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segunda-feira, 29 de agosto de 2022

EXPLICAR, SIGNIFICAR E DEFINIR: compreendendo as diferenças sutis.

 

Um dos maiores cuidados expressados por Kardec para realizar sua pesquisa era, sem sombras de dúvidas, não bombardeá-la com os naturais preconceitos humanos. Nesse caso, estamos tratando especificamente dos sistemas preconcebidos. Para bem se compreender, trata-se de não eivar a pesquisa de um vício muito comum: partir de uma ideia formada para valida-la na pesquisa. Não estamos tratando das hipóteses, pois essas são comuns nas pesquisas, constituindo as variáveis encontradas acerca do tema, assunto ou objeto investigado.

Na pesquisa espírita, Kardec sempre tinha cuidado para abordar todos os pontos que se referiam ao objeto de estudo. Sua conclusão vinha a posteriori, nunca a priori. Eis a diferença entre uma ideia pré-concebida de outra nova e inédita ou, ao menos, não pensada ou difundida. É com base nessas premissas que iremos argumentar.

Estudando a obra O Que é o Espiritismo vamos nos deparar com uma conversa entre Kardec e um religioso, o qual indaga sobre o fato de o Espiritismo não discutir certos dogmas da igreja, mas admitir pontos rechaçados por aquela crença. O organizador do Espiritismo anuncia que esse, de fato, não contesta ou discute certos dogmas, mas termina a frase com a expressão: "em princípio" (Iniciação Espírita; Kardec, Allan. O Que é o Espiritismo, pg. 119. Editora Edicel. Sobradinho-DF, 14ª Edição).

Depreende-se disto que o Espiritismo não veio para uma disputa no mundo, mas, para o debate e o enriquecimento das ideias. O ponto importante da resposta ao padre e informado por Kardec nesse diálogo citado é o seguinte. Verbis:

"Se tivesse lido tudo o que escrevi sobre o assunto, teria observado que ele [o Espiritismo] se limita a dar-lhes uma interpretação lógica e mais racional do que a que lhes é dada vulgarmente".

Prossegue na resposta afirmando e exemplificando:

"É assim, por exemplo, que ele [o Espiritismo] não nega em absoluto o purgatório; demonstra, ao contrário, a sua necessidade e sua justiça; mas faz mais ainda, define-o"

Nesse ponto vamos nos deparar com uma encruzilhada no processo de interpretação: como o Espiritismo trata os tais dogmas da igreja, porquanto não os nega, como informa o religioso na sua pergunta?

Uma importante lição apresentada pelos Espíritos na Obra O Livro dos Espíritos, mormente quanto ao nosso vocabulário, instrumento utilizado para articular palavras no processo de transmissão do pensamento, é: "entendei-vos quanto às palavras".

Portanto, é importante observar que Kardec esclarece que o Espiritismo faz duas coisas distintas:

a. Dar uma interpretação lógica e mais racional aos dogmas do que a que lhes é dada vulgarmente;

b. Ir além da interpretação vulgar e definir certos termos.


Nesse sentido, é importante observar que há diferenças sutis entre o significado das expressões explicar, significar e definir.

1. O que é explicar?

* Tornar claro e compreensível algo que é obscuro ou ambíguo.

* Expor, explanar, fazer entender, dar explicação.

* Ser a origem, a razão ou o motivo de alguma coisa ("uma coisa explica a outra").

* Interpretar o sentido de algo.


2. O que é significar?

* Ter o significado ou sentido de algo; Querer dizer.

* Exprimir; Traduzir; Dar a entender, mostrar.

* Fazer conhecer, participar, comunicar.

* Possuir determinado significado, denotar, designar (dar nome a).


3. O que é definir?

* Estabelecer limites, delimitar.

* Indicar o verdadeiro sentido, a significação precisa.

* Fixar com precisão; Expor com clareza.

* Manifestar explicitamente; revelar.

