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sábado, 22 de outubro de 2022

PRAZER, UTILIDADE E HONESTIDADE!

Fonte: autor desconhecido (internet).

Indo direto ao ponto, prazer é fisiológico devido à própria natureza humana; a utilidade, por sua vez, apesar de traduzir a concepção materialista, refere-se à lei de conservação. Todavia, prazer e utilidade não são objetos legítimos e supremos da vida humana. Da mesma forma, não são objetos fins. Isto é, a humanidade não foi criada para 'o prazer'.

A pergunta é: há algo mais importante para o ser humano que o prazer e a utilidade? A resposta é positiva: SIM; há um objetivo superior para todo ser humano. E esse objetivo constitui a meta que cada um deverá propor para si mesmo.

Eis, portanto, a diferença; enquanto prazer e utilidade possuem o caráter individual, o objetivo superior, como meta para todo ser humano, possui caráter universal. Diante disto, questionamos: o que é essa finalidade última? Trata-se do BEM MORAL, que pode ser apresentado da seguinte maneira:

a) O Bem;

b) O honesto; e,

c) O Justo.

No pensamento esposado pela Filosofia Espiritualista Racional (cuja fonte será Paul Janet - Pequenos Elementos da Moral), vamos nos apropriar das concepções seguintes:

O Ser humano seria dividido em corpo e alma. A alma seria dividida em superior e inferior. A alma superior seria a alma propriamente dita. Já a alma inferior seria a parte da alma identificada com o corpo físico (algo carnal).

Nesse sentido, a alma superior estaria na posse dos atributos: inteligência, sentimentos e vontade. A alma inferior apresentaria ou estaria vinculada com os sentidos, apetites e paixões. Nesse caso é possível observar a diferença aparente entre o ser humano e o animal. É que o ser humano é capaz de se elevar acima dos sentidos, das apetites e das suas paixões. Na concepção da filosofia espiritualista racional é o caso da alma superior reprimir e constranger a alma inferior.

Nesse sentido, o processo é simples. O ser humano vai usar sua capacidade de pensar, de amar e de querer. É assim, portanto, que chegamos ao conceito de BEM MORAL. Que é o ato humano de preferir em si mesmo o que há de melhor em detrimento do que há de menor.

Vamos definir o que é um e outro; o que há de melhor são os bens da alma, isto é, as nobres afeições; o que há de menor são os bens do corpo, ou seja, as paixões animais. Assim sendo, os bens da alma envolve o que se denomina dignidade da natureza humana, contrapondo-se ao egoísmo. Finalmente, BEM MORAL consiste, para o ser humano, se tornar verdadeiramente ser humano; para tanto é necessário que seja guiado pelos bons sentimentos, os quais serão esclarecidos pela razão.

Esse bem, assim dividido de maneira didática, vão se apresentar conforme as circunstâncias da vida. Vejamos:

HONESTO = BEM MORAL: é a relação do ser humano individualmente. Essa maneira de agir consigo mesmo visa a dignidade pessoal. O ser humano, nas suas ações, é sempre honesto.

JUSTO = BEM MORAL: é a relação do ser humano em relação aos outros indivíduos quando busca a felicidade do próximo. Consiste na ação ou omissão em relação ao outro, o qual se traduz na seguinte máxima: fazer a outrem o que gostaria que o outro lhe fizesse e não fazer ao outro aquilo que não gostaria que o outro lhe fizesse.

PIEDADE OU DEVOTAMENTO (fazer o bem) = BEM MORAL: é a relação do ser humano com Deus. Consiste em "dar" a Deus o que lhe é devido. Para compreender melhor essa relação, indicamos o texto contido na obra O Evangelho Segundo o Espiritismo, item 10 do capítulo Sede Perfeitos.

Destarte, O HONESTO, O JUSTO E O PIO (BEM) são os diferentes nomes que se atribui ao BEM MORAL, que dependem da relação que o ser humano experimenta. Apesar de suas diferentes formas em que se apresenta, o BEM MORAL tem sempre o mesmo caráter: impor a obrigação ou o dever de cumpri-lo. Decorre de uma vontade individual, consciente, desinteressada, racional e esclarecida.

Uberaba-MG, 22/10/2022
Beto Ramos

FONTE BIBLIOGRÁFICA:
O Evangelho Segundo o Espiritismo (Kardec).
Pequenos Elementos da Moral (Paul Janet).

domingo, 16 de outubro de 2022

DEUS QUIS ASSIM... Será mesmo?

 

É muito comum, seja em berço espírita ou não, replicarem-se essa frase que se tornou, de certa maneira, uma máxima. Mas, será mesmo que o agir divino ocorre desta maneira. Todo acontecimento é proveniente de uma vontade permanentemente atuante nos destinos de cada um?

"Deus quis assim..."; Será mesmo? Para compreendermos melhor e enriquecer nosso processo reflexivo é necessário saber se, no campo da ciência espírita, os Espíritos ensinaram alguma coisa a respeito desse assunto.

Sem desejar esgotar o tema, especialmente, em duas obras é possível encontrar explicações profundas acerca dessa indagação: são as obras O Livro dos Espíritos e A Gênese (indicadas ao final).

Segundo depreendemos de nossos estudos até aqui, vejamos:

1. O Universo é criação de Deus e disto não temos qualquer dúvida.

2. Sabemos que o Universo é regido por leis universais, naturais, estabelecidas por Deus.

Na Terra, o ser humano conhece 3 reinos: mineral, vegetal e animal. A ciência ensina que o corpo humano possui, em si, as presenças desses 3 reinos. O Espiritismo, por sua vez, demonstra que o ser humano, como alma encarnada, precisa de vida vegetal, vida animal e vida espiritual.

Regendo o universo por leis, Deus proporciona ao Espírito humano a faculdade de escolha, denominada LIVRE-ARBÍTRIO. Essa faculdade ocorre pela:

a) Possibilidade de o Espírito escolher o gênero de provas que vai sofrer ao reencarnar; e,

b) É, também, a escolha entre o caminho do bem ou do mal, quando agir ou se omitir ante a qualquer situação.

A lei natural por trás dessa faculdade é que, em tais casos, o Espírito terá atraída para si toda a responsabilidade de seus atos e suas consequências.

Todavia, nada há de fatal nisto. Principalmente no tocante às más escolhas.

Diante das situações, os Espíritos devem escolher entre dois caminhos, seguindo um e abandonando outro.

Outra lei universal, natural e divina é que os Espíritos reencarnam. Portanto, quando escolhe um mal caminho terá sempre a possibilidade de recomeçar o que foi mal feito.

