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sexta-feira, 12 de agosto de 2022

DEVERES DE FAMÍLIA: ESPIRITUALISMO RACIONAL E ESPIRITISMO.

Certamente o espírita irá se recordar que há uma dissertação interessante ditada pelo Espírito Santo Agostinho na obra O Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo XIV - Honra a Teu Pai e a Tua Mãe, cujo tema A Ingratidão dos Filhos e os Laços de Família, entre outros assuntos, solicita a compreensão do grande papel da humanidade quando um corpo é gerado.

O Espírito recorda que o objetivo da alma que vem do mundo espiritual e reencarna em um corpo é o progresso. Nesse passo, adverte-se que é preciso que cada um tome conhecimento dos próprios deveres, pois, trata-se de uma missão auxiliar aquela alma.

Quais são esses deveres? São os deveres relativos à educação que deve ser dada ao Espírito que reencarna, tendo como meta o aperfeiçoamento do mesmo, bem como sua felicidade futura.

Eis, então, o ponto que nos interessa. Mas, antes, vamos, rapidamente, recordar que na Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita, no item I de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec explica que "como especialidade 'O Livro dos Espíritos' contém a Doutrina Espírita; como generalidade liga-se ao Espiritualismo, do qual apresenta uma das fases. Essa razão porque traz sobre o título as palavras: Filosofia Espiritualista".

Dito isto, voltemos ao tema proposto nesse artigo, vejamos se, de fato, a questão referente aos deveres dos pais foi tratada em obras e dissertações dos filósofos espiritualistas. Nesse sentido, trazemos à colação o desenvolvimento desse tema pelo filósofo e escritor francês Paul Alexandre René Janet na obra Pequenos Elementos da Moral. Nela o autor trata dos deveres da família e disserta sobre as seguintes relações: do marido e da mulher; dos pais com os filhos; dos filhos com os pais; e, dos filhos entre si. Lembrando que essa obra veio a lume no século 19.

São destacados na obra os seguintes deveres que decorrem dessas relações: conjugal; paternal/maternal; filial; fraternal. Ainda, segundo Paul Janet, nessa relação familiar, há uma quinta classe de deveres: a domesticidade (patrões e empregados e vice-versa).

Indo direto ao ponto, quais são os deveres dos pais? Diz Paul Janet: ao educar os filhos, os pais devem tudo fazer para que não haja duas espécies de comandos contraditórios, mas apenas um único e mesmo poder manifestado na sua essência. Na sua investigação Paul Janet afirma que os pais conduzem os filhos em razão das seguintes necessidades deles: fraqueza da criança; impotência física; incapacidade intelectual; incapacidade moral.

O filósofo ainda afirma algo maravilhoso: não há direito de vida e morte sobre os filhos, pois o poder paterno tem origem no interesse da criança. Destarte, todos os deveres dos pais, segundo ensina Paul Janet, voltam-se para uma FORMAÇÃO DO CARÁTER, ou seja, para EDUCAÇÃO MORAL.

Vamos perceber que esse autor não aquiesce com a heteronomia, isto é, a educação moral heterônoma que prevê castigos físicos no processo de educação para os pais.

Por fim, demonstrando a ligação entre espiritismo e espiritualismo racional, vamos encontrar nessa obra de Paul Janet, as seguintes informações sobre a educação moral das crianças: a instrução é para o Espírito e a educação é para o caráter.

A instrução tem como efeito útil aumentar os recursos do indivíduo tornando-o apto à diversas coisas; trata-se de um capital. Além disto, eleva e enobrece a natureza humana. É a razão que diferencia o ser humano do animal; o esclarecimento estende e realça a razão. Em Paul Janet, a instrução não se confunde com a educação moral ao iluminar a razão e, por isso, é parte dela.

A formação do caráter não se faz só pela ciência, mas pela persuasão, autoridade, exemplo e pela ação moral em todos os instantes. Assim sendo, educação combina energia, doçura, constrangimento e liberdade.

Concluindo. Para Paul Janet, criar uma criança pelo temor é compará-la a um animal, mas não se deve ter fraqueza excessiva. Portanto, nem autoridade despótica e nem fraqueza em excesso.

Estas são as considerações que apresentamos para a meditação do leitor quanto aos deveres da família, as proposições do espiritismo e as proposições da filosofia espiritualista. Queremos saber a sua opinião. Deixe um comentário e acrescente informações, sugestões e críticas.

Até o próximo artigo.

