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domingo, 16 de abril de 2023

DIÓGENES, O CÍNICO (ESPÍRITO) E SUA COMUNICAÇÃO NA REVISTA ESPÍRITA

 

Diógenes de Sinope, também conhecido como Diógenes, o Cínico, foi um filósofo da Grécia Antiga, cujos detalhes da vida foram contados por meio de chreia (anedodas). Tendo vivido entre os anos 404 (aproximadamente) a 323, a. C., foi exilado de sua cidade natal e se mudou para Atenas, onde teria se tornado discípulo de Antístenes, antigo protegido de Sócrates. Tornou-se mendigo e habitou as ruas de Atenas, fazendo da pobreza extrema uma virtude. Conta-se que vivia em um barril (ou um jarrão de cerâmica) e perambulava pelas ruas com um lanterna alegando que procurava um homem honesto.

O cinismo foi uma corrente filosófica fundada por Antístenes, discípulo de Sócrates. Para os cínicos, o propósito da vida era viver na virtude, de acordo com a natureza. As pessoas, como criaturas racionais, podem alcançar a felicidade através de um rigoroso treinamento, de modo a viver de maneira natural, rejeitando todos os desejos convencionais de riqueza, poder e fama, levando uma vida simples, livres da necessidade de posses e, até mesmo, desrespeitando as convenções sociais de modo aberto e irônico.

A Revista Espírita do mês de Janeiro do ano de 1859, sob o título Conversas Familiares de Além-Túmulo, traz duas comunicações interessantes, de um lado Chaudruc-Duclos e, em seguida, Diógenes. Apesar do primeiro ter se referido ao segundo, importa anunciar o interessante diálogo travado com o antigo filósofo, partidário da corrente filosófica do cinismo.

Para esse diálogo, além dos demais médiuns, participou o médium vidente Sr. Adrien, que fez ambos os retratos dos comunicantes. Por evocação comparece o Espírito Diógenes. Vindo de longe, concordou em aparecer ao Sr. Adrien, tal qual era na existência em que ficou conhecido na Terra. Deferiu, inclusive, aparecer com a lanterna que usava naquela encarnação em que defendia a corrente filosófica dos cínicos.

Descrito com perfeição (corpo e vestimenta) em seu retrato, destacou que tinha prazer em responder as perguntas que lhe seriam dirigidas. Sob sua encarnação como Diógenes, o Cínico, esclareceu que foi proveitosa para sua felicidade futura. Enquanto que seus contemporâneos levaram sua vida como se fosse algo ridícula, tratou-se de existência proveitosa, da qual a história trouxe tão pouco esclarecimento.

Afirmou que na sua encarnação trabalhou para si mesmo, porém seus exemplos poderiam ter servido de aprendizado. Sobre as qualidades que buscava no ser humano, esclareceu que estava certo de que as possuía, pois esse era o seu critério de julgamento.

Dentre seus filósofos preferidos, naquela época e até a ocasião da comunicação, citou Sócrates, declarando que Platão era muito duro e sua filosofia bastante severa. Após sua encarnação na Terra, em Atenas, afirmou que reencarnou em outros mundos.

Ao ser solicitado para traçar um quadro com as qualidades humanas que buscava na Terra ao tempo de sua encarnação como Diógenes e agora, como Espírito, apresenta-as:

Esse quadro é uma prova da evolução perpétua e contínua dos Espíritos.

Se essa informação foi interessante pra você, por favor, não deixe de se inscrever no blog e estudar continuadamente as Revistas Espíritas.

Uberaba-MG, 16/04/2023
Beto Ramos.




quarta-feira, 3 de agosto de 2022

QUAL É O OBJETO DE ESTUDO DO ESPIRITISMO?

 

Uma das primeiras dúvidas que me foram se apresentando durante o aprofundamento do estudo da Doutrina Espírita, sem dúvida, é quanto a princípio inteligente. Seria ele o objeto de estudo da doutrina? Se a resposta fosse positiva, qual razão levou Kardec a apresentar poucas questões fazendo referência ao assunto?

Observando a disposição do conteúdo de O Livro dos Espíritos vemos que:

a. No Livro Primeiro, sobre as causas primárias, capítulo 1, destacam-se 14 perguntas a respeito de Deus;

b. No capítulo 2, quanto aos elementos gerais do Universo, temos 04 questões; sobre espírito e matéria temos 39 questões, sendo que outras 02 tratam do espaço universal;

c. Ainda, no capítulo 2, no assunto elementos gerais do Universo, são reservadas para o princípio inteligente do universo 07 questões;

Não posso deixar de registrar qual foi minha surpresa. Seriam 'apenas' 07 questões? Essas seriam o suficiente? Que motivos teria o organizador do Espiritismo para não aprofundar no assunto?

Foi estudando a Obra A Gênese, especialmente o Capítulo 11 - Gênese Espiritual, item 23, que me deparei com importante esclarecimento de Allan Kardec sobre esse assunto. Vejamos o que registrou:

"Conforme a opinião de alguns filósofos espiritualistas, o princípio inteligente, distinto do princípio material, se individualiza, se elabora, passando pelos diversos graus da animalidade. É aí que a alma se ensaia para a vida e desenvolve, pelo exercício, suas primeiras faculdades. Seria, por assim dizer, seu período de incubação. Chegando ao grau de desenvolvimento que essa fase comporta, ela recebe as faculdades especiais que constituem a alma humana. Haveria, assim, filiação espiritual, como há corporal. Esse sistema, baseado sobre a grande lei de unidade que preside a criação, corresponde, é preciso convir, à justiça e à bondade do Criador. Dá uma saída, um alvo, um destino aos animais, que não seriam mais seres deserdados, mas encontrariam no futuro que lhes está reservado uma compensação a seus sofrimentos".

