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domingo, 11 de setembro de 2022

A NOVA GERAÇÃO E AS IDEIAS HUMANITÁRIAS

"Quanto mais uma ideia é grandiosa, mais encontra adversários, e pode-se medir sua importância pela violência dos ataques dos quais seja objeto". (A Gênese)

Exemplos não faltam para que sejamos céticos quanto à regeneração da humanidade. Mas, o Espiritismo anuncia que 'a nova geração marchará para a realização de todas as ideias humanitárias compatíveis com o grau de adiantamento ao qual tenha chegado' (A Gênese, 1868 [FEAL, 2018], pg. 406).

Ocorre que o Espiritismo não criou a denominada 'renovação social'. Na verdade, se trata de uma necessidade humana. Todavia, a Doutrina Espírita traz em si um poder moralizador, em razão da suas tendências progressivas, sua elevação de propósitos, bem como pela generalidade das questões que abraça.

Nesse sentido, o papel do Espiritismo será secundar o movimento regenerador. Isto não quer dizer que todos deverão professar a Doutrina Espírita. Pelo contrário. O propósito da nova geração, isto é, realizar todas as ideias humanitárias, demonstra que avançam para o mesmo alvo.

Espíritas e não espíritas da nova geração, buscando realizar seus objetivos, vão se [re]encontrar no mesmo terreno. Destarte, a parcela da humanidade favorável ao progresso, encontrará nas ideias espíritas um poderoso recurso. O Espiritismo, ao seu turno, encontrará pessoas renovadas e dispostas a aceitar suas ideias.

Na verdade, trata-se de um terreno devidamente preparado e fecundo para receber as ideias que se encontram no Espiritismo. Cada vez mais, em todos os campos e em todas as áreas,  mais se falará de autonomia, liberdade e moral. Não a moral ditada por certos grupos, cujo objetivo é a manutenção de poder e dos próprios interesses, mas a boa conduta externada no agir no bem e para o bem do outro em detrimento do próprio (L.E., Q. 629).

Sem dúvida, atualmente, os refratários parecem constituir número maior do que realmente representam. A verdade é que são, realmente, mais barulhentos. Gritam que são detentores de qualidades que estão longe de adquirir; berram que não possuem péssimos hábitos, os quais insistem em  se mostrar provando quem realmente são; Atacam exclamando que as ideias progressistas são, de seu ponto de vista, subversivas e, como escreveu Kardec, 'por isso dedicam a elas um ódio implacável e lhe fazem uma guerra obstinada' (idem, pg. 407).

Essa turba, em verdade, constitui o grande número dos retardatários. No entanto, nada podem contra essa 'onda que sobe, [..] que se ergue, ao passo que eles desaparecem com a geração que se vai a cada dia a largos passos' (idem, pg. 407).

Que fará essa turba? Lançar algumas pedras, defender seu pequeno terreno, lutar...

Mas, a luta que travam é desigual, esses retardatários representam um 'passado decrépito que cai em trapos contra o futuro jovem'. (idem, pg. 408). Trata-se, por fim, a luta da estagnação contra o progresso. Em espiritismo o progresso é uma lei imutável. Dele não há quem escape. Eis que os tempos assinalados são chegados.

Uberaba-MG, 11/09/2022.
Beto Ramos.

segunda-feira, 20 de junho de 2022

O AGENTE MORAL, SUAS PAIXÕES E VÍCIOS.

 

Retomando a ideia a partir do nosso último artigo, é importante ter sempre em mente que os caracteres humanos não são imutáveis. Todos estão sujeitos a inclinações boas ou más. LIBERDADE é FORÇA MORAL. Há uma NATUREZA EXTERIOR AO CORPO que provoca ou desperta PAIXÕES. As paixões se tornam HÁBITOS e influenciam no CARÁTER. Deste, advém os IMPULSOS, que tudo move sem ser movido.

A liberdade está em ceder ou não aos desejos e controlar ou não os impulsos. Todo AGENTE MORAL é LIVRE e, por isso, RESPONSÁVEL POR SUAS AÇÕES. Todavia, há condições para a responsabilização moral. Trata-se do conhecimento do bem e do mal e da liberdade de ação.

Nesse caso, seria lícito questionar quem é o agente moral. Seria apenas aquele que escolhe fazer o bem? Aquele que não dá vasão aos seus impulsos? Compreendemos que a condição que se deve observar no agente moral é: trata-se de uma alma encarnada livre? Isto é, uma alma encarnada que pode fazer escolhas?

O verdadeiro agente moral é aquele que está sujeito às inclinações boas ou más, que possui liberdade para escolher e que, finalmente, poderá ser responsabilizado pelos seus atos. Destarte, ninguém será punido em razão de ter agido coercitivamente (alguém o obriga a fazer ou deixar de fazer alguma coisa), tampouco aquele que agiu ou não por ignorância (faz ou deixa de fazer alguma coisa desconhecendo quaisquer resultados).

Assim sendo, o agente moral é todo aquele passível de ser responsabilizado moralmente. O julgamento/juízo é interno/íntimo e supõe exame de consciência, a qual carece estar desperta e o indivíduo não poderá estar no estado de inocência. A sanção (penalização) para o agente moral depende, então, de o mesmo possuir conhecimento do bem e do mal e ter liberdade de ação entre um e outro (fazer/não fazer o bem; fazer/não fazer o mal).

Corrigir maus hábitos e dominar suas paixões são empreendimentos do agente moral. Demanda esforço e vontade bem dirigida. Não há nenhum arrastamento que seja irresistível; é necessário que se tenha vontade de resistir. Essa resistência supõe o conhecimento de si mesmo. Então, como essas paixões se desenvolvem?

