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sexta-feira, 12 de agosto de 2022

DEVERES DE FAMÍLIA: ESPIRITUALISMO RACIONAL E ESPIRITISMO.

Certamente o espírita irá se recordar que há uma dissertação interessante ditada pelo Espírito Santo Agostinho na obra O Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo XIV - Honra a Teu Pai e a Tua Mãe, cujo tema A Ingratidão dos Filhos e os Laços de Família, entre outros assuntos, solicita a compreensão do grande papel da humanidade quando um corpo é gerado.

O Espírito recorda que o objetivo da alma que vem do mundo espiritual e reencarna em um corpo é o progresso. Nesse passo, adverte-se que é preciso que cada um tome conhecimento dos próprios deveres, pois, trata-se de uma missão auxiliar aquela alma.

Quais são esses deveres? São os deveres relativos à educação que deve ser dada ao Espírito que reencarna, tendo como meta o aperfeiçoamento do mesmo, bem como sua felicidade futura.

Eis, então, o ponto que nos interessa. Mas, antes, vamos, rapidamente, recordar que na Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita, no item I de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec explica que "como especialidade 'O Livro dos Espíritos' contém a Doutrina Espírita; como generalidade liga-se ao Espiritualismo, do qual apresenta uma das fases. Essa razão porque traz sobre o título as palavras: Filosofia Espiritualista".

Dito isto, voltemos ao tema proposto nesse artigo, vejamos se, de fato, a questão referente aos deveres dos pais foi tratada em obras e dissertações dos filósofos espiritualistas. Nesse sentido, trazemos à colação o desenvolvimento desse tema pelo filósofo e escritor francês Paul Alexandre René Janet na obra Pequenos Elementos da Moral. Nela o autor trata dos deveres da família e disserta sobre as seguintes relações: do marido e da mulher; dos pais com os filhos; dos filhos com os pais; e, dos filhos entre si. Lembrando que essa obra veio a lume no século 19.

São destacados na obra os seguintes deveres que decorrem dessas relações: conjugal; paternal/maternal; filial; fraternal. Ainda, segundo Paul Janet, nessa relação familiar, há uma quinta classe de deveres: a domesticidade (patrões e empregados e vice-versa).

Indo direto ao ponto, quais são os deveres dos pais? Diz Paul Janet: ao educar os filhos, os pais devem tudo fazer para que não haja duas espécies de comandos contraditórios, mas apenas um único e mesmo poder manifestado na sua essência. Na sua investigação Paul Janet afirma que os pais conduzem os filhos em razão das seguintes necessidades deles: fraqueza da criança; impotência física; incapacidade intelectual; incapacidade moral.

O filósofo ainda afirma algo maravilhoso: não há direito de vida e morte sobre os filhos, pois o poder paterno tem origem no interesse da criança. Destarte, todos os deveres dos pais, segundo ensina Paul Janet, voltam-se para uma FORMAÇÃO DO CARÁTER, ou seja, para EDUCAÇÃO MORAL.

Vamos perceber que esse autor não aquiesce com a heteronomia, isto é, a educação moral heterônoma que prevê castigos físicos no processo de educação para os pais.

Por fim, demonstrando a ligação entre espiritismo e espiritualismo racional, vamos encontrar nessa obra de Paul Janet, as seguintes informações sobre a educação moral das crianças: a instrução é para o Espírito e a educação é para o caráter.

A instrução tem como efeito útil aumentar os recursos do indivíduo tornando-o apto à diversas coisas; trata-se de um capital. Além disto, eleva e enobrece a natureza humana. É a razão que diferencia o ser humano do animal; o esclarecimento estende e realça a razão. Em Paul Janet, a instrução não se confunde com a educação moral ao iluminar a razão e, por isso, é parte dela.

A formação do caráter não se faz só pela ciência, mas pela persuasão, autoridade, exemplo e pela ação moral em todos os instantes. Assim sendo, educação combina energia, doçura, constrangimento e liberdade.