Importante destacar no texto transcrito ipsis litteris que Kardec apresenta uma teoria espiritualista, um sistema como ele mesmo diz, a qual afirma haver uma coerência interna quando analisada em razão dos atributos divinos. No entanto, veja que, em seguida, trará importantes informações que nos interessam para reflexão do tema proposto.

"O que constitui o homem espiritual não é sua origem, mas os atributos especiais dos quais está dotado quando entra na humanidade; atributos que o transformam e fazem dele um ser distinto, como o fruto saboroso é distinto da raiz amarga de onde saiu. Por ter passado pela fieira da animalidade, o homem não seria menos homem; não seria animal, como o fruto não é a raiz, ou o sábio não é o disforme feto, pelo qual veio ao mundo".

Destacamos nessa parte do texto, como também na anterior citada, que Kardec usa um determinado formato de linguagem. Trata-se do futuro do pretérito, isto é, um tempo verbal conjugado no modo indicativo, que pode expressar incerteza, surpresa e indignação. Essa forma é usada para se referir a algo que PODERIA ter acontecido posteriormente a uma situação no passado. Percebemos que Kardec usa esse tempo verbal expressando INCERTEZA.

Assim sendo, Kardec não valida a teoria, mas, faz um preâmbulo a seu respeito, afastando quaisquer sombra de dúvidas acerca da origem da hipótese, como, também, quem são seus defensores. A seguir, é possível perceber com clareza solar qual a solução que Kardec dá para o tema em questão e qual será o campo delimitado para se tornar objeto da sua pesquisa:

"Mas, esse sistema levanta numerosas questões, cujos prós e contras NÃO É OPORTUNO DISCUTIR AQUI NEM EXAMINAR as diferentes hipóteses feitas sobre esse assunto. SEM PROCURAR A ORIGEM DA ALMA E AS ETAPAS PELAS QUAIS TENHA PASSADO, vamos considerá-la ao entrar na humanidade, ponto em que está dotada de senso moral e do livre-arbítrio e começa a exercer responsabilidade por seus atos".

Recordando que as mencionadas faculdades especiais que constituem o homem espiritual, ser espiritual ou, ainda, ser humano (encarnado ou desencarnado) são: razão, vontade e imaginação.

Mas, o importante registro é que o Espiritismo não investiga a origem da alma, não estuda as etapas pelas quais ela tenha passado, e, também, não se ocupa do homem espiritual no período em que é Espírito simples e ignorante, isto é, aquele que entrou na humanidade, mas está com nulidade intelecto-moral. Essa fase, inclusive, segundo Kardec na Revista Espírita de 1864, dura um período que vai da primeira encarnação até a centésima, talvez milésima, até que o Espírito tenha consciência clara de si mesma.

A fase em que alma será considerada como objeto de estudo do Espiritismo é aquela em que está dotada de senso moral e do livre-arbítrio, quando faz escolhas e começa a EXERCER responsabilidade pelos próprios atos. Poderíamos especular que essa fase seria a daqueles Espíritos que se encontram já em planetas de provas e expiações e não nos orbes destinados a Espíritos primitivos. Mas, não passa de especulação mesmo. O que é necessário compreender é qual o objeto de estudo do Espiritismo: trata-se do Espírito que tem consciência clara de si mesmo.

Esperamos ter contribuído para o estudo desse assunto, uma vez que vemos muitos se debruçarem sobre fases das quais a Doutrina Espírita não se ocupa. Dessa forma, muitas discussões improdutivas podem ser dispensadas para dar lugar a várias outras que precisamos investigar, estudar, aprender e compreender.

Uberaba-MG, 03 de Agosto de 2022.
Beto Ramos.

quinta-feira, 14 de julho de 2022

QUADRO COM CITAÇÕES DE KARDEC SOBRE A GÊNESE

A obra A Gênese, sem dúvidas, é um marco para os Espíritas, aqueles que estudam e se aprofundam nas pesquisas desta ciência-filosófica, uma vez que o objetivo da Teoria Moral Espírita é conduzir os indivíduos à perfeição por meio de esforços individuais (autônomos). Vários elementos que servem à educação moral do ser humano estão contidas na obra A Gênese.

Neste sentido, verifica-se que, entre no período compreendido entre Novembro de 1867 até Abril de 1869, Allan Kardec efetuou várias observações apontando para a importância do estudo do conteúdo da obra A Gênese. Oferecemos ao leitor o quadro abaixo para fins da reflexão necessária quanto a essa edição da obra que surgiu para o mundo no ano de 1868, cujo conteúdo permaneceu inalterado durante até a morte do seu autor. Vejamos:












Esperamos que esse quadro possa contribuir para a reflexão daqueles que meditam seriamente sobre o conjunto da obra espírita, bem como de sua teoria moral.

Uberaba-MG, 14/07/2022.
Beto Ramos.

segunda-feira, 20 de junho de 2022

O AGENTE MORAL, SUAS PAIXÕES E VÍCIOS.

 

Retomando a ideia a partir do nosso último artigo, é importante ter sempre em mente que os caracteres humanos não são imutáveis. Todos estão sujeitos a inclinações boas ou más. LIBERDADE é FORÇA MORAL. Há uma NATUREZA EXTERIOR AO CORPO que provoca ou desperta PAIXÕES. As paixões se tornam HÁBITOS e influenciam no CARÁTER. Deste, advém os IMPULSOS, que tudo move sem ser movido.