Uberaba-MG, 12/08/2022.
Beto Ramos.

quinta-feira, 7 de abril de 2022

VIGIAR E PUNIR X ORAR E VIGIAR

 


Desde tempos imemoriais, as sociedades buscaram desenvolver sistemas judiciários e coercitivos para a defesa de direitos privados e públicos. Foi assim que, julgando tais sistemas adequados e necessários, puniam aqueles que consideravam injustos agressores por meios vários.


Processos punitivos variados, desde a violência física, onde o corpo do indivíduo era supliciado de maneiras cruéis e terríveis até que se chegou nos sistemas penitenciários dos tempos modernos.

Os injustos agressores, conforme o sistema legal primitivo, eram agredidos como medida de justiça. Na prática, era a replicação da lei de talião, expressão que é, na verdade, a corruptela da lei do 'tal e qual': 'olho por olho, dente por dente'.

Até Deus era usado para fundamentar esse sistema de castigos. Alegava-se que o motivo dos suplícios físicos era a salvação da alma do infrator. Perceba a presença da moral heterônoma. O castigo ou a recompensa é externa. O comportamento individual é determinado por 'vontades' externas ao indivíduo. Alguma coisa como 'vontade da maioria' em detrimento da 'vontade individual'.

Chegados ao século 21 permitimo-nos refletir:

- A humanidade está regenerada? Os indivíduos compreenderam como devem agir em relação uns com os outros? Há fraternidade e solidariedade imperando entre povos e nações do mundo? O sistema de castigo e recompensa impediu que os indivíduos desenvolvessem vícios e fossem arrastados por suas paixões? A educação individual se traduz na inclusão do outro?


A CURA PELA EDUCAÇÃO

Parece que a sociedade ainda não se libertou das amarras à tensão entre heteronomia e autonomia, ou moral exterior e moral da liberdade, que em última síntese é o mesmo que: vigiar e punir (leis humanas) x orar e vigiar (leis divinas).

Em que pese, no campo do direito penal, mudar expressões como 'castigo de delinquentes' para 'recuperação de infratores', ou 'punir criminosos' para 'readaptar delinquentes', fazendo crer que o objetivo, nos dias atuais, é tratar esses indivíduos obedecendo os princípios de dignidade e liberdade humanas, a sociedade não logrou êxito nas suas medidas correcionais contra criminosos.

Como base para nossa meditação, pedimos vênia para transcrever parte do texto desenvolvido por Kardec e os Espíritos Superiores na questão 685 de O Livro dos Espíritos, verbis

"[...] há um elemento, que se não costuma fazer pesar na balança e sem o qual a ciência econômica não passa de simples teoria. Esse elemento é a educação, não a educação intelectual, mas a educação moral. Não nos referimos, porém, à educação moral pelos livros e sim à que consiste na arte de formar os caracteres, à que incute hábitos, porquanto a educação é o conjunto dos hábitos adquiridosConsiderando-se a aluvião de indivíduos que todos os dias são lançados na torrente da população, sem princípios, sem freio e entregues a seus próprios instintos, serão de espantar as consequências desastrosas que daí decorrem? Quando essa arte for conhecida, compreendida e praticada, o homem terá no mundo hábitos de ordem e de previdência para consigo mesmo e para com os seus, de respeito a tudo o que é respeitável, hábitos que lhe permitirão atravessar menos penosamente os maus dias inevitáveis. A desordem e a imprevidência são duas chagas que só uma educação bem entendida pode curar. Esse o ponto de partida, o elemento real do bem-estar, o penhor da segurança de todos".

Que possamos preparar mentes e corações para o conhecimento dessa arte; que, verdadeiramente, seja objeto de nossas investigações a compreensão e a prática da mesma. O mundo não mudará por meio de milagre, coisas místicas ou sobrenaturais. Também não vai mudar com base em regras e estratégias humanas, onde alguns se arvoram em autoproclamarem-se divindades.

A verdadeira mudança inicia-se a partir de uma educação bem entendida. A humanidade está doente.

A educação é a cura.

Uberaba-MG, 07/04/2022.
Beto Ramos.

domingo, 9 de janeiro de 2022

OBRAS, CONCEITOS E PROPOSTAS DE RIVAIL PARA A EDUCAÇÃO NA FRANÇA DO SÉCULO 19.

Assinando como discípulo de Pestalozzi, H. L. D. Rivail publicou pela Livraria Dentu, Palais Royal, Paris, ano de 1828, o seu Plano Proposto Para a Melhoria da Educação Pública. Destacava logo na primeira página da obra a seguinte frase:

"Os meios próprios para educar a juventude são uma ciência bem distinta que se deveria estudar para ser educador, como se estuda a medicina para ser médico".

