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domingo, 9 de janeiro de 2022

OBRAS, CONCEITOS E PROPOSTAS DE RIVAIL PARA A EDUCAÇÃO NA FRANÇA DO SÉCULO 19.

Assinando como discípulo de Pestalozzi, H. L. D. Rivail publicou pela Livraria Dentu, Palais Royal, Paris, ano de 1828, o seu Plano Proposto Para a Melhoria da Educação Pública. Destacava logo na primeira página da obra a seguinte frase:

"Os meios próprios para educar a juventude são uma ciência bem distinta que se deveria estudar para ser educador, como se estuda a medicina para ser médico".

Definindo educação Rivail esclarece que "é a arte de formar os homens; de fazer eclodir neles os germes da virtude e abafar os do vício; de desenvolver sua inteligência e de lhes dar instrução própria às suas necessidades; enfim de formar o corpo e de lhe dar força e saúde".

Numa de suas críticas demonstra que a meta da educação é o desenvolvimento simultâneo das faculdades morais, físicas e intelectuais do ser humano, objetivo que todos repetem, mas é o que não se pratica.

Para Rivail, as causas de saber qual é a meta, mas não praticar esse modelo são:

  • Ignorância sobre os meios próprios a se operar esse desenvolvimento;
  • Desconhecimento de quais são os meios para formar o coração, o espírito e o corpo dos homens.

Contudo, não se trata apenas de críticas vazias. Rivail responde que para superar essa ignorância, além de conhecer os objetivos da educação, é preciso conhecer PERFEITAMENTE o caminho que se deve percorrer.

Como Allan Kardec, Rivail vai repetir esse conceito no item 7 do capítulo 19 de O Evangelho Segundo o Espiritismo, ensinando que a fé necessita de uma base, e essa base é a perfeita compreensão daquilo que se deve crer. Para crer, não basta ver, é necessário sobretudo compreender.

E nessa linha de pensamento Rivail fará algumas indagações a respeito da educação de seu tempo:

  1. O sistema atual pode indicar o caminho a percorrer perfeitamente delineado?
  2. Quais os obstáculos a isso?
  3. Quais os meios de combater esses obstáculos?

Refletindo sobre essas questões Rivail apresentará os três elementos constitutivos da educação para formar o coração, o espírito e corpo dos seres humanos. O objetivo da educação será o desenvolvimento, simultâneo, das faculdades Humanas:

  • Morais;
  • Físicas; e
  • Intelectuais.

É preciso fazer eclodir as virtudes, abafar os vícios e desenvolver a inteligência. Destarte, todo modelo na área da educação deve compreender a necessidade de que esses três elementos caminhem juntos, ao mesmo tempo.

Rivail considera:

a. Fonte das qualidades morais da criança: impressões que recebe desde seu nascimento, talvez antes, que podem agir com mais ou menos energia sobre o seu espírito, PARA O BEM OU PARA O MAL. Tudo que a criança vê e ouve a faz experimentar impressões.

b. Educação intelectual: soma das ideias adquiridas.

c. Educação moral: resultado de todas as impressões recebidas.

Cada objeto dá uma ideia. Cada palavra ouvida e cada ação de que se é objeto ou testemunha, faz experimentar uma emoção.

d. Hábito adquirido: é o resultado de uma mesma impressão mantida durante um certo tempo e frequentemente repetida.

O hábito é uma segunda natureza que nos leva, mesmo a contragosto, a fazer uma coisa, sendo mais comum que ocorra SEM A PARTICIPAÇÃO DA VONTADE.

d. Inclinações: são apenas hábitos inveterados quando não ligados ao temperamento (as que são ligadas ao temperamento são a cólera, vivacidade, lentidão e outras tendências desta natureza).

e. Hábitos sobre a constituição orgânica: contrair movimentos involuntários; posturas de que não se pode livrar.

f. Hábitos indestrutíveis (físicos): os órgãos adquiriram certa firmeza na posição que se lhe deixou tomar; se tornaram verdadeiramente endurecidos.

São hábitos com efeitos exteriores e perceptíveis; possuem efeitos internos e dão ao indivíduo tal ou qual impulso, "involuntário", "irresistível', que se manifesta para fora por palavras e por ações.

Rivail esclarece que os hábitos são de natureza física, moral e intelectual. Desse modo, os físicos modificam o corpo físico; os intelectuais consistem na posse mais ou menos perfeita de uma ciência; e os morais são os que nos levam a fazer qualquer coisa de bom ou de mau.

Como Kardec, Rivail vai retomar esse tema e deixará consignado na Questão 685.a de O Livro dos Espíritos que a educação moral é aquela que consiste na arte de formar caracteres, aquela que cria os hábitos, porque educação é o conjunto de hábitos adquiridos.

