NOÇÕES PRELIMINARES PARA ESTUDO DO ESPIRITISMO
Antes de aceitarmos qualquer discussão espírita, temos de nos assegurar se o interlocutor admite a base sobre a qual está todo o edifício do Espiritismo, qual seja: a existência de Deus e da Alma. Não nos cabe forçar essa crença, eis que a vontade é individual e autônoma.
Para tanto, a esses interlocutores, são necessárias algumas perguntas iniciais para delimitar o campo da discussão, quais sejam:
a) Crê em Deus?
b) Crê na
existência da Alma?
c) Crê na
sobrevivência da Alma após a morte?
Tais questões devem obter respostas positivas, sem as quais seria inútil prosseguir numa discussão comparável a tentar demonstrar as propriedades da luz a um cego que não admitisse a existência da luz.
EXISTEM ESPÍRITOS?
1.Os Espíritos não
são seres a parte na criação e sua existência decorre, necessariamente, do fato
de haver um princípio inteligente no Universo, além da matéria.
2.O Espiritualismo
em geral nos oferece a demonstração teórica dogmática da existência, sobrevivência
e individualidade da alma, o que o Espiritismo demonstrou pelos experimentos.
3. Pelo método
indutivo do raciocínio, partindo da premissa que a alma existe e sua
individualidade permanece após a morte, tem-se:
a) Ao separar-se do
corpo a alma não conserva as propriedades materiais, portanto, sua natureza é
diferente da corpórea;
b) Sendo feliz ou
sofredora, a alma possui consciência própria e não é um ser inerte do qual nada
valeria sua existência;
c) Se há
consciência vai para algum lugar, que, segundo a crença comum é o Céu ou o
Inferno, mas, o Espiritismo não é compatível com essa teoria;
d) O Céu ou o
Inferno deveria estar circunscrito em algum lugar, mas, no Universo não há como
conceituar alto e baixo, uma vez que os orbes são redondos, os astros giram e o
alto e baixo se revezam de tempo em tempo, sendo desconhecido o infinito do
espaço que possui distâncias incomensuráveis;
e) A razão não
admite a inutilidade do infinito, que leva a crer serem os demais mundos também
habitados;
f) A doutrina da
localização das almas e os dados das ciências não concordam entre si, o que
conduz a uma doutrina mais lógica que lhes dá o espaço infinito, isto é, todo
um mundo invisível que nos envolve e no meio do qual vivemos rodeados por elas.
4. A ideia das
penas e recompensas, uma vez que as almas não vão para locais determinados, é
absurda. Ao contrário de penarem ou gozarem em determinado lugar, carregam no
seu íntimo a felicidade ou a desgraça, pois, a sorte de cada uma depende de sua
condição moral.
5. O progresso das
almas depende dos esforços que fazem para melhorarem e, depois das provas
necessárias, podem atingir os graus mais elevados. Portanto, os anjos, mensageiros
de Deus, são almas humanas que chegaram ao grau supremo e todos podem chegar
até lá através da Boa Vontade.
6. Essas almas
purificadas, chegadas ao grau supremo, são incumbidas por Deus de zelar pela
execução de seus desígnios em todo o Universo.
7. Com isto, ter uma
condição útil e aceitável após a morte é uma teoria mais atraente que a
inutilidade perpétua da contemplação eterna.
OS DEMÔNIOS
8. São almas das
criaturas más, ainda não depuradas, mas, que podem chegar como as outras, ao
estado de pureza. Tal situação está em pleno acordo com a Justiça e Bondade de
Deus e em conformidade com a razão, a lógica e o bom-senso.
ESPÍRITOS
9. As almas são os
Espíritos encarnados revestidos do invólucro corporal (corpo de carne), enquanto que os Espíritos que povoam o Universo infinito também são almas humanas, mas, desprovidas (despojadas)
da roupagem material (corpo de carne).
10. Admitir-se a
existência das almas é o mesmo que admitirem-se os Espíritos. Estando as almas por
toda parte, os Espíritos também estão. Negar um é negar o outro.
AÇÃO SOBRE A MATÉRIA /
MANIFESTAÇÕES ESPÍRITAS
11. Os Espíritos não são seres abstratos, vagos e
indefinidos. Na sua união com o corpo, o Espírito é o elemento principal da
união, pois é o ser pensante e que sobrevive à morte.
12. O corpo é um
acessório do Espírito, um invólucro, uma roupagem que abandona depois de usar.
13. Além do
envoltório material, o Espírito possui outro, semimaterial, que o liga ao
primeiro.
14. Na morte o Espírito
abandona o corpo, mas, não o segundo envoltório, que é chamado de perispírito.
15. O perispírito,
que tem a mesma forma humana do corpo, é uma espécie de corpo fluídico,
vaporoso, invisível para o sentido humano quando se encontra em seu estado
normal, mas, possui ainda algumas propriedades da matéria.
16. O Espírito é um
ser limitado e circunscrito, ao qual falta ser visível e palpável para
assemelhar-se às criaturas humanas.
17. Como os demais
fluídos rarefeitos, tal qual a eletricidade, o Espírito, constituído de uma
substância sutil e dirigido pela vontade, é uma força motriz que age sobre a
matéria.
18.O Espírito
encarnado age sobre a matéria do seu corpo dirigindo-lhe os movimentos
corporais.
19. Como o mudo
serve-se de uma pessoa que fala para fazer-se compreender, assim o Espírito
desencarnado serve-se de outro corpo, em acordo com o Espírito nele encarnado,
para manifestar o seu pensamento.
20. Partindo-se do
princípio da existência da alma e sua sobrevivência após a morte, considera-se
que o ser pensante durante a vida terrena continua pensando após a morte; Pensa
naqueles que amou e deseja se comunicar com eles; Está por toda parte e ao
nosso lado, comunicando-se conosco.
21. O Espírito age
sobre a matéria inerte por intermédio de seu corpo fluídico, assim como age
sobre a matéria de um ser vivo, inclusive, dirigindo-lhe a mão para fazê-lo
escrever, além de lhes responder questões pela transmissão do pensamento.
Fonte:
KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. (Primeira Parte, Noções Preliminares, Capítulo I - Existem Espíritos?). LAKE: São Paulo, 2013.