* Tomar decisão a respeito; decidir, decretar.


Note-se que não é trabalho confortável buscar compreender o que, de fato, foi comunicado pelo texto de Kardec, o qual serve de objetivo para nossa reflexão.

Significar e definir estão no campo da indicação positiva e determinante de alguma coisa que não possui o significado, nem estava fixado com precisão. Trata-se de revelação e da indicação do sentido verdadeiro de alguma coisa. Resumindo, significar é TER o sentido de algo, enquanto definir é indicar o sentido verdadeiro.

Por outro lado, explicar está no campo da elucidação de algo mal interpretado, obscuro, incerto, duvidoso ou vago. Nesse caso, a significação existe, mas o termo é ambíguo, deixa dúvidas, carece ser INTERPRETADO.

Se estivermos corretos quanto à afirmação de Kardec, depreende-se que o Espiritismo trouxe esclarecimentos sobre questões sem significação formal, imprecisas, sem sentido ou indefinidas, além de elucidar pontos obscuros, duvidosos, vagos ou incertos.

Destarte, o Espiritismo executou, na sua função de trazer esclarecimentos, uma dessas ações, por assim dizer: explicar, significar/definir. Nesse passo, parece incorreto usar a expressão ressignificar, o que denota substituir uma coisa pela outra. O nosso estudo, ora apresentado como ensaio, não conduz a uma afirmação nesse último sentido.

Após se inscrever por aqui, deixe seu comentário e enriqueça a pesquisa que só terá sentido se for resultado do trabalho coletivo.

Até o próximo artigo.

Uberaba-MG, 29 de agosto de 2022.
Beto Ramos.

quinta-feira, 18 de agosto de 2022

O ESPIRITISMO E A SOLUÇÃO DE PROBLEMAS DE ORDEM PSICOLÓGICA, MORAL E FILOSÓFICA.

 

"A Doutrina Espírita contém a solução de um certo número de problemas do mais alto interesse, de ordem psicológica, moral e filosófica". (O Que é o Espiritismo - Preâmbulo).


Todo aquele que estuda o espiritismo, certamente, já se deparou com essa afirmação de Allan Kardec em um de seus magistrais resumos da Doutrina Espírita. É importante sempre buscar agregar conhecimento em torno daquelas palavras, termos e frases usadas pelo organizador do Espiritismo, pois disto decorre e depende a compreensão adequada do edifício espírita.

Somente nessa frase, antes destacada, já podemos encontrar razões  suficientes para uma meditação profunda. Vamos, portanto, refletir sobre as expressões usadas: psicológica, moral e filosófica.

Nessa breve exposição procuraremos demonstrar onde, entre outras fontes da lavra do professor, estão contidos os desenvolvimentos de Kardec conforme cada campo do saber citados na frase objeto do estudo, segundo a compreensão que temos de cada um deles. Vejamos:


PSICOLOGIA

1. São os estados e processos mentais do indivíduo:

- O estado mental do Espírito, como aprendemos na Obra O Céu e o Inferno, refere-se ao estado feliz ou infeliz do Espírito, encarnado ou não;

- Esses estados em que se encontram representam o céu para o Espírito Feliz e o inferno para o Espírito Infeliz.

2. Trata do comportamento do indivíduo, como de sua interação com o ambiente físico e social:

- O comportamento do Espírito, sua interação com o mundo espiritual, como percebe e compreende esse ambiente está em conformação com sua elevação e o conhecimento adquirido; Disso decorre o modo como interage com os demais Espíritos (Escala Espírita, O Livro dos Espíritos).

Além do mais, tudo isto se reflete no mundo físico, uma vez que o Espírito reencarna, se comporta e interage com as pessoas segundo o seu caráter (União do Princípio Espiritual e da Matéria, Cap. 11, Gênese Espiritual, A Gênese).


