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sexta-feira, 8 de julho de 2022

O ESPIRITISMO E A PESQUISA CIENTÍFICA.

 

Allan Kardec, pseudônimo do educador e filósofo Rivail, apresentou na obra O QUE É O ESPIRITISMO um quadro restrito de algumas das perguntas fundamentais sobre o Espiritismo e declarou: "é a primeira iniciação para aquele que deseja saber se vale a pena estudar o Espiritismo".

No preâmbulo dessa obra, de partida, esse fantástico pedagogo afirmou que o Espiritismo é uma ciência da observação e uma doutrina filosófica. E esclareceu que, enquanto ciência da observação, o Espiritismo se ocupa das relações que podem ser mantidas com os Espíritos; como filosofia, estuda as consequências morais que decorrem destas relações.

Ainda que não exista qualquer dúvida quanto aos esclarecimentos, bem como o locus epistemológico do Espiritismo na TEORIA DO CONHECIMENTO, é comum encontrar indivíduos que se declaram 'espíritas', mas incluem o Espiritismo no campo da religião, caracterizando-o como  uma seita a mais.

Esse erro induz o leigo a crer que o Espiritismo seria apenas mais uma revelação de natureza religiosa, cuja origem é divina e exige crença cega, sem hipótese de questionamentos. Sobre esse equívoco o próprio Allan Kardec tratou com clareza na obra A Gênese, capítulo 1, A Natureza da Revelação Espírita.

Por outro lado, informações inadequadas e estudos incompletos, bem como interpretações equivocadas, sem lastro que as fundamentem, leva o indivíduo a julgar que, no trabalho realizado por Allan Kardec, não houve a coerência da investigação que tem o rigor da ciência. Mas, ao contrário disto, o trabalho que culminou nas obras espíritas demonstram uma fina arte de raciocinar, onde Kardec buscou distinguir raciocínios válidos de outros não válidos, indagou, investigou, pesquisou, ligando ideias coerentes segundo as leis do raciocínio.

Kant, em 1786, declarou: "afirmo que sempre que se tenha prolongado uma disputa, especialmente no campo filosófico, havia, em suas raízes, não um simples problema de palavras, mas um problema genuíno acerca das coisas". Mais tarde, os Espíritos vão dizer a Kardec: entendei-vos quanto as palavras.

Karl Popper (2008, 16ª edição, tradução em língua portuguesa), afirma que um cientista, seja teórico ou experimental, formula enunciados ou sistemas de enunciados e verifica-os um a um. No campo das ciências empíricas, para particularizar, ele formula hipóteses ou sistemas de teorias, e submete-os a teste, confrontando-os com a experiência, através de recursos de observação e experimentação.

Percebemos que estudar, pesquisar, produzir ciência não é uma tarefa fácil e simples. Se um estudo conduzisse a uma única resposta científica, isto é, válida, para cada problema apresentado, a tarefa de separar a opinião vulgar da científica seria menos inglória. No entanto, o pesquisador encontra uma variedade de respostas válidas, o que lhe coloca numa posição difícil de julgar o que é científico e o que é vulgar. 

Porém, sabemos que, se todas as respostas forem válidas, não haverá como distinguir o científico e o vulgar. Entre outas coisas, é possível presumir que esse dilema advém da polissemia de expressões, consequências de usos ideológicos opostos e múltiplos. O papel do pesquisador será os identificar. Um dos muitos trabalhos de Kardec foi esse.

Segundo informa FIGUEIREDO (Revolução Espírita, Maat, 2016) o professor Rivail ficou diante de um fenômeno original, que merecia ser investigado. Entre outras obras desse cientista, pedagogo e filósofo, vamos encontrar O Livro dos Espíritos, contendo vários temas com uma coordenação precisa de hipóteses, cujo conteúdo forma uma teoria metafísica sólida, coerente e com encadeamento lógico exato, abrangendo todas as principais questões da ciência, da moral e da psicologia.

Qual era o fenômeno original que se apresentava diante de Rivail? Inúmeras manifestações ocorriam em todo o planeta, ao mesmo tempo, e diversos estudiosos tentavam explicá-las, como informa FIGUEIREDO na obra citada. Qual a diferença desse movimento para aqueles fenômenos que ocorriam desde a antiguidade? Tratava-se de uma diversidade de comunicações simultâneas com um padrão inteligente. Não era nenhum fato esparso ou aleatório. O que ficou evidente para aquele pesquisador é que, por trás das manifestações, havia um plano amplo e complexo. Rivail tratou de os reunir num todo coerente.

Além do mais foi possível constatar que, no mesmo período em que ocorria uma revolução científica e moral na Terra, era oferecido pela iniciativa dos Espíritos, em todo o planeta, um conhecimento que a humanidade não seria capaz de descobrir sozinha. Tratava-se do ensino dos Espíritos.

Na obra Viagem Espírita de 1862, Allan Kardec vai responder uma importante questão: "Qual foi o meu papel? Nem o de inventor, nem o de criador. Vi, observei, estudei os fatos com cuidado e perseverança; coordenei-os e lhes deduzi as consequências; eis toda a parte que me cabe; aquilo que fiz outro poderia ter feito em meu lugar; [...] será a obra da minha vida até meu último dia, porque na presença de um objetivo tão importante, todos os interesses materiais e pessoais se apagam como pontos diante do infinito".

Não podemos amesquinhar o Espiritismo com a ideia menor de que não se trata de uma ciência-filosófica como propôs Kardec no campo da Teoria do Conhecimento. Por suas obras podemos indagar sobre a magnitude do seu trabalho, bem como da posição que o Espírito que animou sua personalidade ocupa na hierarquia/escala evolutiva dos Espíritos.

Observamos na sua pesquisa que ele delimitou claramente o tema, especificou o problema de modo a saber o que pesquisar, não foi um generalista, apresentou como hipóteses soluções provisórias para os problemas, justificou o porquê de fazer a sua pesquisa, deixou claro o seu objetivo demonstrando o que queria com a mesma.