Concluindo. Para Paul Janet, criar uma criança pelo temor é compará-la a um animal, mas não se deve ter fraqueza excessiva. Portanto, nem autoridade despótica e nem fraqueza em excesso.

Estas são as considerações que apresentamos para a meditação do leitor quanto aos deveres da família, as proposições do espiritismo e as proposições da filosofia espiritualista. Queremos saber a sua opinião. Deixe um comentário e acrescente informações, sugestões e críticas.

Até o próximo artigo.

Uberaba-MG, 12/08/2022.
Beto Ramos.

quinta-feira, 7 de abril de 2022

VIGIAR E PUNIR X ORAR E VIGIAR

 


Desde tempos imemoriais, as sociedades buscaram desenvolver sistemas judiciários e coercitivos para a defesa de direitos privados e públicos. Foi assim que, julgando tais sistemas adequados e necessários, puniam aqueles que consideravam injustos agressores por meios vários.


Processos punitivos variados, desde a violência física, onde o corpo do indivíduo era supliciado de maneiras cruéis e terríveis até que se chegou nos sistemas penitenciários dos tempos modernos.

Os injustos agressores, conforme o sistema legal primitivo, eram agredidos como medida de justiça. Na prática, era a replicação da lei de talião, expressão que é, na verdade, a corruptela da lei do 'tal e qual': 'olho por olho, dente por dente'.

Até Deus era usado para fundamentar esse sistema de castigos. Alegava-se que o motivo dos suplícios físicos era a salvação da alma do infrator. Perceba a presença da moral heterônoma. O castigo ou a recompensa é externa. O comportamento individual é determinado por 'vontades' externas ao indivíduo. Alguma coisa como 'vontade da maioria' em detrimento da 'vontade individual'.

Chegados ao século 21 permitimo-nos refletir:

- A humanidade está regenerada? Os indivíduos compreenderam como devem agir em relação uns com os outros? Há fraternidade e solidariedade imperando entre povos e nações do mundo? O sistema de castigo e recompensa impediu que os indivíduos desenvolvessem vícios e fossem arrastados por suas paixões? A educação individual se traduz na inclusão do outro?


A CURA PELA EDUCAÇÃO

Parece que a sociedade ainda não se libertou das amarras à tensão entre heteronomia e autonomia, ou moral exterior e moral da liberdade, que em última síntese é o mesmo que: vigiar e punir (leis humanas) x orar e vigiar (leis divinas).

Em que pese, no campo do direito penal, mudar expressões como 'castigo de delinquentes' para 'recuperação de infratores', ou 'punir criminosos' para 'readaptar delinquentes', fazendo crer que o objetivo, nos dias atuais, é tratar esses indivíduos obedecendo os princípios de dignidade e liberdade humanas, a sociedade não logrou êxito nas suas medidas correcionais contra criminosos.

Como base para nossa meditação, pedimos vênia para transcrever parte do texto desenvolvido por Kardec e os Espíritos Superiores na questão 685 de O Livro dos Espíritos, verbis

"[...] há um elemento, que se não costuma fazer pesar na balança e sem o qual a ciência econômica não passa de simples teoria. Esse elemento é a educação, não a educação intelectual, mas a educação moral. Não nos referimos, porém, à educação moral pelos livros e sim à que consiste na arte de formar os caracteres, à que incute hábitos, porquanto a educação é o conjunto dos hábitos adquiridosConsiderando-se a aluvião de indivíduos que todos os dias são lançados na torrente da população, sem princípios, sem freio e entregues a seus próprios instintos, serão de espantar as consequências desastrosas que daí decorrem? Quando essa arte for conhecida, compreendida e praticada, o homem terá no mundo hábitos de ordem e de previdência para consigo mesmo e para com os seus, de respeito a tudo o que é respeitável, hábitos que lhe permitirão atravessar menos penosamente os maus dias inevitáveis. A desordem e a imprevidência são duas chagas que só uma educação bem entendida pode curar. Esse o ponto de partida, o elemento real do bem-estar, o penhor da segurança de todos".