Definindo educação Rivail esclarece que "é a arte de formar os homens; de fazer eclodir neles os germes da virtude e abafar os do vício; de desenvolver sua inteligência e de lhes dar instrução própria às suas necessidades; enfim de formar o corpo e de lhe dar força e saúde".

Numa de suas críticas demonstra que a meta da educação é o desenvolvimento simultâneo das faculdades morais, físicas e intelectuais do ser humano, objetivo que todos repetem, mas é o que não se pratica.

Para Rivail, as causas de saber qual é a meta, mas não praticar esse modelo são:

  • Ignorância sobre os meios próprios a se operar esse desenvolvimento;
  • Desconhecimento de quais são os meios para formar o coração, o espírito e o corpo dos homens.

Contudo, não se trata apenas de críticas vazias. Rivail responde que para superar essa ignorância, além de conhecer os objetivos da educação, é preciso conhecer PERFEITAMENTE o caminho que se deve percorrer.

Como Allan Kardec, Rivail vai repetir esse conceito no item 7 do capítulo 19 de O Evangelho Segundo o Espiritismo, ensinando que a fé necessita de uma base, e essa base é a perfeita compreensão daquilo que se deve crer. Para crer, não basta ver, é necessário sobretudo compreender.

E nessa linha de pensamento Rivail fará algumas indagações a respeito da educação de seu tempo:

  1. O sistema atual pode indicar o caminho a percorrer perfeitamente delineado?
  2. Quais os obstáculos a isso?
  3. Quais os meios de combater esses obstáculos?

Refletindo sobre essas questões Rivail apresentará os três elementos constitutivos da educação para formar o coração, o espírito e corpo dos seres humanos. O objetivo da educação será o desenvolvimento, simultâneo, das faculdades Humanas:

  • Morais;
  • Físicas; e
  • Intelectuais.

É preciso fazer eclodir as virtudes, abafar os vícios e desenvolver a inteligência. Destarte, todo modelo na área da educação deve compreender a necessidade de que esses três elementos caminhem juntos, ao mesmo tempo.

Rivail considera:

a. Fonte das qualidades morais da criança: impressões que recebe desde seu nascimento, talvez antes, que podem agir com mais ou menos energia sobre o seu espírito, PARA O BEM OU PARA O MAL. Tudo que a criança vê e ouve a faz experimentar impressões.

b. Educação intelectual: soma das ideias adquiridas.

c. Educação moral: resultado de todas as impressões recebidas.

Cada objeto dá uma ideia. Cada palavra ouvida e cada ação de que se é objeto ou testemunha, faz experimentar uma emoção.

d. Hábito adquirido: é o resultado de uma mesma impressão mantida durante um certo tempo e frequentemente repetida.

O hábito é uma segunda natureza que nos leva, mesmo a contragosto, a fazer uma coisa, sendo mais comum que ocorra SEM A PARTICIPAÇÃO DA VONTADE.

d. Inclinações: são apenas hábitos inveterados quando não ligados ao temperamento (as que são ligadas ao temperamento são a cólera, vivacidade, lentidão e outras tendências desta natureza).

e. Hábitos sobre a constituição orgânica: contrair movimentos involuntários; posturas de que não se pode livrar.

f. Hábitos indestrutíveis (físicos): os órgãos adquiriram certa firmeza na posição que se lhe deixou tomar; se tornaram verdadeiramente endurecidos.

São hábitos com efeitos exteriores e perceptíveis; possuem efeitos internos e dão ao indivíduo tal ou qual impulso, "involuntário", "irresistível', que se manifesta para fora por palavras e por ações.

Rivail esclarece que os hábitos são de natureza física, moral e intelectual. Desse modo, os físicos modificam o corpo físico; os intelectuais consistem na posse mais ou menos perfeita de uma ciência; e os morais são os que nos levam a fazer qualquer coisa de bom ou de mau.

Como Kardec, Rivail vai retomar esse tema e deixará consignado na Questão 685.a de O Livro dos Espíritos que a educação moral é aquela que consiste na arte de formar caracteres, aquela que cria os hábitos, porque educação é o conjunto de hábitos adquiridos.

