em geral, quer em particular do caráter e do objetivo dos trabalhos da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas".

Assim, Kardec responde o clérigo nos seguintes termos:

"[...] Senhor abade, o artigo que publicastes no Univers, relativamente ao Espiritismo, contém vários erros que importa retificar e que procedem, fora de dúvida, de um incompleto estudo da matéria".

O tema central, bem como o título do artigo é “Uma nova religião em Paris”. Sobre o qual Kardec responde que:

"Admitindo que tal fosse, com efeito, o caráter do Espiritismo, aí haveria um primeiro erro, considerando-se que ele está longe de circunscrever-se a Paris. Conta milhões de aderentes espalhados nas cinco partes do mundo e Paris não foi o foco primitivo. Em segundo lugar, o Espiritismo é uma religião? Fácil é demonstrar o contrário".

Destarte, esclarece Kardec sobre o VERDADEIRO CARÁTER DO ESPIRITISMO que:

"[...] Seu verdadeiro caráter é, pois, o de uma ciência e não o de uma religião, e a prova disso é que conta, entre seus aderentes, homens de todas as crenças, e que nem por isso renunciaram às suas convicções: católicos fervorosos, que praticam todos os deveres de seu culto, protestantes de todas as seitas, israelitas, muçulmanos e até budistas e bramanistas. Há de tudo, exceto materialistas e ateus, porque essas ideias são incompatíveis com as observações espíritas".

Além do mais, Kardec explica os fundamentos da Doutrina Espírita, advertindo que:

"O Espiritismo, pois, repousa sobre princípios gerais, independentes de toda questão dogmática. É verdade que tem consequências morais, como todas as ciências filosóficas. Essas consequências são no sentido do Cristianismo, porque, de todas as doutrinas, o Cristianismo é a mais esclarecida, a mais pura, razão por que, de todas as seitas religiosas do mundo, são as cristãs as mais aptas a compreendê-lo em sua verdadeira essência".

Vamos traduzir o que Kardec está afirmando. As consequência morais das relações que se podem estabelecer entre e com os Espíritos se conformam ao Cristianismo. O Cristianismo é uma doutrina, que por seus fundamentos está em melhores condições (ou apta) a entender, compreender os princípios, postulados e filosofia espírita (no geral em relação ao Espiritualismo e no particular quanto à doutrina espírita).

Dessa forma, para quem julga equivocadamente o espiritismo, é preciso prestar atenção nas palavras de Kardec, pois, ele afirma que:

"O Espiritismo não é, pois, uma religião. Se o fosse teria seu culto, seus templos, seus ministros. Sem dúvida cada um pode fazer uma religião de suas opiniões e interpretar à vontade as religiões conhecidas, mas daí à constituição de uma nova Igreja há uma grande distância e creio que seria imprudência seguir tal ideia".

E continua:

"Em resumo, o Espiritismo se ocupa da observação dos fatos e não das particularidades de tal ou qual crença, da pesquisa das causas, da explicação que esses fatos podem dar de fenômenos conhecidos, assim na ordem moral como na ordem física, e não impõe nenhum culto aos seus partidários, como a astronomia não impõe o culto dos astros, nem a pirotecnia o culto do fogo".

Fato de não somenos importância é a explicação de Kardec sobre o próprio nome dado à instituição que fundou para pesquisar o espiritismo. Ele afirma que:

"[...] a denominação Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas não se assemelha ao de nenhuma seita; tão diferente é o seu caráter que seu estatuto proíbe tratar de questões religiosas".

E que:

"[...] está classificada na categoria das sociedades científicas, porque, com efeito, seu objetivo é estudar e aprofundar todos os fenômenos que resultam das relações entre os mundos visível e invisível; tem seu presidente, seu secretário e seu tesoureiro, como todas as sociedades".

Além do fato de que, quanto a fazer prosélitos:

"[...] não convida o público às suas sessões; ali não se faz nenhum discurso, nem coisa alguma que tenha o caráter de um culto qualquer".