Que possamos preparar mentes e corações para o conhecimento dessa arte; que, verdadeiramente, seja objeto de nossas investigações a compreensão e a prática da mesma. O mundo não mudará por meio de milagre, coisas místicas ou sobrenaturais. Também não vai mudar com base em regras e estratégias humanas, onde alguns se arvoram em autoproclamarem-se divindades.

A verdadeira mudança inicia-se a partir de uma educação bem entendida. A humanidade está doente.

A educação é a cura.

Uberaba-MG, 07/04/2022.
Beto Ramos.

quarta-feira, 6 de outubro de 2021

EXPIAÇÃO E PROVA NO ENSINO DOS ESPÍRITOS



O que é o Espiritismo?

Qual classificação o Espírita adotará?


Allan Kardec classifica a Doutrina Espírita como uma ciência da observação. Parte do movimento espírita brasileiro adota tese de que se trata de uma religião. E, uma parte desta parte, fundamenta o aspecto religioso numa interpretação livre de um artigo de Kardec sobre a questão na Revista Espírita de Dezembro de 1868. Outros também usam a opinião do Espírito Emmanuel na obra O Consolador.

No entanto, uma concepção contrária à classificação de Kardec implica na tensão permanente entre várias ideias acerca de temas doutrinários importantes. Por exemplo, começamos pela diferença clara entre o conceito de fé racional e fé religiosa.

No capítulo 19, item 7 de O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec traz o conceito de fé racional, que precisa ser lida conforme o preâmbulo da obra O Que é o Espiritismo onde há a definção de Espiritismo. Em 1868, na Revista Espírita de Dezembro, deixa claro porque o Espíritismo NÃO é uma religião.

Não admitindo o dogma da 'fé cega' e cultos de qualquer natureza, o Espiritismo não valida as práticas que se traduzem em verdadeiros cultos como se observa na atualidade de muitos grupos denominados espíritas. Para demonstrar as dificuldades que um concepção equivocada provoca trazemos uma tensão bastante comum: o livre-arbítrio preconizado na Doutrina Espírita e a ideia da "reencarnação compulsória".


Quanto ao livre-arbítrio, o Espiritismo preconiza que o ser humano possui um círculo onde pode se mover livremente. Esse movimento é limitado pelas Leis Naturais (Rev. Esp., PDF, FEB, 1866, pg. 214). No entanto, é preciso ter em conta a lei moral do progresso, que mostra que o ser humano é quem se coloca em condições de ampliar esse seu círculo de ação.

É importante recordar que, segundo o Espiritismo, o objetivo da encarnação é colocar o Espírito em condições de suportar a parte que lhe toca na obra da criação (Q. 132, LE). Durante esse processo, acertando e errando, o Espírito poderá ser tanto um Espírito de um assassino arrependido (Rev. Esp., Março de 1858) quanto o Espírito de endurecido de uma rainha (Rev. Esp., Março de 1858).

O certo é que há meios, conforme as Leis Naturais, para  provocar que o Espírito escolha uma existência que lhe servirá ao progresso. No processo de escolha poderá haver uma intervenção natural quando o Espírito, por inferioridade ou má vontade, está incapaz de compreender o que lhe será mais útil.

Veja que trata-se dos casos onde o Espírito ignora o objetivo preconizao da encarnação dos Espíritos (melhoramento). É que, muitos desconhecem o fato de que são as tribulações e as vicissitudes que despertam sua inteligência e provoca o seu avanço.

A encarnação (Q. 132, LE) constitui o meio adequado para o Espírito adquirir conhecimentos e progredir, e, também para reunir as condições necessárias que propiciam ampliar o leque de escolhas. Nessa situação o Espírito experimenta uma espécie de relativização do seu livre-arbítrio. 

Não por pena ou castigo, mas porque é impossível burlar a Lei Natural da reencarnação (Q. 262 e 262.a, LE). Os endurecidos e os ignorantes precisam de auxílio para fazer UMA ESCOLHA com conhecimento de causa (item 8, cap. 5, ESE). É um processo educativo. A escolha não deixa de ser feita pelo Espírito e não há suspensão do livre-arbítrio. Ele apenas recebe a ajuda de Espíritos mais experientes e, assim, adquira condições necessárias para fazer uma escolha com conhecimento de causa.