Ao que parece, Kardec usou entre os seus procedimentos e técnicas de pesquisa, a metodologia empírico-analítica. E, o que é extraordinário, não deixou de apresentar seu referencial teórico. Como exemplo deste citamos, em o Evangelho Segundo o Espiritismo, a dissertação sobre o DEVER, cuja fonte é: LÁZARO, PARIS, 1863.

Além do mais, é possível distinguir no trabalho de Kardec a presença de um conjunto de verbos que regeram e estiveram presentes durante todo o seu trabalho. Veja-se o quadro:

Conhecimento

Compreensão

Aplicação

Análise

Síntese

Avaliação

Apontar

Descrever

Aplicar

Analisar

Coordenar

Apreciar

Assinalar

Discutir

Demonstrar

Calcular

Conjugar

Aquilatar

Citar

Explicar

Empregar

Comparar

Construir

Avaliar

Definir

Expressar

Esboçar

Contrastar

Criar

Calcular

Escrever

Identificar

Ilustrar

Criticar

Enumerar

Escolher

Inscrever

Localizar

Interpretar

Debater

Esquematizar

Estimar

Marcar

Narrar

Inventariar

Diferenciar

Formular

Julgar

Relacionar

Reafirmar

Operar

Distinguir

Listar

Medir

Registrar

Revisar

Praticar

Examinar

Organizar

Selecionar

Relatar

Traduzir

Traçar

Experimentar

Planejar

Validar

Sublinhar

Transcrever

Usar

Investigar

Reunir

Valorar

Poderíamos indagar se, na organização da Doutrina dos Espíritos, Kardec deixou de lançar mão das ações representadas por cada conjunto de verbos que compõem a estrutura da sua pesquisa, uma vez que, conforme asseverou na obra Viagem Espírita, seu trabalho foi de conhecimento, compreensão, aplicação, análise, síntese e avaliação.

E você, qual sua opinião sobre a pesquisa científica realizada por Allan Kardec?

Uberaba-MG, 08/07/2022
Beto Ramos

quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

TEORIA DE RIVAIL SOBRE VÍCIOS INATOS DA CRIANÇA

 

As observações de Rivail demonstravam que havia crianças nascidas em ótimos berços, mas que eram acompanhadas de funestas disposições. Sendo assim, haveria disposições verdadeiramente inatas, tais como:

  • Temperamento;
  • Vivacidade;
  • Lentidão;
  • Cólera;
  • Sangue-frio;
  • Agilidade;
  • Profundidade das ideias.

Força e fraqueza seria relacionadas à constituição, nascendo-se dessa ou daquela maneira. No tempo de Rivail pensava-se que a origem destas disposições estariam relacionadas com a influência do clima sobre a mãe antes do nascimento da criança, o que poderia influir nas disposições físicas e morais.

Rivail não concordava com a teoria dos vícios inatos. Pensava que tudo não passava de influência do meio, o que poderia ser alterado pela boa educação. A moral, portanto, deveria ser ensinada na infância, não na mocidade, quando muitas paixões já haviam criado raízes. 

Assim, desenvolve a teoria de que, tal como o clima físico (atmosfera), o clima moral em que uma criança é influenciada, exerce maior ou menor efeito (vício) na criança devido ao seu temperamento (inclinação).

Para Rivail, o ser humano não nasce virtuoso, nem vicioso, porém, mais ou menos disposto a receber e a conservar as impressões próprias. São essas últimas que desenvolvem vícios e virtudes. Na Revista Espírita, falando sobre Gail na Frenologia, Kardec abordará esses pontos, mas com o conhecimento do princípio espírita da reencarnação.

Quanto aos vícios e virtudes, a essência do pensamento de Rivail será validada para o Espírito criado simples e ignorante, com nulidade moral e sem qualquer conhecimento, portanto, sem vício ou virtude. Ao longo das sucessivas reencarnações vai recebendo impressões, conhecendo, formando o seu caráter, habituando-se a vícios, despojando-se e adquirindo virtudes.

Interessante notar que diante da indagação sobre a causa primeira das qualidades morais, se inatas ou adquiridas, Rivail dirá que cada um poderá ter sua opinião sobre esse assunto. Não se nega, contudo, que o segredo da verdadeira educação moral é cercar a criança desde seu nascimento, de impressões salutares para seu espírito e o seu coração, evitando as prejudiciais. E esse é o papel da educação por meio dos educadores (pais e mestres), governo e sociedade em geral.

Como fazer isso? Rivail ensina que é necessário saber perfeitamente apreciar o efeito de todas as impressões sobre as crianças e em saber dirigir as circunstâncias que podem produzi-las. Rivail define a educação como uma arte particular, distinta das outras que exige estudo especial, pois não é fácil de estudar, nem de praticar. Para ser educador é preciso ter vocação particular, disposição, paciência e sabedoria a toda prova.

A função do educador exige conhecimento profundo do coração humano e da psicologia moral, além de um conhecimento perfeito dos meios mais apropriados a desenvolver nas crianças as faculdades morais, físicas e intelectuais. Rivail adverte que não se pode confiar os filhos, levianamente, a quem não sabe o que é educação. No seu magistério, há profunda diferença entre instrução e educação, conforme se vê:


No século 19 havia um grande preconceito contra tudo que se relacionasse à educação na França, motivo pelo qual a mesma estava longe da perfeição. Já naquele tempo via-se a profissão de educador ligada à condição de humilhação.

Muitos pais menosprezavam a profissão de educador. E, cegos em relação aos filhos julgavam que se fizeram progressos era devido à sua inteligência admirável; se eram tolos, a culpa estava toda na pessoa do professor; se havia reforma nos caracteres, eles possuíam encanto natural; mas, se eram viciosos, a causa eram os professores. Além do mais, era proibido encontrar defeitos nos filhos frente aos seus pais.