Bem como, sobre a condução de suas sessões e trabalhos:

"[...] Conduz os seus trabalhos com calma e recolhimento, primeiro porque é uma condição necessária para as observações e, segundo, porque sabe que devem ser respeitados aqueles que não vivem mais na Terra".

Inclusive, esclarece sob a forma de convidar os Espíritos para comparecerem às sessões e a realização das mesmas, dizendo que:

"[...] Ela os chama em nome de Deus porque crê em Deus, em sua Onipotência e sabe que nada se faz neste mundo sem a sua permissão. Abre as sessões com um apelo geral aos Espíritos bons, uma vez que, sabendo que os há bons e maus, cuida para que estes últimos não venham se misturar fraudulentamente nas comunicações que recebe e induzi-la em erro".

Finalmente, pergunta Allan Kardec ao Abade:

[...] O que prova isso? Que não somos ateus; mas de modo algum implica que sejamos partidários de uma religião.

O que chama a atenção é a seriedade de Allan Kardec quanto aos que insistem em atribuir um caráter religioso ao espiritismo, quando adverte e convida a todos os incautos:

"Disso deveria ter ficado convencida a pessoa que vos descreveu o que se passa entre nós, se tivesse acompanhado os nossos trabalhos e, sobretudo, se os tivesse julgado com menos leviandade e talvez com espírito menos prevenido e menos apaixonado. Assim, os próprios fatos protestam contra a qualificação de nova seita que destes à Sociedade, certamente por não a conhecerdes melhor".

Nem se perca de vista que, tão importante quanto aos argumentos de Allan Kardec, são as respostas apresentadas pelo espiritista Senhor Dombre a um pregador que havia afirmado em sermão que o espiritismo seria uma religião. Na Revista Espírita de setembro de 1862, assevera o Senhor Dombre:

"Não; o Espiritismo não é uma religião, nem pretende ser uma religião. O Espiritismo se baseia na existência de um mundo invisível, formado por seres incorpóreos que povoam o espaço e que são apenas as almas dos que viveram na Terra ou em outros globos. [...] O Espiritismo desvenda-nos o mundo invisível; não é novidade, já que é mencionado pela história de todos os povos. Repousa sobre princípios gerais, independentes de toda questão dogmática. [...]; cada um pode fazer de suas opiniões uma religião, mas daí para a constituição de uma nova Igreja a distância é grande. Portanto, o Espiritismo não é uma nova religião". 

Para aqueles que ainda não compreenderam o que Allan Kardec quer dizer a respeito do espiritismo quando afirma que não possui culto nem templos, vejamos sua exposição em algumas refutações na Revista Espírita de maio de 1863. Verbis:

"Pareceis ignorar uma coisa que é bom saibais. Os grupos espíritas não são absolutamente necessários; são simples reuniões onde se sentem felizes por encontrar-se pessoas que pensam do mesmo modo. E a prova disto é que hoje, na França, há mais de 600.000 espíritas, 99% dos quais não fazem parte de nenhum grupo e neles jamais puseram os pés; que eles não existem numa porção de cidades";

E prossegue:

"[...] que nem os grupos nem as sociedades abrem suas portas ao público para pregar suas doutrinas aos transeuntes; que o Espiritismo se prega por si mesmo e pela força das coisas, porque responde a uma necessidade da época; que as ideias espíritas estão no ar e são aspiradas por todos os poros da inteligência; que o contágio está no exemplo dos que são felizes com essas crenças e que são encontrados por toda parte, na sociedade, sem que se precise procurá-los nos grupos".

 

Em 1864, conforme se depreende da Revista Espírita do mês de setembro, novamente, Allan Kardec responde sobre a esdrúxula afirmação dos representantes da igreja, os quais proclamavam o Espiritismo como nova religião do século 19. Verbis:

"Observação – Eis mais um príncipe da Igreja que proclama, num ato oficial, que o Espiritismo é uma religião que se cria. É o caso de repetir aqui o que já dissemos a respeito: Se algum dia o Espiritismo se tornar uma religião, a Igreja terá sido a primeira a dar tal ideia".