Segundo a Filosofia Espiritualista Racional, o processo dá-se da seguinte forma:

a. Afetos naturais e inevitáveis da alma:

  • inclinações;
  • tendências.

b. Movimentos violentos e desordenados:

  • paixões propriamente ditas.

c. Hábitos incorporados ao caráter:

  • vícios.

Vejamos o processo em que, partindo de afeto natural, passando pela paixão, chega-se ao hábito. O indivíduo tende, naturalmente, à conservação; trata-se do instinto de conservação. Por essa tendência desenvolve o amor à vida (natural).

Eis que, influenciado pelas circunstâncias, idade, doenças ou temperamento, o indivíduo exacerba o amor à vida. Por isso, desenvolve uma paixão: é o MEDO DA MORTE.

Finalmente, passa a não enfrentar nenhuma situação em face do medo que desenvolveu. Chegamos, portanto, ao hábito, isto é, o indivíduo desenvolveu a COVARDIA; O hábito se tornou um vício.

Outro exemplo que facilita a compreensão do processo é com relação à conservação natural. Para viver o indivíduo sente FOME e SEDE (são os apetites). Tudo deve ser saciado na justa medida. Se o indivíduo passa a comer e beber além da conta (abusa dos apetites) desenvolve paixões; Estas, por sua vez se transformam nos vícios da GULA e da EMBRIAGUÊS.

Os afetos naturais e inevitáveis são princípios importantes, que devem ser objeto de análise constante do indivíduo. A Filosofia Espiritualista Racional oferece o seguinte quadro: 

PRINCÍPIOS

VÍCIOS

Amor a si

Egoísmo

Estima p/ si mesmo

Orgulho e vaidade

Amor à liberdade

Espírito de revolta

Amor ao poder

Ambição

Instinto de propriedade

Avidez, cupidez, paixão pelo ganho

Paixão pelo jogo ou desejo de ganhar por meio do azar

Desejo de ganhar + temor de perder = avareza

Existem, também, as inclinações relativas a outros indivíduos, que precisam ser observadas para que NÃO caminhem para o campo dos vícios: 

PRINCÍPIOS

VÍCIOS

Desejo de agradar ou benevolência   

Complacência

Desejo de elogiar

Adulação

Desejo de estima

Hipocrisia

As paixões e os vícios são doenças da alma. A cura é apenas o querer. A dificuldade reside na ocupação da alma com a paixão. Nesse caso, é preciso desviar o espírito para outros objetos. Bossuet, citado por Paul Janet, ensina que "não se detém o curso do raio, mas, dele é possível desviar". É preciso que o indivíduo desvie sua atenção. Aquele que se nutre desde cedo com afeições honestas tem maior chance de vencer uma paixão.

Há, segundo a Filosofia Espiritualista Racional, meios de substituir um mal hábito por um bom hábito:

1. Se jogar na extremidade oposta do defeito; Encontrar o equilíbrio na elasticidade razoável e natural do objeto; Ficar atento para não recair no vício;

2. Evitar começar tarefas muito difíceis. Proceder gradualmente e segundo as próprias forças para vencer no empreendimento de substituição; É sabido que a preguiça não se cura com trabalho excessivo, mas sim um pouco a cada dia, até adquirir o hábito do trabalho;

3. Escolher a ocasião para adquirir a virtude nova, buscando a disposição íntima e exercitar a energia da vontade.

4. Não confiar que o mau pendor foi vencido em definitivo; Fazer exame de consciência, se ocupar com boas leituras, meditar, estar em boas companhias, escutar bons conselhos e escolher um grande modelo.

No próximo encontro vamos conversar sobre os deveres e suas classes. Até lá.

Uberaba-MG, 20/06/2022
Beto Ramos

FONTE BIBLIOGRÁFICA: JANET, Paul. Pequenos Elementos da Moral. Edição do Kindle (Amazon).

segunda-feira, 13 de junho de 2022

A AUTONOMIA É VERDADEIRA SE O INTERESSE NÃO É PESSOAL

 

Superado o estado de inocência ou desperto do sono da consciência, o indivíduo enfrenta o combate moral por excelência: a luta entre o DEVER e a PAIXÃO. Possuindo o necessário discernimento entre o que é bom ou mal chega o período em que as ações humanas vão repercutir na condição de sentimento moral. São as emoções ou afeições diversas. Trata-se dos prazeres ou dores que nascem na ALMA.

Sempre considerando o hábito ou a violência do desejo é preciso compreender que o ser humano age para fazer e, nesse sentido, possui, na consciência, a atração para o bem e a aversão para o mal. Portanto, após uma ação realizada, haverá um prazer, isto é, uma satisfação moral, desde que a ação seja boa. Por outro lado, o indivíduo experimentará o remorso e o arrependimento quando agiu mal. É um sofrimento.

O sofrimento moral é uma espécie de castigo em razão do crime. Nesse sentido, todo vício (resultado das más ações que se tornaram hábito a que o indivíduo se condicionou) cria um arrependimento na alma. O arrependimento é um sofrimento que nasce de uma má ação, como já afirmado, pois, arrepender-se é quase uma virtude. O arrependimento é compreendido como uma tristeza da alma. O remorso, por sua vez, também nasce de uma má ação, mas, configura-se como castigo, pois, acorre todo o tempo no pensamento do indivíduo, de forma que o tortura. Trata-se de uma angústia.

