As observações de Rivail demonstravam que havia crianças nascidas em ótimos berços, mas que eram acompanhadas de funestas disposições. Sendo assim, haveria disposições verdadeiramente inatas, tais como:
- Temperamento;
- Vivacidade;
- Lentidão;
- Cólera;
- Sangue-frio;
- Agilidade;
- Profundidade das ideias.
Força e fraqueza seria relacionadas à constituição, nascendo-se dessa ou daquela maneira. No tempo de Rivail pensava-se que a origem destas disposições estariam relacionadas com a influência do clima sobre a mãe antes do nascimento da criança, o que poderia influir nas disposições físicas e morais.
Rivail não concordava com a teoria dos vícios inatos. Pensava que tudo não passava de influência do meio, o que poderia ser alterado pela boa educação. A moral, portanto, deveria ser ensinada na infância, não na mocidade, quando muitas paixões já haviam criado raízes.
Assim, desenvolve a teoria de que, tal como o clima físico (atmosfera), o clima moral em que uma criança é influenciada, exerce maior ou menor efeito (vício) na criança devido ao seu temperamento (inclinação).
Para Rivail, o ser humano não nasce virtuoso, nem vicioso, porém, mais ou menos disposto a receber e a conservar as impressões próprias. São essas últimas que desenvolvem vícios e virtudes. Na Revista Espírita, falando sobre Gail na Frenologia, Kardec abordará esses pontos, mas com o conhecimento do princípio espírita da reencarnação.
Quanto aos vícios e virtudes, a essência do pensamento de Rivail será validada para o Espírito criado simples e ignorante, com nulidade moral e sem qualquer conhecimento, portanto, sem vício ou virtude. Ao longo das sucessivas reencarnações vai recebendo impressões, conhecendo, formando o seu caráter, habituando-se a vícios, despojando-se e adquirindo virtudes.
Interessante notar que diante da indagação sobre a causa primeira das qualidades morais, se inatas ou adquiridas, Rivail dirá que cada um poderá ter sua opinião sobre esse assunto. Não se nega, contudo, que o segredo da verdadeira educação moral é cercar a criança desde seu nascimento, de impressões salutares para seu espírito e o seu coração, evitando as prejudiciais. E esse é o papel da educação por meio dos educadores (pais e mestres), governo e sociedade em geral.
Como fazer isso? Rivail ensina que é necessário saber perfeitamente apreciar o efeito de todas as impressões sobre as crianças e em saber dirigir as circunstâncias que podem produzi-las. Rivail define a educação como uma arte particular, distinta das outras que exige estudo especial, pois não é fácil de estudar, nem de praticar. Para ser educador é preciso ter vocação particular, disposição, paciência e sabedoria a toda prova.
A função do educador exige conhecimento profundo do coração humano e da psicologia moral, além de um conhecimento perfeito dos meios mais apropriados a desenvolver nas crianças as faculdades morais, físicas e intelectuais. Rivail adverte que não se pode confiar os filhos, levianamente, a quem não sabe o que é educação. No seu magistério, há profunda diferença entre instrução e educação, conforme se vê:
No século 19 havia um grande preconceito contra tudo que se relacionasse à educação na França, motivo pelo qual a mesma estava longe da perfeição. Já naquele tempo via-se a profissão de educador ligada à condição de humilhação.
Muitos pais menosprezavam a profissão de educador. E, cegos em relação aos filhos julgavam que se fizeram progressos era devido à sua inteligência admirável; se eram tolos, a culpa estava toda na pessoa do professor; se havia reforma nos caracteres, eles possuíam encanto natural; mas, se eram viciosos, a causa eram os professores. Além do mais, era proibido encontrar defeitos nos filhos frente aos seus pais.
Não é necessário relatar a variedade de problemas causados por tais situações. Para Rivail a felicidade humana só é assegurada pelo progresso da educação, que lhe exerce influência direta. Interessa notar que Rivail, com o pseudônimo Allan Kardec irá abordar a questão da felicidade e da infelicidade do Espírito no campo da moral.
Rivail, na sua obra, pondera sobre o papel da educação pública e a organização das instituições: se ela é viciosa, a educação será necessariamente má. Pensava assim: se todas as instituições fossem convenientemente organizadas, se todos os diretores tivessem a instrução necessária - não falo da instrução científica - mas, da apropriada a essa função, a educação não tardaria a melhorar sensivelmente.
Em alguns de seus textos, Kardec vai afirmar algo parecido sobre a educação, não aquela adquirida nos livros, mas a educação moral (Livro dos Espíritos e Evangelho Segundo o Espiritismo).
Rival ensina que a educação é o resultado do conjunto de hábitos adquiridos, os quais resultam de impressões que os provocam. O direcionamento dessas impressões depende unicamente do papel dos pais e dos educadores. Uma boa educação resulta de bons educadores.
No seu magistério afirma que se falarmos à inteligência e não somente à memória, o espírito adquire o hábito da reflexão e da observação; ele sabe pensar e leva este hábito a toda parte. Não é sobrecarregando a memória com palavras que se desenvolve a inteligência na criança desde cedo, mas enriquecendo a sua imaginação com ideias justas.
Rivail conforma-se a Rousseau e a Pestalozzi que defendem o ensino com conteúdo, vivido e experimentado, em detrimento daquele somente palavroso. Além do mais, constata que o sistema de castigo e recompensa é um inconveniente do ensino comum no campo da educação moral, pois usa-se castigo como punição e recompensa com isca ou atração. Nada disso contribui para satisfazer a imaginação dos jovens. O sistema é usado para encher à força a cabeça dos estudantes com palavras vazias.
Interessa notar que Kardec, tratando da Lei de Igualdade, receberá respostas dos Espíritos sobre o papel da sociedade na educação. Temos que tais ensinos coadunam com as ideias centrais do plano de educação proposto por Rivail. Trata-se do uso da educação como um instrumento para que a sociedade possa cumprir o seu papel.
Na proposta de Rivail ele conclui que um plano de instrução, que oferecesse maior variedade e maior satisfação, apresentaria entre outras vantagens, a de contribuir essencialmente ao sucesso da educação moral, fornecendo ao espírito os elementos de ocupações úteis e agradáveis. É a mesma resposta que Allan Kardec irá receber dos Espíritos Superiores nas questões 812 a 813 de O Livro dos Espíritos.
Rivail tecerá longas considerações no seu trabalho referente ao assunto das ocupações de cada indivíduo.
Com certeza, o que compartilhamos nesse espaço ainda é muito pouco diante da grandeza desse grande homem que foi...
KARDEC, MAS ANTES DE TUDO, RIVAIL, O EDUCADOR.