Muitos ainda vão afirmar que o espiritismo adotando as preces será, de fato, uma religião, ao que o próprio Allan Kardec, tecendo considerações sobre a prece no espiritismo,  responde na Revista Espírita do mês de janeiro de 1866, afirmando:

"Cada um é livre de encarar as coisas à sua maneira, e nós, que reclamamos esta liberdade para nós, não podemos recusa-la aos outros. Mas, do fato de uma opinião ser livre, não se segue que não se possa discuti-la, examinar o lado forte e o fraco, pesar suas vantagens e inconveniências. [...] O Espiritismo é uma ciência puramente filosófica; não só não é uma religião, como não deve ter nenhum caráter religioso. Toda prece dita nas reuniões tende a manter a superstição e a hipocrisia religiosa".

E, ainda na Revista Espírita de 1866, agora no mês de fevereiro, o organizador do espiritismo, apresentando o espiritismo segundo os espíritas, reportando a um artigo publicado por um periódico sério da França do século 19, demonstrou que era corrente entre os espíritas, entre outras coisas, a seguinte compreensão sobre a Doutrina Espírita:

“Não é uma Religião, pois não tem dogmas, nem culto, nem sacerdotes, nem artigos de fé; é mais que uma filosofia, porque sua doutrina é estabelecida sobre a prova certa da imortalidade da alma. É para fornecer esta prova que os espíritas evocam os Espíritos de além-túmulo".

Mas, todos sabemos de onde vem, de fato, esse ranço empedernido de querer fazer da Doutrina Espírita e do Espiritismo o que não é e nem nunca foi. Ao artigo da Revista Espírita de 1859, onde Kardec trava um diálogo com o Abade Chesnel, refutando o aspecto religioso da Doutrina Espírita, se somou furtivamente uma nota (de n. 9 na edição em pdf - FEB) do tradutor da revista, em um acerbo desserviço para a propagação, divulgação e disseminação da ciência filosófico-espírita, conforme transcrição a seguir:

"NOTA DO TRADUTOR DA REVISTA À AFIRMAÇÃO DE KARDEC QUANTO AO ESPIRITISMO NÃO SER UMA RELIGIÃO - Em vão se tentará negar o aspecto religioso do Espiritismo, tomando por base, de forma isolada, o presente raciocínio de Allan Kardec. Há que se examinar o conjunto de sua obra, a fim de não se chegar a conclusões precipitadas. Na Revista Espírita de dezembro de 1868 o Codificador defende de maneira peremptória o caráter religioso da Doutrina Espírita".

É uma nota de um deficiente intelectual, ao qual falta discernimento e cognição a priori. Sem dúvida, ao fazer uma afirmação rasteira destas, estará num daqueles grupos citados por Kardec: ou dos levianos ou dos apaixonados. Estudando a obra Viagem Espírita em 1862, veremos que o autor dessa nota está longe de pertencer à categoria dos verdadeiros espíritas.

Como visto, demonstrou-se nesse artigo que o tradutor da revista e autor da nota ora guerreada (sobre a afirmação de Kardec) está LONGE/DISTANTE de ter procedido um exame acurado do conjunto da obra. Não deve ter lido, porque estudar seria pedir muito para quem já vem com o copo cheio, nenhuma das informações que colacionamos nesse artigo. VEJAM QUE ESTAMOS ANALISANDO O CONJUNTO DA OBRA, isto é, nas Revistas Espíritas, bem como em todas as demais produzidas por Allan Kardec. O autor da nota, sem dúvida, não procedeu da mesma forma, pois já vinha com o seu julgamento antecipado sobre o tema.

Kardec, não só pela quantidade de informações, mas em face da qualidade das mesmas, afirmou em mais de uma ocasião qual é o verdadeiro caráter do espiritismo - uma ciência. Vale, finalmente, apresentar o conteúdo usado por muitos para afirmar que Allan Kardec mudou seu pensamento sobre o fato de não ser o Espiritismo uma religião. Pois bem, é o contrário. Na Revista a seguir verificamos que o suposto tríplice aspecto do espiritismo é falso:

Na Revista Espírita de dezembro de 1868, Kardec foi instado a responder se o espiritismo é uma religião. Apesar da profundidade daquele texto, onde são dadas minuciosas explicações sobre o significado e sentido da palavra religião; além do fato de Kardec demonstrar cabalmente que o Espiritismo não se enquadra na compreensão humana do que se convencionou denominar religião, ainda há muita má vontade nesse campo de estudo.