Isto posto, é importante salientar:  aquele que não tem remorso, não pode se arrepender. Quem comete uma ação boa sente uma satisfação moral, ou seja, é paz e alegria, viva e deliciosa emoção. É como uma recompensa, ela nasce do sentimento de se ter cumprido o dever.

Diante disto, temos:

1. O agente moral é a alma encarnada.

2. Um agente LIVRE; Que pode ESCOLHER POR SUA VONTADE.

3. A escolha se dará entre fazer ou não fazer o bem, fazer ou não fazer o mal.

Para se compreender perfeitamente o que é uma escolha livre, é preciso julgar a INTENÇÃO. É que não se pune o que é feito por coerção ou por ignorância. Por isto, o indivíduo não pode estar nem no estado de inocência, nem no sono da consciência. A LIVRE ESCOLHA sempre supõe a RESPONSABILIDADE.

Os caracteres humanos não são imutáveis. Todos estão sujeitos a inclinações boas ou más. LIBERDADE é FORÇA MORAL. Há uma NATUREZA EXTERIOR AO CORPO que provoca ou desperta PAIXÕES. As paixões se tornam HÁBITOS e influenciam no CARÁTER. Deste, advém os IMPULSOS, que tudo move sem ser movido. A liberdade está em ceder ou não aos desejos e controlar ou não os impulsos.

Todo AGENTE MORAL é LIVRE e, por isso, RESPONSÁVEL POR SUAS AÇÕES. Todavia, há condições para a responsabilização moral. São elas:

a. Conhecimento do bem e do mal;

b. Liberdade de ação.

Ora, variando as condições, a responsabilidade varia na mesma proporção. Chega-se, então, no campo da sanção moral, isto é, o conjunto de penas ou recompensas vinculadas à execução ou à violação de uma lei. Mas, que se deve entender por recompensas e punições?

Quando se afirma que obras que trazem hipóteses de castigo e recompensa baseadas na concepção de religiões ancestrais, buscando as aproximar do espiritismo, estão equivocadas, é porque a base de compreensão destas expressões, encontradas nas obras de Allan Kardec, possuem conceitos diferentes.

Kardec não as conceituou nas obras Espíritas em razão de que já havia obras que fizeram esse trabalho. Essas obras foram produzidas pela Filosofia Espiritualista Racional. A seguir detalharemos com clareza a ideia, sendo perceptível que a interpretação da Obra O Céu e o Inferno, por exemplo, requer o conhecimento desse conteúdo. Vejamos:

1. Recompensa: prazer obtido após uma ação boa (ou virtuosa). É diferente de favor ou salário;

2. Castigo/punição: sofrimento infligido a um agente por uma má ação. É possível ser atingido sem ser punido.

Recompensas e castigos no campo da moral requer uma justa meditação sobre para e porque. Vejamos a seguir.

  • A recompensa e o castigo NÃO EXISTEM para que a LEI MORAL seja cumprida (até poderia ser um meio de conduzir ao bem e desviar do mal, mas, esta NÃO É SUA FUNÇÃO ESSENCIAL e nem a verdadeira ideia de castigo ou recompensa);
  • O castigo e a recompensa existem PORQUE a LEI MORAL foi cumprida ou violada. Trata-se de JUSTIÇA e não de UTILIDADE. O castigo requer reparação ou expiação.

Assim, o que assegura a execução da LEI MORAL é o ato ou a abstenção que CORRIGE sua VIOLAÇÃO. Essa correção acontece através da REPARAÇÃO OU DA EXPIAÇÃO.

Lembre-se que a ordem ou harmonia é perturbada pela VONTADE REBELDE. O sofrimento, por ter causado a desarmonia, é CONSEQUÊNCIA DA FALTA COMETIDA. Estamos tratando de vícios, atos injustos, portanto de doenças da alma.

É preciso compreender bem que não estamos no campo das sanções naturais, legais ou de opinião, mas da sanção interior, íntima. As sanções naturais são, por exemplo, as consequências naturais das ações (quem joga a água de um copo para cima e permanece em baixo, vai se molhar); As sanções legais são as estabelecidas nos códigos de leis penais, por exemplo (a sociedade tipifica o que é um crime e estabelece uma punição para seu cometimento); As sanções de opinião são aquelas que as pessoas praticam em detrimento dos que julgam ter cometido um mau ato (trata-se da censura, do desprezo, da aversão, etc.). No campo da moral, a sanção que importa é aquela que resulta da consciência (sentimento moral).

É desta maneira que podemos notar, a partir das lições do Espiritualismo Racional, que o ser humano PODE e DEVE aperfeiçoar o seu CARÁTER. Trata-se do aperfeiçoamento de si mesmo, isto é, corrigir os maus hábitos e dominar suas paixões. Isto demanda ESFORÇO e VONTADE bem DIRIGIDA. Nada seria obrigatório se não fosse possível. Deus não obriga ao IMPOSSÍVEL. Portanto, a autonomia só é verdadeira quando o interesse não é pessoal.

No próximo encontro vamos falar sobre as paixões. Convidamos para o estudo sério da Filosofia Espiritualista Racional, da qual o Espiritismo é uma das fases.

Uberaba-MG, 13/06/2022
Beto Ramos


FONTE BIBLIOGRÁFICA: JANET, Paul. Pequenos Elementos da Moral. Edição do Kindle (Amazon).

quarta-feira, 6 de outubro de 2021

EXPIAÇÃO E PROVA NO ENSINO DOS ESPÍRITOS



O que é o Espiritismo?

Qual classificação o Espírita adotará?