A liberdade está em ceder ou não aos desejos e controlar ou não os impulsos. Todo AGENTE MORAL é LIVRE e, por isso, RESPONSÁVEL POR SUAS AÇÕES. Todavia, há condições para a responsabilização moral. Trata-se do conhecimento do bem e do mal e da liberdade de ação.

Nesse caso, seria lícito questionar quem é o agente moral. Seria apenas aquele que escolhe fazer o bem? Aquele que não dá vasão aos seus impulsos? Compreendemos que a condição que se deve observar no agente moral é: trata-se de uma alma encarnada livre? Isto é, uma alma encarnada que pode fazer escolhas?

O verdadeiro agente moral é aquele que está sujeito às inclinações boas ou más, que possui liberdade para escolher e que, finalmente, poderá ser responsabilizado pelos seus atos. Destarte, ninguém será punido em razão de ter agido coercitivamente (alguém o obriga a fazer ou deixar de fazer alguma coisa), tampouco aquele que agiu ou não por ignorância (faz ou deixa de fazer alguma coisa desconhecendo quaisquer resultados).

Assim sendo, o agente moral é todo aquele passível de ser responsabilizado moralmente. O julgamento/juízo é interno/íntimo e supõe exame de consciência, a qual carece estar desperta e o indivíduo não poderá estar no estado de inocência. A sanção (penalização) para o agente moral depende, então, de o mesmo possuir conhecimento do bem e do mal e ter liberdade de ação entre um e outro (fazer/não fazer o bem; fazer/não fazer o mal).

Corrigir maus hábitos e dominar suas paixões são empreendimentos do agente moral. Demanda esforço e vontade bem dirigida. Não há nenhum arrastamento que seja irresistível; é necessário que se tenha vontade de resistir. Essa resistência supõe o conhecimento de si mesmo. Então, como essas paixões se desenvolvem?

Segundo a Filosofia Espiritualista Racional, o processo dá-se da seguinte forma:

a. Afetos naturais e inevitáveis da alma:

  • inclinações;
  • tendências.

b. Movimentos violentos e desordenados:

  • paixões propriamente ditas.

c. Hábitos incorporados ao caráter:

  • vícios.

Vejamos o processo em que, partindo de afeto natural, passando pela paixão, chega-se ao hábito. O indivíduo tende, naturalmente, à conservação; trata-se do instinto de conservação. Por essa tendência desenvolve o amor à vida (natural).

Eis que, influenciado pelas circunstâncias, idade, doenças ou temperamento, o indivíduo exacerba o amor à vida. Por isso, desenvolve uma paixão: é o MEDO DA MORTE.

Finalmente, passa a não enfrentar nenhuma situação em face do medo que desenvolveu. Chegamos, portanto, ao hábito, isto é, o indivíduo desenvolveu a COVARDIA; O hábito se tornou um vício.

Outro exemplo que facilita a compreensão do processo é com relação à conservação natural. Para viver o indivíduo sente FOME e SEDE (são os apetites). Tudo deve ser saciado na justa medida. Se o indivíduo passa a comer e beber além da conta (abusa dos apetites) desenvolve paixões; Estas, por sua vez se transformam nos vícios da GULA e da EMBRIAGUÊS.

Os afetos naturais e inevitáveis são princípios importantes, que devem ser objeto de análise constante do indivíduo. A Filosofia Espiritualista Racional oferece o seguinte quadro: 

PRINCÍPIOS

VÍCIOS

Amor a si

Egoísmo

Estima p/ si mesmo

Orgulho e vaidade

Amor à liberdade

Espírito de revolta

Amor ao poder

Ambição

Instinto de propriedade

Avidez, cupidez, paixão pelo ganho

Paixão pelo jogo ou desejo de ganhar por meio do azar

Desejo de ganhar + temor de perder = avareza

Existem, também, as inclinações relativas a outros indivíduos, que precisam ser observadas para que NÃO caminhem para o campo dos vícios: 

PRINCÍPIOS

VÍCIOS

Desejo de agradar ou benevolência   

Complacência

Desejo de elogiar

Adulação

Desejo de estima

Hipocrisia

As paixões e os vícios são doenças da alma. A cura é apenas o querer. A dificuldade reside na ocupação da alma com a paixão. Nesse caso, é preciso desviar o espírito para outros objetos. Bossuet, citado por Paul Janet, ensina que "não se detém o curso do raio, mas, dele é possível desviar". É preciso que o indivíduo desvie sua atenção. Aquele que se nutre desde cedo com afeições honestas tem maior chance de vencer uma paixão.

Há, segundo a Filosofia Espiritualista Racional, meios de substituir um mal hábito por um bom hábito:

1. Se jogar na extremidade oposta do defeito; Encontrar o equilíbrio na elasticidade razoável e natural do objeto; Ficar atento para não recair no vício;

2. Evitar começar tarefas muito difíceis. Proceder gradualmente e segundo as próprias forças para vencer no empreendimento de substituição; É sabido que a preguiça não se cura com trabalho excessivo, mas sim um pouco a cada dia, até adquirir o hábito do trabalho;

3. Escolher a ocasião para adquirir a virtude nova, buscando a disposição íntima e exercitar a energia da vontade.

4. Não confiar que o mau pendor foi vencido em definitivo; Fazer exame de consciência, se ocupar com boas leituras, meditar, estar em boas companhias, escutar bons conselhos e escolher um grande modelo.

