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quinta-feira, 17 de março de 2022

DEUS, IDEIA DO BEM, ARTÍFICE DOS NOSSOS SENTIDOS.

 

O capítulo 6 da Obra A República, de Platão, nos convida a pensar sobre o artífice dos nossos sentidos. Segundo o autor Ele é quem modelou a faculdade de ver e de ser visto.

Nos diálogos, a reflexão é posta e conduzida pela personagem Sócrates. Por meio dela Platão trata da natureza do BEM, afirmando que o bem em si mesmo  é algo muito elevado. E, portanto, antes de conhecê-lo é necessário conhecer o fruto do bem em primeiro lugar.

Parece que Platão está lançando mão de um axioma filosófico (Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo 5, item 6), onde todo efeito tem uma causa e todo efeito inteligente possui uma causa inteligente. Não se trata de um sofisma ou jogo de palavras, mas, Platão afirma que para conhecer bem as coisas é necessário conhecer o bem.

Conforme as reflexões do autor, principalmente quando ele afirma que há cegos que seguem por caminhos certos, mas que isso não decorre de estarem enxergando, da mesma forma que há pessoas que possuem opiniões verdadeiras sobre algo SEM TER A COMPREÊNSÃO DESSA COISA, é possível pensar em uma afirmação de Allan Kardec, no Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo 19 - A Fé que Transporta Montanhas, item 7, em que declara: "A fé necessita de uma base, e essa base é a perfeita compreensão daquilo em que se deve crer". Outras traduções dessa obra usam a expressão "inteligência perfeita".

Como, então, conhecer bem as coisas, segundo Platão? Em sua obra, afirma que é necessário instruir-se pelo próprio esforço, adquirir a ciência mais elevada, respeitar as leis e adquirir virtudes. Em Platão, não nos enganemos, a ciência mais elevada é a IDEIA DO BEM ou o mais alto dos conhecimentos; é dessa ideia que a justiça e outras virtudes tiram suas vantagens e utilidades.

Uma questão essencial é que sem o mais alto conhecimento (a ideia do bem), de nada valem os demais. Para Platão não conhecemos suficientemente essa ideia. Por isto nenhum objeto tem valor sem a posse do bem.

Será que possuir muitas coisas se não forem boas é vantajoso, questiona o pensador. Para Platão a vantagem é possuir coisas boas, desde que identificadas como talE conhecimento só tem valor se vier acompanhado do belo e do bom.

No entanto, Platão chama atenção para uma questão comezinha quanto à compreensão do bem. Muitos julgam que o bem é o prazer. Outros, mais requintados, que é a inteligência.

Aquele que identifica o bem com o prazer se esquece que existem coisas boas e más. As pessoas se contentam mais com aquilo que lhes parece ser justo e belo. Nesse caso, ninguém se satisfaz com o que parece bom. Isso porque, no campo do BOM, despreza-se a APARÊNCIA.

Toda a insatisfação decorre do fato de que o BEM é uma IDEIA de cuja EXISTÊNCIA as ALMAS suspeitam, mas COM INCERTEZA. O paradoxo, portanto, é que, não obstante, as almas querem atingir esse bem. Para isso é necessária uma FÉ SÓLIDA. E, novamente, o paradoxo, ao contrário de ter uma fé sólida naquilo que se quer atingir (o bem), há tal fé em outras coisas, o que as tornam INÚTEIS. Por outro lado, o BEM, com todas as suas implicações (incertezas), se torna GRANDE e PRECIOSO.

Os mais requintados, que fazem alusão ao bem como sendo a inteligência, não sabem explicar de que inteligência se trata. Em última instância sentenciam: trata-se da inteligência do bem. E nos debates, afirma Platão, censuram aqueles que apresentam ignorância quanto bem, pois falam dele como se fosse conhecido.

É que, quando usam a expressão inteligência do bem, o fazem como se o interlocutor devesse compreender o que dizem quando pronunciam a palavra BEM.

Sabendo disto, como afirmado, Platão propõe que para conhecer BEM as coisas é preciso conhecer o BEM. Mas, o que é o Bem? Trata-se de uma ciência, um prazer ou outra coisa?

Partindo da análise dos efeitos para julgar as causas, verifica-se que há coisas em si mesmas e há coisas de que fazemos ideia. Essas são denominamos a 'essência das coisas'. Existem coisas percebidas pela vista e ideias que são concebidas pelo pensamento.

Os nossos sentidos permitem nos relacionarmos com as coisas sensíveis. Para sons, temos a audição; para as imagens, temos a visão. Ouvido e voz dependem de elementos distintos de sua espécie para que essas faculdades sejam utilizadas. Presentes o deslocamento do ar, os movimentos de ondas sonoras e etc., a fala pode ser produzida e ouvida.

Sendo assim, é o terceiro elemento que proporciona o uso dos sentidos. A visão, da mesma forma, precisa da luz para ser usada. Destarte, a faculdade de ver e ser visto depende da luz, pois, sem isso o sentido é nulo.

Partindo dessas premissas, Platão propõe a seguinte comparação: O sol, que derrama luz sobre as coisas, proporciona a união necessária para o exercício da faculdade de ver e ser visto. Mas, a vista não é o sol e o olho não é o sol. Além disso, o sol proporciona criação, crescimento e nutrição, no campo de elementos orgânicos, mas o sol não é nenhum desses atributos.

É o mesmo que se dá com a ALMA. Quando a alma fixa olhar no que a VERDADE e o SER iluminam (objeto do conhecimento), CONHECE-O e mostra que é dotada de INTELIGÊNCIA, pois compreende-o. Do mesmo modo, quando a alma olha para o que é obscurecido, para o que nasce e morre, sua vista é embaçada. Tem apenas opiniões e passa de uma para a outra, parecendo não possuir inteligência.

O QUE DERRAMA A LUZ DA VERDADE SOBRE OS OBJETOS DO CONHECIMENTO E PROPORCIONA AO INDIVÍDUO O PODER DE CONHECER É A IDEIA DO BEM.

A ideia do bem é objeto de conhecimento, ao mesmo tempo em que é o princípio da ciência e da verdade. Ciência e verdade não são a ideia do bem; Essa ideia é diferente delas e as ultrapassa em beleza.

No mundo visível, luz e visão são semelhantes ao sol, mas não são o sol. No mundo inteligível (pensamento e ideias), ciência e verdade são semelhantes ao bem, mas não são o bem.

Para Platão, semelhante ao sol que proporciona capacidade das coisas serem vistas, além de criação, nutrição e crescimento, sem ser quaisquer desses atributos, as coisas que podem ser conhecidas recebem do BEM a inteligibilidade e a própria existência e sua essência, mas o BEM não é a essência dessas coisas.

O BEM ESTÁ MUITO ACIMA DAS COISAS COGNOCÍVEIS EM DIGNIDADE E PODER, POR ISSO É O MAIS ALTO DOS CONHECIMENTOS. Aprendemos no Espiritismo que somente é possível ver e compreender Deus após a completa depuração.

Deus, a ideia do bem, é o mais alto dos conhecimentos. Artífice dos nossos sentidos, dotou-nos da capacidade de vê-lo e compreendê-lo. Cabe a nós acelerar a obra do encontro.


Fonte:

KARDEC, Allan. Evangelho Segundo o Espiritismo. São Paulo: LAKE, 2013.

PLATÃO. A República de Platão. São Paulo: Nova Cultural, 2000.

Indicação do tema para estudo: PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO, por ocasião das exposições sobre o tema METAFÍSICA (Parte 1 e 2) no canal de YouTube REVELARE TV (acesse: www.youtube.com/c/REVELARE).

quinta-feira, 30 de março de 2023

PLATÃO (ESPÍRITO) E A GUERRA DE PALAVRAS!

Platão, segundo algumas fontes, nasceu em Atenas em 428 a.C e morre na mesma cidade em 347 a.C, foi um filósofo e matemático do período clássico da Grécia Antiga, autor de diversos diálogos filosóficos e fundador da Academia em Atenas, a primeira instituição de educação superior do mundo ocidental.