Um esclarecimento importante é que na Terra, por exemplo, os Espíritos enfrentam as tribulações próprias de um planeta organizado para receber Espíritos de nossa natureza e caráter, segundo nosso grau geral de evolução.

Sendo assim, o fato é que o Espírito precisa trabalhar para prover o necessário; precisa estudar e aprender como enfrentar as intempéries do clima, enfrentar doenças, alcançar conforto e minorar sofrimentos físicos e mentais (entre outras tantas tribulações que poderiam ser citadas).

"Nosso planeta é uma escola que proporciona experiência e aprendizado para os Espíritos". 



Se o mundo é regido por leis naturais, é importante lembrar que haverá, portanto, aquilo que é obra da VONTADE DE DEUS e aquilo que é proveniente da VONTADE HUMANA, uma vez que o Espírito é dotado do atributo vontade e, para exerce-la em sua plenitude e recolher a responsabilidade pela consequência de seus atos, Deus lhe atribui o LIVRE-ARBÍTRIO.


A. Vejamos o que decorre da vontade Deus:

Perigos que o Espírito enfrenta em determinado gênero de prova escolhido para determinada reencarnação.

Furacões e tornados

São as tempestades e chuvas cuja causa é o aquecimento das águas dos oceanos em latitudes intertropicais. Nos Estados Unidos ocorrem nos meses da primavera até o início do verão no hemisfério norte. A geografia daquele país é propícia à ocorrência do fenômeno, conhecido como temporada de furacões do atlântico norte.

Nesse período há um aumento da incidência de raios solares e a temperatura das águas do oceano atlântico norte, também, aumenta. Com temperatura média de 27º C, a massa de água quente começa a evaporar. O vapor de água se condensa e forma grandes nuvens que chegam a 500 Km de extensão. O ar mais quente e úmido fica menos denso, começa a subir, diminui a pressão atmosférica da superfície e cria uma área de baixa pressão.

No entorno dessa superfície tem-se uma região de ar frio e alta pressão atmosférica, exercendo força contrária. Essa dinâmica atmosférica faz com que haja deslocamento de massas de ar da região de alta pressão para o centro, formando os velozes ventos do furacão. Os ventos vão carregar a umidade presente na superfície das águas do oceano e acentuar o processo de formação de grandes nuvens de chuva e de aumento da temperatura, que dá origem aos furacões.

O olho do furacão fica abaixo das nuvens, com tamanho aproximado de 20 Km; essa é a área que forma a coluna de ar, onde há muito calor e não chove, o que contribui para retroalimentar o sistema do furacão com vapor de água.

A Terra se movimento numa rotação de OESTE para LESTE (sentido horário). O furacão desloca-se no sentido anti-horário no hemisfério norte e forma um funil, onde suas paredes de vento chegam a 250 km/h. O furacão busca regiões onde a água está mais quente para continuar seu ciclo. Por isso, movimenta-se do oceano para o continente.

Ao atingir o continente americano, o furacão perde forças e dissipa-se, mas não sem antes provocar inundações e estragos, deixando mortos e desabrigados. Os furacões podem ser previstos e monitorados, mas não podem ser impedidos, uma vez que se trata de um evento meteorológico (um fenômeno atmosférico).

Portanto, para nosso estudo é imprescindível notar que esse fenômeno decorre das leis naturais que regem o universo e, no caso específico, do tipo de atmosfera que predomina no planeta Terra.

B. Vejamos o que decorre da vontade humana:

Das informações colhidas denota-se que o ser humano NÃO é o criador das leis que regem os fenômenos climáticos. Portanto, os furacões são perigos decorrentes de fenômenos atmosféricos naturais, mas que colocam em risco a vida humana.

Assim, ao escolher o gênero da reencarnação, é pela VONTADE soberana do Espírito que ele, então, SE EXPÕE AOS PERIGOS decorrentes de uma reencarnação em regiões como a descrita acima, que são assoladas por esses perigos naturais.

O Espírito, na erraticidade, escolhe esse gênero de reencarnação por compreender que lhe será útil e terá a possibilidade de enfrentar tais perigos como meio do seu próprio adiantamento. Deus apenas permite que sua vontade seja atendida, tendo em vista que essa permissão, também, decorre de leis naturais de afinidade, sintonia, magnetismo e atração.

Nesse sentido, podemos afirmar com certeza que NÃO FOI DEUS QUE QUIS ASSIM, pois Deus é paciente e não apressa a expiação de ninguém. O Espírito escolhe e sofre as consequências dos seus atos. Deus só quer o bem, o mal vem do ser humano, decorre de sua ignorância, pois o verdadeiro mal é a ignorância.

O Espírito possui o livre-arbítrio, tendo como guia nas suas  escolhas as leis divinas. A causa de todo o mal é a ignorância; pela escolha o Espírito poderá evitar o mal; desde que se conduza baseado nas leis divinas. Não existe, para o Espírito, qualquer tendência predominante entre o bem e o mal; há apenas o seu livre-arbítrio.

Diz-se que as leis divinas estão gravadas na consciência; é verdade e o processo de recorrer a elas é bem simples. As leis divinas consubstanciam-se em avisos da consciência humana ou, mais precisamente, DOS LIMITES estabelecidos para tudo.

Um exemplo prático é o limite para a satisfação das necessidades. Veja-se no campo da alimentação. Deus impõe o limite: a saciedade. Não ouvir o aviso que declara "estou satisfeito" atrairá: doenças, fraquezas do corpo e a morte. TUDO ISSO É OBRA HUMANA E NÃO DE DEUS.

Por tudo isto, é errado usar a expressão DEUS QUIS ASSIM quando o mal ou o bem são produzidos pela ação humana. Isto é, tudo decorreu das escolhas do indivíduo.

Fontes:
KARDEC, Allan. O Livro dos Espírito, Q. 258 (entre outras) - 1860;
KARDEC, Allan.  A Gênese, Capítulo 3 (item 7, entre outros) - 1868.

Uberaba-MG, 16/10/2022
Beto Ramos.


quarta-feira, 3 de agosto de 2022

QUAL É O OBJETO DE ESTUDO DO ESPIRITISMO?

 

Uma das primeiras dúvidas que me foram se apresentando durante o aprofundamento do estudo da Doutrina Espírita, sem dúvida, é quanto a princípio inteligente. Seria ele o objeto de estudo da doutrina? Se a resposta fosse positiva, qual razão levou Kardec a apresentar poucas questões fazendo referência ao assunto?