Chegamos à questão: não está aí o processo da reencarnação compulsória? Esse termo está presente em algumas obras mediúnicas. A ideia central por trás da compulsoriedade é que reencarnação serve para 'pagamento de débitos oriundos de vidas passadas'. Se foi mal é castigado com uma reencarnação rude e se foi bom a reencarnação é como uma recompensa. Isso é fruto daquela compreensão do Espiritismo como religião.

Tanto pior quando busca-se reconhecer um caráter/aspecto híbrido ao Espiritismo: ao mesmo tempo ciência e religião. É o que se percebe quando se verifica a explicação de que a compulsoriedade decorre da causa, que seria a ação do Espíritos, a qual resulta no efeito: a reação

Mas essa não é a tese espírita. O Espiritismo preconiza que o Espírito reencarna em um gênero de prova que lhe seja útil, sempre com conhecimento de causa. Quando não possui elementos para escolher é AUXILIADO nesse processo. Não é nada compulsório, uma vez que "Deus sabe esperar, não precipita a expiação" (Q. 262.a, LE). Na prática, os Espíritos reencarnam para aprender a fazer escolhas certas. No processo, erra bastante e aprende muito.

Pensando em como Allan Kardec classifica o Espiritismo (ciência ou religião) tem-se a premissa para julgar os fatos. Convidamos para avançar na reflexão e observar os apontamentos seguintes.

A construção teórica sobre a encarnação e as leis naturais no Espiritismo não reflete a ideia de que os Espíritos estão sujeitos a sofrer essa ou aquela situação reencarnatória como um castigo ou reprimenda (essa tese religiosa é totalmente refutada na Obra O Céu e o Inferno). Depreende-se que o Espírito é instruído a fazer uma escolha com conhecimento de causa, na modalidade colegiada, como fundamentado acima.

Isso somente ocorre quando o Espírito não reúne condições para fazer a melhor escolha, pois, em regra "sua atenção estando incessantemente voltada para as consequências desse mal, ele compreende melhor os inconvenientes do seu procedimento e é levado a corrigir" (As penas futuras segundo o Espiritismo, item 7, OCI).

A tensão provocada pela classificação atribuída ao espiritismo, se ciência ou religião, pode conduzir ao erro de se adotar a posição de um Espírito em detrimento de princípios doutrinários. É o caso de se pensar na compulsoriedade de uma reencarnação tendo como premissa uma dívida passada. Isso, não só relativiza o livre-arbítrio, mas o anula.

É que o Espiritismo se fundamenta num conjunto harmônico de princípios em que um não anula o outro. A reencarnação proporciona ao Espírito os meios para sua evolução, contínua e perpétua, o que ocorre nas sucessivas reencarnações, por meio das escolhas do seu lívre-arbítrio e numa variedade de habitações cósmicas.

O que fazer quando se está diante de uma informação diferente da tese Espírita? É necessário verificar se o Espírito que trata do assunto traz uma opinião pessoal ou não. Para tanto, Kardec criou e indicou um método de análise das comunicações quando estas se referirem à questões de interesse geral ou doutrinárias, conforme a figura a seguir:


O tema reencarnação compulsória está presente em obras do Espírito André Luiz. Sem faltar com respeito ao Espírito, mas em razão da argumentação que sustentamos nesse artigo, importa destacar que, segundo o Espírito Emmanuel  no prefácio da obra Os Mensageiros, há uma sugestão para receber as informações de André Luiz como opiniões pessoais. Emmanuel usa o exemplo de um chimpanzé guindado ao palácio, que fala sobre o palácio, as pessoas e os costumes para os outros chimpazés que ficaram na floresta. Suas informações serão fruto da sua compreensão de chimpanzé, sem qualquer salto evolutivo.