No próximo encontro vamos conversar sobre os deveres e suas classes. Até lá.

Uberaba-MG, 20/06/2022
Beto Ramos

FONTE BIBLIOGRÁFICA: JANET, Paul. Pequenos Elementos da Moral. Edição do Kindle (Amazon).

segunda-feira, 13 de junho de 2022

A AUTONOMIA É VERDADEIRA SE O INTERESSE NÃO É PESSOAL

 

Superado o estado de inocência ou desperto do sono da consciência, o indivíduo enfrenta o combate moral por excelência: a luta entre o DEVER e a PAIXÃO. Possuindo o necessário discernimento entre o que é bom ou mal chega o período em que as ações humanas vão repercutir na condição de sentimento moral. São as emoções ou afeições diversas. Trata-se dos prazeres ou dores que nascem na ALMA.

Sempre considerando o hábito ou a violência do desejo é preciso compreender que o ser humano age para fazer e, nesse sentido, possui, na consciência, a atração para o bem e a aversão para o mal. Portanto, após uma ação realizada, haverá um prazer, isto é, uma satisfação moral, desde que a ação seja boa. Por outro lado, o indivíduo experimentará o remorso e o arrependimento quando agiu mal. É um sofrimento.

O sofrimento moral é uma espécie de castigo em razão do crime. Nesse sentido, todo vício (resultado das más ações que se tornaram hábito a que o indivíduo se condicionou) cria um arrependimento na alma. O arrependimento é um sofrimento que nasce de uma má ação, como já afirmado, pois, arrepender-se é quase uma virtude. O arrependimento é compreendido como uma tristeza da alma. O remorso, por sua vez, também nasce de uma má ação, mas, configura-se como castigo, pois, acorre todo o tempo no pensamento do indivíduo, de forma que o tortura. Trata-se de uma angústia.

Isto posto, é importante salientar:  aquele que não tem remorso, não pode se arrepender. Quem comete uma ação boa sente uma satisfação moral, ou seja, é paz e alegria, viva e deliciosa emoção. É como uma recompensa, ela nasce do sentimento de se ter cumprido o dever.

Diante disto, temos:

1. O agente moral é a alma encarnada.

2. Um agente LIVRE; Que pode ESCOLHER POR SUA VONTADE.

3. A escolha se dará entre fazer ou não fazer o bem, fazer ou não fazer o mal.

Para se compreender perfeitamente o que é uma escolha livre, é preciso julgar a INTENÇÃO. É que não se pune o que é feito por coerção ou por ignorância. Por isto, o indivíduo não pode estar nem no estado de inocência, nem no sono da consciência. A LIVRE ESCOLHA sempre supõe a RESPONSABILIDADE.

Os caracteres humanos não são imutáveis. Todos estão sujeitos a inclinações boas ou más. LIBERDADE é FORÇA MORAL. Há uma NATUREZA EXTERIOR AO CORPO que provoca ou desperta PAIXÕES. As paixões se tornam HÁBITOS e influenciam no CARÁTER. Deste, advém os IMPULSOS, que tudo move sem ser movido. A liberdade está em ceder ou não aos desejos e controlar ou não os impulsos.

Todo AGENTE MORAL é LIVRE e, por isso, RESPONSÁVEL POR SUAS AÇÕES. Todavia, há condições para a responsabilização moral. São elas:

a. Conhecimento do bem e do mal;

b. Liberdade de ação.

Ora, variando as condições, a responsabilidade varia na mesma proporção. Chega-se, então, no campo da sanção moral, isto é, o conjunto de penas ou recompensas vinculadas à execução ou à violação de uma lei. Mas, que se deve entender por recompensas e punições?

Quando se afirma que obras que trazem hipóteses de castigo e recompensa baseadas na concepção de religiões ancestrais, buscando as aproximar do espiritismo, estão equivocadas, é porque a base de compreensão destas expressões, encontradas nas obras de Allan Kardec, possuem conceitos diferentes.

Kardec não as conceituou nas obras Espíritas em razão de que já havia obras que fizeram esse trabalho. Essas obras foram produzidas pela Filosofia Espiritualista Racional. A seguir detalharemos com clareza a ideia, sendo perceptível que a interpretação da Obra O Céu e o Inferno, por exemplo, requer o conhecimento desse conteúdo. Vejamos:

1. Recompensa: prazer obtido após uma ação boa (ou virtuosa). É diferente de favor ou salário;

2. Castigo/punição: sofrimento infligido a um agente por uma má ação. É possível ser atingido sem ser punido.

Recompensas e castigos no campo da moral requer uma justa meditação sobre para e porque. Vejamos a seguir.

  • A recompensa e o castigo NÃO EXISTEM para que a LEI MORAL seja cumprida (até poderia ser um meio de conduzir ao bem e desviar do mal, mas, esta NÃO É SUA FUNÇÃO ESSENCIAL e nem a verdadeira ideia de castigo ou recompensa);
  • O castigo e a recompensa existem PORQUE a LEI MORAL foi cumprida ou violada. Trata-se de JUSTIÇA e não de UTILIDADE. O castigo requer reparação ou expiação.

Assim, o que assegura a execução da LEI MORAL é o ato ou a abstenção que CORRIGE sua VIOLAÇÃO. Essa correção acontece através da REPARAÇÃO OU DA EXPIAÇÃO.