Observando a disposição do conteúdo de O Livro dos Espíritos vemos que:

a. No Livro Primeiro, sobre as causas primárias, capítulo 1, destacam-se 14 perguntas a respeito de Deus;

b. No capítulo 2, quanto aos elementos gerais do Universo, temos 04 questões; sobre espírito e matéria temos 39 questões, sendo que outras 02 tratam do espaço universal;

c. Ainda, no capítulo 2, no assunto elementos gerais do Universo, são reservadas para o princípio inteligente do universo 07 questões;

Não posso deixar de registrar qual foi minha surpresa. Seriam 'apenas' 07 questões? Essas seriam o suficiente? Que motivos teria o organizador do Espiritismo para não aprofundar no assunto?

Foi estudando a Obra A Gênese, especialmente o Capítulo 11 - Gênese Espiritual, item 23, que me deparei com importante esclarecimento de Allan Kardec sobre esse assunto. Vejamos o que registrou:

"Conforme a opinião de alguns filósofos espiritualistas, o princípio inteligente, distinto do princípio material, se individualiza, se elabora, passando pelos diversos graus da animalidade. É aí que a alma se ensaia para a vida e desenvolve, pelo exercício, suas primeiras faculdades. Seria, por assim dizer, seu período de incubação. Chegando ao grau de desenvolvimento que essa fase comporta, ela recebe as faculdades especiais que constituem a alma humana. Haveria, assim, filiação espiritual, como há corporal. Esse sistema, baseado sobre a grande lei de unidade que preside a criação, corresponde, é preciso convir, à justiça e à bondade do Criador. Dá uma saída, um alvo, um destino aos animais, que não seriam mais seres deserdados, mas encontrariam no futuro que lhes está reservado uma compensação a seus sofrimentos".

Importante destacar no texto transcrito ipsis litteris que Kardec apresenta uma teoria espiritualista, um sistema como ele mesmo diz, a qual afirma haver uma coerência interna quando analisada em razão dos atributos divinos. No entanto, veja que, em seguida, trará importantes informações que nos interessam para reflexão do tema proposto.

"O que constitui o homem espiritual não é sua origem, mas os atributos especiais dos quais está dotado quando entra na humanidade; atributos que o transformam e fazem dele um ser distinto, como o fruto saboroso é distinto da raiz amarga de onde saiu. Por ter passado pela fieira da animalidade, o homem não seria menos homem; não seria animal, como o fruto não é a raiz, ou o sábio não é o disforme feto, pelo qual veio ao mundo".

Destacamos nessa parte do texto, como também na anterior citada, que Kardec usa um determinado formato de linguagem. Trata-se do futuro do pretérito, isto é, um tempo verbal conjugado no modo indicativo, que pode expressar incerteza, surpresa e indignação. Essa forma é usada para se referir a algo que PODERIA ter acontecido posteriormente a uma situação no passado. Percebemos que Kardec usa esse tempo verbal expressando INCERTEZA.

Assim sendo, Kardec não valida a teoria, mas, faz um preâmbulo a seu respeito, afastando quaisquer sombra de dúvidas acerca da origem da hipótese, como, também, quem são seus defensores. A seguir, é possível perceber com clareza solar qual a solução que Kardec dá para o tema em questão e qual será o campo delimitado para se tornar objeto da sua pesquisa:

"Mas, esse sistema levanta numerosas questões, cujos prós e contras NÃO É OPORTUNO DISCUTIR AQUI NEM EXAMINAR as diferentes hipóteses feitas sobre esse assunto. SEM PROCURAR A ORIGEM DA ALMA E AS ETAPAS PELAS QUAIS TENHA PASSADO, vamos considerá-la ao entrar na humanidade, ponto em que está dotada de senso moral e do livre-arbítrio e começa a exercer responsabilidade por seus atos".

Recordando que as mencionadas faculdades especiais que constituem o homem espiritual, ser espiritual ou, ainda, ser humano (encarnado ou desencarnado) são: razão, vontade e imaginação.

Mas, o importante registro é que o Espiritismo não investiga a origem da alma, não estuda as etapas pelas quais ela tenha passado, e, também, não se ocupa do homem espiritual no período em que é Espírito simples e ignorante, isto é, aquele que entrou na humanidade, mas está com nulidade intelecto-moral. Essa fase, inclusive, segundo Kardec na Revista Espírita de 1864, dura um período que vai da primeira encarnação até a centésima, talvez milésima, até que o Espírito tenha consciência clara de si mesma.

A fase em que alma será considerada como objeto de estudo do Espiritismo é aquela em que está dotada de senso moral e do livre-arbítrio, quando faz escolhas e começa a EXERCER responsabilidade pelos próprios atos. Poderíamos especular que essa fase seria a daqueles Espíritos que se encontram já em planetas de provas e expiações e não nos orbes destinados a Espíritos primitivos. Mas, não passa de especulação mesmo. O que é necessário compreender é qual o objeto de estudo do Espiritismo: trata-se do Espírito que tem consciência clara de si mesmo.

Esperamos ter contribuído para o estudo desse assunto, uma vez que vemos muitos se debruçarem sobre fases das quais a Doutrina Espírita não se ocupa. Dessa forma, muitas discussões improdutivas podem ser dispensadas para dar lugar a várias outras que precisamos investigar, estudar, aprender e compreender.

Uberaba-MG, 03 de Agosto de 2022.
Beto Ramos.

quarta-feira, 6 de julho de 2022

VONTADE, SENTIMENTO E DEVERES: A FORÇA DA ALMA


É natural pensar que vontade seria o mero querer, hipótese da satisfação do desejo. No entanto, esse é o pensamento vulgar. A análise mais profunda sobre o tema nos proporciona responder a essa indagação: o que é a vontade? A vontade é o poder de decidir a ação, sem constrangimento de uma força externa ou da força das paixões.

Nesse sentido, quando há um arrastamento em decorrência da paixão, designamos como desejo. Se for o caso de uma influência externa, chamamos de coação. Portanto, somente no caso em que a vontade é exercida sem interferência de nenhuma ordem é que a escolha é livre.

Mas, os indivíduos não possuem autonomia da vontade por meio de uma graça divina. Há uma verdadeira luta contra os obstáculos internos (os arrastamentos das paixões) e contra os obstáculos externos (leis que regulam as relações sociais e determinam o fazer e o não fazer em razão das próprias leis, costumes e tradições, entre outros fatores). Essa luta resulta na força da alma.