Segundo expõe, quando essa arte for conhecida, compreendida e praticada, o homem seguirá no mundo os hábitos de ordem e previdência para si mesmo e para os seus, de respeito pelo que é respeitável, hábitos que lhe permitirão atravessar de maneira menos penosa os maus dias inevitáveis. A desordem e a imprevidência são duas chagas que somente uma educação bem compreendida pode curar.

Além disto, importa recordar que n'O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo 14, sobre esse processo de educação moral, adverte-se sobre o papel fundamental dos pais.

Rivail ensina que é preciso cuidar das más impressões que causamos, citando como exemplo os próprios vícios, os maus conselhos e as conversações pouco adequadas.

Ou seja, há uma completa influência do meio. As crianças recebem impressões das pessoas que a cercam. Os pais com suas fraquezas ou os mestres por sua rigidez excessiva precisam cuidar de suas condutas para não influenciar na má formação do caráter da criança.

Rivail critica, também, o sistema de punições no processo educativo da criança. Elas são geradoras da maior parte dos defeitos e vícios. E, nesse caso destaca:

  1. Punições muito severas;
  2. Punições infligidas com parcialidade;
  3. Punições aplicadas no momento do mau humor.

Todas somente irritam, sem convencer. E seus efeitos são devastadores, pois, nesses casos:

  • As crianças empregam artimanhas, meios de desvio e fraudes para evitar essas reações dos 'educadores';
  • Produz os germes da má-fé e da hipocrisia.

Para Rivail, a educação falhou no sistema de punição irresponsável, uma vez que:

  1. A criança irritada e não persuadida, responde somente à força (violência);
  2. Nada lhe provou ter agido mal;
  3. O que sabe é que não agiu conforme a vontade do seu responsável;
  4. Essa vontade não é considerada pela criança como justa e razoável;
  5. A criança considera como capricho ou tirania e que foi submetida ao arbítrio.

Não há outros resultados senão os seguintes:

  • A criança não vê a hora de se libertar da superioridade física;
  • Não reconhece qualquer superioridade moral nos educadores (pais ou mestres);
  • Aguarda impaciente o momento que irá se livrar da FORÇA FÍSICA alcançando a sua PRÓPRIA FORÇA FÍSICA;
  • Sem superioridade moral reina a hostilidade entre as partes;
  • Não há confiança recíproca, nenhum apego; Há contínua troca de ardis; A disputa é: quem será o mais esperto para surpreender o outro?

Assim, esse sistema de punição cria DOIS PARTIDOS, que vão atuar, ou em guerra aberta, ou em contínua desconfiança. Para superar esse estado de coisas Rivail propõe:

  1. Formar na criança o amor ao trabalho e à virtude;
  2. Superar o castigo físico, agir como segundos pais, evitar o ar pedantesco, abolir as palmatórias, demonstrar o amor para alcançar confiança;
  3. Buscar que cada criança confesse as próprias falhas no objetivo de que se possa melhor contribuir para corrigi-las.
É que na conclusão de Rivail o nobre sentimento não é despertado com o mesmo instrumento reservado criminoso.

(Continua...)


Uberaba-MG, 09/01/2021
Beto Ramos


FONTE BIBLIOGRÁFICA:

FIGUEIREDO, Paulo Henrique. Revolução Espírita - a teoria esquecida de Allan Kardec. São Paulo: Maat, 2016.

INCONTRI, Dora; GRZYBOWSKI, Przemyslaw. Kardec Educador - Textos Pedagógicos de Hippolyte Léon Denizard Rivail. São Paulo: Editora Comenius (e-book).

segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

KARDEC, ANTES DE TUDO, RIVAIL "O EDUCADOR".


Caso se pergunte a alguém, preferencialmente aos espíritas, quem foi Kardec, certamente para uns a resposta será: o organizador do espiritismo; e, para outros, o codificador do espiritismo.

É curioso dizer, mas, Allan Kardec, o organizador da Doutrina Espírita, foi alguém que nasceu em 18/04/1857 e com a idade adulta de  aproximadamente 52 anos. É que esse nome é um pseudônimo. Na verdade, antes do advento de Kardec para o mundo, viveu outro homem.

É imperativo saber:

KARDEC FOI, ANTES DE TUDO, RIVAIL, O EDUCADOR.

Mais da metade da vida de Rivail, depois Kardec, foi dedicada à educação da juventude. Sua vida foi influenciada por destacados pedagogos, que lhe serviram de modelo e inspiração (assista o vídeo em nossa plataforma).

No século 19, Rivail foi considerado um ESPECIALISTA em assuntos de ensino. Por meio de suas obras, ele dialogava com alunos, professores e outros profissionais do ensino e da educação, além de influentes personagens da área jurídica e administrativa do sistema educacional francês.

