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quarta-feira, 8 de junho de 2022

VIDA ANIMAL E VIDA MORAL

Diante da tensão entre o fanatismo religioso e o materialismo, no século 19, surge o espiritualismo racional. Conforme Allan Kardec o Espiritismo é uma das fases da Filosofia Espiritualista. Essa informação está contida no item I da Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita em O Livro dos Espíritos.

Ora, é imprescindível que o estudante do Espiritismo domine o conteúdo da Filosofia Espiritualista. Quais os temas e assuntos e qual o objeto de estudo desse gênero, do qual o Espiritismo é espécie, deve ser motivo da preocupação daquele que, definitivamente, quer tornar o Espiritismo com sua filosofia de vida, como o seu estilo de vida.

Uma das obras importantes que podem ser consultadas para que o estudioso se aproprie desse manancial é, sem dúvida, Pequenos Elementos de Moral, de Paul Janet, um dos grandes filósofos do movimento espiritualista racional. Os deveres entre os seres humanos em geral é o conteúdo dessa obra. Os preceitos em razão dos quais a obra é desenvolvida são dois, a saber:

1. Fazer o bem aos seres humanos;

2. Não fazer o mal aos seres humanos.

Trata-se do resumo das virtudes que dependem da moral social. No sentido comum, compreende-se que fazer o bem é o ato de dar prazer a alguém, enquanto que fazer o mal é o ato de fazer alguém sofrer. Nesse sentido, Paul Janet convida para a seguinte reflexão.

"Fazer o bem é entregar os objetos do desejo a alguém? Por exemplo, ao preguiçoso entregar o travesseiro macio, ao ébrio o vinho, ao velhaco as maneiras e rosto afável e ao violento o bom pulso? Seriam essas ações, verdadeiramente, o que pode ser denominado fazer o bem?"

Certamente, segundo Paul Janet, isso satisfaria as paixões daqueles que receberam os objetos de seus desejos, porém, não é isso que se compreende por fazer o bem. Por outro lado, o que seria fazer o mal? Seria causar dor a alguém? Por exemplo, o cirurgião que corta a gangrena, o dentista que extrai um dente, o pai que corrige o filho, estarão fazendo o mal?

A questão, afirma Paul Janet, é muito mais profunda. Nesse sentido ensina que o sofrimento causado pode proporcionar o bem, isto é, a dor pode causar prazer. Por outro lado, o prazer que satisfaz paixões proporciona o mal, isto é, o prazer pode causar dor.

Assim sendo, a máxima evangélica precisa ser interpretada devidamente:

"Não faças ao outrem aquilo que não quererias que te fizessem; Faze a outrem aquilo que quererias que te fizessem".

Em geral, ninguém quer ser punido ou corrigido, mas quer que lhe satisfaçam os vícios e as paixões. Ocorre que, quando ao ser humano não lhe falta a lei do dever, é outro o sentimento. O fato é que o Evangelho não convida ninguém à tibieza e à complacência; a ideia é outra. Trata-se de uma VERDADE MORAL, a verdadeira boa vontade.

Antes porém, é preciso esclarecer qual a condição humana no período primitivo, ou de infância espiritual, quando ainda há ignorância e nenhum conhecimento. Trata-se da vida meramente animal. Neste caso, o ser apresenta paixões, arrastamentos, instintos e procura somente a satisfação das necessidades primárias. Destarte, não há o que se pode denominar consciência moral. Por enquanto, o indivíduo não busca imitar Deus, se fazendo a sua imagem.

Apesar de a Lei do Dever ser obrigatória, uma vez que deriva de Deus, corolário da Sua Justiça e Bondade, o indivíduo na sua infância espiritual, experimentando apenas a vida animal, ainda não possui uma consciência desperta, portanto, não possui uma consciência moral.

A consciência é a faculdade do Espírito reconhecer a LEI MORAL e aplicá-la a todas as circunstâncias. A consciência é, ao mesmo tempo, um poder que ordena (dita o que é preciso fazer ou evitar) e um juízo que julga o que foi feito (decidindo entre o bem e o mal).