Essa força que a vontade adquire em um longo processo se apresenta na forma de coragem, que nada mais é que uma espécie de virtude que faz o indivíduo enfrentar os perigos para cumprir um dever. Ora, para exercitar essa virtude (coragem), o indivíduo precisa escolher enfrentar os perigos necessários e evitar os perigos inúteis.

Age com coragem o indivíduo que suporta as adversidades. Nesse caso, entende-se que o mesmo agiu com paciência. É preciso esclarecer que a racionalidade e a meditação proporcionam ao indivíduo não confundir a força da alma (paciência e coragem) com a ridícula obstinação.

Algumas características físicas ajudam a compreender se o indivíduo agiu com paciência na adversidade e com moderação na prosperidade. Em qualquer dos casos, a força da alma mantém o indivíduo sempre igual: sua alma é igual, a sua fronte permanece a mesma e o seu rosto sempre sereno.

No entanto, o indivíduo que se enfurece rápido e se apazígua em seguida (caráter irascível), ou aquele que conserva por muito tempo o seu ressentimento (caráter vingativo), não atingiu a força da alma, portanto, não adquiriu as virtudes necessárias que permitem fazer uma escolha livre.

A liberdade humana é o fundamento das ações, uma parte essencial na prática da moral, que junto à faculdade da razão, colocam o ser humano em condição superior aos demais seres da criação. Essa condição se apresenta na figura da dignidade humana, a qual se traduz no dever de respeito em si mesmo, como no fazer respeitar em si pelos outros.

O justo sentimento da dignidade humana, segundo Paul Janet na obra Pequenos elementos da moral, pode ser compreendido na forma a seguir, onde o autor elabora a diferença entre orgulho e soberba para melhor compreensão:

ORGULHO

SOBERBA

- Proíbe humilhar

- Proíbe deixar humilhar

- Sentimento exagerado que se tem das próprias vantagens e da superioridade sobre os outros.

- Relação com o sagrado e o divino no ser humano.

- Relação com o próprio indivíduo; cresce e aumenta a partir das próprias misérias.

- Não quer ser oprimido.

- Quer oprimir o outro.

- Nobre.

- Brutal; Insolente.

A virtude que se opõe à soberba é a modéstia. Trata-se do justo sentimento sobre o que se vale e do que não vale. Aquele que é modesto, também é humilde. Humildade não é  rebaixamento, mas um sentimento de reconhecimento da própria fraqueza.

Quem é humilde não se humilha, não se rebaixa e não se deprecia, respeita a si mesmo e reconhece o próprio tamanho e importância, é digno de si mesmo e respeita nos outros a própria dignidade. O humilde lembra que é apenas um ser humano, assim como todos os demais.

Estes fragmentos são apenas alguns fundamentos que se podem encontrar na Filosofia Espiritualista Racional. Se chegou até aqui, por favor, deixe seu comentário e até o próximo encontro.

Uberaba-MG, 06/07/2022.
Beto Ramos.

segunda-feira, 20 de junho de 2022

O AGENTE MORAL, SUAS PAIXÕES E VÍCIOS.

 

Retomando a ideia a partir do nosso último artigo, é importante ter sempre em mente que os caracteres humanos não são imutáveis. Todos estão sujeitos a inclinações boas ou más. LIBERDADE é FORÇA MORAL. Há uma NATUREZA EXTERIOR AO CORPO que provoca ou desperta PAIXÕES. As paixões se tornam HÁBITOS e influenciam no CARÁTER. Deste, advém os IMPULSOS, que tudo move sem ser movido.

A liberdade está em ceder ou não aos desejos e controlar ou não os impulsos. Todo AGENTE MORAL é LIVRE e, por isso, RESPONSÁVEL POR SUAS AÇÕES. Todavia, há condições para a responsabilização moral. Trata-se do conhecimento do bem e do mal e da liberdade de ação.

Nesse caso, seria lícito questionar quem é o agente moral. Seria apenas aquele que escolhe fazer o bem? Aquele que não dá vasão aos seus impulsos? Compreendemos que a condição que se deve observar no agente moral é: trata-se de uma alma encarnada livre? Isto é, uma alma encarnada que pode fazer escolhas?

O verdadeiro agente moral é aquele que está sujeito às inclinações boas ou más, que possui liberdade para escolher e que, finalmente, poderá ser responsabilizado pelos seus atos. Destarte, ninguém será punido em razão de ter agido coercitivamente (alguém o obriga a fazer ou deixar de fazer alguma coisa), tampouco aquele que agiu ou não por ignorância (faz ou deixa de fazer alguma coisa desconhecendo quaisquer resultados).

Assim sendo, o agente moral é todo aquele passível de ser responsabilizado moralmente. O julgamento/juízo é interno/íntimo e supõe exame de consciência, a qual carece estar desperta e o indivíduo não poderá estar no estado de inocência. A sanção (penalização) para o agente moral depende, então, de o mesmo possuir conhecimento do bem e do mal e ter liberdade de ação entre um e outro (fazer/não fazer o bem; fazer/não fazer o mal).

Corrigir maus hábitos e dominar suas paixões são empreendimentos do agente moral. Demanda esforço e vontade bem dirigida. Não há nenhum arrastamento que seja irresistível; é necessário que se tenha vontade de resistir. Essa resistência supõe o conhecimento de si mesmo. Então, como essas paixões se desenvolvem?

Segundo a Filosofia Espiritualista Racional, o processo dá-se da seguinte forma:

a. Afetos naturais e inevitáveis da alma:

  • inclinações;
  • tendências.

b. Movimentos violentos e desordenados:

  • paixões propriamente ditas.

c. Hábitos incorporados ao caráter:

  • vícios.

Vejamos o processo em que, partindo de afeto natural, passando pela paixão, chega-se ao hábito. O indivíduo tende, naturalmente, à conservação; trata-se do instinto de conservação. Por essa tendência desenvolve o amor à vida (natural).

Eis que, influenciado pelas circunstâncias, idade, doenças ou temperamento, o indivíduo exacerba o amor à vida. Por isso, desenvolve uma paixão: é o MEDO DA MORTE.

Finalmente, passa a não enfrentar nenhuma situação em face do medo que desenvolveu. Chegamos, portanto, ao hábito, isto é, o indivíduo desenvolveu a COVARDIA; O hábito se tornou um vício.