Allan Kardec classifica a Doutrina Espírita como uma ciência da observação. Parte do movimento espírita brasileiro adota tese de que se trata de uma religião. E, uma parte desta parte, fundamenta o aspecto religioso numa interpretação livre de um artigo de Kardec sobre a questão na Revista Espírita de Dezembro de 1868. Outros também usam a opinião do Espírito Emmanuel na obra O Consolador.

No entanto, uma concepção contrária à classificação de Kardec implica na tensão permanente entre várias ideias acerca de temas doutrinários importantes. Por exemplo, começamos pela diferença clara entre o conceito de fé racional e fé religiosa.

No capítulo 19, item 7 de O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec traz o conceito de fé racional, que precisa ser lida conforme o preâmbulo da obra O Que é o Espiritismo onde há a definção de Espiritismo. Em 1868, na Revista Espírita de Dezembro, deixa claro porque o Espíritismo NÃO é uma religião.

Não admitindo o dogma da 'fé cega' e cultos de qualquer natureza, o Espiritismo não valida as práticas que se traduzem em verdadeiros cultos como se observa na atualidade de muitos grupos denominados espíritas. Para demonstrar as dificuldades que um concepção equivocada provoca trazemos uma tensão bastante comum: o livre-arbítrio preconizado na Doutrina Espírita e a ideia da "reencarnação compulsória".


Quanto ao livre-arbítrio, o Espiritismo preconiza que o ser humano possui um círculo onde pode se mover livremente. Esse movimento é limitado pelas Leis Naturais (Rev. Esp., PDF, FEB, 1866, pg. 214). No entanto, é preciso ter em conta a lei moral do progresso, que mostra que o ser humano é quem se coloca em condições de ampliar esse seu círculo de ação.

É importante recordar que, segundo o Espiritismo, o objetivo da encarnação é colocar o Espírito em condições de suportar a parte que lhe toca na obra da criação (Q. 132, LE). Durante esse processo, acertando e errando, o Espírito poderá ser tanto um Espírito de um assassino arrependido (Rev. Esp., Março de 1858) quanto o Espírito de endurecido de uma rainha (Rev. Esp., Março de 1858).

O certo é que há meios, conforme as Leis Naturais, para  provocar que o Espírito escolha uma existência que lhe servirá ao progresso. No processo de escolha poderá haver uma intervenção natural quando o Espírito, por inferioridade ou má vontade, está incapaz de compreender o que lhe será mais útil.

Veja que trata-se dos casos onde o Espírito ignora o objetivo preconizao da encarnação dos Espíritos (melhoramento). É que, muitos desconhecem o fato de que são as tribulações e as vicissitudes que despertam sua inteligência e provoca o seu avanço.

A encarnação (Q. 132, LE) constitui o meio adequado para o Espírito adquirir conhecimentos e progredir, e, também para reunir as condições necessárias que propiciam ampliar o leque de escolhas. Nessa situação o Espírito experimenta uma espécie de relativização do seu livre-arbítrio. 

Não por pena ou castigo, mas porque é impossível burlar a Lei Natural da reencarnação (Q. 262 e 262.a, LE). Os endurecidos e os ignorantes precisam de auxílio para fazer UMA ESCOLHA com conhecimento de causa (item 8, cap. 5, ESE). É um processo educativo. A escolha não deixa de ser feita pelo Espírito e não há suspensão do livre-arbítrio. Ele apenas recebe a ajuda de Espíritos mais experientes e, assim, adquira condições necessárias para fazer uma escolha com conhecimento de causa.

Chegamos à questão: não está aí o processo da reencarnação compulsória? Esse termo está presente em algumas obras mediúnicas. A ideia central por trás da compulsoriedade é que reencarnação serve para 'pagamento de débitos oriundos de vidas passadas'. Se foi mal é castigado com uma reencarnação rude e se foi bom a reencarnação é como uma recompensa. Isso é fruto daquela compreensão do Espiritismo como religião.

Tanto pior quando busca-se reconhecer um caráter/aspecto híbrido ao Espiritismo: ao mesmo tempo ciência e religião. É o que se percebe quando se verifica a explicação de que a compulsoriedade decorre da causa, que seria a ação do Espíritos, a qual resulta no efeito: a reação

Mas essa não é a tese espírita. O Espiritismo preconiza que o Espírito reencarna em um gênero de prova que lhe seja útil, sempre com conhecimento de causa. Quando não possui elementos para escolher é AUXILIADO nesse processo. Não é nada compulsório, uma vez que "Deus sabe esperar, não precipita a expiação" (Q. 262.a, LE). Na prática, os Espíritos reencarnam para aprender a fazer escolhas certas. No processo, erra bastante e aprende muito.

Pensando em como Allan Kardec classifica o Espiritismo (ciência ou religião) tem-se a premissa para julgar os fatos. Convidamos para avançar na reflexão e observar os apontamentos seguintes.

A construção teórica sobre a encarnação e as leis naturais no Espiritismo não reflete a ideia de que os Espíritos estão sujeitos a sofrer essa ou aquela situação reencarnatória como um castigo ou reprimenda (essa tese religiosa é totalmente refutada na Obra O Céu e o Inferno). Depreende-se que o Espírito é instruído a fazer uma escolha com conhecimento de causa, na modalidade colegiada, como fundamentado acima.

Isso somente ocorre quando o Espírito não reúne condições para fazer a melhor escolha, pois, em regra "sua atenção estando incessantemente voltada para as consequências desse mal, ele compreende melhor os inconvenientes do seu procedimento e é levado a corrigir" (As penas futuras segundo o Espiritismo, item 7, OCI).

