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sexta-feira, 27 de outubro de 2023

A DOUTRINA DOS ESPÍRITOS NÃO É ASSUNTO QUE SE ESGOTA EM UMA PALESTRA

 

EM SUAS VIAGENS KARDEC MINISTRAVA ENSINOS COMPLEMENTARES AOS QUE JÁ POSSUIAM CONHECIMENTO E ESTUDO PRÉVIO.


Visitando a cidade Rochefort, na França, durante a Viagem Espírita em 1862, Allan Kardec, após ser convidado para ter com algumas pessoas que desejavam conhecê-lo e ouvir algo acerca do Espiritismo, disse:

“Antes de tudo, devo informar quanto ao objetivo que me proponho nessas excursões. Vou unicamente visitar centros espíritas e lhes dar as instruções de que possam necessitar.

Enganar-se-ia quem pensasse que vou pregar a doutrina aos incrédulos. O Espiritismo é toda uma ciência que reclama estudos sérios, como as outras ciências, e requer numerosas observações.

Para os que lhes não conhecem as primeiras noções, sou obrigado a enviá-los à fonte, ou seja, ao estudo das obras onde se acham todos os ensinamentos necessários e a resposta à maioria das perguntas que poderiam fazer e que, em sua maior parte, recaem sobre os princípios mais elementares.

Eis por que, em minhas visitas, só me dirijo aos que já sabem, aos que precisam de ensino complementar, e não de á-bê-cê. Jamais vou dar o que se chama sessões, nem convocar o público para assistir a experiências ou demonstrações e, menos ainda, fazer exibição de Espíritos.

Os que esperassem ver aqui coisa semelhante estariam completamente equivocados e devo apressar-me em lhes tirar a ilusão".

Fonte: Revista Espírita de Dezembro de 1862.

segunda-feira, 28 de agosto de 2023

QUEM TÁ AÍ? É ESPÍRITO 'PRETO' OU ESPÍRITO 'BRANCO'?


 QUEM TÁ AÍ?

É ESPÍRITO 'PRETO' OU ESPÍRITO'BRANCO'?



Antes de desenvolver o tema, é claro que o Espírito não é preto, nem branco. Aliás, a frase devidamente construída seria precedida de 'pessoa preta ou pessoa branca', uma vez que cor, etnia, etc., são questões puramente morfológicas e não espirituais.

Inicialmente vamos à justificativa acerca do texto.

Por desconhecimento, leviandade ou má-fé, tem-se propagado que nos grupos espíritas não surgem comunicações de Espíritos que envergaram, na Terra, a personalidade de pessoas negras.

Apesar de ser uma afirmação enganosa, cujo objetivo é apenas provocar as paixões humanas, próprias de um planeta de provas e expiações, notadamente aquelas voltadas ao identitarismo, faz-se necessário extirpar qualquer dúvida a respeito do tema, uma vez que envolve uma Doutrina séria, como é o caso da Ciência Filosófico-Espírita.

É próprio do ignorante falar daquilo que não sabe e não tem o menor conhecimento. Sobre o Espiritismo então, nem se fala. São tantos leigos apresentando opiniões esdrúxulas que se não causasse muito mal seria risível.

A princípio, o importante a esclarecer é que na Sociedade Espírita de Paris, durante todo o trabalho realizado por Allan Kardec na organização do Espiritismo, segundo a ordem e ditado dos Espíritos, se comunicaram vários Espíritos de etnias diversas. Basta fazer um estudo sério dos artigos e das personalidades cujas comunicações foram reproduzidas nas revistas espíritas.

Por outro lado, para os tumultuadores de plantão, que possuem o fito apenas de enxovalhar tudo aquilo que lhe afeta a moral e requer dos mesmos mudança de comportamento, pensamento, sentimento e instrução, faremos algumas considerações à luz da doutrina espírita, a fim de que, acaso vençam a preguiça para ler o conteúdo desse modesto artigo, possam, ao depois, buscarem se abeberar na fonte, que são as obras espíritas:

1. Há uma questão em O Livro dos Espíritos onde Kardec indaga se os Espíritos tem sexo (Q. 200). A resposta é: "Não como entendeis, porque os sexos dependem da constituição orgânica".