Kardec citou o significado da expressão religião como sendo um laço que religa os seres humanos entre si (e não com Deus, com o qual NUNCA perdeu sua ligação) numa comunhão de sentimentos, de princípios e de crenças.

Além disto, a obra A Gênese traz importante esclarecimento nesse sentido, pois que, para se afastar do Criador haveria de ter algum distanciamento entre Deus e os seres inteligentes, implicando na ausência de unidade do Universo, hipótese falsa, senão vejamos:

"O Universo é, ao mesmo tempo, um mecanismo imenso conduzido por um número incontável de inteligências, um enorme governo onde cada ser inteligente tem sua parte de ação sob o olhar do soberano Criador, cuja vontade única mantém a UNIDADE POR TODA A PARTE. Sob o império desse vasto poder regulador tudo se movimento, tudo funciona numa perfeita ordem". (Capítulo 18, item 4).

Explicou que o nome religião foi dado ao conjunto de princípios codificados e formulados em dogmas ou artigos de fé (observe que Kardec critica a ideia de codificar, codificador, etc., mas isso é matéria para outro artigo).

Como exemplo disto citou a hipótese da religião política, que implica uma fé política, consubstanciada numa ideia particular, ocasião em que demonstrou, ainda, que os seres humanos podem se filiar a um partido por um interesse, mas sem fé nesse partido. O mal da reunião por interesse é que há uma permanência, uma persistência à custa dos maiores sacrifícios. Não há fé sincera e nem renúncia dos interesses pessoais.

Portanto, Kardec explicou qual o sentimento que une os seres humanos nas seitas. Não é um laço de fraternidade e de solidariedade, mas apenas compromissos materiais e interesses pessoais, que podem ser rompidos facilmente.

Destarte, asseverou que:

"Não tendo o Espiritismo nenhum dos caracteres de uma religião, na acepção usual da palavra, não podia nem devia enfeitar-se com um título sobre cujo valor inevitavelmente se teria equivocado. Eis por que simplesmente se diz: DOUTRINA FILOSÓFICA E MORAL".

Neste sentido, fico com Kardec. Uma vez QUE EXISTE NO MUNDO APENAS A EXPRESSÃO RELIGIÃO e a mesma não traduz a ideia de uma religião natural ou filosófica sem os caracteres próprios de uma seita, o Espiritismo NÃO É UMA RELIGIÃO.

Mas, não se engane, o próprio Kardec esclareceu que o ser humano pode transformar qualquer ideia numa religião, fruto de sua interpretação equivocada, do seu erro, bem como do seu interesse pessoal.

Além do mais, importa colacionar uma importante instrução de Allan Kardec, contida no vocabulário espírita, obra Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas, ao explicar o significado do vocábulo ESFERA, ocasião que adverte sobre a precaução que devemos ter com pseudo sábios e expressões viciosas. Verbis:

"[...] Se um homem  que julgais sábio sustenta uma teoria evidentemente absurda, duvidais do seu saber [...]".

O profundo cuidado de Kardec com expressões viciosas e equivocadas usadas vulgarmente, como é o caso da palavra religião tratada na Revista Espírita de dezembro de 1868, o impulsionou a escrever o que segue (idem):

"Essas expressões são viciosas, mesmo tomadas em sentido figurado, porque podem induzir em erro sobre o sentido verdadeiro pelo qual se deve entender [...]".


Por fim, não pediremos ao leitor que tire suas próprias conclusões acerca do assunto nessa oportunidade, pois o próprio Allan Kardec refutou o suposto tríplice aspecto do espiritismo.

Assim, a conclusão é de uma lógica solar, visto que o organizador do Espiritismo deixa claro o VERDADEIRO CARÁTER DO ESPIRITISMO, ou seja, uma ciência.