A tensão provocada pela classificação atribuída ao espiritismo, se ciência ou religião, pode conduzir ao erro de se adotar a posição de um Espírito em detrimento de princípios doutrinários. É o caso de se pensar na compulsoriedade de uma reencarnação tendo como premissa uma dívida passada. Isso, não só relativiza o livre-arbítrio, mas o anula.

É que o Espiritismo se fundamenta num conjunto harmônico de princípios em que um não anula o outro. A reencarnação proporciona ao Espírito os meios para sua evolução, contínua e perpétua, o que ocorre nas sucessivas reencarnações, por meio das escolhas do seu lívre-arbítrio e numa variedade de habitações cósmicas.

O que fazer quando se está diante de uma informação diferente da tese Espírita? É necessário verificar se o Espírito que trata do assunto traz uma opinião pessoal ou não. Para tanto, Kardec criou e indicou um método de análise das comunicações quando estas se referirem à questões de interesse geral ou doutrinárias, conforme a figura a seguir:


O tema reencarnação compulsória está presente em obras do Espírito André Luiz. Sem faltar com respeito ao Espírito, mas em razão da argumentação que sustentamos nesse artigo, importa destacar que, segundo o Espírito Emmanuel  no prefácio da obra Os Mensageiros, há uma sugestão para receber as informações de André Luiz como opiniões pessoais. Emmanuel usa o exemplo de um chimpanzé guindado ao palácio, que fala sobre o palácio, as pessoas e os costumes para os outros chimpazés que ficaram na floresta. Suas informações serão fruto da sua compreensão de chimpanzé, sem qualquer salto evolutivo.

Para esses casos convem usar sempre o método de Kardec para conferir autoridade à doutrina espírita que, não sendo concepção puramente humana e nem transmitida por um único Espírito, carece de controle da sua universalidade. O controle universal do ensino dos Espíritos (O Evangelho Segundo o Espiritismo) é o meio pelo qual se observa a força do Espiritismo. Trata-se de uma maneira de afastar a imprudência de aceitar uma opinião pessoal.

O que tudo isso tem a ver com a definição de expiação e prova segundo o ensino dos Espíritos? A concepção que se faz do Espiritismo, se religião ou ciência, faz toda a diferença na compreesão dos institutos ora tratados. A aceitação cega sem aplicação do método de Kardec para informações provenientes do mundo espiritual está atrelada à essa concepção. Toda a inferência acima sobre a tensão entre livre-arbítrio e reencarnação compulsória nos conduz a esse tema. Vejamos!

Partindo da teoria espírita chega-se a um resultado racional, o que não é possivel a partir de uma concepção religiosa. Ainda que sob a argumentação de que a fé, agora, é racional. Pela concepção religiosa expiação e prova se tornam subproduto da lei de causa e efeito, que desagua noutra: a de ação e reação.

Diante da tensão, é necessário perguntar:
a. Há lei de causa e efeito no Espiritismo?
b. Nesse caso, os Espíritos são regidos por uma lei de karma ou destino?

Kardec define causa e efeito n'O Evangelho Segundo o Espiritismo como um axioma e não como uma lei (cap. 5, item). Um axioma é usado para explicar o que é indemonstrável, como DEUS e a CRIAÇÃO, por exemplo.

  • Sendo causa e efeito um axioma que explica o indemonstrável, não haverá presença de regularidade para o objeto que se quer explicar.
  • Se não é regular, não é lei. A lei é aquilo que define as relações constantes que existem entre fenômenos naturais. Lei se traduz em regra.

A evolução do Espírito está atrelada ao seu progresso intelecto-moral. A moral, objeto de estudo do Espiritismo, está muito bem definida pela Doutrina Espírita (Q. 629, LE). Em se tratando de moral, nada advém do mundo exterior, a não ser o conhecimento proveniente da relação que com ele se estabelece por meio dos sentidos físicos durante a encarnação.

É preciso considerar que, quanto às questões de moral, tudo se impõe ao Espírito por meio de sua razão, de sua consciência ou por determinadas condições ou circunstâncias. Os Espíritos, segundo o Espiritismo possuem liberdade de fazer as próprias escolhas. Nesse caso, a "causa e o efeito" só poderá ser consequência do uso do livre-arbítrio individual.

Indagamos: é regra que qualquer Espírito que faça a escolha 'a' obtenha o resultado 'b'? A resposta sensata, lógica e razoável é não.

Não se deve confundir a causa e efeito (axioma filosófico) com ação e reação (lei da física). O comportamento humano (agir conforme ou não com as leis da natureza) é resultado do conhecimento adquirido, de sua compreensão de bem e mal, das condições e circuntâncias que esteja diante, da consciência ou não dos atos segundo o conhecimento adquirido e da  sua compreensão deste.

Os Espíritos que procuram nova existência avaliam suas vidas anteriores, quais os erros cometidos e qual imperfeição é a causa dos seus sofrimentos. Estuda o que poderá lhe ajudar a não cometer essa ou aquela falta. Busca provas e expiações que acredita apropriadas ao seu adiantamento e se instrui junto a Espíritos que lhe sejam superiores (Q. 393, LE).

Há uma divisão entre prova e expiação? Segundo o Espiritismo não. Todos os problemas enfrentados na encarnação são oportunidades para corrigir erros passados, ao passo que são provas para o futuro. Tudo é aprendizado e não há uma regra absoluta para Espírito algum. Para induzir a uma possível identificação do gênero de existência precedente de um Espírito é mais seguro estudar suas tendências instintivas do aquilo que se julga ser a prova ou a expiação (Q. 399, LE).