Outro exemplo que facilita a compreensão do processo é com relação à conservação natural. Para viver o indivíduo sente FOME e SEDE (são os apetites). Tudo deve ser saciado na justa medida. Se o indivíduo passa a comer e beber além da conta (abusa dos apetites) desenvolve paixões; Estas, por sua vez se transformam nos vícios da GULA e da EMBRIAGUÊS.

Os afetos naturais e inevitáveis são princípios importantes, que devem ser objeto de análise constante do indivíduo. A Filosofia Espiritualista Racional oferece o seguinte quadro: 

PRINCÍPIOS

VÍCIOS

Amor a si

Egoísmo

Estima p/ si mesmo

Orgulho e vaidade

Amor à liberdade

Espírito de revolta

Amor ao poder

Ambição

Instinto de propriedade

Avidez, cupidez, paixão pelo ganho

Paixão pelo jogo ou desejo de ganhar por meio do azar

Desejo de ganhar + temor de perder = avareza

Existem, também, as inclinações relativas a outros indivíduos, que precisam ser observadas para que NÃO caminhem para o campo dos vícios: 

PRINCÍPIOS

VÍCIOS

Desejo de agradar ou benevolência   

Complacência

Desejo de elogiar

Adulação

Desejo de estima

Hipocrisia

As paixões e os vícios são doenças da alma. A cura é apenas o querer. A dificuldade reside na ocupação da alma com a paixão. Nesse caso, é preciso desviar o espírito para outros objetos. Bossuet, citado por Paul Janet, ensina que "não se detém o curso do raio, mas, dele é possível desviar". É preciso que o indivíduo desvie sua atenção. Aquele que se nutre desde cedo com afeições honestas tem maior chance de vencer uma paixão.

Há, segundo a Filosofia Espiritualista Racional, meios de substituir um mal hábito por um bom hábito:

1. Se jogar na extremidade oposta do defeito; Encontrar o equilíbrio na elasticidade razoável e natural do objeto; Ficar atento para não recair no vício;

2. Evitar começar tarefas muito difíceis. Proceder gradualmente e segundo as próprias forças para vencer no empreendimento de substituição; É sabido que a preguiça não se cura com trabalho excessivo, mas sim um pouco a cada dia, até adquirir o hábito do trabalho;

3. Escolher a ocasião para adquirir a virtude nova, buscando a disposição íntima e exercitar a energia da vontade.

4. Não confiar que o mau pendor foi vencido em definitivo; Fazer exame de consciência, se ocupar com boas leituras, meditar, estar em boas companhias, escutar bons conselhos e escolher um grande modelo.

No próximo encontro vamos conversar sobre os deveres e suas classes. Até lá.

Uberaba-MG, 20/06/2022
Beto Ramos

FONTE BIBLIOGRÁFICA: JANET, Paul. Pequenos Elementos da Moral. Edição do Kindle (Amazon).

segunda-feira, 13 de junho de 2022

A AUTONOMIA É VERDADEIRA SE O INTERESSE NÃO É PESSOAL

 

Superado o estado de inocência ou desperto do sono da consciência, o indivíduo enfrenta o combate moral por excelência: a luta entre o DEVER e a PAIXÃO. Possuindo o necessário discernimento entre o que é bom ou mal chega o período em que as ações humanas vão repercutir na condição de sentimento moral. São as emoções ou afeições diversas. Trata-se dos prazeres ou dores que nascem na ALMA.

Sempre considerando o hábito ou a violência do desejo é preciso compreender que o ser humano age para fazer e, nesse sentido, possui, na consciência, a atração para o bem e a aversão para o mal. Portanto, após uma ação realizada, haverá um prazer, isto é, uma satisfação moral, desde que a ação seja boa. Por outro lado, o indivíduo experimentará o remorso e o arrependimento quando agiu mal. É um sofrimento.

O sofrimento moral é uma espécie de castigo em razão do crime. Nesse sentido, todo vício (resultado das más ações que se tornaram hábito a que o indivíduo se condicionou) cria um arrependimento na alma. O arrependimento é um sofrimento que nasce de uma má ação, como já afirmado, pois, arrepender-se é quase uma virtude. O arrependimento é compreendido como uma tristeza da alma. O remorso, por sua vez, também nasce de uma má ação, mas, configura-se como castigo, pois, acorre todo o tempo no pensamento do indivíduo, de forma que o tortura. Trata-se de uma angústia.

Isto posto, é importante salientar:  aquele que não tem remorso, não pode se arrepender. Quem comete uma ação boa sente uma satisfação moral, ou seja, é paz e alegria, viva e deliciosa emoção. É como uma recompensa, ela nasce do sentimento de se ter cumprido o dever.

Diante disto, temos:

1. O agente moral é a alma encarnada.

2. Um agente LIVRE; Que pode ESCOLHER POR SUA VONTADE.

3. A escolha se dará entre fazer ou não fazer o bem, fazer ou não fazer o mal.

Para se compreender perfeitamente o que é uma escolha livre, é preciso julgar a INTENÇÃO. É que não se pune o que é feito por coerção ou por ignorância. Por isto, o indivíduo não pode estar nem no estado de inocência, nem no sono da consciência. A LIVRE ESCOLHA sempre supõe a RESPONSABILIDADE.

Os caracteres humanos não são imutáveis. Todos estão sujeitos a inclinações boas ou más. LIBERDADE é FORÇA MORAL. Há uma NATUREZA EXTERIOR AO CORPO que provoca ou desperta PAIXÕES. As paixões se tornam HÁBITOS e influenciam no CARÁTER. Deste, advém os IMPULSOS, que tudo move sem ser movido. A liberdade está em ceder ou não aos desejos e controlar ou não os impulsos.

Todo AGENTE MORAL é LIVRE e, por isso, RESPONSÁVEL POR SUAS AÇÕES. Todavia, há condições para a responsabilização moral. São elas:

a. Conhecimento do bem e do mal;

b. Liberdade de ação.

Ora, variando as condições, a responsabilidade varia na mesma proporção. Chega-se, então, no campo da sanção moral, isto é, o conjunto de penas ou recompensas vinculadas à execução ou à violação de uma lei. Mas, que se deve entender por recompensas e punições?

Quando se afirma que obras que trazem hipóteses de castigo e recompensa baseadas na concepção de religiões ancestrais, buscando as aproximar do espiritismo, estão equivocadas, é porque a base de compreensão destas expressões, encontradas nas obras de Allan Kardec, possuem conceitos diferentes.