Neste sentido, O SUPOSTO TRÍPLICE ASPECTO DO ESPIRITISMO É FALSO. Trata-se de uma falácia.

Uberaba-MG, 10/02/2023 (atualização/finalização: 23/02/2023)
Autor e revisor: Beto Ramos
Rev. textual/conteúdo: Lauro Rodrigues

quarta-feira, 6 de outubro de 2021

EXPIAÇÃO E PROVA NO ENSINO DOS ESPÍRITOS



O que é o Espiritismo?

Qual classificação o Espírita adotará?


Allan Kardec classifica a Doutrina Espírita como uma ciência da observação. Parte do movimento espírita brasileiro adota tese de que se trata de uma religião. E, uma parte desta parte, fundamenta o aspecto religioso numa interpretação livre de um artigo de Kardec sobre a questão na Revista Espírita de Dezembro de 1868. Outros também usam a opinião do Espírito Emmanuel na obra O Consolador.

No entanto, uma concepção contrária à classificação de Kardec implica na tensão permanente entre várias ideias acerca de temas doutrinários importantes. Por exemplo, começamos pela diferença clara entre o conceito de fé racional e fé religiosa.

No capítulo 19, item 7 de O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec traz o conceito de fé racional, que precisa ser lida conforme o preâmbulo da obra O Que é o Espiritismo onde há a definção de Espiritismo. Em 1868, na Revista Espírita de Dezembro, deixa claro porque o Espíritismo NÃO é uma religião.

Não admitindo o dogma da 'fé cega' e cultos de qualquer natureza, o Espiritismo não valida as práticas que se traduzem em verdadeiros cultos como se observa na atualidade de muitos grupos denominados espíritas. Para demonstrar as dificuldades que um concepção equivocada provoca trazemos uma tensão bastante comum: o livre-arbítrio preconizado na Doutrina Espírita e a ideia da "reencarnação compulsória".


Quanto ao livre-arbítrio, o Espiritismo preconiza que o ser humano possui um círculo onde pode se mover livremente. Esse movimento é limitado pelas Leis Naturais (Rev. Esp., PDF, FEB, 1866, pg. 214). No entanto, é preciso ter em conta a lei moral do progresso, que mostra que o ser humano é quem se coloca em condições de ampliar esse seu círculo de ação.

É importante recordar que, segundo o Espiritismo, o objetivo da encarnação é colocar o Espírito em condições de suportar a parte que lhe toca na obra da criação (Q. 132, LE). Durante esse processo, acertando e errando, o Espírito poderá ser tanto um Espírito de um assassino arrependido (Rev. Esp., Março de 1858) quanto o Espírito de endurecido de uma rainha (Rev. Esp., Março de 1858).

O certo é que há meios, conforme as Leis Naturais, para  provocar que o Espírito escolha uma existência que lhe servirá ao progresso. No processo de escolha poderá haver uma intervenção natural quando o Espírito, por inferioridade ou má vontade, está incapaz de compreender o que lhe será mais útil.

Veja que trata-se dos casos onde o Espírito ignora o objetivo preconizao da encarnação dos Espíritos (melhoramento). É que, muitos desconhecem o fato de que são as tribulações e as vicissitudes que despertam sua inteligência e provoca o seu avanço.

A encarnação (Q. 132, LE) constitui o meio adequado para o Espírito adquirir conhecimentos e progredir, e, também para reunir as condições necessárias que propiciam ampliar o leque de escolhas. Nessa situação o Espírito experimenta uma espécie de relativização do seu livre-arbítrio. 

Não por pena ou castigo, mas porque é impossível burlar a Lei Natural da reencarnação (Q. 262 e 262.a, LE). Os endurecidos e os ignorantes precisam de auxílio para fazer UMA ESCOLHA com conhecimento de causa (item 8, cap. 5, ESE). É um processo educativo. A escolha não deixa de ser feita pelo Espírito e não há suspensão do livre-arbítrio. Ele apenas recebe a ajuda de Espíritos mais experientes e, assim, adquira condições necessárias para fazer uma escolha com conhecimento de causa.