Não é necessário relatar a variedade de problemas causados por tais situações. Para Rivail a felicidade humana só é assegurada pelo progresso da educação, que lhe exerce influência direta. Interessa notar que Rivail, com o pseudônimo Allan Kardec irá abordar a questão da felicidade e da infelicidade do Espírito no campo da moral.

Rivail, na sua obra, pondera sobre o papel da educação pública e a organização das instituições: se ela é viciosa, a educação será necessariamente má. Pensava assim: se todas as instituições fossem convenientemente organizadas, se todos os diretores tivessem a instrução necessária - não falo da instrução científica - mas, da apropriada a essa função, a educação não tardaria a melhorar sensivelmente.

Em alguns de seus textos, Kardec vai afirmar algo parecido sobre a educação, não aquela adquirida nos livros, mas a educação moral (Livro dos Espíritos e Evangelho Segundo o Espiritismo).

Rival ensina que a educação é o resultado do conjunto de hábitos adquiridos, os quais resultam de impressões que os provocam. O direcionamento dessas impressões depende unicamente do papel dos pais e dos educadores. Uma boa educação resulta de bons educadores.

No seu magistério afirma que se falarmos à inteligência e não somente à memória, o espírito adquire o hábito da reflexão e da observação; ele sabe pensar e leva este hábito a toda parte. Não é sobrecarregando a memória com palavras que se desenvolve a inteligência na criança desde cedo, mas enriquecendo a sua imaginação com ideias justas.

Rivail conforma-se a Rousseau e a Pestalozzi que defendem o ensino com conteúdo, vivido e experimentado, em detrimento daquele somente palavroso. Além do mais, constata que o sistema de castigo e recompensa é um inconveniente do ensino comum no campo da educação moral, pois usa-se castigo como punição e recompensa com isca ou atração. Nada disso contribui para satisfazer a imaginação dos jovens. O sistema é usado para encher à força a cabeça dos estudantes com palavras vazias.

Interessa notar que Kardec, tratando da Lei de Igualdade, receberá respostas dos Espíritos sobre o papel da sociedade na educação. Temos que tais ensinos coadunam com as ideias centrais do plano de educação proposto por Rivail. Trata-se do uso da educação como um instrumento para que a sociedade possa cumprir o seu papel.

Na proposta de Rivail ele conclui que um plano de instrução, que oferecesse maior variedade e maior satisfação, apresentaria entre outras vantagens, a de contribuir essencialmente ao sucesso da educação moral, fornecendo ao espírito os elementos de ocupações úteis e agradáveis. É a mesma resposta que Allan Kardec irá receber dos Espíritos Superiores nas questões 812 a 813 de O Livro dos Espíritos. 

Rivail tecerá longas considerações no seu trabalho referente ao assunto das ocupações de cada indivíduo.

Com certeza, o que compartilhamos nesse espaço ainda é muito pouco diante da grandeza desse grande homem que foi...

KARDEC, MAS ANTES DE TUDO, RIVAIL, O EDUCADOR.

Uberaba-MG, 12/01/2021
Beto Ramos


FONTE BIBLIOGRÁFICA:

FIGUEIREDO, Paulo Henrique. Revolução Espírita - a teoria esquecida de Allan Kardec. São Paulo: Maat, 2016.

INCONTRI, Dora; GRZYBOWSKI, Przemyslaw. Kardec Educador - Textos Pedagógicos de Hippolyte Léon Denizard Rivail. São Paulo: Editora Comenius (e-book).

domingo, 9 de janeiro de 2022

OBRAS, CONCEITOS E PROPOSTAS DE RIVAIL PARA A EDUCAÇÃO NA FRANÇA DO SÉCULO 19.

Assinando como discípulo de Pestalozzi, H. L. D. Rivail publicou pela Livraria Dentu, Palais Royal, Paris, ano de 1828, o seu Plano Proposto Para a Melhoria da Educação Pública. Destacava logo na primeira página da obra a seguinte frase:

"Os meios próprios para educar a juventude são uma ciência bem distinta que se deveria estudar para ser educador, como se estuda a medicina para ser médico".

Definindo educação Rivail esclarece que "é a arte de formar os homens; de fazer eclodir neles os germes da virtude e abafar os do vício; de desenvolver sua inteligência e de lhes dar instrução própria às suas necessidades; enfim de formar o corpo e de lhe dar força e saúde".

Numa de suas críticas demonstra que a meta da educação é o desenvolvimento simultâneo das faculdades morais, físicas e intelectuais do ser humano, objetivo que todos repetem, mas é o que não se pratica.

Para Rivail, as causas de saber qual é a meta, mas não praticar esse modelo são:

  • Ignorância sobre os meios próprios a se operar esse desenvolvimento;
  • Desconhecimento de quais são os meios para formar o coração, o espírito e o corpo dos homens.

Contudo, não se trata apenas de críticas vazias. Rivail responde que para superar essa ignorância, além de conhecer os objetivos da educação, é preciso conhecer PERFEITAMENTE o caminho que se deve percorrer.

Como Allan Kardec, Rivail vai repetir esse conceito no item 7 do capítulo 19 de O Evangelho Segundo o Espiritismo, ensinando que a fé necessita de uma base, e essa base é a perfeita compreensão daquilo que se deve crer. Para crer, não basta ver, é necessário sobretudo compreender.

E nessa linha de pensamento Rivail fará algumas indagações a respeito da educação de seu tempo:

  1. O sistema atual pode indicar o caminho a percorrer perfeitamente delineado?
  2. Quais os obstáculos a isso?
  3. Quais os meios de combater esses obstáculos?

Refletindo sobre essas questões Rivail apresentará os três elementos constitutivos da educação para formar o coração, o espírito e corpo dos seres humanos. O objetivo da educação será o desenvolvimento, simultâneo, das faculdades Humanas:

  • Morais;
  • Físicas; e
  • Intelectuais.