Kardec não as conceituou nas obras Espíritas em razão de que já havia obras que fizeram esse trabalho. Essas obras foram produzidas pela Filosofia Espiritualista Racional. A seguir detalharemos com clareza a ideia, sendo perceptível que a interpretação da Obra O Céu e o Inferno, por exemplo, requer o conhecimento desse conteúdo. Vejamos:

1. Recompensa: prazer obtido após uma ação boa (ou virtuosa). É diferente de favor ou salário;

2. Castigo/punição: sofrimento infligido a um agente por uma má ação. É possível ser atingido sem ser punido.

Recompensas e castigos no campo da moral requer uma justa meditação sobre para e porque. Vejamos a seguir.

  • A recompensa e o castigo NÃO EXISTEM para que a LEI MORAL seja cumprida (até poderia ser um meio de conduzir ao bem e desviar do mal, mas, esta NÃO É SUA FUNÇÃO ESSENCIAL e nem a verdadeira ideia de castigo ou recompensa);
  • O castigo e a recompensa existem PORQUE a LEI MORAL foi cumprida ou violada. Trata-se de JUSTIÇA e não de UTILIDADE. O castigo requer reparação ou expiação.

Assim, o que assegura a execução da LEI MORAL é o ato ou a abstenção que CORRIGE sua VIOLAÇÃO. Essa correção acontece através da REPARAÇÃO OU DA EXPIAÇÃO.

Lembre-se que a ordem ou harmonia é perturbada pela VONTADE REBELDE. O sofrimento, por ter causado a desarmonia, é CONSEQUÊNCIA DA FALTA COMETIDA. Estamos tratando de vícios, atos injustos, portanto de doenças da alma.

É preciso compreender bem que não estamos no campo das sanções naturais, legais ou de opinião, mas da sanção interior, íntima. As sanções naturais são, por exemplo, as consequências naturais das ações (quem joga a água de um copo para cima e permanece em baixo, vai se molhar); As sanções legais são as estabelecidas nos códigos de leis penais, por exemplo (a sociedade tipifica o que é um crime e estabelece uma punição para seu cometimento); As sanções de opinião são aquelas que as pessoas praticam em detrimento dos que julgam ter cometido um mau ato (trata-se da censura, do desprezo, da aversão, etc.). No campo da moral, a sanção que importa é aquela que resulta da consciência (sentimento moral).

É desta maneira que podemos notar, a partir das lições do Espiritualismo Racional, que o ser humano PODE e DEVE aperfeiçoar o seu CARÁTER. Trata-se do aperfeiçoamento de si mesmo, isto é, corrigir os maus hábitos e dominar suas paixões. Isto demanda ESFORÇO e VONTADE bem DIRIGIDA. Nada seria obrigatório se não fosse possível. Deus não obriga ao IMPOSSÍVEL. Portanto, a autonomia só é verdadeira quando o interesse não é pessoal.

No próximo encontro vamos falar sobre as paixões. Convidamos para o estudo sério da Filosofia Espiritualista Racional, da qual o Espiritismo é uma das fases.

Uberaba-MG, 13/06/2022
Beto Ramos


FONTE BIBLIOGRÁFICA: JANET, Paul. Pequenos Elementos da Moral. Edição do Kindle (Amazon).

quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

A CURA PELO PASSE MAGNÉTICO

 

Para a MEDICINA tradicional a doença e a cura vêm de causas externas. O ser humano é bombardeado pelo meio em que está situado e será o que lhe rodeia, coisas visíveis ou invisíveis a olho nu, que vão lhe causar os males físicos. Pelo mesmo raciocínio, a cura somente poderá advir de causas igualmente externas (remédios, chás, sangrias, amputações, radiações e outras tantas estratégias).

No século 19 acreditava-se que CURAR SERI EXPULSAR O MAL DO CORPO. E, somente por TRATAMENTOS feitos por MÉDICOS poderiam ‘expulsar’ esse mal. A lógica é a mesma de certas religiões para as quais havia a hipótese de que certos males seriam causados por demônios, os quais, também, precisavam ser expulsos do corpo do individuo. E, somente, religiosos habilitados poderiam EXORCIZAR o indivíduo.

Esse é o cenário do século 19 em que o Espiritismo moderno chegou à Terra:

Figura 1

Para bem se compreender melhor o assunto CURA PELO PASSE MAGNÉTICO é necessário voltar ao século 18 para conhecer a figura de FRANZ ANTON MESMER.

Mesmer nasceu em Constança, na Suábia, região que hoje pertence à Alemanha, no dia 23 de maio do ano de 1734. De família católica, em 1743, foi encaminhado pelos pais a um monastério em Constança onde, durante alguns anos, estudou línguas, literatura clássica e música.


Em 1750 ingressou na Universidade da Companhia de Jesus na Baviera onde estudou filosofia chegando ao doutorado. Ali encontrou as obras de Galileu, Descartes, Leibniz, Kepler, Newton e outros.

Em 1754 iniciou o curso de teologia na Universidade da Baviera e cinco anos depois, na Universidade de Viena da Áustria, dedicou seu 1º ano na instituição ao estudo das leis e se transferiu depois para o curso de medicina, considerado o melhor da Europa.

Depois de seis anos de estudo conquistou o Doutorado com a sua Dissertatio physico-medica de planetarum influxu (Dissertação físico-médica sobre a influência dos planetas), sob a égide de Newton e talvez de Paracelso. Em sua dissertação usa pela primeira vez o conceito de fluido universal.

Figura 2


O primeiro tratamento por meio do magnetismo animal feito por Franz Anton Mesmer teve início em 1773. A paciente foi uma parenta de sua esposa e amiga da família Mozart, Franziska Esterlina, uma senhorita de vinte e nove anos, bastante debilitada.

Com a pouca acolhida dada à sua descoberta, em 1775 Mesmer se determinou a nada mais realizar publicamente em Viena. Viajou para diversos países da Europa anunciando a sua descoberta (Suábia, Baviera, Suíça, Hungria e outros países). Publicou uma Carta ao povo de Frankfurt, que representa uma importante fase do desenvolvimento de sua teoria. Em 5 de janeiro, publicou em jornais e panfletos uma Carta a um médico estrangeiro esclarecendo a terapia do magnetismo animal.

Em 1776, Mesmer deixou de fazer uso do ímã como simples condutor do magnetismo animal, para evitar mal-entendidos por parte dos médicos e físicos. Continuou a usar água, garrafas e barras de ferro. Publicou Cartas sobre a cura magnética, esclarecendo a sua tese de doutorado, e as enviou, como divulgação, a alguns médicos. No ano seguinte, Mesmer aceitou como paciente a famosa pianista Maria Theresia Von Paradis, curando sua cegueira e gerando controvérsias.