Chegamos à questão: não está aí o processo da reencarnação compulsória? Esse termo está presente em algumas obras mediúnicas. A ideia central por trás da compulsoriedade é que reencarnação serve para 'pagamento de débitos oriundos de vidas passadas'. Se foi mal é castigado com uma reencarnação rude e se foi bom a reencarnação é como uma recompensa. Isso é fruto daquela compreensão do Espiritismo como religião.

Tanto pior quando busca-se reconhecer um caráter/aspecto híbrido ao Espiritismo: ao mesmo tempo ciência e religião. É o que se percebe quando se verifica a explicação de que a compulsoriedade decorre da causa, que seria a ação do Espíritos, a qual resulta no efeito: a reação

Mas essa não é a tese espírita. O Espiritismo preconiza que o Espírito reencarna em um gênero de prova que lhe seja útil, sempre com conhecimento de causa. Quando não possui elementos para escolher é AUXILIADO nesse processo. Não é nada compulsório, uma vez que "Deus sabe esperar, não precipita a expiação" (Q. 262.a, LE). Na prática, os Espíritos reencarnam para aprender a fazer escolhas certas. No processo, erra bastante e aprende muito.

Pensando em como Allan Kardec classifica o Espiritismo (ciência ou religião) tem-se a premissa para julgar os fatos. Convidamos para avançar na reflexão e observar os apontamentos seguintes.

A construção teórica sobre a encarnação e as leis naturais no Espiritismo não reflete a ideia de que os Espíritos estão sujeitos a sofrer essa ou aquela situação reencarnatória como um castigo ou reprimenda (essa tese religiosa é totalmente refutada na Obra O Céu e o Inferno). Depreende-se que o Espírito é instruído a fazer uma escolha com conhecimento de causa, na modalidade colegiada, como fundamentado acima.

Isso somente ocorre quando o Espírito não reúne condições para fazer a melhor escolha, pois, em regra "sua atenção estando incessantemente voltada para as consequências desse mal, ele compreende melhor os inconvenientes do seu procedimento e é levado a corrigir" (As penas futuras segundo o Espiritismo, item 7, OCI).

A tensão provocada pela classificação atribuída ao espiritismo, se ciência ou religião, pode conduzir ao erro de se adotar a posição de um Espírito em detrimento de princípios doutrinários. É o caso de se pensar na compulsoriedade de uma reencarnação tendo como premissa uma dívida passada. Isso, não só relativiza o livre-arbítrio, mas o anula.

É que o Espiritismo se fundamenta num conjunto harmônico de princípios em que um não anula o outro. A reencarnação proporciona ao Espírito os meios para sua evolução, contínua e perpétua, o que ocorre nas sucessivas reencarnações, por meio das escolhas do seu lívre-arbítrio e numa variedade de habitações cósmicas.

O que fazer quando se está diante de uma informação diferente da tese Espírita? É necessário verificar se o Espírito que trata do assunto traz uma opinião pessoal ou não. Para tanto, Kardec criou e indicou um método de análise das comunicações quando estas se referirem à questões de interesse geral ou doutrinárias, conforme a figura a seguir:


O tema reencarnação compulsória está presente em obras do Espírito André Luiz. Sem faltar com respeito ao Espírito, mas em razão da argumentação que sustentamos nesse artigo, importa destacar que, segundo o Espírito Emmanuel  no prefácio da obra Os Mensageiros, há uma sugestão para receber as informações de André Luiz como opiniões pessoais. Emmanuel usa o exemplo de um chimpanzé guindado ao palácio, que fala sobre o palácio, as pessoas e os costumes para os outros chimpazés que ficaram na floresta. Suas informações serão fruto da sua compreensão de chimpanzé, sem qualquer salto evolutivo.

Para esses casos convem usar sempre o método de Kardec para conferir autoridade à doutrina espírita que, não sendo concepção puramente humana e nem transmitida por um único Espírito, carece de controle da sua universalidade. O controle universal do ensino dos Espíritos (O Evangelho Segundo o Espiritismo) é o meio pelo qual se observa a força do Espiritismo. Trata-se de uma maneira de afastar a imprudência de aceitar uma opinião pessoal.