Segundo expõe, quando essa arte for conhecida, compreendida e praticada, o homem seguirá no mundo os hábitos de ordem e previdência para si mesmo e para os seus, de respeito pelo que é respeitável, hábitos que lhe permitirão atravessar de maneira menos penosa os maus dias inevitáveis. A desordem e a imprevidência são duas chagas que somente uma educação bem compreendida pode curar.

Além disto, importa recordar que n'O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo 14, sobre esse processo de educação moral, adverte-se sobre o papel fundamental dos pais.

Rivail ensina que é preciso cuidar das más impressões que causamos, citando como exemplo os próprios vícios, os maus conselhos e as conversações pouco adequadas.

Ou seja, há uma completa influência do meio. As crianças recebem impressões das pessoas que a cercam. Os pais com suas fraquezas ou os mestres por sua rigidez excessiva precisam cuidar de suas condutas para não influenciar na má formação do caráter da criança.

Rivail critica, também, o sistema de punições no processo educativo da criança. Elas são geradoras da maior parte dos defeitos e vícios. E, nesse caso destaca:

  1. Punições muito severas;
  2. Punições infligidas com parcialidade;
  3. Punições aplicadas no momento do mau humor.

Todas somente irritam, sem convencer. E seus efeitos são devastadores, pois, nesses casos:

  • As crianças empregam artimanhas, meios de desvio e fraudes para evitar essas reações dos 'educadores';
  • Produz os germes da má-fé e da hipocrisia.

Para Rivail, a educação falhou no sistema de punição irresponsável, uma vez que:

  1. A criança irritada e não persuadida, responde somente à força (violência);
  2. Nada lhe provou ter agido mal;
  3. O que sabe é que não agiu conforme a vontade do seu responsável;
  4. Essa vontade não é considerada pela criança como justa e razoável;
  5. A criança considera como capricho ou tirania e que foi submetida ao arbítrio.

Não há outros resultados senão os seguintes:

  • A criança não vê a hora de se libertar da superioridade física;
  • Não reconhece qualquer superioridade moral nos educadores (pais ou mestres);
  • Aguarda impaciente o momento que irá se livrar da FORÇA FÍSICA alcançando a sua PRÓPRIA FORÇA FÍSICA;
  • Sem superioridade moral reina a hostilidade entre as partes;
  • Não há confiança recíproca, nenhum apego; Há contínua troca de ardis; A disputa é: quem será o mais esperto para surpreender o outro?

Assim, esse sistema de punição cria DOIS PARTIDOS, que vão atuar, ou em guerra aberta, ou em contínua desconfiança. Para superar esse estado de coisas Rivail propõe:

  1. Formar na criança o amor ao trabalho e à virtude;
  2. Superar o castigo físico, agir como segundos pais, evitar o ar pedantesco, abolir as palmatórias, demonstrar o amor para alcançar confiança;
  3. Buscar que cada criança confesse as próprias falhas no objetivo de que se possa melhor contribuir para corrigi-las.
É que na conclusão de Rivail o nobre sentimento não é despertado com o mesmo instrumento reservado criminoso.

(Continua...)


Uberaba-MG, 09/01/2021
Beto Ramos


FONTE BIBLIOGRÁFICA:

FIGUEIREDO, Paulo Henrique. Revolução Espírita - a teoria esquecida de Allan Kardec. São Paulo: Maat, 2016.

INCONTRI, Dora; GRZYBOWSKI, Przemyslaw. Kardec Educador - Textos Pedagógicos de Hippolyte Léon Denizard Rivail. São Paulo: Editora Comenius (e-book).

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

CENÁRIO SOCIAL E AMBIENTE POLÍTICO QUE PRECEDE AO 'NASCIMENTO DE KARDEC'.

 

     

Antes do advento de Kardec para o mundo, por meio da sua memorável primeira edição de O Livro dos Espíritos, a França do século 19 vivia um turbulento cenário social e, diante das ideias progressistas, o ambiente político era de constante tensão.

Em 1850, a igreja aumentava consideravelmente o seu poder sobre as escolas. Desse modo, a instituição era contrária aos ideais republicanos que queriam escolas que preparassem trabalhadores leigos para o serviço público.

Como já expusemos, havia uma concorrência muito forte entre regimes políticos, cujo cenário se modificava em questão de breve tempo. Na área da educação ocorria a disputa entre o grupo defensor de línguas clássicas e o grupo defensor do ensino técnico; No campo da religião, havia unanimidade. Apesar de uns reclamarem a religião obrigatória ao povo e outros não, todos queriam uma EDUCAÇÃO MORAL.