Talvez seja a figura central na história da Grécia antiga e da filosofia, juntamente com os não menos importantes Sócrates e Aristóteles. Platão está presente na filosofia natural, na ciência e na filosofia ocidental, sendo frequentemente citado como um dos fundadores do que mais tarde ficou conhecido como Espiritualismo.

Platão, segundo alguns estudiosos, era um racionalista, realista, idealista e dualista cujas ideias vão inspirar essas filosofias mais tarde.

Nos interessa, sobremaneira, uma comunicação deste filósofo contida em O LIVRO DOS ESPÍRITOS – QUARTA PARTE – CAPÍTULO 2 – DAS PENAS E GOZOS FUTUROS onde, como um dos Espíritos Superiores coordenados pelo Espírito A Verdade, vai chamar a atenção para a compreensão que se deve ter pelas palavras, buscando sua compreensão, contextualizando-as a fim de que não se faça pretexto acerca de sua significação.

Para nossa melhor compreensão, vamos inserir no texto algumas perguntas que, pensamos, são respondidas pelo filósofo desencarnado:

1. O que a humanidade, de maneira geral, tem produzido quando da interpretação dos textos antigos, principalmente quando se trata da vida futura?

“Guerras de palavras! guerras de palavras! Ainda não basta o sangue que tendes feito correr! Será ainda preciso que se reacendam as fogueiras? Discutem sobre palavras: eternidade das penas, eternidade dos castigos.

Ignorais então que o que hoje entendeis por eternidade não é o que os antigos entendiam e designavam por esse termo?

Consulte o teólogo as fontes e lá descobrirá, como todos vós, que o texto hebreu não atribuía esta significação ao vocábulo que os gregos, os latinos e os modernos traduziram por penas sem-fim, irremissíveis”.

2. Como compreender, então, o significado da expressão eternidade, haja visto a explicação dada por Galileu Galilei, como Espírito, cuja explicação consta da obra A Gênese de Allan Kardec, edição original de 1868?

“Eternidade dos castigos corresponde à eternidade do mal. Sim, enquanto existir o mal entre os homens, os castigos subsistirão. Importa que os textos sagrados se interpretem no sentido relativo. A eternidade das penas é, pois, relativa e não absoluta. Chegue o dia em que todos os homens, pelo arrependimento, se revistam da túnica da inocência e desde esse dia deixará de haver gemidos e ranger de dentes”.

3. Essa compreensão equivocada não é fruto da limitação do conhecimento humano, que, para ser adquirido, necessita de sucessivas reencarnações?

“Limitada tendes, é certo, a vossa razão humana, porém, tal como a tendes, ela é uma dádiva de Deus e, com o auxílio dessa razão, nenhum homem de boa-fé haverá que de outra forma compreenda a eternidade dos castigos”.


4. Todavia, há seres humanos que, de boa-fé, admitem a eternidade das penas?

“Pois quê! fora necessário admitir-se por eterno o mal. Somente Deus é eterno e não poderia ter criado o mal eterno; do contrário, forçoso seria tirar-se Lhe o mais magnífico dos seus atributos: o soberano poder, porquanto não é soberanamente poderoso aquele que cria um elemento destruidor de suas obras”.

5. É certo que os atributos divinos devem ser levados em conta, no entanto, mesmo em meio àqueles que admitem as ideias espíritas, há os que falam de uma suposta lei de causa e efeito?

“Humanidade! humanidade! não mergulhes mais os teus tristes olhares nas profundezas da Terra, procurando aí os castigos. Chora, espera, expia e refugia-te na ideia de um Deus intrinsecamente bom, absolutamente poderoso, essencialmente justo”. Platão.


Uberaba-MG, 30/03/2023
Beto Ramos

quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

O ENSINO DOS ESPIRÍTOS E O PENSAMENTO FILOSÓFICO

Hoje, neste artigo, quero compartilhar com vocês leitores (as) algumas referências encontradas no estudo da filosofia que, ao nosso sentir, estão presentes na Obra produzida pelo insigne Professor Rivail, usando o pseudônimo Allan Kardec. O objetivo é que, juntos, possamos nos apropriar da influência científico-filosófica em todo o trabalho que, mais tarde, seria conhecido como Codificação do Espiritismo.

Todas as proposições a seguir possuem um caráter de estudo, partindo das premissas encontradas nas pesquisas bibliográficas, deduzindo o resultado, uma vez que não há referência direta feita por Rivail para cada uma dessas influências. Todavia, está patente no seu trabalho uma divisão em conformidade com a estrutura didático-pedagógica do currículo dos cursos de filosofia contemporâneas à sua produção científica.

Não iremos esgotar tudo o que poderá ser encontrado pelo estudante, pois, a sugestão de fundo é que cada interessado, também, busque certificar-se de que tais influências estão diretamente ligadas às perguntas e respostas consolidadas em todas as Obras da Codificação.

Sem dúvida, podemos pensar que a Lei do Progresso possui, em sua base, o pensamento de Heráclito: “Não se pode entrar duas vezes no mesmo rio”. O mesmo pode-se dizer quanto ao Livre Arbítrio: “Os caminhos para cima ou para baixo são um só e a mesma coisa, depende do ponto de partida”. Quando se pensa em Espírito simples e ignorante com o potencial para evoluir, esse filósofo, acerca do conhecimento, ponderou: “De onde vem o conhecimento? da nossa mente, do nosso pensar e não da nossa conservação das coisas”.

Parmênides, concordando com Heráclito, vai ponderar que o conhecimento empírico é subjetivo, pois, o ser humano para descobrir o mundo, deve confiar somente na lógica e no pensamento: “ser é a mesma coisa que pensar”.

Quando nos deparamos com as reflexões de Anaxágoras de que tudo está em tudo, imediatamente, recordamos da resposta dos Espíritos na questão 540 de O Livro dos Espíritos. Isto é corroborado pelo fato de que a ideia da existência dos “não cortáveis” - dos ÁTOMOS -, os quais, segundo esse pensador, “formam as coisas quando colidem entre si, formando novos compostos”.

Não seria o sofista Protágoras, se dando conta das implicações das crenças e dos comportamentos humanos, questionando se uma crença é natural ou cultural, o precursor da fé raciocinada como concebida por Rousseau e Kant?

Não há dúvidas sobre questões envolvendo a imortalidade da alma tratadas pelo precursor Sócrates, inclusive suas defesas, naquele tempo, do livre-pensamento e da liberdade de consciência, da ética humana e política. Sobre os conhecimentos inatos, aos quais os Espíritos respondem a Allan Kardec em O Livro dos Espíritos, Platão afirmou que todos já nascemos programados com certos tipos de conhecimento. Sua explicação fundamenta-se no fato de que “todos temos uma alma imortal, pois, já passamos por existências anteriores”. Na sua formulação “tudo o que aprendemos não passa de um (re) conhecimento ou anamnese (memória)”.

Esse filósofo também formulou que existem dois mundos, o das coisas óbvias do cotidiano e o das eternas e perfeitas formas. Seria a base para se compreender a constatação da inédita informação dada no Livro Segundo de O Livro dos Espíritos onde o tema central é: MUNDO ESPIRITUAL OU DOS ESPÍRITOS? Onde os Espíritos transmitem o conhecimento que experimentaram do seu mundo, percebido pelas sensações do perispírito.

Parece que Platão captou a ideia de mundo espiritual, mas, não soube explica-la. Considerou o mundo das formas, mas, não Espíritos e mundo espiritual. Mas, não há dúvida de que no fundo há a ideia de superação dos meros fenômenos sensíveis da matéria, confirmada, mais tarde, em O Livro dos Espíritos.

Finalizando a contribuição de Platão, quando o estudamos e encontramos sua ideia de que “para conhecer realmente alguma coisa é preciso experimentá-la, vivenciando sua experiência de modo direto”, ao menos nesta reflexão, recorda-se a proposição contida na questão 132 de O Livro dos Espíritos, onde se verifica a necessidade da encarnação dos Espíritos para vivenciar experiências variadas em cada mundo e por cada ponto de vista, sendo necessária a reencarnação no processo evolutivo.