PROCESSO DO MESMERISMO:

A teoria e a prática da cura proposta por Mesmer considerava o uso de um método com os seguintes recursos:

  •        Passes
  •        Água fluidificada
  •        Imposição de mãos

Mesmer propôs que “a vontade forte de uma pessoa bem intencionada sobre outra doente, pelo contato ou não, e até a certa distância, pode fazer agir uma força vital do “mesmerizador” sadio dotado deste poder sobre outra pessoa dinamicamente”.

Para esse processo são necessários sintonia e vontade para incitar o processo natural de cura próprio do paciente.

Em suas pesquisas Mesmer descobre que era possível provocar o sonambulismo em outra pessoa, cujos sentidos ganham uma profunda ampliação. Em uma das experiências feitas com o grão de pão demonstrou a ampliação da percepção por meio da constatação dos sabores: farinha, sal, fermento, etc. (tudo em separado).

As faculdades ampliadas detectadas no sonâmbulo foram:

  •    Visão à distância
  •    Previsão de fatos futuros
  •   Exames internos de doentes (o sonâmbulo via o interior do organismo)
  •    Descrição de doença
  •    Sugestão de tratamento
  •    Previsão a cura

Mesmer chamou isto de lucidez sonambúlica. O objeto de seus estudos era a alma, por meio do método científico, não havendo nada sobrenatural, nem espírito de sistema.

Constatou-se que a alma age por meio da VONTADE sobre o corpo, como FONTE DE FORÇA necessária para RESTABELECER A SAÚDE. Mesmer descobriu que o princípio da cura está no próprio indivíduo. O processo de cura é de dentro para fora. É no organismo do indivíduo doente que se inicia, intimamente, o processo de cura.

Conforme a Teoria Geral todos os fenômenos naturais (luz, som, eletricidade, calor, etc.) seriam propagados por meio de uma VIBRAÇÃO, nos diversos graus de fluidez do FLUIDO UNIVERSAL.

Em toda a teoria de Mesmer sobre o magnetismo animal, a ação da VONTADE e sua PROPAGAÇÃO por um meio material constitui o PONTO CENTRAL de toda a teoria. VONTADE E PENSAMENTO PROVOCAM VIBRAÇÕES DE AGENTE GERADOR, o que produz efeito à distância por meio de ondas do meio, que se espalham pelo espaço.

Mesmer partiu da teoria cogitada por Newton, onde o movimento animal (isto é, os movimentos musculares) é provocado por vibrações do meio, excitados pelo cérebro pelo poder da vontade, propagados pelo meio de fibras sólidas muito tênues, transparentes, uniformes dos nervos para os músculos, para contraí-los e dilatá-los.

E esse, também, é o conceito da Doutrina Espírita. Segundo Kardec, em A Gênese, de 1868, o fluido perispiritual é o traço de união entre Espírito e Matéria. Durante sua união com o corpo, é o veículo do pensamento do Espírito para transmitir MOVIMENTO ÀS DIFERENTES PARTES DO ORGANISMO, os quais atuam SOB O IMPULSO DE SUA VONTADE, e para REPERCUTIR NO ESPÍRITO AS SENAÇÕES PRODUZIDAS PELOS AGENTES EXTERNOS. Tem por fios condutores os nervos.

De acordo com a ciência do magnetismo animal A CURA não ocorre por ação de uma substância, mas pela SINTONIA, isto é, CONCORDÂNCIA ENTRE DUAS VONTADES, a do magnetizador e a do paciente, motivando a FORÇA NATURAL DO ORGANISMO para restabelecer a SAÚDE. Esse é o princípio essencial. Entre o Espiritismo e o Magnetismo o laço de união fundamental é a TEORIA DA VONTADE. Em 1861, Kardec afirmou que a vontade desempenha papel capital em todos os fenômenos do magnetismo. A vontade participa não como um ser, uma substância ou uma propriedade da matéria, mas, como um atributo do espírito, o ser pensante encarnado ou errante.

A faculdade de cura se explica pela ação do Espírito sobre a matéria elementar. Até certo limite, o Espírito pode lhe modificar as propriedades.

A compreensão do passe nos dias atuais não é condizente com a teoria, observação, experimento e práticas do magnetismo animal de Mesmer. Isso se explica em razão de que alguns magnetizadores se diziam seus discípulos. No entanto, defendiam posições diferentes.

Um deles, DELEUZE, não possuindo conhecimento de conceitos da Física, como o de potencial de força, não abordava o assunto no sentido dos debates entre movimento ondulatório e mecânico. Deleuze, afirmava que os efeitos produzidos são unicamente devidos à natureza, cuja ação é reforçada pela ação do magnetizador.


LAFONTAINE, um magnetizador que fazia oposição à união entre magnetismo e Espiritismo, apoiado pela Igreja, defendeu a teoria do fluindo vital. Esse e outros magnetizadores foram denominados FLUIDISTAS. Nunca viram ou experimentaram pela observação tal teoria, mas, combatiam a ideia de cura baseada na TEORIA DA VONTADE. Para estes, o fluido vital era a CAUSA dos EFEITOS MAGNÉTICOS.

O fato é que o caminho contrário ao proposto por Mesmer se dava em razão de que a comunidade científica das ciências naturais não aceitavam quaisquer questões psicológicas. Lafontaine preferiu negar a verdade para que o magnetismo fosse aceito pela comunidade científica. Algo parecido com o que ocorreu com Galileu sobre o fato de a Terra girar. Por outro lado, Mesmer faz parte do grupo dos que não abandonam a verdade, como é o caso de Giordano Bruno.

Em suma, Lafontaine negava o fenômeno mediúnico. Dizia que a natureza é a do sonambulismo e afirmava não existir comunicação com o mundo dos Espíritos, visto que essa era impossível. Na opinião dos magnetizadores fluidistas materialistas, afastando os conceitos de vontade, alma e pensamento, a ação mecânica e curativa de uma substância acumulada pelo magnetizador é transmitida ao paciente, que a absorve.

Esta é a TEORIA DA SUBSTÂNCIA MATERIAL baseada na Teoria do Fluido Vital de Claude Nicolos Le Cat, que estudou as sensações nos amputados. 

O seu método de pesquisa era a observação, a imaginação e a produção de hipóteses.