É preciso fazer eclodir as virtudes, abafar os vícios e desenvolver a inteligência. Destarte, todo modelo na área da educação deve compreender a necessidade de que esses três elementos caminhem juntos, ao mesmo tempo.

Rivail considera:

a. Fonte das qualidades morais da criança: impressões que recebe desde seu nascimento, talvez antes, que podem agir com mais ou menos energia sobre o seu espírito, PARA O BEM OU PARA O MAL. Tudo que a criança vê e ouve a faz experimentar impressões.

b. Educação intelectual: soma das ideias adquiridas.

c. Educação moral: resultado de todas as impressões recebidas.

Cada objeto dá uma ideia. Cada palavra ouvida e cada ação de que se é objeto ou testemunha, faz experimentar uma emoção.

d. Hábito adquirido: é o resultado de uma mesma impressão mantida durante um certo tempo e frequentemente repetida.

O hábito é uma segunda natureza que nos leva, mesmo a contragosto, a fazer uma coisa, sendo mais comum que ocorra SEM A PARTICIPAÇÃO DA VONTADE.

d. Inclinações: são apenas hábitos inveterados quando não ligados ao temperamento (as que são ligadas ao temperamento são a cólera, vivacidade, lentidão e outras tendências desta natureza).

e. Hábitos sobre a constituição orgânica: contrair movimentos involuntários; posturas de que não se pode livrar.

f. Hábitos indestrutíveis (físicos): os órgãos adquiriram certa firmeza na posição que se lhe deixou tomar; se tornaram verdadeiramente endurecidos.

São hábitos com efeitos exteriores e perceptíveis; possuem efeitos internos e dão ao indivíduo tal ou qual impulso, "involuntário", "irresistível', que se manifesta para fora por palavras e por ações.

Rivail esclarece que os hábitos são de natureza física, moral e intelectual. Desse modo, os físicos modificam o corpo físico; os intelectuais consistem na posse mais ou menos perfeita de uma ciência; e os morais são os que nos levam a fazer qualquer coisa de bom ou de mau.

Como Kardec, Rivail vai retomar esse tema e deixará consignado na Questão 685.a de O Livro dos Espíritos que a educação moral é aquela que consiste na arte de formar caracteres, aquela que cria os hábitos, porque educação é o conjunto de hábitos adquiridos.

Segundo expõe, quando essa arte for conhecida, compreendida e praticada, o homem seguirá no mundo os hábitos de ordem e previdência para si mesmo e para os seus, de respeito pelo que é respeitável, hábitos que lhe permitirão atravessar de maneira menos penosa os maus dias inevitáveis. A desordem e a imprevidência são duas chagas que somente uma educação bem compreendida pode curar.

Além disto, importa recordar que n'O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo 14, sobre esse processo de educação moral, adverte-se sobre o papel fundamental dos pais.

Rivail ensina que é preciso cuidar das más impressões que causamos, citando como exemplo os próprios vícios, os maus conselhos e as conversações pouco adequadas.

Ou seja, há uma completa influência do meio. As crianças recebem impressões das pessoas que a cercam. Os pais com suas fraquezas ou os mestres por sua rigidez excessiva precisam cuidar de suas condutas para não influenciar na má formação do caráter da criança.

Rivail critica, também, o sistema de punições no processo educativo da criança. Elas são geradoras da maior parte dos defeitos e vícios. E, nesse caso destaca:

  1. Punições muito severas;
  2. Punições infligidas com parcialidade;
  3. Punições aplicadas no momento do mau humor.

Todas somente irritam, sem convencer. E seus efeitos são devastadores, pois, nesses casos:

  • As crianças empregam artimanhas, meios de desvio e fraudes para evitar essas reações dos 'educadores';
  • Produz os germes da má-fé e da hipocrisia.

Para Rivail, a educação falhou no sistema de punição irresponsável, uma vez que:

  1. A criança irritada e não persuadida, responde somente à força (violência);
  2. Nada lhe provou ter agido mal;
  3. O que sabe é que não agiu conforme a vontade do seu responsável;
  4. Essa vontade não é considerada pela criança como justa e razoável;
  5. A criança considera como capricho ou tirania e que foi submetida ao arbítrio.

Não há outros resultados senão os seguintes:

  • A criança não vê a hora de se libertar da superioridade física;
  • Não reconhece qualquer superioridade moral nos educadores (pais ou mestres);
  • Aguarda impaciente o momento que irá se livrar da FORÇA FÍSICA alcançando a sua PRÓPRIA FORÇA FÍSICA;
  • Sem superioridade moral reina a hostilidade entre as partes;
  • Não há confiança recíproca, nenhum apego; Há contínua troca de ardis; A disputa é: quem será o mais esperto para surpreender o outro?

Assim, esse sistema de punição cria DOIS PARTIDOS, que vão atuar, ou em guerra aberta, ou em contínua desconfiança. Para superar esse estado de coisas Rivail propõe:

  1. Formar na criança o amor ao trabalho e à virtude;
  2. Superar o castigo físico, agir como segundos pais, evitar o ar pedantesco, abolir as palmatórias, demonstrar o amor para alcançar confiança;
  3. Buscar que cada criança confesse as próprias falhas no objetivo de que se possa melhor contribuir para corrigi-las.
É que na conclusão de Rivail o nobre sentimento não é despertado com o mesmo instrumento reservado criminoso.

(Continua...)


Uberaba-MG, 09/01/2021
Beto Ramos


FONTE BIBLIOGRÁFICA:

FIGUEIREDO, Paulo Henrique. Revolução Espírita - a teoria esquecida de Allan Kardec. São Paulo: Maat, 2016.