A lógica dedutiva ou silogística está presente na Obra de Kardec. Aristóteles foi o seu precursor, estabelecendo os critérios das premissas maior e menor e da conclusão, componentes dessa construção. A ideia central desse tipo de raciocínio é que a conclusão não admita mais que as premissas.  Também é o criador do método da indução. Essa matriz parece estar na base da ciência espírita.

Aristóteles começa a fazer ciência quando passa a generalizar do observável especificamente para espécies. Usando generalizações indutivas sobre as espécies para fazer uma dedução sobre indivíduos, o que permite à ciência fazer uma previsão. A construção científica da “causa final” das coisas individuais e que cada uma delas possui uma função potencial é sua construção.

Quanto à "causa final" afirmou que tudo e cada acontecimento tem uma causa; recuando até o começo dos tempos chegaremos à conclusão de que deve ter havido uma CAUSA PRIMEIRA, o PRIMEIRO MOTOR. Algo como um CRIADOR DIVINO. Parece-nos ser essa construção a base racional do ensino contido no Livro Primeiro de O Livro dos Espíritos.

Aristóteles também tratará de almas e substâncias falando de essência e acidente. Intrigante é a sua reflexão acerca de vegetais, animais e humanos, sendo que os primeiros possuem uma alma vegetativa porque crescem, os segundos possuem alma animal em razão das sensações, e os terceiros possuem as duas, bem como a razão. Pareceu não garantir a imortalidade da alma. Assim, é possível ponderar que não falava de alma como se compreende. Sua base reflexiva estaria de acordo com o que contém O Livro dos Espíritos quanto ao princípio vital, o instinto, a inteligência e a razão.

Por fim, esse filósofo tratou da ética da moderação (uma realização própria) e da capacidade humana de se adquirir competências por meio do conhecimento, o qual pode ser transmitido, além dos hábitos condicionados elaborados ao longo do tempo e as escolhas necessárias do cotidiano, sendo a Moral compreendida como um Código de Conduta. Em O Livro dos Espíritos há a afirmação dos Espíritos de que realmente a Moral é a conduta humana na prática do bem.

Foram esses os apontamentos que ousamos fazer e que ficaremos felizes em receber todas as críticas necessárias, solicitando sempre que o prévio estudo das informações contidas em O Livro dos Espíritos preceda o debate.


Fonte Bibliográfica:

ROBINSON, Dave. Entendo a filosofia: um guia gráfico da história do pensamento / Dave Robinson, Judy Groves; Tradução Marly N. Peres. São Paulo: Leya, 2012.

sexta-feira, 25 de junho de 2021

REENCARNAÇÃO E ESPIRITISMO

Fonte da imagem: Google internet

A reflexão de hoje é a seguinte:

1. Crer na reencarnação me torna Espírita?

2. Todo aquele que se diz Espírita, crê na reencarnação?

Segundo o significado da palavra reencarnação nos dicionários podemos inferir que se trata de uma "crença de que, após a morte, a alma de um ser humano retorna à vida com outro corpo".

Para o Espiritismo a palavra reencarnação não é sinônimo de metempsicose (ou transmigração da alma), pois, esse termo abrange uma concepção de que seria possível ressurgir, isto é, renascer (ou retornar) sob a forma de outras espécies animais.

A expressão difere do que se compreende em certas doutrinas cristãs, porquanto não se trata de uma ressurreição de corpos no dia do juízo final.

Vários sistemas filosóficos e religiosos tem na reencarnação a sua ideia central, segundo a qual uma porção do SER é cpaz de subsistir à morte corporal. Nesse caso, essa mesma porção se liga, sucessivamente, A DIVERSOS CORPOS. O objetivo disso é a elevação, o progresso individual do Ser.

Encontramos o desenvolvimento dessa doutrina em vários expoentes da Filosofia, tais como Pitágoras, Heródoto, Sócrates e Platão. Aliás, esse último foi um dos seus principais defensores, desenvolvendo a doutrina nos seguintes diálogos: Mênon, Fédon, Fedro e A República.

A ideia que expressa a palavra reencarnação, derivada do latim, é entrar na carne novamente. Uma importante informação é que a ideia de reencarnação é encontrada, ao menos, no primeira milênio anterios à Cristo.

Nas várias culturas, cujo espaço aqui não permitiria aprofundar, apresenta o tema como a possibilidade de adquirir mérito e alcançar uma melhor reencarnação na próxima vida. O assunto, também, esteve ligado à questão do 'céu' e do 'inferno', do mérito e do demérito, de experimentar vidas morais e imorais, vícios e virtudes e, nesses últimos casos, passando por graus, abordando o tema justiça e injustiça divina.

Voltando à contemporaneidade, subsistem nossas dúvidas iniciais.

O que percebemos na atualidade é que muitos, por simplesmente crerem em vida após a morte, julgam-se Espíritas. Como se a autointitulação promove-se, por mágica, o indivíduo à essa categoria. Segundo a Filosofia Espírita, aquele que crê "haver em sí mesmo alguma coisa além da matéria é ESPIRITUALISTA".

Para superar essa situação é necessário crer na existência de Espíritos e em suas comunicações com o mundo visível. Todavia, não se pode parar nesse ponto, uma vez que Allan Kardec tratou de diversos pontos no Espiritismo, tais como: o verdadeiro.

Portanto, se aferrar na crença nas comunicações e se autodenominar espírita, não transforma ninguém no verdadeiro Espírita. Depreendemos isso da obra O Espiritismo em Sua Mais Simples Expressão, no item 36, onde Kardec afirma:

"36. O verdadeiro Espírito não é o que crê nas comunicações, mas o que procura aproveitar os ensinamentos dos Espíritos. De nada adianta crer, se sua crença não o faz dar sequer um passo na senda do progresso, e não o torna melhor PARA O PRÓXIMO". (grifo e destaque nosso).

Por isso, na atualidade em que estamos observando vários autointitulados "espíritas" vinculados à doutrinas contrárias ao Espiritismo, a posições políticas e religiosas contrárias à Doutrina dos Espíritos, nos indagmos se, POR QUE ELES DIZEM CRER NA REENCARNAÇÃO, NA VIDA APÓS A MORTE, NA COMUNICABILIDADE COM OS ESPÍRITOS, NA REENCARNAÇÃO E, ATÉ, EM DEUS, se são VERDADEIROS ESPÍRITAS.

Com a palavra, o leitor!


Uberaba-MG, 26 de junho de 2021.

Beto Ramos.


domingo, 16 de abril de 2023

DIÓGENES, O CÍNICO (ESPÍRITO) E SUA COMUNICAÇÃO NA REVISTA ESPÍRITA

 

Diógenes de Sinope, também conhecido como Diógenes, o Cínico, foi um filósofo da Grécia Antiga, cujos detalhes da vida foram contados por meio de chreia (anedodas). Tendo vivido entre os anos 404 (aproximadamente) a 323, a. C., foi exilado de sua cidade natal e se mudou para Atenas, onde teria se tornado discípulo de Antístenes, antigo protegido de Sócrates. Tornou-se mendigo e habitou as ruas de Atenas, fazendo da pobreza extrema uma virtude. Conta-se que vivia em um barril (ou um jarrão de cerâmica) e perambulava pelas ruas com um lanterna alegando que procurava um homem honesto.

O cinismo foi uma corrente filosófica fundada por Antístenes, discípulo de Sócrates. Para os cínicos, o propósito da vida era viver na virtude, de acordo com a natureza. As pessoas, como criaturas racionais, podem alcançar a felicidade através de um rigoroso treinamento, de modo a viver de maneira natural, rejeitando todos os desejos convencionais de riqueza, poder e fama, levando uma vida simples, livres da necessidade de posses e, até mesmo, desrespeitando as convenções sociais de modo aberto e irônico.

A Revista Espírita do mês de Janeiro do ano de 1859, sob o título Conversas Familiares de Além-Túmulo, traz duas comunicações interessantes, de um lado Chaudruc-Duclos e, em seguida, Diógenes. Apesar do primeiro ter se referido ao segundo, importa anunciar o interessante diálogo travado com o antigo filósofo, partidário da corrente filosófica do cinismo.