Segundo anota Kardec o julgamento sobre o que fomos e o que fizemos está na esfera individual, isto é, um juízo do próprio Espírito encarnado (nota de Kardec à Q. 399). O que é util para o progresso do Espírito é o seu próprio estudo das imperfeições morais que precisa corrigir e não as físicas.

Por que o julgamento do outro é falho? Porque não há regras absolutas.

Há expiações que são frutos da existência atual que o Espírito experimenta. A ação humana tem como princípio o ato do dever. Trata-se da obrigação moral da criatura para consigo mesma primeiramente e, depois, para com os outros (O dever, Lázaro, ESE). O dever íntimo fica entregue ao livre-arbítrio e é regido pela consciência que, por vezes, é impotente diante das paixões. Ceder a elas não é nada anormal, mas parte do processo evolutivo.

A natureza moral do ato do dever exige que seja livre, consciente e racional da vontade. Essa atuação habitual se torna virtude e é esse o alvo que o Espírito busca atingir. Prova e expiação só podem resultar de escolhas livres do Espírito baseadas nos limites estabelecidos pelas Leis Naturais.

Expiação e prova são faces da mesma moeda. A primeira consequência de uma falta é reconhecê-la como tal. A partir daí o Espírito passa a desejar corrigir a imperfeição que lhe conduz a cometer a falta. Essa compreensão é fruto do estudo de si mesmo.

A expiação consiste em atravessar situações semelhantes a outras que já se experienciou, mas que sucumbiu ao erro. A prova está relacionada com o proveito que se almeja com o gênero escolhido, bem como da maneira como se suporta uma expiação.

Pode se afirmar que toda expiação é uma prova, mas, nem toda prova uma expiação. A causa dos males suportados pelo ser humano na terra está nele mesmo e resultam de suas imperfeições.

O caráter essencial da expiação reside na escolha livre do Espírito por uma existência que o auxilie a corrigir as imperfeições já reconhecidas, mas que ainda favorecem cometer erros.

O objetivo da expiação e da prova é o melhoramento do Espírito (Lei de Progresso). Para tanto, é preciso reconhecer o erro, arrepender, reparar e, então, expiar.

Se a forma de conceber a Doutrina dos Espíritos guardar relação com a concepção religiosa, prova e expiação guardará semelhança com castigo e recompensa. Com a ideia de céu e inferno. Porque as religiões compreendem um Deus antropomórfico que julga o indivíduo e lhe aplica, também, individualmente,  um castigo ou lhe dá uma recompensa. A moral, nesse caso é heterônoma. Dita-se um conjunto de regras que devem ser seguidas com a mediação de indivíduos que se tornam a voz do céu na Terra. Desta forma, nenhum mérito tem o Espírito, posto que está compelido por fatores exteriores e nunca movido pelo ato do dever livre, consciente e racional da vontade.

Se o Espiritismo for concebido como ciência, como preconiza Allan Kardec, prova e expiação assume o caráter pedagógico, de cunho individual, onde o ser, orientado pelas Leis Divinas, vai agindo, fazendo, não fazendo, tentando, errando e acertando, por meio de suas escolhas livres, que lhe proporcionará colher delas os seus frutos. A moral é autônoma. E a boa conduta é uma decisão individual do Espírito. Não há intermediário entre o indivíduo e Deus. Quando agir fazendo o bem, visando o bem de todos, foi movido por sua consciência em assim proceder. As regras que regem sua conduta são as Leis Divinas ou Naturais, mediadas pela compreensão que delas já atingiu.

Uberaba-MG, 05/10/2021.
Beto Ramos.

Fontes:
Kardec, Allan. Evangelho segundo o sspiritismo.
Kardec, Allan. O livro dos espíritos.
Kardec, Allan. O que é o espiritismo.
Kardec, Allan. O livro dos Médiuns.
Kardec, Allan. O céu e o inferno.
Kardec, Allan. Revista espírita.
Xavier, Francisco Cândido. Emmanuel. O consolador.
Xavier, Francisco Cândido. André Luiz. Missionários da Luz.
Xavier, Francisco Cândido. André Luiz. Nos Domínios da Mediunidade.
Xavier, Francisco Cândido. André Luiz. Ação e Reação.

quarta-feira, 2 de junho de 2021

O CONHECIMENTO LIBERTA

Na apresentação da Revista Espírita de 1858, publicada sob a direção de Allan Kardec, encontramos a seguinte expressão: “Todo efeito tem uma causa. Todo efeito inteligente tem uma causa inteligente. O poder da causa inteligente está na razão do efeito”.

Sempre que se falar em inteligência, em causa e efeito, sem sombra de dúvidas estaremos tratando da aquisição do conhecimento. É importante se indagar: para que esse conhecimento é adquirido pelo ser humano?

Se, ao ser humano fosse perguntado: “que buscais?”, certamente, a resposta seria: a plena felicidade. Afinal de contas, não parece lógico pensar que alguém esteja escolhendo a INFELICIDADE como propósito de vida. E, falando nisso, a FELICIDADE é uma dádiva ou uma recompensa?

Se acaso a resposta fosse RECOMPENSA, seria a RETRIBUIÇÃO a um esforço constante e bem orientado. SE A FELICIDADE É O OBJETIVO, O QUE É PRECISO SABER PARA ALCANÇA-LA?