MORAL

São as bases que guiam a conduta do Espírito, ensinando a melhor forma de agir e se comportar dentro de uma sociedade:

Em O Livro dos Espíritos encontramos qual a definição de moral dada pelos Espíritos, como o Espírito deve se comportar em relação aos semelhantes e perante Deus, bem como a própria distinção do bem e do mal (Questão 629 e seguintes).


FILOSOFIA

O Espiritismo supera o senso comum no que se refere à realidade empírica e das aparências percebidas pelos sentidos físicos:

- O Espiritismo se relaciona com o conhecimento científico avaliando os campos do saber e contribui para o desenvolvimento de muitos ramos do saber (Revistas Espíritas);

- No campo da metafísica o Espiritismo supera as meras especulações e traz respostas sobre as verdades primeiras relativas a Deus, Alma e Matéria (O Livro dos Espíritos); Enquanto usa procedimentos argumentativos, lógicos e dedutivos, relaciona teoria e prática (O Livro dos Médiuns e O Céu e o Inferno);

- O Espiritismo apresenta as consequências éticas e psicológicas advindas das relações mantidas entre os Espíritos (Definição de O Que é o Espiritismo, Preâmbulo da obra de mesmo nome);

- A razão é a condutora da fé; O procedimento do Espiritismo é o método racional, vez que não traz teoria, doutrina ou sistema preconcebido (Folha de rosto da obra O Evangelho Segundo o Espiritismo). Tudo perpassa pelo método científico da observação (O Livro dos Médiuns, Revistas Espíritas e O Céu e o Inferno).

Vários desses pontos mencionados são abordados por Allan Kardec na Obra O Que é o Espiritismo. Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, ao apresentar a base da Autoridade da Doutrina Espírita, encontram-se as mesmas explicações ora desenvolvidas.

Como ciência-filosófica o Espiritismo superou o senso-comum e não se constituiu em sistema especulativo (O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Céu e o Inferno e Revistas Espíritas). Em O Livro dos Médiuns, como na obra O Céu e o Inferno, o Espiritismo trouxe a prática e a experimentação, inclusive a comprovação da estruturação filosófica da Doutrina Espírita (O Livro dos Espíritos).

As informações aqui compartilhadas são apenas fragmentos daquilo que o leitor poderá encontrar como desenvolvimento daquela frase inicial nas obras escritas por Allan Kardec.  Também, é fato, constituem-se em nossa interpretação do conteúdo exposto para estudo na Doutrina dos Espíritos.

Então, mãos à obra. Bons estudos.

Uberaba-MG, 18/08/2022.
Beto Ramos

terça-feira, 16 de agosto de 2022

CONFUSÃO OU CASUÍSMO? O MANDAMENTO É PARA AMAR O INIMIGO; TEM CRISTÃO QUE FALTOU NESSA AULA.

 

O Brasil, que se pretende coração do mundo e se arvora em pátria do evangelho, sem dúvida precisa laborar muito para mudar sentimentos e pensamentos, ocasião em que o comando do Espírito da Verdade poderá ser atendido quanto ao amor e a instrução, sem o que não há possibilidade alguma de regeneração. Afinal, a mudança começa no interior de cada um. É autonomia pura.

Chama nossa atenção, nos dias atuais, supostos religiosos, que na verdade não passam de seguidores de seitas, onde cultuam indivíduos e lugares, quando deveriam recordar o encontro de Jesus com a mulher samaritana, quando ensinou que DEUS é adorado em Espírito e Verdade (Jo 4:6-24).

Quem poderá afirmar-se Cristão quando esquece o básico: como amar a Deus sobre TODAS AS COISAS, aborrecendo a obra da Criação? Como, de fato, se dá o processo de redenção da alma humana? Certamente, a lei do 'tal e qual', conhecida legislação do 'olho-por-olho; dente-por-dente', não obteve sanção no Evangelho de Jesus.