Para esse diálogo, além dos demais médiuns, participou o médium vidente Sr. Adrien, que fez ambos os retratos dos comunicantes. Por evocação comparece o Espírito Diógenes. Vindo de longe, concordou em aparecer ao Sr. Adrien, tal qual era na existência em que ficou conhecido na Terra. Deferiu, inclusive, aparecer com a lanterna que usava naquela encarnação em que defendia a corrente filosófica dos cínicos.

Descrito com perfeição (corpo e vestimenta) em seu retrato, destacou que tinha prazer em responder as perguntas que lhe seriam dirigidas. Sob sua encarnação como Diógenes, o Cínico, esclareceu que foi proveitosa para sua felicidade futura. Enquanto que seus contemporâneos levaram sua vida como se fosse algo ridícula, tratou-se de existência proveitosa, da qual a história trouxe tão pouco esclarecimento.

Afirmou que na sua encarnação trabalhou para si mesmo, porém seus exemplos poderiam ter servido de aprendizado. Sobre as qualidades que buscava no ser humano, esclareceu que estava certo de que as possuía, pois esse era o seu critério de julgamento.

Dentre seus filósofos preferidos, naquela época e até a ocasião da comunicação, citou Sócrates, declarando que Platão era muito duro e sua filosofia bastante severa. Após sua encarnação na Terra, em Atenas, afirmou que reencarnou em outros mundos.

Ao ser solicitado para traçar um quadro com as qualidades humanas que buscava na Terra ao tempo de sua encarnação como Diógenes e agora, como Espírito, apresenta-as:

Esse quadro é uma prova da evolução perpétua e contínua dos Espíritos.

Se essa informação foi interessante pra você, por favor, não deixe de se inscrever no blog e estudar continuadamente as Revistas Espíritas.

Uberaba-MG, 16/04/2023
Beto Ramos.




sexta-feira, 1 de abril de 2022

POR QUE AS OBRAS DE PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO SÃO ESSENCIAIS PARA ENTENDER O ESPIRITISMO?

 

Neste artigo pretendemos contribuir para enriquecer o debate que, por vezes, tem se conduzido de maneira vil, torpe e leviana. Deixamos claro, desde já, que o articulista propõe a reflexão sem se julgar procurador de um ou acusador de outro.  Alguém disse algo mais ou menos assim: 'Caridade para com as pessoas; para as ideias a lógica' (desconhecemos a fonte).

A proposta temática se dirige ao clima acadêmico do debate de ideias, o mesmo que era vigente no tempo de Rivail, o Educador, depois Kardec, pseudônimo adotado pelo organizador da Doutrina dos Espíritos. Afinal, é da lavra deste filósofo a seguinte frase: "Debateremos, mas não disputaremos".

Com esse sentimento, portanto, passamos às reflexões.

1. Qual é a teoria moral defendida pelos Espíritos Superiores na transmissão da Doutrina Espírita?

2. Conhecer parte do conteúdo doutrinário espírita permite ao estudante responder a questão número 1?

3. Existem indicações precisas que remete o estudioso para o conhecimento integral do Espiritismo, cujo conteúdo está distribuído nas obras de autoria de Allan Kardec?

4. Temos condições de compreender o Espiritismo, na sua essência, sem conhecimento da Filosofia à qual é uma das partes?

5. O Espiritismo praticado hoje é o mesmo que os Espíritos Superiores transmitiram para Allan Kardec?

6. Se a resposta à questão número 5 for negativa, o Espiritismo praticado cumprirá seu desígnio de tornar-se o instrumento regenerador da humanidade?

7. Conhecer a história do Espiritismo, os métodos científicos usados por Kardec e o conteúdo da Filosofia Espiritualista Racional destrói ou engrandece o trabalho realizado por Kardec sob orientação dos Espíritos Superiores?

Poderíamos trazer várias outras indagações, mas, vamos nos ater nestas. Começando pela última. A obra Revolução Espírita, a teoria esquecida de Allan Kardec, traz um conteúdo profundo que, até então, não havia sido estudado ou discutido nas casas espíritas.

Suas informações, devidamente meditadas, levam o estudante a recordar muitos pontos trabalhados por Kardec em várias de suas obras espíritas (claro que é preciso conhecer todo o conteúdo escrito por Allan Kardec, o que só ocorre com estudos sérios e continuados).

Até o advento da obra AUTONOMIA, a história jamais contada do Espiritismo, pouco ou nada se falou sobre a teoria moral espírita, aliás, muito bem desenvolvida, também, na obra REVOLUÇÃO. Ousamos afirmar que a existência ou não de uma teoria espírita sobre a moral nem era objeto de meditação até o advento dessas obras. O critério de análise, quando havia alguma, era o mesmo usado pelas religiões ancestrais, aliás, declaradamente combatido pelo Espiritismo nas várias obras de autoria de Kardec (Vide O Céu e o Inferno, 1865).

O trabalho de resgate do conteúdo das Revistas Espíritas, amplamente distribuído nas obras do autor PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO, propõe a cada estudante sério uma reflexão, dentre outras, sobre:

a. A progressividade do ensino dos Espíritos Superiores;

b. O amplo debate conduzido por Kardec sobre os diversos temas;

c. A reflexão madura, inclusive mudança de opinião sobre determinados pontos lançados pelos Espíritos, cujo objetivo é que fossem paulatinamente compreendidos;

d. A clara teoria moral espírita adotada pelos Espíritos Superiores, no que tange à liberdade, livre-arbítrio, livre-escolha, livre-pensamento, autonomia para agir/escolher com a consequente responsabilidade, sempre atrelada ao grau evolutivo e de conhecimento;

e. A conexão entre o conteúdo dos artigos das Revistas Espíritas, a obra O Céu e o Inferno (1865), a obra A Gênese (1868), a obra O Livro dos Espíritos, a obra O Que é o Espiritismo, a obra O Livro dos Médiuns, com obras de filósofos como Sócrates e Platão, Rousseau, Kant e a Filosofia Espiritualista Racional.

Quando estudamos o conteúdo das obras MESMER - a ciência negada do magnetismo animal e NEM CÉU, NEM INFERNO - as leis da alma segundo o espiritismo (essa em coautoria com LUCAS SAMPAIO) é possível ampliar o campo de compreensão acerca do conteúdo doutrinário espírita, principalmente no que tange ao PASSE MAGNÉTICO e à  ESCOLHA DE PROVAS, por exemplo.

Há, sem dúvida, uma polêmica criada em torno das pesquisas promovidas pela autora SIMONI PRIVATO GOIDANICH, cuja obra O LEGADO DE ALLAN KARDEC é um marco para a História do Espiritismo. No entanto, advertimos: pesquisador e estudioso não se envolve em polêmicas vazias. Isto quer dizer que, ao discordar sobre qualquer ponto, o melhor é repetir Kardec que examinava tudo, dialogava com todas as obras. Todo o estudo de Kardec passava pelo crivo da razão, do bom-senso e da mais absoluta lógica.

É assim que, ao investigar as denúncias da existência de adulterações sórdidas (produzidas com objetivo claro de abalar o edifício espírita), cabe ao estudioso escudar-se no mesmo critério de Kardec.

Dessa maneira, o pesquisador encontrará nas obras de PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO as fontes fundamentais para compreender o Espiritismo, tal e qual organizado por Allan Kardec e ensinado pelos Espíritos Superiores, um edifício construído sob o mais sólido alicerce da teoria da moral autônoma.

Adquirindo esse conhecimento, o leitor poderá responder, por si mesmo as demais perguntas feitas no preâmbulo desse artigo.

Nos dias atuais estamos distantes do Espiritismo de Kardec e dos Espíritos Superiores. Mas, não é tarde pra recomeçar.

Uberaba-MG, 01/04/2022.
Beto Ramos

quarta-feira, 20 de outubro de 2021

HOMEM DE BEM, FAMÍLIA & PÁTRIA, SEGUNDO O ESPIRITISMO


"Os maiores enganos do ser humano são provenientes dos sofismas das paixões".