O movimento espírita conhece pouco ou quase nada de Kardec. Mas, Rivail, o educador, não é mencionado como tal e nem há ênfase da sua importância para o mundo que se pretende regenerar.

Nessa reflexão não estamos aludindo ao título educador, mas quem é, o que fez, qual o tamanho de sua obra e a proeminência de Rivail para a França do século 19 no campo da educação.

Quem foi o pedagogo Rivail? Como se desenvolveram seus conceitos de ensino e educação? Qual sua proposta para educar o povo?

Talvez a primeira questão a ser abordada seria o esquecimento de quem foi Rivail. O primeiro 'culpado' disto é ele próprio. Rivail pretendeu isso. Pode-se imaginar que objetivou proteger pessoas; não quis usar seu prestígio para divulgar o espiritismo; não desejou ofuscar a nascente ciência-filosófica, seu conteúdo e sua importância.

Sobre Rivail e Kardec, possuindo muito em comum, destaca-se que ambos obtiveram sucesso com as obras que publicaram. No entanto, Kardec abordou com bastante clareza temas que Rivail não discutiu com a mesma profundidade.

Quem foi Rivail antes de O Livro dos Espíritos? Foi alguém que dedicou um grande período de sua vida ao trabalho pedagógico. Trabalhou com o ensino e a educação, publicou livros específicos e artigos com considerações profundas acerca dos problemas dessa área do conhecimento.

Se você desejar conhecer a história da família de Rivail, sua infância e formação, acesse os endereços abaixo (o número 1 possui 3 partes) e leia tudo:

1. A HISTÓRIA DO ESPIRITISMO...

2. A VIDA DE RIVAIL NO CAMPO...

3. INFÂNCIA E INFLUÊNCIA DO MEIO NA OBRA...

4. YVERDON-LES-BAINS: RIVAIL E PESTALOZZI SE ENCONTRAM

Após deixar Yverdon Rivail seguirá carreira no campo da educação, pela qual dedicará sua vida. Abaixo, um breve histórico:

1823 - Lança sua primeira obra pedagógica: Curso Prático e Teórico de Aritmética Segundo os Princípios de Pestalozzi, com modificações.

12/1823 - Lançamento da obra completa, uma vez que a anterior tinha apenas 16 páginas. Recomenda o livro a professores e mães que desejassem ensinar para as crianças as regras básicas de aritmética.

1825 - Se torna diretor de uma escola de 1º grau, fundada por ele em Paris. Para essa ocasião publica um livreto de 8 páginas.

1826 - Fundou a instituição Rivail, um instituto técnico, onde aplicou o método de Pestalozzi, o qual funcionou por 9 anos.

1830 - Traduz, para o alemão, "Aventuras de Telêmaco", cujo autor foi François de Salignac de La Mothe Fénelon, na qual acresceu comentários para uso em educandários, entre outros, como objeto de estudos comparados de línguas. Rivail era poliglota e dominava várias línguas.

1831 - Rivail recebeu um prêmio pela obra "Memorando sobre o seguinte problema: qual é o sistema de estudo mais conveniente às necessidades da época atual?".

1832 - Se casa com Amélie Boudet e fundam um educandário para moças nas proximidades de Paris, que foi dirigida por Amélie.

14/08/1834 - Rivail profere discurso na distribuição de prémios em sua escola. No mesmo apresenta noções importantes da pedagogia que praticava.

Na instituição que fundou, física e química eram matérias obrigatórias, além de literatura, geografia, história, gramática, escrita, leitura, desenho geométrico, etc., abordando, também, anatomia e fisiologia.

1834 - Fechou o seu instituto, vendendo-o para passar a trabalhar como contador e tradutor de livros, além de elaborar programas de estudos para alunos de escolas do subúrbio.

1835 - 1840 - Dirigiu cursos populares gratuitos de Química, Física, Astronomia e Anatomia Comparada.

1848 - Rivail dirigiu o Liceu Polimático. Ministrou cursos de Fisiologia, Astronomia, Química e Física. Produziu manuais didáticos, planos, exercícios, compilações de métodos para professores e pais, projetos para políticos e pedagogos.

Ao longo dos textos e livros publicados, Rivail demonstra percepções distintas de sua época. História para ele não se limita a datas e parentescos familiares. Era necessário estudar costumes, descobertas, progressos da arte e da ciência em períodos sucessivos. Estudar canto era tão necessário quanto a leitura.