Defendia-se e se compreendia a educação moral no contexto da necessidade de ensinar aos jovens e aos adultos as regras de ordem social, de autoridade e de propriedade. Acima das questões ideológicas, que deveriam reger o sistema educacional, havia consenso quanto aos objetivos e recursos.

Nesse contexto concorriam dois tipos de instituições de ensino:

a. A dos nobres (ricos); e,

b. A do povo (pobres).

Para os primeiros (classe dominante), o programa era a cultura clássica e o conhecimento científico; Aos segundos (os pobres), a educação básica ligada ao sentimento moral e obediência.

O método de ensino nesse período pode ser assim resumido:

  • Professores limitando a espontaneidade dos alunos;
  • Autoridade baseada na disciplina para conter protestos e revolta;
  • Liberdade de pensamento apreciada somente para adultos, não para crianças e jovens;
  • Inexistência de espaço para discussão com professores sobre qualquer tema.
Rivail estava presente nesse contexto e participava ativamente sobre as discussões do novo sistema educacional francês que tentava romper  com o velho, que resistia, o que implicava em grande dificuldade para se consolidar.

Entre várias questões que defendeu, uma merece destaque: Rivail considerou como um dos maiores problemas das instituições educativas a falta de educação moral. Segundo ele, essa educação é que é capaz de proporcionar elementos para a criança se tornar um cidadão honesto e de boa vontade.

Demonstrando sua maneira de ver a questão, Rivail apresenta o sistema hierárquico da aristocracia que constituiu a história humana: aristocracia da força; aristocracia da lei; aristocracia do dinheiro; As quais deram lugar para a aristocracia da razão.

No seu livro destinado ao primeiro grau da instrução primária, Catecismo Gramatical da Língua Francesa (Editado em Sévres), Rivail irá demonstrar o que pensava sobre educação. Resumindo, Rivail vai declarar:

  1. Educação é uma ciência única;
  2. A causa de pessoas ensinarem de forma inadequada é a FALTA DE ESTUDOS ESPECIALIZADOS;
  3. Poucas pessoas avaliam o verdadeiro objetivo da educação porque não compreendem o que é educação;
  4. Muitos não compreendem o que a educação pode ser;
  5. Muitos não compreendem o que fazer para que a educação melhore;
  6. A educação, no século 19, não é uma ciência totalmente constituída, cujas bases não estão ainda definidas.

Para melhorar o sistema de educação e do ensino público, Rivail propôs:

  • Criar uma escola de teoria e prática pedagógica, como são as de direito e de medicina;
  • A duração do tempo de estudos seria em 3 (três) anos. O primeiro dedicado ao estudo da teoria;  o segundo para teoria e prática; e o terceiro somente destinado à prática.

Em 1850 surgem as últimas obras pedagógicas de Rivail. Há paralelos e vinculações entre o pensamento e produção literária de Rivail com a proposta espírita, conforme é passível de observação nos comentários de Kardec e no ensino dos Espíritos. São dois períodos de vida da mesma pessoa. Ambos baseados nos mesmos ideais. Portanto, a Doutrina Espírita é rica em valores educativos.

O Livro dos Espíritos, primeira obra de Rivail sob o pseudônimo Allan Kardec, estrutura-se na proposta da grade curricular que se estudava no campo da Filosofia Espiritualista Racional do século 19, como se observa das informações colhidas no Tratado Elementar de Filosofia, de autoria de Paul Janet.

Quem se der ao trabalho de estudar seriamente o pensamento de Rivail e o conteúdo da Doutrina Espírita verificará, por exemplo, nas questões 685.a, 797, 872, 914 e 917, de O Livro dos Espíritos, os paralelos e vinculações que acabamos de citar.

(Continua...)


Uberaba-MG, 06/01/2021
Beto Ramos


FONTE BIBLIOGRÁFICA:

FIGUEIREDO, Paulo Henrique. Revolução Espírita - a teoria esquecida de Allan Kardec. São Paulo: Maat, 2016.

INCONTRI, Dora; GRZYBOWSKI, Przemyslaw. Kardec Educador - Textos Pedagógicos de Hippolyte Léon Denizard Rivail. São Paulo: Editora Comenius (e-book).

segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

KARDEC, ANTES DE TUDO, RIVAIL "O EDUCADOR".


Caso se pergunte a alguém, preferencialmente aos espíritas, quem foi Kardec, certamente para uns a resposta será: o organizador do espiritismo; e, para outros, o codificador do espiritismo.