INCONTRI, Dora; GRZYBOWSKI, Przemyslaw. Kardec Educador - Textos Pedagógicos de Hippolyte Léon Denizard Rivail. São Paulo: Editora Comenius (e-book).

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

CENÁRIO SOCIAL E AMBIENTE POLÍTICO QUE PRECEDE AO 'NASCIMENTO DE KARDEC'.

 

     

Antes do advento de Kardec para o mundo, por meio da sua memorável primeira edição de O Livro dos Espíritos, a França do século 19 vivia um turbulento cenário social e, diante das ideias progressistas, o ambiente político era de constante tensão.

Em 1850, a igreja aumentava consideravelmente o seu poder sobre as escolas. Desse modo, a instituição era contrária aos ideais republicanos que queriam escolas que preparassem trabalhadores leigos para o serviço público.

Como já expusemos, havia uma concorrência muito forte entre regimes políticos, cujo cenário se modificava em questão de breve tempo. Na área da educação ocorria a disputa entre o grupo defensor de línguas clássicas e o grupo defensor do ensino técnico; No campo da religião, havia unanimidade. Apesar de uns reclamarem a religião obrigatória ao povo e outros não, todos queriam uma EDUCAÇÃO MORAL.

Defendia-se e se compreendia a educação moral no contexto da necessidade de ensinar aos jovens e aos adultos as regras de ordem social, de autoridade e de propriedade. Acima das questões ideológicas, que deveriam reger o sistema educacional, havia consenso quanto aos objetivos e recursos.

Nesse contexto concorriam dois tipos de instituições de ensino:

a. A dos nobres (ricos); e,

b. A do povo (pobres).

Para os primeiros (classe dominante), o programa era a cultura clássica e o conhecimento científico; Aos segundos (os pobres), a educação básica ligada ao sentimento moral e obediência.

O método de ensino nesse período pode ser assim resumido:

  • Professores limitando a espontaneidade dos alunos;
  • Autoridade baseada na disciplina para conter protestos e revolta;
  • Liberdade de pensamento apreciada somente para adultos, não para crianças e jovens;
  • Inexistência de espaço para discussão com professores sobre qualquer tema.
Rivail estava presente nesse contexto e participava ativamente sobre as discussões do novo sistema educacional francês que tentava romper  com o velho, que resistia, o que implicava em grande dificuldade para se consolidar.

Entre várias questões que defendeu, uma merece destaque: Rivail considerou como um dos maiores problemas das instituições educativas a falta de educação moral. Segundo ele, essa educação é que é capaz de proporcionar elementos para a criança se tornar um cidadão honesto e de boa vontade.

Demonstrando sua maneira de ver a questão, Rivail apresenta o sistema hierárquico da aristocracia que constituiu a história humana: aristocracia da força; aristocracia da lei; aristocracia do dinheiro; As quais deram lugar para a aristocracia da razão.

No seu livro destinado ao primeiro grau da instrução primária, Catecismo Gramatical da Língua Francesa (Editado em Sévres), Rivail irá demonstrar o que pensava sobre educação. Resumindo, Rivail vai declarar:

  1. Educação é uma ciência única;
  2. A causa de pessoas ensinarem de forma inadequada é a FALTA DE ESTUDOS ESPECIALIZADOS;
  3. Poucas pessoas avaliam o verdadeiro objetivo da educação porque não compreendem o que é educação;
  4. Muitos não compreendem o que a educação pode ser;
  5. Muitos não compreendem o que fazer para que a educação melhore;
  6. A educação, no século 19, não é uma ciência totalmente constituída, cujas bases não estão ainda definidas.

Para melhorar o sistema de educação e do ensino público, Rivail propôs:

  • Criar uma escola de teoria e prática pedagógica, como são as de direito e de medicina;
  • A duração do tempo de estudos seria em 3 (três) anos. O primeiro dedicado ao estudo da teoria;  o segundo para teoria e prática; e o terceiro somente destinado à prática.

Em 1850 surgem as últimas obras pedagógicas de Rivail. Há paralelos e vinculações entre o pensamento e produção literária de Rivail com a proposta espírita, conforme é passível de observação nos comentários de Kardec e no ensino dos Espíritos. São dois períodos de vida da mesma pessoa. Ambos baseados nos mesmos ideais. Portanto, a Doutrina Espírita é rica em valores educativos.

O Livro dos Espíritos, primeira obra de Rivail sob o pseudônimo Allan Kardec, estrutura-se na proposta da grade curricular que se estudava no campo da Filosofia Espiritualista Racional do século 19, como se observa das informações colhidas no Tratado Elementar de Filosofia, de autoria de Paul Janet.

Quem se der ao trabalho de estudar seriamente o pensamento de Rivail e o conteúdo da Doutrina Espírita verificará, por exemplo, nas questões 685.a, 797, 872, 914 e 917, de O Livro dos Espíritos, os paralelos e vinculações que acabamos de citar.

(Continua...)


Uberaba-MG, 06/01/2021
Beto Ramos


FONTE BIBLIOGRÁFICA:

FIGUEIREDO, Paulo Henrique. Revolução Espírita - a teoria esquecida de Allan Kardec. São Paulo: Maat, 2016.

INCONTRI, Dora; GRZYBOWSKI, Przemyslaw. Kardec Educador - Textos Pedagógicos de Hippolyte Léon Denizard Rivail. São Paulo: Editora Comenius (e-book).

segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

KARDEC, ANTES DE TUDO, RIVAIL "O EDUCADOR".


Caso se pergunte a alguém, preferencialmente aos espíritas, quem foi Kardec, certamente para uns a resposta será: o organizador do espiritismo; e, para outros, o codificador do espiritismo.

É curioso dizer, mas, Allan Kardec, o organizador da Doutrina Espírita, foi alguém que nasceu em 18/04/1857 e com a idade adulta de  aproximadamente 52 anos. É que esse nome é um pseudônimo. Na verdade, antes do advento de Kardec para o mundo, viveu outro homem.