1. O HOMEM DE BEM

Nos "Colóquios de Sócrates com seus Discípulos" (in Resumo da Doutrina de Sócrates e Platão, Evangelho Segundo o Espiritismo, Introdução, Allan Kardec), quando encontrava-se na prisão, acusado que fora, entre outras coisas, de corromper os jovens, o filósofo declarou:
“Vês, Cálicles, que nem tu, nem Pólux, nem Górgias podereis provar que devamos levar outra vida que nos seja útil quando estivermos do outro lado. De tantas opiniões diversas, a única que permanece inabalável é a de que mais vale receber do que cometer uma injustiça e que, acima de tudo, devemos cuidar, não de parecer, mas de ser homem de bem”.

Desde a antiguidade a ideia da moral que deve reger a conduta humana está presente na história da evolução. Quem é o verdadeiro homem de bem? Eis a questão. Segundo a Doutrina Espírita, é aquele que cumpre a Lei de Justiça, de Amor e de Caridade, na sua maior pureza. Mas, como ocorre o processo? É algo interno, íntimo do ser, ou vinculado ao exterior e estranho aos sentimentos que o move?

No Evangelho Segundo o Espiritismo, para cumprir essa lei do modo mais sincero, é necessário que o indivíduo se interrogue acerca dos próprios atos, pesquisando se a violou ou não. Para tanto, no exame interno, observa:
  • Se não praticou o mal e se fez todo o bem que podia;
  • Se desprezou voluntariamente alguma ocasião de ser útil;
  • Se ninguém tem qualquer queixa dele;
  • Se fez ao outro tudo o que deseja que o outro lhe faça.

É claro que estamos tratando de um indivíduo cuja fé é em Deus, na sua bondade, na sua justiça e na sua sabedoria, o qual não busca forças em coisas ou pessoas, pois, conhecendo a soberania do Criador, submete-se à suas Leis Naturais. E sua base é o conhecimento de que a alma é imortal, por isso coloca os bens espirituais acima dos bens materiais.

Trata-se da consciência da vida espiritual. O verdadeiro ser humano de bem sabe que todos os problemas da vida, tais como as dores, decepções, etc., são provas ou expiações e, certo de que tudo é fruto das próprias escolhas, ações ou omissões, com consciência, as aceita sem murmurar.

Percebe-se que esse modelo de indivíduo está possuído por caridade e amor ao próximo e se elevou, em grau, na escala espírita. O ser humano de bem é impulsionado pelo amor ao próximo, pois, cuida primeiro dos interesse dos outros. Ele faz o bem pelo bem e não espera nada em troca. Até o mal, retribui com o bem.

O homem de bem é bom, humano e benevolente com todos. Em qualquer ocasião toma a defesa do fraco contra o forte e sacrifica sempre os seus interesses para fazer prevalecer a justiça. Por isso, encontra felicidade nos benefícios que espalha, nos serviços que presta, na felicidade que leva aos outros, nas lágrimas que enxuga e nas consolações que espalha aos aflitos.

Não é difícil perceber que o verdadeiro 'homem de bem' NÃO É PRECONCEITUOSO, pois, respeita nos outros todas as convicções sinceras e não lança críticas aos que não pensam como ele. Claro está que não faz qualquer distinção de etinias ou crenças. Vê todos os demais como irmãos.

Guiado pela caridade, não alimenta ódio, rancor ou desejo de vingança. Perdoa e esquece as ofensas, lembrando apenas do bem que recebeu. Sua consciência é clara acerca da sorte que aguarda o que prejudica o outro com ofensas, ferindo o ponto fraco alheio com orgulho e desprezo, principalmente, quando é possível evitar. Sabe que quem causa sofrimento ou contrariedade, faltando ao dever de amor ao próximo, experimentará reencarnações para corrigir suas imperfeições.

Desta maneira, compreende que o único caminho é ser indulgente com as fraquezas alheias, uma vez que sabe que no processo evolutivo contínuo e perpétuo, é, também, um Espírito imperfeito.

Quem desejar ser, e não somente parecer um ser humano de bem, precisa reconhecer que todos estão na Terra para evoluir moralmente e progredir intelectualmente, sendo que atingirá a meta somente quando não mais precisar reencarnar. Por isso, o exame é contínuo. Deve-se estudar as próprias imperfeições e trabalhar incessantemente para combatê-las.

Quem reconhece os próprios defeitos não sente prazer em identificar e apontar os defeitos alheios. Quando isso é necessário, é preciso procurar qual o bem que pode atenuar o mal feito.

Atingir o grau na escala espírita onde o indivíduo está possuido pela caridade e amor ao próximo é uma luta que exige empregar todos os esforços para ser melhor no dia seguinte, do que na véspera.

Reencarnados, ostentando as diversas posições sociais, gêneros de provas e pontos de vistas distintos, é preciso considerar o melhor estilo de vida. O Espiritismo ensina não se vangloriar como Espírito ou como ser humano às custas dos outros, bem como não se envaidecer com riqueza ou vantagens pessoais. Pois tudo é transitório.

Assim, é necessário usar e não abusar dos bens que possui, pois, se trata de um depósito cuja conta é prestada após a morte. Por isso é que não se deve empregar todo esse patrimônio emprestado para satisfação das paixões.

Toda ocasião é momento para ser útil. O verdadeiro homem de bem procura ser proveitoso aos outros. É assim que, como superior, exerce liderança e não chefia. Usa de tratamento bondoso e benevolente, pela razão de que todos são iguais perante Deus. A autoridade é melhor empregada para levantar o moral e não para esmagar com orgulho. É sempre possível amenizar a condição de subalternidade do outro. No caso do subordinado, há compreensão completa dos deveres da posição que ocupa e se empenha em cumprí-los conscienciosamente.

As qualidades morais (boas ou más) do ser humano expressam o caráter do Espírito nele encarnado. O homem de bem é um bom Espírito, enquanto que o vicioso é um Espírito imperfeito. Ninguém, todavia, está voltado para o mal eternamente, uma vez que esse estado é apenas por falta de conhecimento.

A preocupação principal do homem de bem é estudar as leis que regem o Espírito e as colocar em prática. Mas, há qualidades que podem fazer pensar que o seu detentor é homem de bem. Todavia, apesar de ser qualidades reais que mostram progresso, verifica-se que não suporta qualquer ataque ao interesse pessoal.

Uma das características do homem de bem é o completo desapego às coisas materiais. A elevação do Espírito que demonstra progresso real é observada quando ele põe em prática a Lei de Deus na vida corporal, antecipando a compreensão da vida espiritual.

2. FAMÍLIA

O Espírito que reencarna com vistas à evolução intelecto-moral é membro de uma família. Para bem se compreender e definir família, segundo o Espiritismo, é preciso saber quem somos, como vivemos e de onde viemos.

Julga-se bastante a matéria, mas, como visto, o ser humano de bem é aquele que busca compreender a vida espiritual. É preciso reconhecer essa verdade: o corpo procede do corpo, mas, o Espírito não procede do Espírito. Entre descendentes das etnias nada mais existe do que consaguinidade.

O Espírito é criação divina. O corpo humano é um instrumento. Portanto, antes da encarnação, no espaço, os Espíritos formam grupos ou famílias entrelaçadas pela afeição, simpatia e semelhança de inclinações. Por isso, eles se buscam reciprocamente.

A encarnação os separa momentaneamente, mas, ao voltarem ao mundo espiritual, novamente se reúnem como amigos que voltam de um viagem. Todavia, na reencarnação, é possível que constituam uma mesma família buscando o adiantamento mútuo.

Entre a família espiritual existe afeição real, de alma para alma, a qual NUNCA termina com a morte. Por outro lado, as afeições surgidas na matéria, corporais, dos sentidos ou, exclusivamente, por interesses, nada significam para os Espíritos. Entre famílias corporais poderão reencarnar Espíritos simpáticos ou não. Tudo depende do gênero de provas que devam experimentar para o progresso individual.

3. PÁTRIA

Finalmente, chegamos à ideia de pátria. E, para isso, vamos responder às indagações feitas no tópico família. Todos somos Espíritos, viemos do mundo espiritual e é para lá que retornaremos após a morte, pois, a alma é imortal e o processo evolutivo é perpétuo e contínuo.