O que tudo isso tem a ver com a definição de expiação e prova segundo o ensino dos Espíritos? A concepção que se faz do Espiritismo, se religião ou ciência, faz toda a diferença na compreesão dos institutos ora tratados. A aceitação cega sem aplicação do método de Kardec para informações provenientes do mundo espiritual está atrelada à essa concepção. Toda a inferência acima sobre a tensão entre livre-arbítrio e reencarnação compulsória nos conduz a esse tema. Vejamos!

Partindo da teoria espírita chega-se a um resultado racional, o que não é possivel a partir de uma concepção religiosa. Ainda que sob a argumentação de que a fé, agora, é racional. Pela concepção religiosa expiação e prova se tornam subproduto da lei de causa e efeito, que desagua noutra: a de ação e reação.

Diante da tensão, é necessário perguntar:
a. Há lei de causa e efeito no Espiritismo?
b. Nesse caso, os Espíritos são regidos por uma lei de karma ou destino?

Kardec define causa e efeito n'O Evangelho Segundo o Espiritismo como um axioma e não como uma lei (cap. 5, item). Um axioma é usado para explicar o que é indemonstrável, como DEUS e a CRIAÇÃO, por exemplo.

  • Sendo causa e efeito um axioma que explica o indemonstrável, não haverá presença de regularidade para o objeto que se quer explicar.
  • Se não é regular, não é lei. A lei é aquilo que define as relações constantes que existem entre fenômenos naturais. Lei se traduz em regra.

A evolução do Espírito está atrelada ao seu progresso intelecto-moral. A moral, objeto de estudo do Espiritismo, está muito bem definida pela Doutrina Espírita (Q. 629, LE). Em se tratando de moral, nada advém do mundo exterior, a não ser o conhecimento proveniente da relação que com ele se estabelece por meio dos sentidos físicos durante a encarnação.

É preciso considerar que, quanto às questões de moral, tudo se impõe ao Espírito por meio de sua razão, de sua consciência ou por determinadas condições ou circunstâncias. Os Espíritos, segundo o Espiritismo possuem liberdade de fazer as próprias escolhas. Nesse caso, a "causa e o efeito" só poderá ser consequência do uso do livre-arbítrio individual.

Indagamos: é regra que qualquer Espírito que faça a escolha 'a' obtenha o resultado 'b'? A resposta sensata, lógica e razoável é não.

Não se deve confundir a causa e efeito (axioma filosófico) com ação e reação (lei da física). O comportamento humano (agir conforme ou não com as leis da natureza) é resultado do conhecimento adquirido, de sua compreensão de bem e mal, das condições e circuntâncias que esteja diante, da consciência ou não dos atos segundo o conhecimento adquirido e da  sua compreensão deste.

Os Espíritos que procuram nova existência avaliam suas vidas anteriores, quais os erros cometidos e qual imperfeição é a causa dos seus sofrimentos. Estuda o que poderá lhe ajudar a não cometer essa ou aquela falta. Busca provas e expiações que acredita apropriadas ao seu adiantamento e se instrui junto a Espíritos que lhe sejam superiores (Q. 393, LE).

Há uma divisão entre prova e expiação? Segundo o Espiritismo não. Todos os problemas enfrentados na encarnação são oportunidades para corrigir erros passados, ao passo que são provas para o futuro. Tudo é aprendizado e não há uma regra absoluta para Espírito algum. Para induzir a uma possível identificação do gênero de existência precedente de um Espírito é mais seguro estudar suas tendências instintivas do aquilo que se julga ser a prova ou a expiação (Q. 399, LE).

Segundo anota Kardec o julgamento sobre o que fomos e o que fizemos está na esfera individual, isto é, um juízo do próprio Espírito encarnado (nota de Kardec à Q. 399). O que é util para o progresso do Espírito é o seu próprio estudo das imperfeições morais que precisa corrigir e não as físicas.