É imperativo saber:

KARDEC FOI, ANTES DE TUDO, RIVAIL, O EDUCADOR.

Mais da metade da vida de Rivail, depois Kardec, foi dedicada à educação da juventude. Sua vida foi influenciada por destacados pedagogos, que lhe serviram de modelo e inspiração (assista o vídeo em nossa plataforma).

No século 19, Rivail foi considerado um ESPECIALISTA em assuntos de ensino. Por meio de suas obras, ele dialogava com alunos, professores e outros profissionais do ensino e da educação, além de influentes personagens da área jurídica e administrativa do sistema educacional francês.

O movimento espírita conhece pouco ou quase nada de Kardec. Mas, Rivail, o educador, não é mencionado como tal e nem há ênfase da sua importância para o mundo que se pretende regenerar.

Nessa reflexão não estamos aludindo ao título educador, mas quem é, o que fez, qual o tamanho de sua obra e a proeminência de Rivail para a França do século 19 no campo da educação.

Quem foi o pedagogo Rivail? Como se desenvolveram seus conceitos de ensino e educação? Qual sua proposta para educar o povo?

Talvez a primeira questão a ser abordada seria o esquecimento de quem foi Rivail. O primeiro 'culpado' disto é ele próprio. Rivail pretendeu isso. Pode-se imaginar que objetivou proteger pessoas; não quis usar seu prestígio para divulgar o espiritismo; não desejou ofuscar a nascente ciência-filosófica, seu conteúdo e sua importância.

Sobre Rivail e Kardec, possuindo muito em comum, destaca-se que ambos obtiveram sucesso com as obras que publicaram. No entanto, Kardec abordou com bastante clareza temas que Rivail não discutiu com a mesma profundidade.

Quem foi Rivail antes de O Livro dos Espíritos? Foi alguém que dedicou um grande período de sua vida ao trabalho pedagógico. Trabalhou com o ensino e a educação, publicou livros específicos e artigos com considerações profundas acerca dos problemas dessa área do conhecimento.

Se você desejar conhecer a história da família de Rivail, sua infância e formação, acesse os endereços abaixo (o número 1 possui 3 partes) e leia tudo:

1. A HISTÓRIA DO ESPIRITISMO...

2. A VIDA DE RIVAIL NO CAMPO...

3. INFÂNCIA E INFLUÊNCIA DO MEIO NA OBRA...

4. YVERDON-LES-BAINS: RIVAIL E PESTALOZZI SE ENCONTRAM

Após deixar Yverdon Rivail seguirá carreira no campo da educação, pela qual dedicará sua vida. Abaixo, um breve histórico:

1823 - Lança sua primeira obra pedagógica: Curso Prático e Teórico de Aritmética Segundo os Princípios de Pestalozzi, com modificações.

12/1823 - Lançamento da obra completa, uma vez que a anterior tinha apenas 16 páginas. Recomenda o livro a professores e mães que desejassem ensinar para as crianças as regras básicas de aritmética.

1825 - Se torna diretor de uma escola de 1º grau, fundada por ele em Paris. Para essa ocasião publica um livreto de 8 páginas.

1826 - Fundou a instituição Rivail, um instituto técnico, onde aplicou o método de Pestalozzi, o qual funcionou por 9 anos.

1830 - Traduz, para o alemão, "Aventuras de Telêmaco", cujo autor foi François de Salignac de La Mothe Fénelon, na qual acresceu comentários para uso em educandários, entre outros, como objeto de estudos comparados de línguas. Rivail era poliglota e dominava várias línguas.

1831 - Rivail recebeu um prêmio pela obra "Memorando sobre o seguinte problema: qual é o sistema de estudo mais conveniente às necessidades da época atual?".

1832 - Se casa com Amélie Boudet e fundam um educandário para moças nas proximidades de Paris, que foi dirigida por Amélie.

14/08/1834 - Rivail profere discurso na distribuição de prémios em sua escola. No mesmo apresenta noções importantes da pedagogia que praticava.

Na instituição que fundou, física e química eram matérias obrigatórias, além de literatura, geografia, história, gramática, escrita, leitura, desenho geométrico, etc., abordando, também, anatomia e fisiologia.

1834 - Fechou o seu instituto, vendendo-o para passar a trabalhar como contador e tradutor de livros, além de elaborar programas de estudos para alunos de escolas do subúrbio.

1835 - 1840 - Dirigiu cursos populares gratuitos de Química, Física, Astronomia e Anatomia Comparada.

1848 - Rivail dirigiu o Liceu Polimático. Ministrou cursos de Fisiologia, Astronomia, Química e Física. Produziu manuais didáticos, planos, exercícios, compilações de métodos para professores e pais, projetos para políticos e pedagogos.

Ao longo dos textos e livros publicados, Rivail demonstra percepções distintas de sua época. História para ele não se limita a datas e parentescos familiares. Era necessário estudar costumes, descobertas, progressos da arte e da ciência em períodos sucessivos. Estudar canto era tão necessário quanto a leitura.

Nesse período Rivail já afirmava que houve o tempo da força bruta como lei, hoje é o mesmo com a força do espírito; Que, quem aprende, trabalha por sua própria felicidade. Foi reconhecido como um dos melhores gramáticos de seu tempo na França. Era um cientista e pertenceu a diversos institutos, devidamente diplomado.

No período de produção de Rivail, a situação do sistema escolar da Europa Ocidental evoluiu influenciada por mudanças progressistas da sociedade.

A política caminhava em direção à democracia. E isso requeria mudanças nas atividades do meio intelectual, no sentido de possibilitar aos cidadãos adquirir conhecimentos necessários à utilização do seu poder. A democracia dependia dos programas educativos.

É nesse cenário que surge a ideia da obrigatoriedade e gratuidade da instrução pública, a princípio para o ensino de primeiro grau. Além disto, o ensino técnico reclamava o seu lugar. O segundo grau se caracterizou pelo estudo de línguas vivas e não clássicas.