Ora, a pessoa razoavelmente inteligente já compreendeu que os Espíritos não possuem cor proveniente de etnias, pois estas dependem da constituição orgânica.

2. Outro ponto importante é que há outra questão onde Kardec indaga se os Espíritos são imateriais (Q. 82). A resposta é que são INCORPÓREOS.

Se são incorpóreos não possuem cor proveniente da organização física, correto?

3. Tem mais. Kardec perguntou se os Espíritos possuem uma forma definida (Q. 88), onde a resposta é que eles se apresentam como uma flama, um clarão ou uma centelha etérea.

Logo, não possuem uma cor proveniente da organização física, pois, NÃO EXISTE UMA ORGANIZAÇÃO FÍSICA NOS ESPÍRITOS.

4. Mas, não podemos nos afastar da questão fundamental: há racismo entre os seres humanos. Neste sentido, trata-se de situações provenientes dos acontecimentos da vida, visto que nas questões 258 e 258.a de O Livro dos Espíritos, sabemos que os Espíritos não podem prever os acontecimentos da vida (os quais seguem as Leis Universais), mas somente podem fazer a escolha por um gênero ou outro de provas. O Espírito é criado simples e ignorante, evoluindo da imperfeição para a perfeição relativa (Espíritos puros).

Além disto, segundo a questão 261, nenhum Espírito precisa sofrer todos os gêneros de tentações, passa por aquelas próprias do gênero de prova escolhida, enfrentando as circunstâncias da vida em que a escolha irá levá-lo.

Logo, um Espírito escolherá nascer entre a etnia em que acredita que lhe proporcionará alcançar a evolução pretendida. Ocorre com escolha do sexo sob o qual renascerá, a localização geográfica, etc.

E isso ocorre em razão do fato de que, liberto da matéria (morte), cessa para o Espírito as ilusões próprias do mundo corpóreo e sua maneira de pensar é diferente.

5. Finalmente, as diferenças encontradas entre indivíduos na humanidade, tanto físicas quanto morais, são provenientes do clima, da vida e dos hábitos (Q. 52, LE). Sendo que o ser humano surgiu em diversos pontos do globo e em diversas épocas.

Conforme a resposta da Questão 53.a, sabemos que as diferenças físicas e morais não representa que entre a humanidade haveria espécies distintas, uma vez que TODOS PERTENCEM À MESMA FAMÍLIA HUMANA. São variedades de um mesmo fruto, por assim dizer.

Segundo os Espíritos nos ensinam na Questão 54 de O Livro dos Espíritos, "todos os seres humanos são irmãos em Deus porque são ANIMADOS PELO ESPÍRITO E TENDEM PARA O MESMO ALVO".

Pra terminar, recomenda-se aos leigos que produzem os criminosos textos com reclamações e refutações sem qualquer base ou fundamento, estudar um pouco mais sobre Doutrina Espírita quando for 'dar opinião' acerca da ciência filosófico-espírita.

Porquanto saberiam que pouco importa para o Espiritismo quem é o Espírito comunicante, qual personalidade envergou na Terra ou em outros mundos, se foi rico, pobre, plebeu, rei, aristocrata ou miserável, mulher ou homem, gordo ou magro, alto ou baixo, letrado ou ignorante, assim como se foi PRETO OU BRANCO, pois o que importa nas comunicações é o conteúdo moral. E pra saber do que se trata recomenda-se estudar as questões 629 e seguintes de O Livro dos Espíritos.

Uberaba-MG, 28 de agosto de 2023
Beto Ramos

quinta-feira, 30 de março de 2023

PLATÃO (ESPÍRITO) E A GUERRA DE PALAVRAS!

Platão, segundo algumas fontes, nasceu em Atenas em 428 a.C e morre na mesma cidade em 347 a.C, foi um filósofo e matemático do período clássico da Grécia Antiga, autor de diversos diálogos filosóficos e fundador da Academia em Atenas, a primeira instituição de educação superior do mundo ocidental.

Talvez seja a figura central na história da Grécia antiga e da filosofia, juntamente com os não menos importantes Sócrates e Aristóteles. Platão está presente na filosofia natural, na ciência e na filosofia ocidental, sendo frequentemente citado como um dos fundadores do que mais tarde ficou conhecido como Espiritualismo.