O mundo espírita é o mundo normal, primitivo, eterno, preexistente e sobrevivente a tudo, conforme se depreende da Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita. O mundo espírita é o principal na ordem das coisas. O mundo físico poderia deixar de existir, poderia nunca ter existido e isso não altera a essência do mundo espírita. Ambos os mundos são independentes, pois cada um possui as leis naturais próprias que os rege. Há, contudo, uma incessante correlação e reação entre ambos, o que não desnaturaliza sua independência.

Por todo o exposto, é preciso ponderar e meditar com seriedade quando ousamos conceituar preconceituosamente homem de bem, família e pátria. É possível estar atraindo maiores responsabilidades que a suposição permita compreender.

Uberaba-MG, 20/10/2021.
Beto Ramos.

BIBLIOGRAFIA:
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo.
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos.

MATERIAL DE APOIO:
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quarta-feira, 2 de junho de 2021

O CONHECIMENTO LIBERTA

Na apresentação da Revista Espírita de 1858, publicada sob a direção de Allan Kardec, encontramos a seguinte expressão: “Todo efeito tem uma causa. Todo efeito inteligente tem uma causa inteligente. O poder da causa inteligente está na razão do efeito”.

Sempre que se falar em inteligência, em causa e efeito, sem sombra de dúvidas estaremos tratando da aquisição do conhecimento. É importante se indagar: para que esse conhecimento é adquirido pelo ser humano?

Se, ao ser humano fosse perguntado: “que buscais?”, certamente, a resposta seria: a plena felicidade. Afinal de contas, não parece lógico pensar que alguém esteja escolhendo a INFELICIDADE como propósito de vida. E, falando nisso, a FELICIDADE é uma dádiva ou uma recompensa?

Se acaso a resposta fosse RECOMPENSA, seria a RETRIBUIÇÃO a um esforço constante e bem orientado. SE A FELICIDADE É O OBJETIVO, O QUE É PRECISO SABER PARA ALCANÇA-LA?

Platão ensinou na obra A República, usando a figura de Sócrates no discurso, que é necessário INVESTIGAR o que é bom e o que é mau. Parece que o filósofo está se referindo à aquisição do conhecimento. Recordando o mito bíblico, “o conhecimento é o fruto da árvore que, ao ser devorado, dará o saber, ou os elementos necessários para se distinguir o bem e o mal”.

E ao inserir o tema do bem e do mal, não é difícil imaginar que, em seguida, viriam as indagações: O que é o Bem? O que é o Mal? Segundo O Livro dos Espíritos, distingue-se o bem como tudo aquilo que está de acordo com a Lei de Deus e mal é tudo o que dela se afasta. O mal, portanto, é infringir as Leis de Deus.

Sem entrar no mérito e na complexidade dessas reflexões, o fato é que ao longo da história da humanidade, a fim de delimitar as ações das pessoas, surgiram 03 esferas de regulação do comportamento humano: a religião, a moral e o direito.

A obra O Livro dos Espíritos, tratando do bem e o mal, começa por definir A MORAL. E nesse sentido, a moral é a regra da boa conduta e, portanto, da distinção entre o bem e o mal. Seu fundamento é a observância das Leis de Deus. “O ser humano se conduz bem quando faz tudo tendo em vista o bem e para o bem de todos, porque então observa a Lei de Deus”.

E, falando em como o ser humano se conduz, como deve ou não se conduzir, ao longo da história surgiram escolas ou grupo de pensadores que se propuseram a interpretar a vida social, como por exemplo, a idealista, a realista e a materialista. Cada uma dessas escolas elegeu aquilo que compreendeu como o seu ELEMENTO GERADOR DA CONVICÊNCIA SOCIAL, ou seja, buscaram responder:

- o que provoca a reunião dos seres humanos e os conduz a uma vida em coletividade?

Para os idealistas seriam OS VALORES OU IDEIAIS COLETIVOS; Os realistas afirmaram que seriam AS INSTITUTIÇÕES DE PODER e os materialistas, as condições materiais de subsistência dos grupos humanos.

O que se constata é que, estamos no século 21 e há uma crise de identidade que afeta o SER HUMANO; Para muitos ainda paira a pergunta QUEM SOMOS NÓS?

Diante de todos os acontecimentos e fenômenos que atingem a vida humana na Terra, é comum observar os seguintes questionamentos:

- Os seres humanos possuem livre-arbítrio ou a liberdade não passa de um mito?

- O comportamento humano pode ser previsto pela genética?

- O caráter moral das pessoas pode ser identificado pelos genes responsáveis pelas características psicossomáticas ou pelas moléstias e malformações do organismo humano?

- A Ciência pode, a partir daí, prever os grandes rumos da vida social?

No campo da biotecnologia fala-se em clonagem, criação programada e tábua de valores, entre outras questões. Será que só o genótipo intervém na formação do indivíduo ou existem outros fatores?

A ciência é uma alavanca para a humanidade, uma das melhores coisas de que se serve a humanidade.

Apesar de uma lenta evolução, o ser humano primitivo desenvolveu a linguagem há, aproximadamente, 40 mil anos. A humanidade sempre teve, entre os povos, sua cultura e seus costumes. O fato é que cultura e costume são criações humanas. E não é uma falácia dizer que essas criações humanas são mais acentuadas nos seres do que os caracteres naturais.

De 40 mil anos para cá, observa-se uma evolução cultural crescente que superou os milhões de anos até que a linguagem surgisse como uma criação humana. O conhecimento é para ser adquirido, mas, é preciso separar as coisas, ter o que Descarte chamaria de MÉTODO. Em seu discurso, o filósofo mencionará 04 preceitos lógicos que dirigem a RETA RAZÃO, são eles:

1. Jamais receber por verdadeiro o que o sujeito não percebe evidentemente como tal;

2 Dividir cada uma das dificuldades a serem examinadas em tantas parcelas quantas forem possíveis e necessárias para melhor resolvê-las;

3. Conduzir ordenadamente os pensamentos, a começar pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, a fim de elevar-se pouco a pouco, por graus sucessivos, até os conhecimentos complexos.

4. Proceder a enumerações completas e revisões gerais, de modo a assegurar-se de que nada foi omitido na análise.

O saber tecnológico, sem dúvida, é o grande instrumento do desenvolvimento social, mas, também, do exercício de poder. No campo das invenções a geografia planetária tanto auxiliou na disseminação do conhecimento quanto atrapalhou. A forma do continente onde a geografia apresentava características semelhantes, sem barreiras naturais, proporcionava uma melhor e maior comunicação entre os diferentes povos. O continente não dotado dessas características impossibilitava a propagação do saber tecnológico.

É assim que no continente euroasiático encontramos as seguintes invenções: roda, escrita silábica, metalurgia, ordenha de gado, fabricação da cerveja e do vinho, cultivo de árvores frutíferas; No continente africano e americano: rodas, sistema de representação escrita de palavras, animais de tração.

Aas primeiras plantas alimentícias ou cereais surgem há 8.000 anos a.C na Mesopotâmia; há 6.500 anos a.C na Grécia, Chipre e subcontinente indiano; há 6.000 anos a.C no Egito; há 5.500 anos a.C na Europa Central; há 5.200 anos a.C no Sul da Espanha; e há 3.500 anos a.C na Grã-Bretanha. As Américas sofreram muitos impedimentos quanto à disseminação das grandes técnicas de produção de alimentos, de comunicação e transporte em razão da variedade climática, barreiras naturais, regiões desérticas, florestas e montanhas.

Durante um período de aproximadamente 10.000 anos, entre 8.500 a.C a 1.450 d.C., as regiões da China e da Índia foram as mais adiantadas tecnologicamente. Acreditem, os chineses inventaram a bússola, o leme de popa, o ferro fundido, as comportas de canal, as sondagens profundas, a pólvora, o papel, a porcelana, os arreios peitorais para animais de tração, tipos móveis de imprensa.

Invenções notáveis jamais utilizadas como instrumentos de transformação da sociedade, como também, não foram usadas como instrumentos de conquistas imperiais, pois, a filosofia chinesa os vocacionava para as tradições imemoriais. Não eram dominados por suas conquistas tecnológicas, mas, por sua cultura e tradições.