Nessa conjuntura, há o distanciamento das escolas e as igrejas. A ideia era a cultura se tornar leiga e o Estado assumir o poder sobre ela. Nesse tocante importa recordar as características do ensino dominado pelos religiosos:

  • A língua era o latim;
  • O viver era baseado na ideia cristã;
  • O objetivo era o aluno enfrentar problemas administrativos e econômicos;
  • O programa de estudos continha muitos elementos de religião;
  • Os professores, frequentemente, eram clérigos;
  • As mentes eram formadas para obedecerem às igrejas e ao Estado;
  • Em universidades, apenas teólogos, juristas e médicos recebiam ensino especializado; e,
  • Havia tratamento diferenciado para os sexos nesse período.

De maneira geral, a Europa, sobretudo Suíça e Alemanha, com algum alcance sobre as colônias inglesas e os Estados Unidos, buscavam desenvolver métodos ativos e intuitivos, que permitissem aos alunos participarem do processo de ensino e acompanhar a descoberta da verdade junto aos professores.

A França de Rivail, contudo, era um país onde prevalecia a Tradição. Pesava o senso de hierarquia social e da aristocracia. Em meio a isso surgem os serviços públicos e as profissões liberais, dentre às quais pertencia o gênero de trabalho braçal.

Dessa forma, ao contrário de avançar, tornou-se um obstáculo ao desenvolvimento. Escolas de segundo grau, por exemplo, não buscaram desenvolver uma educação que servisse às pessoas "menos importantes".

Por outro lado, a industrialização francesa fez surgirem condições favoráveis à educação pública. O aprendizado era visado pelos ricos que desejavam que alguns operários se instruíssem, adquirindo e aperfeiçoando sua capacidade técnica. Surge, também, a necessidade de garantir cuidados às crianças para que seus pais pudessem trabalhar durante o dia.

Mas, sendo um país profundamente católico e com ligação umbilical com a igreja, a transformação das escolas em instituições leigas encontra muita resistência. Pensava-se que a direção tomada pela evolução do sistema educacional era nocivo aos católicos, privilegiando os demais credos.

A igreja resistia.

Por meio do partido liberal, controlava as Universidades e cuidava de interesses próprios. Em 1850, a igreja aumenta seu poder sobre as escolas. Passa a ser permitido que criem e desenvolvam seus educandários.

A igreja era contra os republicanos que queriam escolas que preparassem trabalhadores leigos para o serviço público. No século 19 francês verificava-se a concorrência entre diferentes regimes políticos. Tudo se transformava em questão de breve tempo: governos, ministros e leis.

(Continua...)


Uberaba-MG, 03/01/2021
Beto Ramos


FONTE BIBLIOGRÁFICA:

FIGUEIREDO, Paulo Henrique. Revolução Espírita - a teoria esquecida de Allan Kardec. São Paulo: Maat, 2016.

INCONTRI, Dora; GRZYBOWSKI, Przemyslaw. Kardec Educador - Textos Pedagógicos de Hippolyte Léon Denizard Rivail. São Paulo: Editora Comenius (e-book).



segunda-feira, 24 de maio de 2021

INFÂNCIA E INFLUÊNCIA DO MEIO NA OBRA DE RIVAIL - O EDUCADOR

Fonte: Internet (Google). Castelo de Yverdon.

2ª PARTE

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A vila de Saint-Denis era um local muito visitado e os seus próprios moradores gostavam de passear por aquela região. Não deveria ser diferente com a família Rivail, pois, a beleza natural rodeava o seu lar.

Burg-en-Bresse possuía grandes construções que ostentavam valor turístico e histórico. O real monastério de Brou, então Igreja de Brou, foi uma destas construções mais visitadas de toda a França naquela época.

Praças, fontes, hospital e hotéis, como o Marron de Meillonnas (de 1770) são destaques na pequena, mas, aconchegante região central da localidade. As crianças viviam em meio aos animais, esquilos, doninhas, ouriços e outros, assim como aves. O pica-pau era morador comum.

Para os ávidos dos detalhes e estudiosos da história do espiritismo, a informação a seguir é preciosa. O burgo, ou unidade administrativa francesa onde cresceu o pequeno Rivail, leva Bresse em seu nome. Trata-se de um termo da cultura celta que significa lama, argila.

Conta-se que no ano de 1817, quando, então, seria construída uma prisão na cidade, o castelo dos duques de Saboia foi demolido. Entre as suas fundações foi localizado um monumento dos druidas, onde destacava-se um círculo de grandes pedras onde dolmens se apoiavam.

Sabemos que Rivail escolheu um antigo nome druida para usar como pseudônimo em suas obras: Allan Kardec. Quem acaso visite o túmulo onde repousam os restos mortais do Codificador do Espiritismo, certamente, verá uma imitação daquele monumento encontrado em Burg-en-Bresse.

No campo da cultura, a cidade possuía um belo teatro, vasta e rica biblioteca e, também, um colégio. Esse último, fundado em 1649, foi conduzido por jesuítas e, mais tarde, por professores leigos. A partir de 1801, o físico Ampere figurou entre eles, ali permanecendo por alguns anos.

Aquela pequena localidade abrigou a Sociedade Imperial de Emulação de Ain, criada em 1783, cujo objetivo era lidar com literatura, ciências, agricultura, belas artes e história. Dotada de jornal, oferecia prêmios e possuía coleções valiosas, sendo, inclusive, consultada pelo governo do departamento. Rivail, em 1818, seria nomeado membro correspondente dessa sociedade.

Em uma de suas obras, cujo título é Plano para melhoria da Educação Pública da França, no ano de 1828, aos 24 anos de idade, Rivail relata o que ele considerava uma educação ideal. Eis uma informação que poucos espíritas conhecem e que está relacionada com a teoria espírita que viria a lume a partir da década de 50 daquele século.