Lembre-se que a ordem ou harmonia é perturbada pela VONTADE REBELDE. O sofrimento, por ter causado a desarmonia, é CONSEQUÊNCIA DA FALTA COMETIDA. Estamos tratando de vícios, atos injustos, portanto de doenças da alma.

É preciso compreender bem que não estamos no campo das sanções naturais, legais ou de opinião, mas da sanção interior, íntima. As sanções naturais são, por exemplo, as consequências naturais das ações (quem joga a água de um copo para cima e permanece em baixo, vai se molhar); As sanções legais são as estabelecidas nos códigos de leis penais, por exemplo (a sociedade tipifica o que é um crime e estabelece uma punição para seu cometimento); As sanções de opinião são aquelas que as pessoas praticam em detrimento dos que julgam ter cometido um mau ato (trata-se da censura, do desprezo, da aversão, etc.). No campo da moral, a sanção que importa é aquela que resulta da consciência (sentimento moral).

É desta maneira que podemos notar, a partir das lições do Espiritualismo Racional, que o ser humano PODE e DEVE aperfeiçoar o seu CARÁTER. Trata-se do aperfeiçoamento de si mesmo, isto é, corrigir os maus hábitos e dominar suas paixões. Isto demanda ESFORÇO e VONTADE bem DIRIGIDA. Nada seria obrigatório se não fosse possível. Deus não obriga ao IMPOSSÍVEL. Portanto, a autonomia só é verdadeira quando o interesse não é pessoal.

No próximo encontro vamos falar sobre as paixões. Convidamos para o estudo sério da Filosofia Espiritualista Racional, da qual o Espiritismo é uma das fases.

Uberaba-MG, 13/06/2022
Beto Ramos


FONTE BIBLIOGRÁFICA: JANET, Paul. Pequenos Elementos da Moral. Edição do Kindle (Amazon).

quarta-feira, 8 de junho de 2022

VIDA ANIMAL E VIDA MORAL

Diante da tensão entre o fanatismo religioso e o materialismo, no século 19, surge o espiritualismo racional. Conforme Allan Kardec o Espiritismo é uma das fases da Filosofia Espiritualista. Essa informação está contida no item I da Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita em O Livro dos Espíritos.

Ora, é imprescindível que o estudante do Espiritismo domine o conteúdo da Filosofia Espiritualista. Quais os temas e assuntos e qual o objeto de estudo desse gênero, do qual o Espiritismo é espécie, deve ser motivo da preocupação daquele que, definitivamente, quer tornar o Espiritismo com sua filosofia de vida, como o seu estilo de vida.

Uma das obras importantes que podem ser consultadas para que o estudioso se aproprie desse manancial é, sem dúvida, Pequenos Elementos de Moral, de Paul Janet, um dos grandes filósofos do movimento espiritualista racional. Os deveres entre os seres humanos em geral é o conteúdo dessa obra. Os preceitos em razão dos quais a obra é desenvolvida são dois, a saber:

1. Fazer o bem aos seres humanos;

2. Não fazer o mal aos seres humanos.

Trata-se do resumo das virtudes que dependem da moral social. No sentido comum, compreende-se que fazer o bem é o ato de dar prazer a alguém, enquanto que fazer o mal é o ato de fazer alguém sofrer. Nesse sentido, Paul Janet convida para a seguinte reflexão.

"Fazer o bem é entregar os objetos do desejo a alguém? Por exemplo, ao preguiçoso entregar o travesseiro macio, ao ébrio o vinho, ao velhaco as maneiras e rosto afável e ao violento o bom pulso? Seriam essas ações, verdadeiramente, o que pode ser denominado fazer o bem?"

Certamente, segundo Paul Janet, isso satisfaria as paixões daqueles que receberam os objetos de seus desejos, porém, não é isso que se compreende por fazer o bem. Por outro lado, o que seria fazer o mal? Seria causar dor a alguém? Por exemplo, o cirurgião que corta a gangrena, o dentista que extrai um dente, o pai que corrige o filho, estarão fazendo o mal?

A questão, afirma Paul Janet, é muito mais profunda. Nesse sentido ensina que o sofrimento causado pode proporcionar o bem, isto é, a dor pode causar prazer. Por outro lado, o prazer que satisfaz paixões proporciona o mal, isto é, o prazer pode causar dor.

Assim sendo, a máxima evangélica precisa ser interpretada devidamente:

"Não faças ao outrem aquilo que não quererias que te fizessem; Faze a outrem aquilo que quererias que te fizessem".

Em geral, ninguém quer ser punido ou corrigido, mas quer que lhe satisfaçam os vícios e as paixões. Ocorre que, quando ao ser humano não lhe falta a lei do dever, é outro o sentimento. O fato é que o Evangelho não convida ninguém à tibieza e à complacência; a ideia é outra. Trata-se de uma VERDADE MORAL, a verdadeira boa vontade.

Antes porém, é preciso esclarecer qual a condição humana no período primitivo, ou de infância espiritual, quando ainda há ignorância e nenhum conhecimento. Trata-se da vida meramente animal. Neste caso, o ser apresenta paixões, arrastamentos, instintos e procura somente a satisfação das necessidades primárias. Destarte, não há o que se pode denominar consciência moral. Por enquanto, o indivíduo não busca imitar Deus, se fazendo a sua imagem.

Apesar de a Lei do Dever ser obrigatória, uma vez que deriva de Deus, corolário da Sua Justiça e Bondade, o indivíduo na sua infância espiritual, experimentando apenas a vida animal, ainda não possui uma consciência desperta, portanto, não possui uma consciência moral.