Para alguns é preciso explicar muito. Então, vamos até o Evangelho Segundo Mateus (Mt 5:43) quando Jesus ensina: "Vocês ouviram o que foi dito: 'ame o seu próximo e odeie o seu inimigo'; Eu, porém, vos digo: ame o seu próximo como a ti mesmo".

Jesus estava falando do próximo ou do inimigo? Quem era o seu interlocutor na oportunidade (contexto judaico)? Jesus estava ensinando a partir de uma indagação de um 'doutor da lei' (advogado). Ele, em verdade, usando de um sofisma, buscava causar um equívoco de interpretação, a fim de cogitar a hipótese de que o texto não era claro, pois, não havia elucidação à dúvida: quem é o meu próximo?

No entanto, Jesus, um judeu, sabia que um grupo (uma seita do Mar Morto) seguia o seu próprio manual de disciplina, onde, no parágrafo inicial era assim lido: "... odiar tudo o que Ele rejeitou". Portanto, para aquele grupo, para a seita do Mar Morto, o próximo significava OUTRO MEMBRO DO GRUPO (da própria seita).

No ensino de Jesus, essas palavras não se referiam somente a indivíduos, nem a grupo de indivíduos que  compartilhavam das MESMAS CRENÇAS. Tratava-se de amar os inimigos. A chave de interpretação está contida na língua hebraica. O Hebraico bíblico possui as palavras 'próximo' e 'mau'. Nesse caso, o significado da expressão mau, também, pode significar inimigo. Ocorre que tais expressões possuem AS MESMAS CONSOANTES reish (ר) e ayin (ע). Essas palavras diferem apenas quanto às vogais. O curioso é que O TEXTO NÃO USAVA ESSAS VOGAIS.

Portanto, é preciso interpretar lendo as palavras conforme escritas naquele texto (sem as vogais). A lição trazida pela Torah carece de uma interpretação radical. E é isso que Jesus faz: interpreta a lei literalmente. Veja que Jesus questiona o doutor da lei se ele não conseguia ver/ler, NAS PALAVRAS DA TORAH, o mandamento de AMAR TANTO O PRÓXIMO QUANTO OS INIMIGOS.

Recordamos que, perguntado, Jesus respondeu que veio cumprir a Lei e não destruí-la. Baseado no ensino da torah Jesus dá uma lição única, que ecoa até os nossos dias. Quem tiver ouvidos de ouvir, ouça; quem tiver olhos de ver, veja.

Jesus, um judeu, precisa ser estudado em conformidade com o contexto judaico. Allan Kardec, ao seu turno, na Introdução de O Evangelho Segundo o Espiritismo, também, advertiu aos espíritas para fazerem o mesmo: estudar o contexto judaico do novo testamento para compreender mais e melhor sua verdadeira missão como verdadeiro espírita. Não nos enganemos, o ensino é claro: o verdadeiro cristão, o verdadeiro ser humano de bem e o verdadeiro espírita, são uma e única coisa (independente da profissão de fé, pois, o espiritismo é filosofia; é uma ideia; um estilo de vida).

Talvez, seria possível propagar essa reflexão para grupos não espíritas, livres-pensadores e até para os religiosos, principalmente para as ovelhas que estão se perdendo pelo caminho. No ensino de Jesus você não encontra ódio; encontra perdão, indulgência e benevolência PARA COM TODOS. Não há espírito sectário, nem de vingança. O Deus do Cristo é um DEUS DE AMOR.

Que possamos fazer uma grande reflexão diante do conteúdo ora compartilhado.

Uberaba-MG, 16/08/2022
Beto Ramos

DESTAQUE DA SEMANA

A DOUTRINA DOS ESPÍRITOS NÃO É ASSUNTO QUE SE ESGOTA EM UMA PALESTRA

  EM SUAS VIAGENS KARDEC MINISTRAVA ENSINOS COMPLEMENTARES AOS QUE JÁ POSSUIAM CONHECIMENTO E ESTUDO PRÉVIO. Visitando a cidade Rochefort, n...