Para esses casos convem usar sempre o método de Kardec para conferir autoridade à doutrina espírita que, não sendo concepção puramente humana e nem transmitida por um único Espírito, carece de controle da sua universalidade. O controle universal do ensino dos Espíritos (O Evangelho Segundo o Espiritismo) é o meio pelo qual se observa a força do Espiritismo. Trata-se de uma maneira de afastar a imprudência de aceitar uma opinião pessoal.

O que tudo isso tem a ver com a definição de expiação e prova segundo o ensino dos Espíritos? A concepção que se faz do Espiritismo, se religião ou ciência, faz toda a diferença na compreesão dos institutos ora tratados. A aceitação cega sem aplicação do método de Kardec para informações provenientes do mundo espiritual está atrelada à essa concepção. Toda a inferência acima sobre a tensão entre livre-arbítrio e reencarnação compulsória nos conduz a esse tema. Vejamos!

Partindo da teoria espírita chega-se a um resultado racional, o que não é possivel a partir de uma concepção religiosa. Ainda que sob a argumentação de que a fé, agora, é racional. Pela concepção religiosa expiação e prova se tornam subproduto da lei de causa e efeito, que desagua noutra: a de ação e reação.

Diante da tensão, é necessário perguntar:
a. Há lei de causa e efeito no Espiritismo?
b. Nesse caso, os Espíritos são regidos por uma lei de karma ou destino?

Kardec define causa e efeito n'O Evangelho Segundo o Espiritismo como um axioma e não como uma lei (cap. 5, item). Um axioma é usado para explicar o que é indemonstrável, como DEUS e a CRIAÇÃO, por exemplo.

  • Sendo causa e efeito um axioma que explica o indemonstrável, não haverá presença de regularidade para o objeto que se quer explicar.
  • Se não é regular, não é lei. A lei é aquilo que define as relações constantes que existem entre fenômenos naturais. Lei se traduz em regra.

A evolução do Espírito está atrelada ao seu progresso intelecto-moral. A moral, objeto de estudo do Espiritismo, está muito bem definida pela Doutrina Espírita (Q. 629, LE). Em se tratando de moral, nada advém do mundo exterior, a não ser o conhecimento proveniente da relação que com ele se estabelece por meio dos sentidos físicos durante a encarnação.

É preciso considerar que, quanto às questões de moral, tudo se impõe ao Espírito por meio de sua razão, de sua consciência ou por determinadas condições ou circunstâncias. Os Espíritos, segundo o Espiritismo possuem liberdade de fazer as próprias escolhas. Nesse caso, a "causa e o efeito" só poderá ser consequência do uso do livre-arbítrio individual.

Indagamos: é regra que qualquer Espírito que faça a escolha 'a' obtenha o resultado 'b'? A resposta sensata, lógica e razoável é não.

Não se deve confundir a causa e efeito (axioma filosófico) com ação e reação (lei da física). O comportamento humano (agir conforme ou não com as leis da natureza) é resultado do conhecimento adquirido, de sua compreensão de bem e mal, das condições e circuntâncias que esteja diante, da consciência ou não dos atos segundo o conhecimento adquirido e da  sua compreensão deste.

Os Espíritos que procuram nova existência avaliam suas vidas anteriores, quais os erros cometidos e qual imperfeição é a causa dos seus sofrimentos. Estuda o que poderá lhe ajudar a não cometer essa ou aquela falta. Busca provas e expiações que acredita apropriadas ao seu adiantamento e se instrui junto a Espíritos que lhe sejam superiores (Q. 393, LE).

Há uma divisão entre prova e expiação? Segundo o Espiritismo não. Todos os problemas enfrentados na encarnação são oportunidades para corrigir erros passados, ao passo que são provas para o futuro. Tudo é aprendizado e não há uma regra absoluta para Espírito algum. Para induzir a uma possível identificação do gênero de existência precedente de um Espírito é mais seguro estudar suas tendências instintivas do aquilo que se julga ser a prova ou a expiação (Q. 399, LE).

Segundo anota Kardec o julgamento sobre o que fomos e o que fizemos está na esfera individual, isto é, um juízo do próprio Espírito encarnado (nota de Kardec à Q. 399). O que é util para o progresso do Espírito é o seu próprio estudo das imperfeições morais que precisa corrigir e não as físicas.

