A importância prática da teoria por trás das revelações
“Se o Cristo não disse tudo o que poderia ter dito,
é porque achou necessário deixar certas verdades na penumbra, até que os homens
pudessem compreendê-las. Portanto, conforme suas palavras, seu ensino era
incompleto, uma vez que anunciava a vinda daquele que devia completa-lo. Ele
previra, assim, que os homens se equivocariam com as suas palavras, que se desviariam
dos seus ensinamentos, numa palavra, que desfariam o que ele fez, pois que
todas as coisas teriam que ser restabelecidas: ora, só se restabelece o que foi
desfeito!” (A Gênese – os milagres e as
predições segundo o espiritismo. Allan Kardec, janeiro de 1868).
O Livro dos Espíritos está dividido em 04 Livros e cada Livro em
Capítulos. No Livro 1º os Espíritos abordaram as Causas Primárias; No Livro 2º o Mundo dos Espíritos; No Livro 3º as
Leis Morais; e, no Livro 4º, as Esperanças e Consolações.
O Livro Primeiro traz 04 capítulos, a saber: I – DEUS; II – Elementos Gerais
do Universo; III – Criação; IV – Princípio Vital; Partindo do absoluto até
chegar ao relativo, Allan Kardec organiza o Livro dos Espíritos de modo que as
REVELAÇÕES dos Espíritos estejam sempre apontando Causas para os Efeitos
(estes últimos tomados pelos materialistas, por vezes, como “causas” surgidas “por acaso” ou “por acidente”).
Se o Livro dos Espíritos começa indagando Que é Deus, é possível que você logo pense: “Kardec apresenta um livro religioso”; Todavia, o estudante atento deve observar o título e a informação contida
na obra. Diz Kardec: “Contendo os princípios da Doutrina Espírita
sobre a imortalidade da alma, a natureza dos Espíritos e suas relações com os
homens, as leis morais, a vida presente, a vida futura e o porvir da humanidade”.
Abaixo do nome do autor (Allan Kardec) encontramos outra expressão: FILOSOFIA
ESPIRITUALISTA. Adiante, em síntese, o Codificador afirmará que a Doutrina Espírita é espécie do gênero
Espiritualismo, do qual apresenta uma das fases. Ora, se é uma espécie, uma das fases, indagamos mais uma vez: O ESPIRITISMO JÁ EXISTIA NA HUMANIDADE AO
TEMPO DO ADVENTO DE O LIVRO DOS ESPÍRITOS?
Não pretendemos escrever um tratado, mas, gostaríamos de nos deter nesse
ponto, tendo em vista que o conteúdo de O Livro dos Espíritos, trazendo
REVELAÇÕES DOS ESPÍRITOS, não é produto
do fantástico ou do místico. Vale dizer, não se trata de informações que
surgiram pela primeira vez na própria obra.
O professor Hippolyte Leon Denizard Rivail defendia a educação pela
liberdade, como pensada por Rousseau e proposta por Pestalozzi e tinha pleno
conhecimento das crenças enraizadas do velho mundo, a exemplo do “dogma do fim do mundo”, onde Deus viria
destruir a Terra. Contudo, como mostra a biografia de Kardec, bem como sua
conclusão em A Gênese: “a regeneração da
humanidade não tem pois, absolutamente, necessidade da renovação integral dos
Espíritos: basta uma modificação em suas disposições morais; esta modificação
se opera em cada um, e em todos que para tal estão predispostos, quando são
subtraídos à influência perniciosa do mundo” (A Gênese, LAKE, 2013, pg.
351).
Ora, se a modificação é moral e ocorre em cada indivíduo, o que há de
novo em tudo isto? Durante milênios as religiões não sustentaram a moral como
sinônimo de submissão a um deus? Por longo tempo não propagou a ideia das penas
eternas e recompensas aos obedientes e submissos, para quando chegasse o fim do mundo? Numa palavra, não tratou da
questão moral? O que o Espiritismo traz de
diferente? Enquanto a
tradição nos presenteou com a tese da
heteronomia, isto é, evolução coletiva e julgamento num evento futuro e
indeterminado, Allan Kardec, por meio do ensino dos Espíritos, corrigiu o erro, e comprovou que a nova era para a humanidade não
ocorrerá pela intervenção divina, mas, pela adesão voluntária e consciente de
cada ser humano: a autonomia. Os
indivíduos reconhecendo-se livres e responsáveis, agem de forma fraterna e solidária,
segundo uma lei interna e não externa, presente na consciência, à qual
estabelecem o dever de seguir. Tratou-se,
então, de uma mudança de paradigma.
Na Revista Espírita de 1966, página 196, Kardec irá afirmar: “não é o Espiritismo que cria a renovação
social, é a maturidade da Humanidade que faz dessa renovação uma necessidade”. Então, já podemos invadir o tema do nosso estudo: VOCÊ, OPOSITOR OU SIMPATIZANTE, ADEPTO OU DIVULGADOR, CONHECE O
VERDADEIRO ESPIRITISMO? PENSA QUE SE TRATA DE UMA “DOUTRINA KARDECISTA” (sic)?
CONHECE A TEORIA REVOLUCIONÁRIA DOS ESPÍRITOS?