No processo de evolução e do despertar da consciência é preciso que o indivíduo compreenda quais são os verdadeiros bens, isto é, aqueles que não são apenas bens aparentes, quando há ocasião de FAZER O BEM. Por outro lado, é preciso saber quais são os males verdadeiros quando se recomenda a NÃO FAZER O MAL, afastando, da mesma forma, aqueles que são apenas males aparentes.

Há bens aparentes, como há males aparentes. No campo do DEVER MORAL é preciso compreender quais são os verdadeiros bens e quais são os falsos bens. Aqueles que consistem exclusivamente no prazer, exceto a utilidade e o valor moral, são os falsos bens; Aqueles que independem do prazer e se recomendam pela utilidade e pelo valor moral, são os verdadeiros bens (por exemplo: saúde e educação).

Os verdadeiros males ferem o interesse (bem entendido) e a moral dos demais (Exemplo: miséria e corrupção). Os males aparentes são momentaneamente sofridos, mas compensados por vantagens posteriores (Exemplo: medicamentos e castigos).

O bem aos outros deve ser compreendido como o bem entendido interesse deles, isto é, o BEM MORAL. Em relação a si mesmo, não se deve ter como FIM das ações praticadas, o interesse próprio. Observa-se que esse raciocínio não pode ser exercido quando se tratar dos outros. Apenas quando o indivíduo julga a si mesmo (examina a si mesmo).

A felicidade própria buscada, perseguida, procurada, não tem qualquer valor moral. Buscar a felicidade alheia, ao contrário, pode ter valor moral, DESDE QUE NÃO SE ENGANE QUANTO AO VERDADEIRO SENTIDO DA PALAVRA FELICIDADE. Isto é, não se deve confundir felicidade como uma sensualidade falaz e transitória. Portanto, a máxima cristã, antes citada, deve ser compreendida como:

- Uma vontade esclarecida que só queira para si o que estiver conforme o interesse bem entendido e a virtude.

Isto, portanto, resume perfeitamente a MORAL SOCIAL. Os termos fazer o bem e fazer o mal, se apresentam em casos diversos, desde o mais baixo até o mais alto grau do DEVER.

Assim, é preciso enfatizar que a consciência moral, que ao despertar supera a vida animal, trata-se de conhecer a lei do dever, aceitar como verdadeira e reconhecer a necessidade de sua aplicação. Esse processo não é externo e nem é fruto de coação (violência física) ou coerção (imposição de lei; força do Estado para fazer valer o direito).

Cada um deve agir de acordo com sua consciência, a qual apresenta decisões nítidas e distintas. O indivíduo sem consciência é aquele que se habituou a não consultar ou a desprezar seus ditames. Mas, só se pode ser bom ou mal quando se possui discernimento entre um e outro, fora disto considera-se aquilo que Paul Janet denomina de estado de inocência ou de sono da consciência.

O combate moral por excelência é a luta entre o DEVER e a PAIXÃO.

Ainda temos muito a aprender com o Espiritualismo Racional, com a Filosofia Espiritualista e com esse grande filósofo Paul Janet. Até o próximo encontro.

Uberaba-MG, 08/06/2022
Beto Ramos.

3 comentários:

Anônimo disse...

A importância de se estudar a Filosofia Espiritualista para o movimento espírita é de suma necessidade.
Para entender o conceito de moral ensinado pelos Espíritos Superiores se dará mediante ao estudo do Espiritualismo Racional.

Parabéns Revelare, ótimas reflexões.
Muito Obrigado.

Beto Ramos disse...

Nós agradecemos a oportunidade do diálogo estabelecido. A dialética, podemos afirmar, foi base para o estabelecimento dos princípios espíritas. Então, não nos furtaremos ao debate racional. Abraços.

Emidio Luis disse...

O conceito de moral apresentado pela Doutrina espírita está abafado pelas idéias ultrapassada das antigas concepções religiosas. Acredito que esta seria a maior barreira para o avanço dos conhecimentos e das propostas espíritas, mas o importante é a produção de artigos como esse para estimular, propagor as ideias do espiritismo. Parabéns e muito obrigado pelo artigo.

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