O ambiente de aprendizado deveria ser uma bela região, que proporcionaria vida campestre unida à ocupações sérias, onde o aprendiz teria aula de historia natural do campo. A instrução ocorreria por meio de conversações e durante passeios pelo campo. O educador levaria seus alunos em viagens para estudo. Eles próprios experimentariam o contato com os costumes dos povos visitando lugares históricos.

Percebe-se que Rivail estava falando de sua infância e da influência que recebeu do meio em sua obra. O educador descrevia nada menos que sua infância em Burg-en-Bress.

Sua pedagogia direciona o educador para proporcionar às crianças, desde cedo, ideias sobre história natural, física e química. Coisas como estátuas, quadros, plantas, animais e fenômenos da natureza que poderiam testemunhar, até mesmo uma pedra, interessam ao universo do educando. A atenção da criança está desperta. Por suas perguntas é possível tirar partido de sua inteligência e com ela lidar convenientemente para torná-lo autônomo. Não seria outra a proposta do espiritismo.

Pelas ideias depositadas em sua obra como educador francês é possível perceber a influência e as características de sua terra natal na sua formação acadêmica. Em 1834, Rivail escreveu que é importante fixar a atenção da criança sobre o que se passa à sua volta, a fim de que ela perceba o que vê, o que ouve e o que faz. Forçando-a a pensar, tudo será natural e terá explicações simples, tudo se compreendendo através da razão.

O educador, portanto, idealizava uma postura autônoma para a criança, a fim de que estivesse pronta para exercer a crítica diante de qualquer área. Estimulada à aquisição do conhecimento, sempre que estiver diante de evidências novas, por estar sempre pronta a aprender, a criança manteria sempre uma mente aberta. 

Rivail (1834) desejou, ainda, que a criança conheça o movimento dos astros e que seu espírito penetre no espaço e, assim, ela não será indiferente a tudo que maravilha o seu olhar, como fazem os brutos. Não acreditará em almas do outro mundo, nem em fantasmas, não acreditará em ledores de sorte, não verá no movimento dos astros qualquer presságio de funestos acontecimentos, enfim, seu espírito se alargará contemplando o espaço imenso e sem limites.

Bem antes de tornar-se o Codificador do Espiritismo, Rivail já apresentava ideias lúcidas sobre algo que poderíamos chamar: um estilo de vida.

(Continua)

Uberaba-MG, 24 de maio de 2021.

Beto Ramos


Bibliografia:

FIGUEIREDO, Paulo Henrique. Revolução Espírita - A teoria esquecida de Allan Kardec. São Paulo (SP): Maat, 2016.

sábado, 22 de maio de 2021

A VIDA NO CAMPO DE RIVAIL NO "MAISON DE MAITRE" EM SAINT-DENIS-LES-BOURG



Fonte: Imagens da internet (Google). Casas onde viveu Vitor Hugo, na França.

1ª PARTE

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Conforme narra FIGUEIREDO (Maat, 2016), o pequeno RIVAIL passou sua infância numa localidade chamada Saint-Denis-les-Bourg, que ficava no ambiente rural de Bourg-en-Bresse. Nesse lugar residiam, aproximadamente, 600 (seiscentos) moradores. Por sua importância, contava com sua própria Igreja.

No século 19 havia casas com uma arquitetura toda particular. Eram as chamadas 'Maison de Maitre'. Típicas da época, essas casas eram muito grandes. Nelas residiam advogados, médicos e outros integrantes da elite rural.

Essas casas possuíam grandes janelas na sua fachada e eram construídas com mais de um andar e a maioria possuía 03 (três). A porta central ficava diante de pequeno lance de escadas na entrada. O acesso à propriedade era feito transpondo um enorme portão de ferro forjado.

Propriedades como esta possuíam várias salas, lavanderia, estábulos para animais, pátio, jardim, área para crias e para plantios, além de vários terrenos à sua volta. Do ponto de vista do morador dessa casa era possível ver extensas pradarias amarelas, ampla planície, plantações de trigo e outros grãos, principal produto da economia local da época.

Jeane-Louise Duhamel, a Senhora Rivail, conforme publicação do Journal de l'Ain, n. 56, de 10 de maio de 1826, colocava a casa onde morava com sua mãe para alugar, descrevendo-a aos interessados.

A vila de Saint-Denis ficava no centro de um grande bosque, cortado por diversos riachos ladeados por salgueiros formando veios tortuosos por onde se podia caminhar, pisando em pedras e saltando os trechos estreitos. Muita sombra, pescaria abundante, jardins regados pelo rio Veyle e o barulho característico dos moinhos movidos pelo rio servindo às moendas de trigo. Imagine o jovem Rivail crescendo no meio dessa paisagem.

Uma pequena cidade, cheia de história, teve no famoso astrônomo francês Lalande, nativo de Bourg, um grande fomentador da cultura. Além da diversão, Rivail tinha um ambiente de extraordinária oportunidade para aprender.

O lugar, de clima difícil, muito frio em certas épocas do ano, também tinha um calor abafado característico nos demais períodos. Por vezes, a cidade era coberta por denso nevoeiro. Seus habitantes, camponeses tradicionais, eram generosos de coração, mas muito desconfiados dos que chegavam para visitas à cidade.

Entre personalidades famosas que visitaram a cidade ao longo da história vamos encontrar a nobreza, reis e imperadores. Francisco I, Henry IV, Napoleão Bonaparte, Charles X, o Duque de Orleans e Napoleão III caminharam pelas ruas de Bresse.

(Continua)

Uberaba-MG, 22 de maio de 2021.

Beto Ramos

DESTAQUE DA SEMANA

A DOUTRINA DOS ESPÍRITOS NÃO É ASSUNTO QUE SE ESGOTA EM UMA PALESTRA

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