A consciência é a faculdade do Espírito reconhecer a LEI MORAL e aplicá-la a todas as circunstâncias. A consciência é, ao mesmo tempo, um poder que ordena (dita o que é preciso fazer ou evitar) e um juízo que julga o que foi feito (decidindo entre o bem e o mal).

No processo de evolução e do despertar da consciência é preciso que o indivíduo compreenda quais são os verdadeiros bens, isto é, aqueles que não são apenas bens aparentes, quando há ocasião de FAZER O BEM. Por outro lado, é preciso saber quais são os males verdadeiros quando se recomenda a NÃO FAZER O MAL, afastando, da mesma forma, aqueles que são apenas males aparentes.

Há bens aparentes, como há males aparentes. No campo do DEVER MORAL é preciso compreender quais são os verdadeiros bens e quais são os falsos bens. Aqueles que consistem exclusivamente no prazer, exceto a utilidade e o valor moral, são os falsos bens; Aqueles que independem do prazer e se recomendam pela utilidade e pelo valor moral, são os verdadeiros bens (por exemplo: saúde e educação).

Os verdadeiros males ferem o interesse (bem entendido) e a moral dos demais (Exemplo: miséria e corrupção). Os males aparentes são momentaneamente sofridos, mas compensados por vantagens posteriores (Exemplo: medicamentos e castigos).

O bem aos outros deve ser compreendido como o bem entendido interesse deles, isto é, o BEM MORAL. Em relação a si mesmo, não se deve ter como FIM das ações praticadas, o interesse próprio. Observa-se que esse raciocínio não pode ser exercido quando se tratar dos outros. Apenas quando o indivíduo julga a si mesmo (examina a si mesmo).

A felicidade própria buscada, perseguida, procurada, não tem qualquer valor moral. Buscar a felicidade alheia, ao contrário, pode ter valor moral, DESDE QUE NÃO SE ENGANE QUANTO AO VERDADEIRO SENTIDO DA PALAVRA FELICIDADE. Isto é, não se deve confundir felicidade como uma sensualidade falaz e transitória. Portanto, a máxima cristã, antes citada, deve ser compreendida como:

- Uma vontade esclarecida que só queira para si o que estiver conforme o interesse bem entendido e a virtude.

Isto, portanto, resume perfeitamente a MORAL SOCIAL. Os termos fazer o bem e fazer o mal, se apresentam em casos diversos, desde o mais baixo até o mais alto grau do DEVER.

Assim, é preciso enfatizar que a consciência moral, que ao despertar supera a vida animal, trata-se de conhecer a lei do dever, aceitar como verdadeira e reconhecer a necessidade de sua aplicação. Esse processo não é externo e nem é fruto de coação (violência física) ou coerção (imposição de lei; força do Estado para fazer valer o direito).

Cada um deve agir de acordo com sua consciência, a qual apresenta decisões nítidas e distintas. O indivíduo sem consciência é aquele que se habituou a não consultar ou a desprezar seus ditames. Mas, só se pode ser bom ou mal quando se possui discernimento entre um e outro, fora disto considera-se aquilo que Paul Janet denomina de estado de inocência ou de sono da consciência.

O combate moral por excelência é a luta entre o DEVER e a PAIXÃO.

Ainda temos muito a aprender com o Espiritualismo Racional, com a Filosofia Espiritualista e com esse grande filósofo Paul Janet. Até o próximo encontro.

Uberaba-MG, 08/06/2022
Beto Ramos.

sexta-feira, 13 de maio de 2022

O ESPIRITISMO SE LIGA AO ESPIRITUALISMO RACIONAL?

 

É preciso indagar, por quais motivos os incautos levantam falsas bandeiras? O que motiva o ser humano a escolher o caminho da fraude? As respostas saltam aos olhos: orgulho, vaidade, prepotência, egoísmo, etc.

Para a surpresa de zero pessoa, os desqualificados sempre decidem desqualificar o outro, desqualificar o trabalho do outro. Pior do que isto é o fato de que ao tratar de assuntos e temas, buscando negar o que é inegável, demonstram o quanto raso é o seu pensamento, o quanto esdrúxulas são suas 'teses', o quanto de conhecimento não possuem (e nem querem possuir, é preciso afirmar).

A pergunta, título da postagem, realmente NÃO precisaria ser efetuada. Repetimos: PARA QUEM ESTUDA SÉRIA E PROFUNDAMENTE O ESPIRITISMO, A PERGUNTA NÃO PRECISARIA SER EFETUADA.

Provas? Sim. Vamos direto à fonte. Primeiramente, o que diz Allan Kardec sobre o assunto:


Allan Kardec não só trouxe tais informações na folha de rosto em O Livro dos Espíritos, usando do seu direito de autor (o qual a ninguém é dado o direito de questionar), como deixou bem clara a indicação de que para se conhecer a parte é necessário estudar o todo, explico após a informação:

"Como especialidade "O Livro dos Espíritos" contém a Doutrina Espírita; como generalidade liga-se ao Espiritualismo, do qual apresenta uma das fases. Essa a razão porque traz sobre o título as palavras: Filosofia Espiritualista". (Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita, item I - Espiritismo e Espiritualismo, O Livro dos Espíritos).

Aprioristicamente, quem estuda a teoria do conhecimento DEVE saber que a frase de Kardec quanto à especialidade e à generalidade se resume em: "O Espiritismo é espécie do gênero Espiritualismo". Depois, a LÓGICA nos permite inferir que para compreender a PARTE é necessário estudar o TODO, sob pena de fazer a negação penitente do desconhecimento.