Não obstante tudo isto, a individualidade humana por vários motivos, apoderando-se desse conhecimento e transformando-o em ciência, tornou-se orgulhosa. Sabendo muito mais que muitos outros, julgaram saber tudo. Passaram a não admitir que coisa alguma pudesse ultrapassar o  seu entendimento. Por fim, julgaram-se acima da natureza, a qual não lhes poderia ocultar nada.

O que levou a esse estado de coisas? Sem dúvida, a religião e seus mistérios, violando as Leis Naturais e adaptando suas incoerências ao imaginário popular e suas fantasias. O gênero humano, não aceitando o misticismo e o sobrenatural, buscava respostas. Sem saber o que fazer e sem respostas, chegamos ao cúmulo de que muitos só pensam em si mesmos, colocam os prazeres materiais acima de tudo, rompendo com os laços sociais, não atribuindo nenhuma importância aos afetos.

Resultado: destruição das coisas e membros se destruindo como animais ferozes. Isto não é consequência do estudo dos cientistas, mas, do abuso cometido pelo próprio ser humano, que tira daqueles estudos uma falsa consequência.

Ligando religião e ciência, surge o Espiritismo para esclarecer quanto ao futuro por meio de fatos incontestáveis e, por meio da comunicabilidade com os Espíritos, respondem o que nos espera no seio de Deus e quais sofrimentos se experimenta no mundo dos Espíritos.

Uma filosofia poderosa que auxilia todas as religiões, o Espiritismo reanima as esperanças vacilantes e abre pespectivas de futuro.

Uberaba-MG, 02 de junho de 2021.
Beto Ramos

sábado, 7 de maio de 2022

POR QUE ESTUDAR O ESPIRITUALISMO RACIONAL?

 

Sem dúvida, o ano de 1848 foi palco de uma onda de revoluções em toda a Europa. Especialmente na França e região monarquias são varridas, repúblicas são criadas, proibições várias, trabalhadores e estudantes tomam as ruas. Afinal, verificava-se uma tensão nesse período entre a República Social Democrática e a forma Liberal de Republicanismo.

No entanto, é imperioso recordar que esse período foi precedido pelo movimento que se convencionou chamar de iluminismo. Houve, é um fato, a Revolução Francesa, cujas bandeiras foram igualdade, fraternidade e solidariedade. Muitos ideólogos daquela revolução afirmavam que uma regeneração da humanidade só ocorreria a partir de uma revolução na educação (um desses, sem dúvida, foi Mesmer).

Mas, não se tratava de qualquer projeto educacional, e sim, um em específico: que alterasse a metodologia fincada na heteronomia calcada na ideia de que a mudança moral ocorre no indivíduo quando o mesmo é castigado ou recompensado. Essa ideia considera o ser humano apenas do ponto de vista de sua natureza animal, que pode ser adestrada por meio de dor ou prazer.

A partir do ano de 1830, século 19, vamos testemunhar um grande movimento caminhar noutra direção, isto é, de que o ser humano é uma alma encarnada (portanto, possui natureza divina, além da corporal ou física). A ideia central é de que o indivíduo deve possuir uma consciência moral, sem a qual não há regeneração da humanidade possível. Nesse sentido, é necessário que o indivíduo desenvolva essa consciência, processo em que é necessário:

  • Conhecimento da Lei;
  • Aceitar essa Lei como verdadeira;
  • Reconhecer a necessidade de sua aplicação.

Além das tensões políticas, outras estavam bem presentes. De um lado tínhamos os representantes das ideologias religiosas fundamentadas nos seus dogmas, os quais apesar de superados pelas ciências, não sinalizavam aceitar a Lei do Progresso. Abre-se caminho para o seu oposto: o materialismo.

No entanto, se de um lado o fanatismo religioso apresentava uma subserviência à divindade, mesmo que sem lógica e irracional, do outro lado, o desejo era extirpar o sentimento inato do ser humano quanto à existência de Deus, bem como à imortalidade da alma. As duas propostas são falidas. Nesse ambiente, surgiu o Espiritualismo Racional.

A Filosofia Espiritualista Racional conceitua consciência como uma faculdade de reconhecer a LEI MORAL e aplicá-la a todas as circunstâncias. Nesse sentido, consciência é, a um só tempo:

  1. Poder que ordena (dita o que é preciso fazer ou evitar);
  2. Juízo que julga o que foi feito, decidindo entre o bem e o mal.

Nesse sentido, cada um deve agir de acordo com sua consciência, uma vez que essa apresenta decisões nítidas e distintas.

Uma estrutura educacional bem construída deve proporcionar ao indivíduo adquirir o conhecimento necessário que lhe permita o uso de sua inteligência. Um indivíduo só pode ser considerado bom ou mal quando possui discernimento entre um e outro. Fora disto, ele está no estado de inocência ou no chamado sono da consciência. Até que a consciência desperte há um combate moral por excelência. Trata-se da luta entre o dever e a paixão.

Portanto, a Filosofia Espiritualista Racional propôs o estudo aprofundado de um conjunto de conhecimentos que proporcionem ao estudante investigar sobre hábitos que mostram um indivíduo sem consciência, isto é, que se habituou a não consultar ou a desprezar os ditames da consciência, espécie de voz interior que diz o que fazer ou não fazer.

Assim, é necessário estudar as emoções ou afeições diversas, isto é, os prazeres ou dores que nascem na alma. É imperativo estudar, na ação para fazer, a atração pelo o bem e a aversão pelo mal. O hábito é considerado uma violência do desejo. Ao julgar a ação realizada, o indivíduo verifica se houve prazer, isto é, uma satisfação moral e nesse caso, a ação é boa. Lado outro, se houve remorso e arrependimento, portanto, uma má ação, o resultado será o sofrimento. Esse sofrimento não é físico, mas, de ordem moral, uma espécie de castigo em razão do crime. São os vícios, estágio mais avançado dos hábitos, que criam o arrependimento da alma.

O Espiritualismo Racional, propõe que o indivíduo adquira a liberdade, isto é, a posse de si mesmo. Sendo uma alma encarnada, é denominado agente moral. Esse agente, livre, pode escolher por sua própria vontade. Fazer o bem, fazer o mal, não fazer o bem ou não fazer o mal. Para essa filosofia a livre escolha supõe a responsabilidade. Contudo, há uma lei de progresso natural, pois, os caracteres humanos não são imutáveis, todos estão sujeitos às boas ou más inclinações. Cabe a cada um adquirir virtudes e se livrar dos maus hábitos ou dos vícios.

Não se pune, portanto, o que é feito por coerção ou por ignorância. No caso da coerção ou da ignorância, não esteve presente a intenção do indivíduo para que essa, isso sim, possa ser julgada. A vontade que escolhe livremente reclama o conhecimento da lei moral, sua aceitação pelo agente moral como verdadeira e o reconhecimento deste de que há necessidade de sua aplicação em quaisquer circunstâncias da vida. Somente o agente moral livre poderá ser responsabilizado por suas ações.

Neste caso, a educação moral proposta pela Filosofia Espiritualista Racional cria um 'programa de estudos' onde o estudante tenha as condições necessárias de, por si, construir o conhecimento do que é o bem e do que é o mal, possuindo toda a liberdade de agir. Em razão de que o conhecimento de cada um é variável, as condições de responsabilidade varia na mesma proporção.

Para o Espiritualismo Racional, no entanto, as recompensas e castigos tomam formas distintas daquelas propostas pelo educação moral heterônoma, onde a recompensa é o prazer material, assim como o castigo ou punição é um sofrimento corporal infligido ao agente.

No campo da moral autônoma a recompensa e o castigo não existem PARA que a lei moral seja cumprida. Castigo e recompensa podem, até, ser meio de conduzir ao bem e desviar do mal, mas, essa não é sua função essencial. Aliás, essa não é, de forma alguma, a verdadeira ideia de castigo ou recompensa.

O castigo e a recompensa existem PORQUE a lei moral foi cumprida ou violada. Trata-se de justiça, não de utilidade. No campo da moral, o castigo é a reparação ou a expiação. O que assegura a execução da lei moral é o ato ou sua abstenção, no sentido de corrigir sua violação (reparação ou expiação). Se, de um lado, a ordem ou harmonia foi perturbada por uma vontade rebelde, a consequência do falta cometida será o sofrimento moral por tal perturbação.