Importante ressaltar como e porque se usava a expressão FLUIDO. Essa ideia surgiu para explicar os fenômenos observados repetidamente, considerando a comunicação à distância. Essa comunicação ocorria por “algum meio”. E, a esse, deram o nome de FLUIDO. É daí que surgem os nomes fluido animal, vital, elétrico, etc.

A hipótese fundamental dessa teoria é que a natureza era composta por forças observáveis. Essas forças foram concebidas como SUBSTÂNCIAIS ESPECIAIS. Sua composição era de ÁTOMOS (esferas duras, invisíveis, que possuíam cada uma delas propriedades das diferentes forças).

Para explicar o CALOR pensavam que a sensação causada no indivíduo era provocada por essas esferas, as quais formavam a substância denominada FLUIDO CALÓRICO. Laplace e Lavoisier admitiam essa hipótese para explicar TODOS OS FENÔMENOS DA NATUREZA.

Trata-se de uma TEORIA MATERIALISTA. Perceba que o átomo, a substância, o fluído, tudo é matéria, sendo que a sua transmissão, isto é, ALGO FLUINDO, é toda material, nada psicológico. Flui porque é considerada SUBSTÂNCIA. Segundo EINSTEIN, o calor NÃO É substância, nem mesmo sem peso.

No magnetismo animal a natureza física do universo está relacionada com ESTADOS DE VIBRAÇÃO nos diversas fases de um PLENO, isto é, TODA MATÉRIA SEM QUE EXISTAM VAZIOS. Os sentidos humanos apreendem as vibrações dos meios. Para Mesmer o fluido cósmico é o conjunto de todas as séries da matéria, que é dividida pelo movimento interno, ou seja, o movimento das partículas entre si.

O universo, portanto, está fundido e reduzido a uma única massa. A essência do fluido cósmico é sua fluidez. Não possui nenhuma propriedade, não é elástico e não tem peso. É o meio apropriado para determinar as propriedades de todas as todas as ordens da matéria.

HIPÓTESE è FLUIDO VITAL / EXEMPLO: FLUIDO CALÓRICO

Figura 3


As propriedades são consideradas próprias dessa qualidade do átomo.

Figura 4


Para os partidários da teoria do fluido vital, as propriedades curativas estariam relacionadas com a própria natureza dos átomos dessa imaginária substância especial, sendo ela própria a cura. Nesse caso, o processo se dá por meio de uma quantidade de fluido acumulada no magnetizador que seria transferida por meio de EMISSÃO para o paciente carente dessa substância. A ação, nessa hipótese, estaria relacionada apenas com a quantidade que seria transferida. Os defensores da teoria concluem que, sendo algo físico, os atos mecânicos são possíveis, ou seja: acumular, guardar e transferir. ESSA HIPÓTESE É FALSA.

Figura 5



Aplicando a teoria do fluido cósmico (Mesmer) ao magnetismo animal (Mesmer):

HIPÓTESE è FLUIDO UNIVERSAL:

As propriedades dos fluidos estão relacionadas com a ação do magnetizador. O magnetizador GERA o MOVIMENTO. Esse movimento é uma ONDA, que terá a FREQUÊNCIA equivalente ao TIPO DE PENSAMENTO do magnetizador. Sua POTÊNCIA está relacionada com a FORÇA DA VONTADE empregada pelo magnetizador. É o movimento gerado pelo magnetizador que induz a VONTADE do PACIENTE. A causa da cura do paciente está no esforço do seu organismo em promover seu próprio reequilíbrio. 

Figura 6


Resumindo:

Figura 7


Os fatos envolvidos nesse processo são fisiológicos e psicológicos. Enquanto a teoria de Mesmer propõe uma união entre fenômenos do mundo físico e moral para um mesmo agente gerador, que corresponde aos fenômenos observados pelos Espíritos Superiores no mundo espiritual, os teóricos fluidistas derivaram várias práticas formais sem fundamento no fenômeno, tais como:

1. Limite de quantidade de fluido a ser transmitida.

2. Risco de o magnetizador ficar sem estoque, adoecer ou se esgotar.

3. Colocar as mãos do paciente para cima para o fluido penetrar mais facilmente.

4. Pensar no mau direcionamento do fluido, que passaria ao lado do paciente.

5. Cada magnetizador fluidista passa a criar um ‘sistema próprio’.


Percebemos que todas essas práticas formais não passam de rituais. E é nesse sentido que é preciso recordar a ciência filosófico-espírita que não adota NENHUM tipo de ritual ou formalidade.

No Brasil, compreende-se o passe como sendo um fluído vital se desprendendo do magnetizador, projetando-se para fora, sendo dirigido para o corpo do paciente que, o absorvendo, obterá o efeito curativo dessa substância. Essa é a teoria dos magnetizadores fluidistas do século 19. Mas, não é essa a teoria de Mesmer.

Os princípios do magnetismo animal são diferentes. Além disto, a compreensão do passe no Brasil é diferente do ensino dos Espíritos na obra de Kardec. É preciso lembrar, uma vez mais que a Doutrina dos Espíritos possui caráter progressivo. Não basta ler uma obra e pensar que já sabe o que é e como é alguma coisa. É necessário saber o que foi dito pelos Espíritos Superiores, o que foi objeto de experimento de Allan Kardec e o que está registrado nas obras Espíritas.

Figura 8

Os defensores da corrente fluidista (a mesma defendida no Brasil) deixam de lado o princípio espiritual, quando não o negam absolutamente. Para essa corrente tudo se relaciona com a ação do fluido material e, por isto, estão em oposição de princípios com os espíritas.

Na RE de 1867, Kardec explicou que os magnetizadores fluidistas imaginam os efeitos do magnetismo como uma ação de um fluido fisiológico material, sem relação nenhuma com a alma.

O magnetismo animal de Mesmer não promoveu a teoria do fluido nervoso vital ou magnético, que se desprende do nosso corpo, projeta-se para fora e transporta-se em caso de necessidade através do espaço.

Para saber mais sobre o fluído cósmico universal e como se passam os fenômenos no mundo espiritual, bem como conhecer o papel da vontade e do pensamento no processo de cura, de acordo com a prática espírita e com o ensino dos Espíritos Superiores, é preciso estudar a 2ªParte do Livro dos Médiuns, especialmente o capítulo 8, Laboratório do Mundo Invisível, além do capítulo 14, os fluídos, de A Gênese de 1868.

Uberaba-MG, 22/12/2021.
Beto Ramos

Fonte de pesquisa principal:
FIGUEIREDO, Paulo Henrique de. AUTONOMIA – A história jamais contada do Espiritismo. São Paulo: FEAL, 2019.

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