Ah, bom, diria o Pinóquio, mas Kardec não escreveu Espiritualismo Racional. Pergunta-se: era necessário? Ele também não consignou muito mais sobre o Magnetismo Animal, além de deixar clara a sua afirmação que o Espiritismo e o Magnetismo são ciências gêmeas, carecendo o estudo de ambas, sem o que o edifício fica sem alicerce (quem desejar ir à fonte indicamos o estudo das Revistas Espíritas).

Finalmente, a estrutura estabelecida em O Livro dos Espíritos, comprova (aquele que frauda sempre exige mais uma prova e mais uma prova, numa cadeia interminável de exigências) que Kardec indicava o estudo do Espiritualismo Racional, uma vez que no século 19 era a base da educação na França: Liceus, Universidades, Escola Normal, etc. Vejamos:


Antes de compartilhar o último documento, remetemos o leitor para O Evangelho Segundo o Espiritismo, e, na sua introdução, examine o Controle Universal do Ensino dos Espíritos. Lá encontrará a indicação do uso de Lógica, Razão, Bom-senso. A moral - conforme a introdução - é o objeto da obra (no quadro acima - ciências psicológicas; tema, também, estudado nas Revistas Espíritas).

Quanto a O Livro dos Espíritos, verifique a estrutura a partir da primeira questão (no quadro acima, Ciências Metafísicas):

a. Teodiceia: Deus, seus atributos e sua providência (temas, também, estudados em A Gênese - 1868);

b. Cosmologia racional: matéria e vida (temas, também, estudados em A Gênese - 1868);

c. Psicologia racional: alma e corpo (temas, também, estudados em A Gênese - 1868).


Talvez os incautos sintam falta de Kardec tratar de Matemática e ciências físicas. Por último, e concluindo que o Espiritismo se liga ao Espiritualismo Racional, como de fato foi esclarecido pelo organizador da Doutrina dos Espíritos, devendo o estudante sério do Espiritismo atentar para o fato e buscar compreender a Doutrina dentro de suas bases e fundamentos, trazemos à colação um programa de ensino desenvolvido no Brasil do 2º Império, onde provamos que a educação no mundo, no século 19, estava estruturada sobre as bases do Espiritualismo Racional. Vejamos:


Ao contrário das discussões inúteis, publicações que visam apenas o deleite do próprio orgulho, o menosprezo sem a caridade como a entendia Jesus (Q. 886, LE), vamos nos unir em prol da REGENERAÇÃO DA HUMANIDADE. Por que motivos ainda persiste o desejo de deixar os demais na ignorância? Que tal todos entrarem no 'céu' e não se constituírem em obstáculos?

Finalmente, se você não encontrou na Doutrina Espírita remissões a Rousseau, Kant, Platão, Aristóteles e outros tantos expoentes, se você acredita que a Doutrina Espírita foi uma REVELAÇÃO que "desceu dos céus" por inspiração, se você acredita que tudo foi um trabalho de Espíritos e Kardec sem qualquer outra participação, é preciso responder:

1. Não conhece absolutamente nada sobre os filósofos mencionados;

2. Não estudou a obra A Gênese de 1868, onde Kardec explica a Natureza da Revelação Espírita;

3. Desconhece a Lei Moral do Progresso, tal como ensinada pelo Espiritismo;

4. Se já leu, possivelmente, não compreendeu o que Emmanuel disse sobre o Livro e o Conhecimento no capítulo 4, Educação, da Obra Pensamento e Vida (FEB, Francisco C. Xavier);

5. Mas, se conhece tudo, o problema é a falta de estudo do conteúdo moral preconizado pelo Espiritismo (A Teoria Moral Autônoma de Jesus, que se funda no "A cada um segundo suas obras").

Uberaba-MG, 13/05/2022.
Beto Ramos.

terça-feira, 26 de abril de 2022

DESCARTES, ESPIRITUALISMO RACIONAL E ESPIRITISMO


Realmente, Allan Kardec afirmou em prolegômenos, contido em O Livro dos Espíritos, que o conteúdo da obra foi por ele organizado e que a sua origem provém dos Espíritos superiores. Todavia, na mesma obra, em sua Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita, no item I, asseverou que o Espiritismo é uma espécie do gênero filosófico Espiritualismo Racional, ocasião em que explica a expressão Filosofia Espiritualista.

Portanto, hoje, vamos trazer informações que refutam as alegações dos incautos que asseveram discordar da Teoria Moral da Autonomia, consignada por Allan Kardec nas obras fundamentais do Espiritismo, em razão da afirmação sobre a origem da Doutrina dos Espíritos.

De fato, os Espíritos superiores são a origem pura e cristalina, mas, nem Kardec, nem os Espíritos que trabalharam na equipe do Espírito da Verdade afirmaram que o seu trabalho não era fruto de esforço coletivo ainda maior, onde todos servem, aprendem e intuem, em todos os tempos (encarnados ou não).

Àqueles que duvidam, citamos a afirmação de Emmanuel sobre livro e conhecimento, verbis:

"O livro representa vigoroso imã de força atrativa, plasmando as emoções e concepções de que nascem os grandes movimentos da humanidade, em todos os setores da Religião e da Ciência, da opinião e da técnica, do pensamento e do trabalho. Por esse dínamo de energia criadora, encontramos os mais adiantados serviços de telementação, porquanto, a imensas distâncias, no espaço e no tempo, incorporamos as ideias dos Espíritos superiores que passaram por nós, há séculos". (Pensamento e Vida, Cap. 4, Instrução. Chico / Emmanuel).