Por que o julgamento do outro é falho? Porque não há regras absolutas.

Há expiações que são frutos da existência atual que o Espírito experimenta. A ação humana tem como princípio o ato do dever. Trata-se da obrigação moral da criatura para consigo mesma primeiramente e, depois, para com os outros (O dever, Lázaro, ESE). O dever íntimo fica entregue ao livre-arbítrio e é regido pela consciência que, por vezes, é impotente diante das paixões. Ceder a elas não é nada anormal, mas parte do processo evolutivo.

A natureza moral do ato do dever exige que seja livre, consciente e racional da vontade. Essa atuação habitual se torna virtude e é esse o alvo que o Espírito busca atingir. Prova e expiação só podem resultar de escolhas livres do Espírito baseadas nos limites estabelecidos pelas Leis Naturais.

Expiação e prova são faces da mesma moeda. A primeira consequência de uma falta é reconhecê-la como tal. A partir daí o Espírito passa a desejar corrigir a imperfeição que lhe conduz a cometer a falta. Essa compreensão é fruto do estudo de si mesmo.

A expiação consiste em atravessar situações semelhantes a outras que já se experienciou, mas que sucumbiu ao erro. A prova está relacionada com o proveito que se almeja com o gênero escolhido, bem como da maneira como se suporta uma expiação.

Pode se afirmar que toda expiação é uma prova, mas, nem toda prova uma expiação. A causa dos males suportados pelo ser humano na terra está nele mesmo e resultam de suas imperfeições.

O caráter essencial da expiação reside na escolha livre do Espírito por uma existência que o auxilie a corrigir as imperfeições já reconhecidas, mas que ainda favorecem cometer erros.

O objetivo da expiação e da prova é o melhoramento do Espírito (Lei de Progresso). Para tanto, é preciso reconhecer o erro, arrepender, reparar e, então, expiar.

Se a forma de conceber a Doutrina dos Espíritos guardar relação com a concepção religiosa, prova e expiação guardará semelhança com castigo e recompensa. Com a ideia de céu e inferno. Porque as religiões compreendem um Deus antropomórfico que julga o indivíduo e lhe aplica, também, individualmente,  um castigo ou lhe dá uma recompensa. A moral, nesse caso é heterônoma. Dita-se um conjunto de regras que devem ser seguidas com a mediação de indivíduos que se tornam a voz do céu na Terra. Desta forma, nenhum mérito tem o Espírito, posto que está compelido por fatores exteriores e nunca movido pelo ato do dever livre, consciente e racional da vontade.

Se o Espiritismo for concebido como ciência, como preconiza Allan Kardec, prova e expiação assume o caráter pedagógico, de cunho individual, onde o ser, orientado pelas Leis Divinas, vai agindo, fazendo, não fazendo, tentando, errando e acertando, por meio de suas escolhas livres, que lhe proporcionará colher delas os seus frutos. A moral é autônoma. E a boa conduta é uma decisão individual do Espírito. Não há intermediário entre o indivíduo e Deus. Quando agir fazendo o bem, visando o bem de todos, foi movido por sua consciência em assim proceder. As regras que regem sua conduta são as Leis Divinas ou Naturais, mediadas pela compreensão que delas já atingiu.

Uberaba-MG, 05/10/2021.
Beto Ramos.

Fontes:
Kardec, Allan. Evangelho segundo o sspiritismo.
Kardec, Allan. O livro dos espíritos.
Kardec, Allan. O que é o espiritismo.
Kardec, Allan. O livro dos Médiuns.
Kardec, Allan. O céu e o inferno.
Kardec, Allan. Revista espírita.
Xavier, Francisco Cândido. Emmanuel. O consolador.
Xavier, Francisco Cândido. André Luiz. Missionários da Luz.
Xavier, Francisco Cândido. André Luiz. Nos Domínios da Mediunidade.
Xavier, Francisco Cândido. André Luiz. Ação e Reação.

DESTAQUE DA SEMANA

A DOUTRINA DOS ESPÍRITOS NÃO É ASSUNTO QUE SE ESGOTA EM UMA PALESTRA

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