Por que o julgamento do outro é falho? Porque não há regras absolutas.

Há expiações que são frutos da existência atual que o Espírito experimenta. A ação humana tem como princípio o ato do dever. Trata-se da obrigação moral da criatura para consigo mesma primeiramente e, depois, para com os outros (O dever, Lázaro, ESE). O dever íntimo fica entregue ao livre-arbítrio e é regido pela consciência que, por vezes, é impotente diante das paixões. Ceder a elas não é nada anormal, mas parte do processo evolutivo.

A natureza moral do ato do dever exige que seja livre, consciente e racional da vontade. Essa atuação habitual se torna virtude e é esse o alvo que o Espírito busca atingir. Prova e expiação só podem resultar de escolhas livres do Espírito baseadas nos limites estabelecidos pelas Leis Naturais.

Expiação e prova são faces da mesma moeda. A primeira consequência de uma falta é reconhecê-la como tal. A partir daí o Espírito passa a desejar corrigir a imperfeição que lhe conduz a cometer a falta. Essa compreensão é fruto do estudo de si mesmo.

A expiação consiste em atravessar situações semelhantes a outras que já se experienciou, mas que sucumbiu ao erro. A prova está relacionada com o proveito que se almeja com o gênero escolhido, bem como da maneira como se suporta uma expiação.

Pode se afirmar que toda expiação é uma prova, mas, nem toda prova uma expiação. A causa dos males suportados pelo ser humano na terra está nele mesmo e resultam de suas imperfeições.

O caráter essencial da expiação reside na escolha livre do Espírito por uma existência que o auxilie a corrigir as imperfeições já reconhecidas, mas que ainda favorecem cometer erros.

O objetivo da expiação e da prova é o melhoramento do Espírito (Lei de Progresso). Para tanto, é preciso reconhecer o erro, arrepender, reparar e, então, expiar.

Se a forma de conceber a Doutrina dos Espíritos guardar relação com a concepção religiosa, prova e expiação guardará semelhança com castigo e recompensa. Com a ideia de céu e inferno. Porque as religiões compreendem um Deus antropomórfico que julga o indivíduo e lhe aplica, também, individualmente,  um castigo ou lhe dá uma recompensa. A moral, nesse caso é heterônoma. Dita-se um conjunto de regras que devem ser seguidas com a mediação de indivíduos que se tornam a voz do céu na Terra. Desta forma, nenhum mérito tem o Espírito, posto que está compelido por fatores exteriores e nunca movido pelo ato do dever livre, consciente e racional da vontade.

Se o Espiritismo for concebido como ciência, como preconiza Allan Kardec, prova e expiação assume o caráter pedagógico, de cunho individual, onde o ser, orientado pelas Leis Divinas, vai agindo, fazendo, não fazendo, tentando, errando e acertando, por meio de suas escolhas livres, que lhe proporcionará colher delas os seus frutos. A moral é autônoma. E a boa conduta é uma decisão individual do Espírito. Não há intermediário entre o indivíduo e Deus. Quando agir fazendo o bem, visando o bem de todos, foi movido por sua consciência em assim proceder. As regras que regem sua conduta são as Leis Divinas ou Naturais, mediadas pela compreensão que delas já atingiu.

Uberaba-MG, 05/10/2021.
Beto Ramos.

Fontes:
Kardec, Allan. Evangelho segundo o sspiritismo.
Kardec, Allan. O livro dos espíritos.
Kardec, Allan. O que é o espiritismo.
Kardec, Allan. O livro dos Médiuns.
Kardec, Allan. O céu e o inferno.
Kardec, Allan. Revista espírita.
Xavier, Francisco Cândido. Emmanuel. O consolador.
Xavier, Francisco Cândido. André Luiz. Missionários da Luz.
Xavier, Francisco Cândido. André Luiz. Nos Domínios da Mediunidade.
Xavier, Francisco Cândido. André Luiz. Ação e Reação.

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