Platão ensinou na obra A República, usando a figura de Sócrates no discurso, que é necessário INVESTIGAR o que é bom e o que é mau. Parece que o filósofo está se referindo à aquisição do conhecimento. Recordando o mito bíblico, “o conhecimento é o fruto da árvore que, ao ser devorado, dará o saber, ou os elementos necessários para se distinguir o bem e o mal”.

E ao inserir o tema do bem e do mal, não é difícil imaginar que, em seguida, viriam as indagações: O que é o Bem? O que é o Mal? Segundo O Livro dos Espíritos, distingue-se o bem como tudo aquilo que está de acordo com a Lei de Deus e mal é tudo o que dela se afasta. O mal, portanto, é infringir as Leis de Deus.

Sem entrar no mérito e na complexidade dessas reflexões, o fato é que ao longo da história da humanidade, a fim de delimitar as ações das pessoas, surgiram 03 esferas de regulação do comportamento humano: a religião, a moral e o direito.

A obra O Livro dos Espíritos, tratando do bem e o mal, começa por definir A MORAL. E nesse sentido, a moral é a regra da boa conduta e, portanto, da distinção entre o bem e o mal. Seu fundamento é a observância das Leis de Deus. “O ser humano se conduz bem quando faz tudo tendo em vista o bem e para o bem de todos, porque então observa a Lei de Deus”.

E, falando em como o ser humano se conduz, como deve ou não se conduzir, ao longo da história surgiram escolas ou grupo de pensadores que se propuseram a interpretar a vida social, como por exemplo, a idealista, a realista e a materialista. Cada uma dessas escolas elegeu aquilo que compreendeu como o seu ELEMENTO GERADOR DA CONVICÊNCIA SOCIAL, ou seja, buscaram responder:

- o que provoca a reunião dos seres humanos e os conduz a uma vida em coletividade?

Para os idealistas seriam OS VALORES OU IDEIAIS COLETIVOS; Os realistas afirmaram que seriam AS INSTITUTIÇÕES DE PODER e os materialistas, as condições materiais de subsistência dos grupos humanos.

O que se constata é que, estamos no século 21 e há uma crise de identidade que afeta o SER HUMANO; Para muitos ainda paira a pergunta QUEM SOMOS NÓS?

Diante de todos os acontecimentos e fenômenos que atingem a vida humana na Terra, é comum observar os seguintes questionamentos:

- Os seres humanos possuem livre-arbítrio ou a liberdade não passa de um mito?

- O comportamento humano pode ser previsto pela genética?

- O caráter moral das pessoas pode ser identificado pelos genes responsáveis pelas características psicossomáticas ou pelas moléstias e malformações do organismo humano?

- A Ciência pode, a partir daí, prever os grandes rumos da vida social?

No campo da biotecnologia fala-se em clonagem, criação programada e tábua de valores, entre outras questões. Será que só o genótipo intervém na formação do indivíduo ou existem outros fatores?

A ciência é uma alavanca para a humanidade, uma das melhores coisas de que se serve a humanidade.

Apesar de uma lenta evolução, o ser humano primitivo desenvolveu a linguagem há, aproximadamente, 40 mil anos. A humanidade sempre teve, entre os povos, sua cultura e seus costumes. O fato é que cultura e costume são criações humanas. E não é uma falácia dizer que essas criações humanas são mais acentuadas nos seres do que os caracteres naturais.

De 40 mil anos para cá, observa-se uma evolução cultural crescente que superou os milhões de anos até que a linguagem surgisse como uma criação humana. O conhecimento é para ser adquirido, mas, é preciso separar as coisas, ter o que Descarte chamaria de MÉTODO. Em seu discurso, o filósofo mencionará 04 preceitos lógicos que dirigem a RETA RAZÃO, são eles:

1. Jamais receber por verdadeiro o que o sujeito não percebe evidentemente como tal;

2 Dividir cada uma das dificuldades a serem examinadas em tantas parcelas quantas forem possíveis e necessárias para melhor resolvê-las;

3. Conduzir ordenadamente os pensamentos, a começar pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, a fim de elevar-se pouco a pouco, por graus sucessivos, até os conhecimentos complexos.

4. Proceder a enumerações completas e revisões gerais, de modo a assegurar-se de que nada foi omitido na análise.

O saber tecnológico, sem dúvida, é o grande instrumento do desenvolvimento social, mas, também, do exercício de poder. No campo das invenções a geografia planetária tanto auxiliou na disseminação do conhecimento quanto atrapalhou. A forma do continente onde a geografia apresentava características semelhantes, sem barreiras naturais, proporcionava uma melhor e maior comunicação entre os diferentes povos. O continente não dotado dessas características impossibilitava a propagação do saber tecnológico.

É assim que no continente euroasiático encontramos as seguintes invenções: roda, escrita silábica, metalurgia, ordenha de gado, fabricação da cerveja e do vinho, cultivo de árvores frutíferas; No continente africano e americano: rodas, sistema de representação escrita de palavras, animais de tração.

Aas primeiras plantas alimentícias ou cereais surgem há 8.000 anos a.C na Mesopotâmia; há 6.500 anos a.C na Grécia, Chipre e subcontinente indiano; há 6.000 anos a.C no Egito; há 5.500 anos a.C na Europa Central; há 5.200 anos a.C no Sul da Espanha; e há 3.500 anos a.C na Grã-Bretanha. As Américas sofreram muitos impedimentos quanto à disseminação das grandes técnicas de produção de alimentos, de comunicação e transporte em razão da variedade climática, barreiras naturais, regiões desérticas, florestas e montanhas.