É curioso dizer, mas, Allan Kardec, o organizador da Doutrina Espírita, foi alguém que nasceu em 18/04/1857 e com a idade adulta de  aproximadamente 52 anos. É que esse nome é um pseudônimo. Na verdade, antes do advento de Kardec para o mundo, viveu outro homem.

É imperativo saber:

KARDEC FOI, ANTES DE TUDO, RIVAIL, O EDUCADOR.

Mais da metade da vida de Rivail, depois Kardec, foi dedicada à educação da juventude. Sua vida foi influenciada por destacados pedagogos, que lhe serviram de modelo e inspiração (assista o vídeo em nossa plataforma).

No século 19, Rivail foi considerado um ESPECIALISTA em assuntos de ensino. Por meio de suas obras, ele dialogava com alunos, professores e outros profissionais do ensino e da educação, além de influentes personagens da área jurídica e administrativa do sistema educacional francês.

O movimento espírita conhece pouco ou quase nada de Kardec. Mas, Rivail, o educador, não é mencionado como tal e nem há ênfase da sua importância para o mundo que se pretende regenerar.

Nessa reflexão não estamos aludindo ao título educador, mas quem é, o que fez, qual o tamanho de sua obra e a proeminência de Rivail para a França do século 19 no campo da educação.

Quem foi o pedagogo Rivail? Como se desenvolveram seus conceitos de ensino e educação? Qual sua proposta para educar o povo?

Talvez a primeira questão a ser abordada seria o esquecimento de quem foi Rivail. O primeiro 'culpado' disto é ele próprio. Rivail pretendeu isso. Pode-se imaginar que objetivou proteger pessoas; não quis usar seu prestígio para divulgar o espiritismo; não desejou ofuscar a nascente ciência-filosófica, seu conteúdo e sua importância.

Sobre Rivail e Kardec, possuindo muito em comum, destaca-se que ambos obtiveram sucesso com as obras que publicaram. No entanto, Kardec abordou com bastante clareza temas que Rivail não discutiu com a mesma profundidade.

Quem foi Rivail antes de O Livro dos Espíritos? Foi alguém que dedicou um grande período de sua vida ao trabalho pedagógico. Trabalhou com o ensino e a educação, publicou livros específicos e artigos com considerações profundas acerca dos problemas dessa área do conhecimento.

Se você desejar conhecer a história da família de Rivail, sua infância e formação, acesse os endereços abaixo (o número 1 possui 3 partes) e leia tudo:

1. A HISTÓRIA DO ESPIRITISMO...

2. A VIDA DE RIVAIL NO CAMPO...

3. INFÂNCIA E INFLUÊNCIA DO MEIO NA OBRA...

4. YVERDON-LES-BAINS: RIVAIL E PESTALOZZI SE ENCONTRAM

Após deixar Yverdon Rivail seguirá carreira no campo da educação, pela qual dedicará sua vida. Abaixo, um breve histórico:

1823 - Lança sua primeira obra pedagógica: Curso Prático e Teórico de Aritmética Segundo os Princípios de Pestalozzi, com modificações.

12/1823 - Lançamento da obra completa, uma vez que a anterior tinha apenas 16 páginas. Recomenda o livro a professores e mães que desejassem ensinar para as crianças as regras básicas de aritmética.

1825 - Se torna diretor de uma escola de 1º grau, fundada por ele em Paris. Para essa ocasião publica um livreto de 8 páginas.

1826 - Fundou a instituição Rivail, um instituto técnico, onde aplicou o método de Pestalozzi, o qual funcionou por 9 anos.

1830 - Traduz, para o alemão, "Aventuras de Telêmaco", cujo autor foi François de Salignac de La Mothe Fénelon, na qual acresceu comentários para uso em educandários, entre outros, como objeto de estudos comparados de línguas. Rivail era poliglota e dominava várias línguas.

1831 - Rivail recebeu um prêmio pela obra "Memorando sobre o seguinte problema: qual é o sistema de estudo mais conveniente às necessidades da época atual?".

1832 - Se casa com Amélie Boudet e fundam um educandário para moças nas proximidades de Paris, que foi dirigida por Amélie.

14/08/1834 - Rivail profere discurso na distribuição de prémios em sua escola. No mesmo apresenta noções importantes da pedagogia que praticava.

Na instituição que fundou, física e química eram matérias obrigatórias, além de literatura, geografia, história, gramática, escrita, leitura, desenho geométrico, etc., abordando, também, anatomia e fisiologia.

1834 - Fechou o seu instituto, vendendo-o para passar a trabalhar como contador e tradutor de livros, além de elaborar programas de estudos para alunos de escolas do subúrbio.

1835 - 1840 - Dirigiu cursos populares gratuitos de Química, Física, Astronomia e Anatomia Comparada.