É claro que Renatus Cartesius, mais conhecido como Renê Descartes (1596-1650), não pode ser classificado como um espiritualista racional, vez que seus principais interesses eram a matemática, a ciência, a epistemologia e a metafísica. Foi influenciado por Platão, Pitágoras, Aristóteles, Sexto Empírico, Pirro, Agostinho, Aquino, Anselmo, Ockham, Francisco Sanches, Suárez, Scotus, Mersenne, Montaigne e outros. Sua escola e tradição foi o cartesianismo e o racionalismo, principalmente. Contudo, pedimos vênia para colacionar, com adaptações, o resumo e remissões feitas por P. F. - A. JAFFRE (in História da Philosophia, 4ª Edição, 1886), a seguir, na intenção de lançar luz acerca do fato de que o conhecimento é construído. Os Espíritos superiores fizeram validar ou refutar teorias que já existiam ao tempo de Kardec, incorporando elementos de conhecimento que não havia sido pensados (servir, intuir, instruir).

A doutrina de Descartes ensina que:

A alma é uma substância imaterial, cuja natureza simples nos é revelada pela consciência unicamente. Sua essência é o pensamento atual. A alma não está em todo o corpo; sua sede é na glândula pineal. As ideias são adventícias para as coisas sensíveis, inatas para as coisas suprassensíveis e absolutas, factícias para as coisas que concebemos em nossa imaginação.

O juízo é formado pela vontade e não pela inteligência. A evidência não está nas coisas; está no espírito que percebe claramente as relações das ideias. As sensações não são perceptíveis. São impressões puramente fisiológicas e estamos certos de que os corpos são reais, por uma propensão invencível proveniente de Deus.

As paixões principais são em número de seis. A admiração é a primeira. São postas em movimento pelos espíritos animais. O animal não é vivificado por uma alma dotada de sensibilidade. É uma máquina, um autômato.

A existência de Deus é provada por nosso ato de duvidar, que é uma imperfeição; pela própria imperfeição de todo nosso ser; pela ideia do infinito, cuja causa se quer saber; por esta mesma ideia que encerra necessariamente a existência de seu objeto.

Os atributos divinos são todos deduzidos da infinita perfeição de Deus, comparada às qualidades completas das criaturas. A Vontade divina goza de uma liberdade de todo o ponto indiferente. Sua potência é absoluta, podendo mudar a essência metafísica das coisas.

A essência da matéria consiste na extensão. É divisível ao infinito. Seus elementos primários são átomos, ou corpúsculos invisíveis, posto que extensos. Não existe vácuo entre os corpos, e este mundo projeta-se sem fim no espaço infinito. O espírito e a matéria não podem atuar diretamente um sobre o outro. Daí a teoria das causas ocasionais. Todos os movimentos se explicam pela lei dos turbilhões.

Deus manifesta o seu pensamento e toda a luz criando uma matéria inerte, enchendo todo o espaço e imprime-lhe um movimento. Este movimento se comunica, porque não existe vácuo, a todas as partes da matéria. Não podendo as partes da matéria se movimentar em linha reta por causa dos obstáculos, fazem movimento circulares.

Sendo desigualmente densas e não podendo girar em torno de um só centro, formam outros movimentos em torno de centros diversos, chamados turbilhões.


A CONSTRUÇÃO COLETIVA DO CONHECIMENTO (servir, aprender, intuir).

Em palestra pessoal, via aplicativo de mensagens, com Paulo Henrique de Figueiredo, esse nos trouxe importantes esclarecimentos, demonstrando que sistemas de Descartes, ou mesmo de Spinoza, não foram adotados pelo Espiritualismo racional. Mas, salta aos olhos, o fato de que as civilizações se sucedem ao influxo da herança mental (Emmanuel).

Passamos a colacionar a seguir os comentários de Paulo Henrique de Figueiredo, na íntegra:

"A psicologia espiritualista experimental, iniciada por Maine de Biran, qualifica a ação da alma como fato psicológico, baseado na ação das suas faculdades. A vontade é a força da alma. Dessa forma, o espiritualismo do século 19 pressupõe três substâncias, Deus, alma e matéria. São temas das ciências metafísicas: Teodiceia, psicologia racional e cosmologia. Fazem parte das ciências filosóficas. Essas ciências não adotam sistemas, como de Espinoza e Descartes, mas estruturam em teoria as hipóteses relacionadas aos fatos experimentais da introspecção. No sistema de Espinoza, há uma só substância, Deus. Sua ideia é panteísta. Descartes, por sua vez, estabelece a matéria criada por Deus, e depois regida mecanicamente. E a alma como substância imaterial, agindo no corpo (que seria como um autômato) por meio de "espíritos animais", uma espécie de vapor orgânico vital. A psicologia espiritualista, se organizou com uma finalidade moral e social" [26/04/2022].

Convidamos os corações amigos para meditarem sobre o acima articulado.

Uberaba-MG, 26.04.2022
Beto Ramos.

DESTAQUE DA SEMANA

A DOUTRINA DOS ESPÍRITOS NÃO É ASSUNTO QUE SE ESGOTA EM UMA PALESTRA

  EM SUAS VIAGENS KARDEC MINISTRAVA ENSINOS COMPLEMENTARES AOS QUE JÁ POSSUIAM CONHECIMENTO E ESTUDO PRÉVIO. Visitando a cidade Rochefort, n...