Nesse período Rivail já afirmava que houve o tempo da força bruta como lei, hoje é o mesmo com a força do espírito; Que, quem aprende, trabalha por sua própria felicidade. Foi reconhecido como um dos melhores gramáticos de seu tempo na França. Era um cientista e pertenceu a diversos institutos, devidamente diplomado.

No período de produção de Rivail, a situação do sistema escolar da Europa Ocidental evoluiu influenciada por mudanças progressistas da sociedade.

A política caminhava em direção à democracia. E isso requeria mudanças nas atividades do meio intelectual, no sentido de possibilitar aos cidadãos adquirir conhecimentos necessários à utilização do seu poder. A democracia dependia dos programas educativos.

É nesse cenário que surge a ideia da obrigatoriedade e gratuidade da instrução pública, a princípio para o ensino de primeiro grau. Além disto, o ensino técnico reclamava o seu lugar. O segundo grau se caracterizou pelo estudo de línguas vivas e não clássicas.

Nessa conjuntura, há o distanciamento das escolas e as igrejas. A ideia era a cultura se tornar leiga e o Estado assumir o poder sobre ela. Nesse tocante importa recordar as características do ensino dominado pelos religiosos:

  • A língua era o latim;
  • O viver era baseado na ideia cristã;
  • O objetivo era o aluno enfrentar problemas administrativos e econômicos;
  • O programa de estudos continha muitos elementos de religião;
  • Os professores, frequentemente, eram clérigos;
  • As mentes eram formadas para obedecerem às igrejas e ao Estado;
  • Em universidades, apenas teólogos, juristas e médicos recebiam ensino especializado; e,
  • Havia tratamento diferenciado para os sexos nesse período.

De maneira geral, a Europa, sobretudo Suíça e Alemanha, com algum alcance sobre as colônias inglesas e os Estados Unidos, buscavam desenvolver métodos ativos e intuitivos, que permitissem aos alunos participarem do processo de ensino e acompanhar a descoberta da verdade junto aos professores.

A França de Rivail, contudo, era um país onde prevalecia a Tradição. Pesava o senso de hierarquia social e da aristocracia. Em meio a isso surgem os serviços públicos e as profissões liberais, dentre às quais pertencia o gênero de trabalho braçal.

Dessa forma, ao contrário de avançar, tornou-se um obstáculo ao desenvolvimento. Escolas de segundo grau, por exemplo, não buscaram desenvolver uma educação que servisse às pessoas "menos importantes".

Por outro lado, a industrialização francesa fez surgirem condições favoráveis à educação pública. O aprendizado era visado pelos ricos que desejavam que alguns operários se instruíssem, adquirindo e aperfeiçoando sua capacidade técnica. Surge, também, a necessidade de garantir cuidados às crianças para que seus pais pudessem trabalhar durante o dia.

Mas, sendo um país profundamente católico e com ligação umbilical com a igreja, a transformação das escolas em instituições leigas encontra muita resistência. Pensava-se que a direção tomada pela evolução do sistema educacional era nocivo aos católicos, privilegiando os demais credos.

A igreja resistia.

Por meio do partido liberal, controlava as Universidades e cuidava de interesses próprios. Em 1850, a igreja aumenta seu poder sobre as escolas. Passa a ser permitido que criem e desenvolvam seus educandários.

A igreja era contra os republicanos que queriam escolas que preparassem trabalhadores leigos para o serviço público. No século 19 francês verificava-se a concorrência entre diferentes regimes políticos. Tudo se transformava em questão de breve tempo: governos, ministros e leis.

(Continua...)


Uberaba-MG, 03/01/2021
Beto Ramos


FONTE BIBLIOGRÁFICA:

FIGUEIREDO, Paulo Henrique. Revolução Espírita - a teoria esquecida de Allan Kardec. São Paulo: Maat, 2016.

INCONTRI, Dora; GRZYBOWSKI, Przemyslaw. Kardec Educador - Textos Pedagógicos de Hippolyte Léon Denizard Rivail. São Paulo: Editora Comenius (e-book).



terça-feira, 20 de julho de 2021

EDUCAÇÃO MORAL SEGUNDO O ESPIRITISMO


 

Educar é dar a alguém os cuidados necessários ao PLENO DESENVOLVIMENTO de sua PERSONALIDADE. Dar ensino, instruir e transmitir o saber são sinônimos de EDUCAR.