1848 - Rivail dirigiu o Liceu Polimático. Ministrou cursos de Fisiologia, Astronomia, Química e Física. Produziu manuais didáticos, planos, exercícios, compilações de métodos para professores e pais, projetos para políticos e pedagogos.

Ao longo dos textos e livros publicados, Rivail demonstra percepções distintas de sua época. História para ele não se limita a datas e parentescos familiares. Era necessário estudar costumes, descobertas, progressos da arte e da ciência em períodos sucessivos. Estudar canto era tão necessário quanto a leitura.

Nesse período Rivail já afirmava que houve o tempo da força bruta como lei, hoje é o mesmo com a força do espírito; Que, quem aprende, trabalha por sua própria felicidade. Foi reconhecido como um dos melhores gramáticos de seu tempo na França. Era um cientista e pertenceu a diversos institutos, devidamente diplomado.

No período de produção de Rivail, a situação do sistema escolar da Europa Ocidental evoluiu influenciada por mudanças progressistas da sociedade.

A política caminhava em direção à democracia. E isso requeria mudanças nas atividades do meio intelectual, no sentido de possibilitar aos cidadãos adquirir conhecimentos necessários à utilização do seu poder. A democracia dependia dos programas educativos.

É nesse cenário que surge a ideia da obrigatoriedade e gratuidade da instrução pública, a princípio para o ensino de primeiro grau. Além disto, o ensino técnico reclamava o seu lugar. O segundo grau se caracterizou pelo estudo de línguas vivas e não clássicas.

Nessa conjuntura, há o distanciamento das escolas e as igrejas. A ideia era a cultura se tornar leiga e o Estado assumir o poder sobre ela. Nesse tocante importa recordar as características do ensino dominado pelos religiosos:

  • A língua era o latim;
  • O viver era baseado na ideia cristã;
  • O objetivo era o aluno enfrentar problemas administrativos e econômicos;
  • O programa de estudos continha muitos elementos de religião;
  • Os professores, frequentemente, eram clérigos;
  • As mentes eram formadas para obedecerem às igrejas e ao Estado;
  • Em universidades, apenas teólogos, juristas e médicos recebiam ensino especializado; e,
  • Havia tratamento diferenciado para os sexos nesse período.

De maneira geral, a Europa, sobretudo Suíça e Alemanha, com algum alcance sobre as colônias inglesas e os Estados Unidos, buscavam desenvolver métodos ativos e intuitivos, que permitissem aos alunos participarem do processo de ensino e acompanhar a descoberta da verdade junto aos professores.

A França de Rivail, contudo, era um país onde prevalecia a Tradição. Pesava o senso de hierarquia social e da aristocracia. Em meio a isso surgem os serviços públicos e as profissões liberais, dentre às quais pertencia o gênero de trabalho braçal.

Dessa forma, ao contrário de avançar, tornou-se um obstáculo ao desenvolvimento. Escolas de segundo grau, por exemplo, não buscaram desenvolver uma educação que servisse às pessoas "menos importantes".

Por outro lado, a industrialização francesa fez surgirem condições favoráveis à educação pública. O aprendizado era visado pelos ricos que desejavam que alguns operários se instruíssem, adquirindo e aperfeiçoando sua capacidade técnica. Surge, também, a necessidade de garantir cuidados às crianças para que seus pais pudessem trabalhar durante o dia.

Mas, sendo um país profundamente católico e com ligação umbilical com a igreja, a transformação das escolas em instituições leigas encontra muita resistência. Pensava-se que a direção tomada pela evolução do sistema educacional era nocivo aos católicos, privilegiando os demais credos.

A igreja resistia.

Por meio do partido liberal, controlava as Universidades e cuidava de interesses próprios. Em 1850, a igreja aumenta seu poder sobre as escolas. Passa a ser permitido que criem e desenvolvam seus educandários.

A igreja era contra os republicanos que queriam escolas que preparassem trabalhadores leigos para o serviço público. No século 19 francês verificava-se a concorrência entre diferentes regimes políticos. Tudo se transformava em questão de breve tempo: governos, ministros e leis.

(Continua...)


Uberaba-MG, 03/01/2021
Beto Ramos


FONTE BIBLIOGRÁFICA:

FIGUEIREDO, Paulo Henrique. Revolução Espírita - a teoria esquecida de Allan Kardec. São Paulo: Maat, 2016.

INCONTRI, Dora; GRZYBOWSKI, Przemyslaw. Kardec Educador - Textos Pedagógicos de Hippolyte Léon Denizard Rivail. São Paulo: Editora Comenius (e-book).



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