Em sociedade, os tipos de sanções são: natural, legal, da opinião e interior. A pena natural é a própria consequência imediata da ação; a legal é aquela constante do código penal; a de opinião é a censura, o desprezo, a aversão dos outros; e, por último, a interior é a que resulta da consciência (sentimento moral). Para o Espiritualismo Racional, o ser humano DEVE e PODE aperfeiçoar seu CARÁTER.

O Brasil já experimentou essa oportunidade de conhecer a Filosofia Espiritualista Racional, conforme percebemos no programa abaixo, o qual compartilhamos para conhecimento:

PROGRAMA DO ENSINO DE FILOSOFIA
(IMPERIAL COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO)

1.

INTRODUÇÃO

Definições, objeto, divisão, importância e relações da filosofia com outras ciências.

2.

ONTOLOGIA ELEMENTAR

Do ser; da essência.

3.

Do infinito e do finito, do absoluto e do relativo, da substância, do atributo e do modo.

4.

Da causa em geral

Causa eficiente, ocasional, material, instrumental e final.

5.

Do verdadeiro, do bem e do belo (noções de estética).

6.

Do espaço; do tempo.

7.

DA PSICOLOGIA

O composto humano; passagem da fisiologia à psicologia; dos fatos psicológicos; faculdades da alma.

8.

Da sensibilidade em geral; da sensibilidade física; Das sensações.

9.

Da sensibilidade intelectual e moral; Sentimentos e afeições.

10.

Da inteligência em geral; Da consciência ou percepção íntima.

11.

Da percepção externa; Elementos da percepção; Os sentidos e seus erros.

12.

Das ideias em geral

Definições, diferenças, características, origem e formação.

13.

Da atenção; Da reflexão; Da comparação.

14.

Da razão pura; Noções e verdades primárias.

15.

Do juízo; Do raciocínio.

16.

Da memória; Da associação das ideias.

17.

Da abstração; Da generalização; Da imaginação.

18.

Da linguagem:

Definição, diferenças, classificação, origem e utilidade.

19.

Da vontade:

Do instinto e do hábito; da atividade livre.

20.

Da liberdade e suas provas; Dificuldades e teorias.

21.

Da unidade, identidade e espiritualidade da alma.

22.

LÓGICA:

Objeto da lógica; Método em geral; Análise e síntese.

23.

Métodos particulares; Classificação das ciências.

24.

Do método indutivo:

Observação, experimentação e classificação.

25.

Da analogia; indução e hipótese.

26.

Do método demonstrativo:

Axiomas, definições e demonstração.

27.

Do silogismo:

Matéria e forma, termos e proposições, figuras e regras.

28.

Graus de assentimento:

Probabilidade, evidência e certeza.

30.

Dos erros:

Causas e remédios.


1.

TEODICÉA

Noções preliminares; Da ideia de um Ente Supremo; Argumentos físicos da existência de Deus.

2.

Argumentos morais e metafísicos da existência de Deus; Crítica de todos os argumentos.

3.

Principais atributos de Deus.

4.

Da Providência e seus atos:

Argumentos à priori, à posteriori e indiretamente.

5.

Erros acerca de Deus:

Ateísmo, dualismo, politeísmo, panteísmo.

6.

MORAL:

Princípios das ações humanas; O prazer e o bem; O útil e o honesto; Sistema de Stuart Mill.

7.

Da consciência moral:

Distinção do bem e do mal.

8.

Da lei moral e suas partes componentes.

9.

Destino do homem e imortalidade da alma:

Argumentos principais e complementares.

10.

Moral Prática:

Deveres do homem para consigo mesmo.

11.

A moral perante a humanidade, a família e o estado.

12.

Moral religiosa ou deveres do homem para com Deus.

13.

HISTÓRIA DA FILOSOFIA:

Objeto, utilidade, métodos, sistemas e divisão da história da filosofia.

14.

Filosofia antiga; Origens orientais; Filosofia grega antes de Sócrates.

15.

Filosofia socrática; Platão e a Academia.

16.

Filosofia depois de Sócrates:

Aristóteles, Pyrrho, Epicuro e Zeno.

17.

Filosofia romana; Escola de Alexandria; Os Padres da Igreja.

18.

Filosofia medieva:

Fases da escolástica.

19.

Filosofia moderna:

Bacon e Descartes.

20.

Filosofia do século XVII

Sectários de Bacon e de Descartes.

21.

Filosofia do século XVIII na França.

22.

Filosofia Inglesa no século XVIII.

23.

Filosofia do século XVIII na Alemanha.

24.

Filosofia do século XIX na Inglaterra, na França, na Itália, na Alemanha e na Bélgica.

25.

Resumo de todos os sistemas de Filosofia contemporânea e sua influência no Brasil.


Finalizando esse convite à reflexão, bem como de uma página de defesa à Filosofia Espiritualista Racional e a necessidade de sua recuperação nos dias atuais, principalmente para se compreender, verdadeiramente, o Espiritismo, deixamos algumas informações que podemos extrair e que nos serve de base para meditar sobre a ligação estreita entre Espiritualismo e Espiritismo, esse último como uma fase/parte do primeiro.

A Filosofia Espiritualista Racional preconiza que não há bem verdadeiro quando exista qualquer interesse pessoal. O Bem Moral é o verdadeiro bem, o soberano bem. Esse bem precisa ser conhecido ou reconhecido como o objetivo da humanidade. Na luta interna de cada indivíduo a razão mostra o bem e a paixão arrasta ao prazer.

Há uma LEI NATURAL que toma a forma de constrangimento, uma ordem, uma necessidade, que se apresenta de modo:

a. Imperativo: faça o bem;

b. Proibitivo: não faça o mal

A isso chamamos DEVER. No Espírito em desenvolvimento trata-se de um constrangimento moral, mas, não há nenhuma coerção física. O constrangimento imposto pelo dever é suportado pela razão, sem violar a liberdade. Aquilo que por necessidade só se impõe à razão, sem constrangimento da vontade, é a obrigação moral.

Dizer que o bem é obrigatório significa que "nós nos consideramos como obrigados a realizá-lo, sem sermos forçados a isso".

O que é feito à força deixa de ser o bem. O bem deve ser livremente realizado. Trata-se de uma necessidade consentida. Do contrário, tudo que é feito quando se obedece voluntariamente a todas as paixões, transforma o ser humano num animal; compara-se ao idiota, ao louco, ao que caiu no delírio.

O dever se caracteriza por ser absoluto e universal. O objetivo da lei do dever é o próprio dever, cuja lei se obedece por si mesma, não alguma razão. Aconteça o que acontecer, faça-se o que deve ser feito. Por isto, é absoluto.

A universalidade é um caráter do dever, uma vez que sua lei deve ser aplicada a todos os indivíduos, da mesma maneira e nas mesmas condições. Cada um deve reconhecer essa lei impondo-se a si mesmo, tanto quanto aos outros.

A conclusão dessa reflexão é da própria Filosofia Espiritualista Racional: "Faça ao outro o que gostaria que ele lhe fizesse e não faça ao outro o que não gostaria que ele lhe fizesse".

Essas considerações, extraídas da Filosofia Espiritualista encontram ecos muito bem fixados em O Livro dos Espíritos, especialmente nas seguintes questões: 621, 625, 627, 629, 631, 658, 672, 670, 747, 886, 895 (entre outras). Caso, após a leitura, você perceba outras questões que estão em consonância com as colocações feitas no texto, por favor, coloque nos comentários.

Fonte:
JANET, PAUL. Pequenos Elementos da Moral. Edições Kindle. Tradução de Maria Leonor Loureiro.

Uberaba - MG, 07/05/2022
Beto Ramos

DESTAQUE DA SEMANA

A DOUTRINA DOS ESPÍRITOS NÃO É ASSUNTO QUE SE ESGOTA EM UMA PALESTRA

  EM SUAS VIAGENS KARDEC MINISTRAVA ENSINOS COMPLEMENTARES AOS QUE JÁ POSSUIAM CONHECIMENTO E ESTUDO PRÉVIO. Visitando a cidade Rochefort, n...