Quem transmite, transmite alguma coisa. No caso dos cuidados necessários para o pleno desenvolvimento da personalidade humana sabemos que o ato passa por um processo: a educação.

Quando o assunto é educação moral segundo o Espiritismo, é cabível questionar:

1. O Espiritismo educa?

2. O que a Doutrina Espírita define como moral?

Pesquisando nas obras produzidas por Allan Kardec, especialmente em O Evangelho Segundo o Espiritismo, iremos nos deparar com tópicos onde o seu autor denominou de instruções dos Espíritos. Encontramos, também, em O Livro dos Espíritos, Allan Kardec tratando do ensino dos Espíritos.

Portanto, deduz-se que o Espiritismo educa por meio do ensino dos Espíritos, isto é, de suas instruções. Resta saber, então, quais assuntos e/ou temas são objeto do ensino e das instruções dos Espíritos.

Trata-se da Doutrina Espírita, ou seja, um conjunto de comportamentos que, tornados hábitos pelo indivíduo, o levam a VIVER BEM.

No entanto, a racionalização, coisa diferente de racionalidade, levará a diversas indagações que desvirtuam o sentido objetivo que se pretende atingir. Para manter o intérprete no curso, esclarecemos que as comunicações destacadas por Allan Kardec sobre Espíritos Felizes, Infelizes e Endurecidos, demonstram que o modo como cada um conduziu suas encarnações pretéritas REPERCUTEM na VIDA ESPIRITUAL.

Trata-se, pois, das CONSEQUÊNCIAS DE NATUREZA MORAL. Por isso é imperativo definir MORAL SEGUNDO O ESPIRITISMO. Isso nos permite compreender a educação moral segundo o Espiritismo. Em O Livro dos Espíritos, o ensino dos Espíritos Superiores não deixa dúvida: "a moral é definida como regra da boa conduta".

Nesse caso, se conduz bem aquele que sabe definir e fazer diferença entre o bem e o mal. O bem é fazer TUDO tendo como OBJETIVO o BEM DE TODOS. Fazer tudo para o bem de todos é observar a LEI DIVINA. O bem é tudo que está conforme a Lei de Deus e o mal é tudo que infringe essa Lei.

No plano da educação moral segundo o Espiritismo é preciso levar em conta dois pontos cruciais: o livre-arbítrio e a autonomia do Espírito. Nesse caso, o ser humano ANTES DE TUDO precisa CRER em DEUS, isto é, compreender seus atributos, sua perfeição. Chegado a esse ponto, é preciso QUERER SABER.

Para saber, isto é, para CONHECER, todo indivíduo possui a faculdade da INTELIGÊNCIA e é ela quem permite discernir o bem do mal. É preciso destacar que esse discernimento está sempre em relação com o acervo de conhecimento adquirido pelo Espírito.

Por fim, alguém poderia dizer: "Mas, mesmo com a inteligência e o aprendizado é possível ERRAR, uma vez que tudo está correlacionado com o conhecimento adquirido". Em O Livro dos Espíritos há resposta objetiva e categórica a esse sofisma: de forma alguma. Há uma receita infalível presente na cultura da humanidade há vários milênios. Trata-se da regra do BEM PROCEDER:

"Fazer ao outro o que gostaria que o outro lhe fizesse e não fazer ao outro o que não gostaria que o outro lhe fizesse".

E, agindo assim, alguém poderia dizer: eis o cumprimento de toda a lei e os profetas.


Uberaba-MG, 20 de Julho de 2021.
Beto Ramos

segunda-feira, 24 de maio de 2021

INFÂNCIA E INFLUÊNCIA DO MEIO NA OBRA DE RIVAIL - O EDUCADOR

Fonte: Internet (Google). Castelo de Yverdon.

2ª PARTE

CLIQUE AQUI PARA A 1ª PARTE   CLIQUE AQUI PARA A 3ª PARTE

A vila de Saint-Denis era um local muito visitado e os seus próprios moradores gostavam de passear por aquela região. Não deveria ser diferente com a família Rivail, pois, a beleza natural rodeava o seu lar.

Burg-en-Bresse possuía grandes construções que ostentavam valor turístico e histórico. O real monastério de Brou, então Igreja de Brou, foi uma destas construções mais visitadas de toda a França naquela época.

Praças, fontes, hospital e hotéis, como o Marron de Meillonnas (de 1770) são destaques na pequena, mas, aconchegante região central da localidade. As crianças viviam em meio aos animais, esquilos, doninhas, ouriços e outros, assim como aves. O pica-pau era morador comum.