Durante um período de aproximadamente 10.000 anos, entre 8.500 a.C a 1.450 d.C., as regiões da China e da Índia foram as mais adiantadas tecnologicamente. Acreditem, os chineses inventaram a bússola, o leme de popa, o ferro fundido, as comportas de canal, as sondagens profundas, a pólvora, o papel, a porcelana, os arreios peitorais para animais de tração, tipos móveis de imprensa.

Invenções notáveis jamais utilizadas como instrumentos de transformação da sociedade, como também, não foram usadas como instrumentos de conquistas imperiais, pois, a filosofia chinesa os vocacionava para as tradições imemoriais. Não eram dominados por suas conquistas tecnológicas, mas, por sua cultura e tradições.

Não obstante tudo isto, a individualidade humana por vários motivos, apoderando-se desse conhecimento e transformando-o em ciência, tornou-se orgulhosa. Sabendo muito mais que muitos outros, julgaram saber tudo. Passaram a não admitir que coisa alguma pudesse ultrapassar o  seu entendimento. Por fim, julgaram-se acima da natureza, a qual não lhes poderia ocultar nada.

O que levou a esse estado de coisas? Sem dúvida, a religião e seus mistérios, violando as Leis Naturais e adaptando suas incoerências ao imaginário popular e suas fantasias. O gênero humano, não aceitando o misticismo e o sobrenatural, buscava respostas. Sem saber o que fazer e sem respostas, chegamos ao cúmulo de que muitos só pensam em si mesmos, colocam os prazeres materiais acima de tudo, rompendo com os laços sociais, não atribuindo nenhuma importância aos afetos.

Resultado: destruição das coisas e membros se destruindo como animais ferozes. Isto não é consequência do estudo dos cientistas, mas, do abuso cometido pelo próprio ser humano, que tira daqueles estudos uma falsa consequência.

Ligando religião e ciência, surge o Espiritismo para esclarecer quanto ao futuro por meio de fatos incontestáveis e, por meio da comunicabilidade com os Espíritos, respondem o que nos espera no seio de Deus e quais sofrimentos se experimenta no mundo dos Espíritos.

Uma filosofia poderosa que auxilia todas as religiões, o Espiritismo reanima as esperanças vacilantes e abre pespectivas de futuro.

Uberaba-MG, 02 de junho de 2021.
Beto Ramos

segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

VOLTAIRE


"Posso não concordar..." ;


"Discordo do..." ;


"Não concordo com..."



(AVISO: A REFLEXÃO RECUSA PREGUIÇA)

Ah, sim! Vamos lá: posso não concordar com o que Trump diz nas redes sociais, mas, defendo sempre que seja o judiciário o detentor da prerrogativa de retirar de circulação suas "fake news" ou a incitação a crimes.

Se você pensou que estou parafraseando Voltaire, ERROU! A fomosa frase que lhe é atribuída - "Eu discordo do que você diz, mas vou defender até a morte seu direito de o continuar dizendo" - não é de sua autoria. ELE NUNCA DISSE ISSO.

Na verdade, voltando no tempo, François-Marie Arouet, conhecido pelo pseudônimo Voltaire, se posicionou contra o banimento de um livro de autoria de Claude-Adrien Helvétius, com o qual ele teve um, digamos, "desacordo". Helvétius escreveu DE L'ESPIRIT e teve sua obra condenada e queimada (Sorbonne, Parlamento de Paris e Igreja). Voltaire não acreditava que fosse certo ou justo queimar aquela obra.

MAS, E A FRASE? Foi em uma "biografia", publicada em 1906, que aparece a frase NUNCA DITA POR VOLTAIRE. Na verdade, tratava-se de uma forma literária de RESUMIR O PENSAMENTO E A POSIÇÃO DE VOLTAIRE QUANTO À QUEIMA DO LIVRO DO SEU ADVERSÁRIO NO CAMPO DAS IDEIAS.

Mais tarde, outra publicação (1919) aparece tal ideia como se fosse um "princípio voltairiano" ENTRE ASPAS. No fim e ao cabo, compreendemos que o filósofo, realmente, defendeu a liberdade de expressão e a sua irredutibilidade.

Ah! é importante saber que a autora da "biografia" reconheceu em carta que o filósofo NUNCA havia dito a famosa frase (Evelyn Hall), onde pede desculpas, pois, não fora sua intenção causar tamanha confusão. Um estudo ajuda a nos situarmos bem sempre.

O já longevo bolsonarista Alexandre Garcia, que parecia ser intelectual quando estava na Globo, deveria saber disto e não usar a frase com erro de atribuição.

De todo modo, quando se comemora o banimento de Trump de uma rede social, o que se faz é entregar A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E O GOVERNO para instituições privadas, cujo tribunal não contempla o devido processo legal; a decisão ocorre entre quatro paredes; e os objetivos sãos os mais particulares, individuais e escusos possíveis (a Vice-Presidente dos E.U.A. é uma representante dessas mesmas empresas que controlam as redes sociais no mundo).

Posso não concordar com o Trump, mas... deixar grupos substituirem a justiça e o governo é um caminho perigoso. É um 'SELAR O PRÓPRIO DESTINO.

O PRÓXIMO DIREITO DE EXPRESSÃO A SER REPRIMIDO SERÁ O SEU. E isso não ocorrerá muito longe, será na próxima esquina e alguém NEM estará usando uma farda, pois, até isso está se terceirizando nessa "COMEMORAÇÃO".

Concluimos recordando: Voltaire nunca disse a sua (NÃO) mais famosa 'frase'.

Uberaba-MG, 10 de janeiro de 2021
Beto Ramos





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