Você sabia que a encarnação é uma necessidade do Espírito, cuja missão
providencial a realizar é o próprio adiantamento pela atividade e pela
inteligência que deve desenvolver, a fim de prover à sua vida e ao seu
bem-estar? Você tem conhecimento de que ALLAN KARDEC afirmou categoricamente
que “é
errado admitir em princípio a encarnação como um castigo”? Ele afirmou isto
e muito mais, conforme podemos verificar na Revista Espírita de 1963, páginas
231 e 232. Todavia, parece que os defensores de que o Espiritismo não passa
de uma “religião” como outra qualquer, sequer tem noção de que o espiritismo revela e explica a admirável lei natural da escolha das provas
que sustenta sua teoria moral (FIGUEIREDO, 2016, pg. 29).
O Espiritismo, estudado a contento, com seriedade, afastado da
consideração de que se trata de seita
comum, carregada de superstições, tentativa de sistematização de crendices
populares, onde todo tipo de absurdo pode ser encontrado (PIRES, Herculano,
1979, p. 11), é uma TEORIA
REVOLUCIONÁRIA DOS ESPÍRITOS. O pensamento liberal espiritualista surge no cenário histórico e cultural do século 19, cujo objetivo era alcançar uma sociedade solidária, livre e
igualitária, superando os preconceitos de raça, gênero e classes sociais, pela
igualdade de oportunidade para todos.
Seus defensores propunham um novo espiritualismo QUE NÃO ABRIA MÃO DA
RACIONALIDADE.
Segundo FIGUEIREDO “pensadores
como Jean Jacques Rousseau e Emmanuel Kant foram os principais inspiradores
teóricos dessa nova moralidade que sustentava o projeto de regeneração da
humanidade. Para Kant, como descobridor da autonomia, essa força do dever pela
soberania da vontade individual na aplicação da lei moral será o instrumento de
superação das antigas doutrinas heterônomas do velho mundo” (2016, pg. 23).
Afirma o autor que é Kant, arrebatado pela leitura de Rousseau, em
especial a obra O Emílio, quem vai desenvolver a crítica à vontade heterônoma, condição que o indivíduo deixa-se governar
cegamente por leis externas que lhe são impostas, caso das religiões tradicionais
em relação às massas, e pela teoria materialista moderna como meio de
dominação. Egoísmo e desejo sem limites, privilégios e preconceitos são os
males morais. Em contrapartida, para Kant, a autonomia moral representa a
condição do ser que se governa por leis determinadas pela sua razão, a partir
dos princípios morais que se encontra em si mesmo, na sua consciência, que atua
voluntariamente no bem, no alcance do seu entendimento, age da melhor forma
possível visando o melhor bem possível para o maior número de pessoas
(FIGUEIREDO, 2016, pg. 23).
Iniciamos o nosso texto de hoje pela constatação de Kardec em A Gênese a
respeito do Ministério de Jesus. Nosso Mestre, quando nos honrou com sua
presença no orbe, veio organizar o ensino de Moisés e esclarecer como
compreendê-lo, revelar conceitos novos e advertir sobre nossa infância
espiritual, para quem muito não podia ser dito, pois, só mais tarde estaríamos
aptos a compreender.
Tratando-se aqui de um Estudo da Doutrina Espírita, pensamos ser
relevante, antes de adentrar ao Livro dos Espíritos propriamente, esclarecer
que as ideias de Kardec organizadas na obra, É PRODUTO DO TRABALHO ÁRDUO DOS ESPÍRITOS, É REVELAÇÃO DOS ESPÍRITOS.
Contudo, o Mundo Espiritual organiza-se, planeja, possui metas, cria grupos de
trabalho, designa coordenadores, implanta projetos, estabelece fases, aguarda
que ciclos sejam completados, e, portanto, a CODIFICAÇÃO não é OBRA HUMANA,
mas, FRUTO DO TRABALHO DE ESPÍRITOS SUPERIORES, e, sem dúvida, um patrimônio
que nos foi legado sob a égide do Espírito da Verdade.
É necessário saber que os
conceitos, ideias, fundamentos, princípios e leis, contidos em O Livro dos
Espíritos, sempre estiveram iluminando a humanidade terrestre. Para a etapa
chamada 3ª REVELAÇÃO, com o advento do CONSOLADOR PROMETIDO, o Espiritismo
completa um ciclo e reúne, a exemplo do Ministério de Jesus, todo um conjunto
de conhecimentos que devem ser assimilados pelo indivíduo para sua jornada
evolutiva. É claro
que, como outrora, somente podem ouvir aqueles que tem ouvidos para ouvir e ver
aqueles que tem olhos para ver.
Assim sendo, à guisa de conclusão, trazemos as palavras de PAULO
HENRIQUE DE FIGUEIREDO: “O espiritismo é
uma doutrina liberal no sentido do movimento iluminista e do espiritualismo
racional de seu tempo, aos quais se vincula, como afirmou o professor: “toda
defesa do espiritualismo racional
abre o caminho do espiritismo, que dele é o desenvolvimento, combatendo os seus
mais tenazes adversários: o materialismo e o fanatismo (RE68, p. 223)”.
Supomos que REVELAÇÃO não é exatamente INFORMAR ALGO NOVO, mas, retirar
o véu que cobre a informação proporcionando o uso adequado da mesma. Talvez um
dos méritos desse processo é separar o joio do trigo.
Referências:
FIGUEIREDO. Paulo Henrique. Revolução Espírita – A teoria
esquecida de Allan Kardec. São Paulo: MAAT, 2016
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. São Paulo: LAKE, 2013.
KARDEC, Allan. REVISTA ESPÍRITA. 1858/1869.