Para os ávidos dos detalhes e estudiosos da história do espiritismo, a informação a seguir é preciosa. O burgo, ou unidade administrativa francesa onde cresceu o pequeno Rivail, leva Bresse em seu nome. Trata-se de um termo da cultura celta que significa lama, argila.

Conta-se que no ano de 1817, quando, então, seria construída uma prisão na cidade, o castelo dos duques de Saboia foi demolido. Entre as suas fundações foi localizado um monumento dos druidas, onde destacava-se um círculo de grandes pedras onde dolmens se apoiavam.

Sabemos que Rivail escolheu um antigo nome druida para usar como pseudônimo em suas obras: Allan Kardec. Quem acaso visite o túmulo onde repousam os restos mortais do Codificador do Espiritismo, certamente, verá uma imitação daquele monumento encontrado em Burg-en-Bresse.

No campo da cultura, a cidade possuía um belo teatro, vasta e rica biblioteca e, também, um colégio. Esse último, fundado em 1649, foi conduzido por jesuítas e, mais tarde, por professores leigos. A partir de 1801, o físico Ampere figurou entre eles, ali permanecendo por alguns anos.

Aquela pequena localidade abrigou a Sociedade Imperial de Emulação de Ain, criada em 1783, cujo objetivo era lidar com literatura, ciências, agricultura, belas artes e história. Dotada de jornal, oferecia prêmios e possuía coleções valiosas, sendo, inclusive, consultada pelo governo do departamento. Rivail, em 1818, seria nomeado membro correspondente dessa sociedade.

Em uma de suas obras, cujo título é Plano para melhoria da Educação Pública da França, no ano de 1828, aos 24 anos de idade, Rivail relata o que ele considerava uma educação ideal. Eis uma informação que poucos espíritas conhecem e que está relacionada com a teoria espírita que viria a lume a partir da década de 50 daquele século.

O ambiente de aprendizado deveria ser uma bela região, que proporcionaria vida campestre unida à ocupações sérias, onde o aprendiz teria aula de historia natural do campo. A instrução ocorreria por meio de conversações e durante passeios pelo campo. O educador levaria seus alunos em viagens para estudo. Eles próprios experimentariam o contato com os costumes dos povos visitando lugares históricos.

Percebe-se que Rivail estava falando de sua infância e da influência que recebeu do meio em sua obra. O educador descrevia nada menos que sua infância em Burg-en-Bress.

Sua pedagogia direciona o educador para proporcionar às crianças, desde cedo, ideias sobre história natural, física e química. Coisas como estátuas, quadros, plantas, animais e fenômenos da natureza que poderiam testemunhar, até mesmo uma pedra, interessam ao universo do educando. A atenção da criança está desperta. Por suas perguntas é possível tirar partido de sua inteligência e com ela lidar convenientemente para torná-lo autônomo. Não seria outra a proposta do espiritismo.

Pelas ideias depositadas em sua obra como educador francês é possível perceber a influência e as características de sua terra natal na sua formação acadêmica. Em 1834, Rivail escreveu que é importante fixar a atenção da criança sobre o que se passa à sua volta, a fim de que ela perceba o que vê, o que ouve e o que faz. Forçando-a a pensar, tudo será natural e terá explicações simples, tudo se compreendendo através da razão.

O educador, portanto, idealizava uma postura autônoma para a criança, a fim de que estivesse pronta para exercer a crítica diante de qualquer área. Estimulada à aquisição do conhecimento, sempre que estiver diante de evidências novas, por estar sempre pronta a aprender, a criança manteria sempre uma mente aberta. 

Rivail (1834) desejou, ainda, que a criança conheça o movimento dos astros e que seu espírito penetre no espaço e, assim, ela não será indiferente a tudo que maravilha o seu olhar, como fazem os brutos. Não acreditará em almas do outro mundo, nem em fantasmas, não acreditará em ledores de sorte, não verá no movimento dos astros qualquer presságio de funestos acontecimentos, enfim, seu espírito se alargará contemplando o espaço imenso e sem limites.

Bem antes de tornar-se o Codificador do Espiritismo, Rivail já apresentava ideias lúcidas sobre algo que poderíamos chamar: um estilo de vida.

(Continua)

Uberaba-MG, 24 de maio de 2021.

Beto Ramos


Bibliografia:

FIGUEIREDO, Paulo Henrique. Revolução Espírita - A teoria esquecida de Allan Kardec. São Paulo (SP): Maat, 2016.

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