Platão, segundo alguns estudiosos, era um racionalista, realista, idealista e dualista cujas ideias vão inspirar essas filosofias mais tarde.

Nos interessa, sobremaneira, uma comunicação deste filósofo contida em O LIVRO DOS ESPÍRITOS – QUARTA PARTE – CAPÍTULO 2 – DAS PENAS E GOZOS FUTUROS onde, como um dos Espíritos Superiores coordenados pelo Espírito A Verdade, vai chamar a atenção para a compreensão que se deve ter pelas palavras, buscando sua compreensão, contextualizando-as a fim de que não se faça pretexto acerca de sua significação.

Para nossa melhor compreensão, vamos inserir no texto algumas perguntas que, pensamos, são respondidas pelo filósofo desencarnado:

1. O que a humanidade, de maneira geral, tem produzido quando da interpretação dos textos antigos, principalmente quando se trata da vida futura?

“Guerras de palavras! guerras de palavras! Ainda não basta o sangue que tendes feito correr! Será ainda preciso que se reacendam as fogueiras? Discutem sobre palavras: eternidade das penas, eternidade dos castigos.

Ignorais então que o que hoje entendeis por eternidade não é o que os antigos entendiam e designavam por esse termo?

Consulte o teólogo as fontes e lá descobrirá, como todos vós, que o texto hebreu não atribuía esta significação ao vocábulo que os gregos, os latinos e os modernos traduziram por penas sem-fim, irremissíveis”.

2. Como compreender, então, o significado da expressão eternidade, haja visto a explicação dada por Galileu Galilei, como Espírito, cuja explicação consta da obra A Gênese de Allan Kardec, edição original de 1868?

“Eternidade dos castigos corresponde à eternidade do mal. Sim, enquanto existir o mal entre os homens, os castigos subsistirão. Importa que os textos sagrados se interpretem no sentido relativo. A eternidade das penas é, pois, relativa e não absoluta. Chegue o dia em que todos os homens, pelo arrependimento, se revistam da túnica da inocência e desde esse dia deixará de haver gemidos e ranger de dentes”.

3. Essa compreensão equivocada não é fruto da limitação do conhecimento humano, que, para ser adquirido, necessita de sucessivas reencarnações?

“Limitada tendes, é certo, a vossa razão humana, porém, tal como a tendes, ela é uma dádiva de Deus e, com o auxílio dessa razão, nenhum homem de boa-fé haverá que de outra forma compreenda a eternidade dos castigos”.


4. Todavia, há seres humanos que, de boa-fé, admitem a eternidade das penas?

“Pois quê! fora necessário admitir-se por eterno o mal. Somente Deus é eterno e não poderia ter criado o mal eterno; do contrário, forçoso seria tirar-se Lhe o mais magnífico dos seus atributos: o soberano poder, porquanto não é soberanamente poderoso aquele que cria um elemento destruidor de suas obras”.

5. É certo que os atributos divinos devem ser levados em conta, no entanto, mesmo em meio àqueles que admitem as ideias espíritas, há os que falam de uma suposta lei de causa e efeito?

“Humanidade! humanidade! não mergulhes mais os teus tristes olhares nas profundezas da Terra, procurando aí os castigos. Chora, espera, expia e refugia-te na ideia de um Deus intrinsecamente bom, absolutamente poderoso, essencialmente justo”. Platão.


Uberaba-MG, 30/03/2023
Beto Ramos

sábado, 25 de março de 2023

CONFISSÕES DE VOLTAIRE - UM MATERIALISTA DE VOLTA AO MUNDO ESPIRITUAL

François-Marie Arouet, conhecido como Voltaire, foi um escritor, historiador e filósofo iluminista francês que viveu no século 18 entre os anos 1694/1778 e ficou conhecido pelo pseudônimo M. de Voltaire. Aliás, codinome que adotou quando esteve preso na bastilha.

Voltaire era um cético inspirado pela ideia racional, herdada da Filosofia Renascentista, que elaborou uma teoria para refutar as tradições, tão preciosas para a religião e para a nobreza. Com isso, surgiu o argumento da certeza ser absurda.

Famoso por suas críticas sagazes ao cristianismo — especialmente à Igreja Católica Romana — e à escravidão, foi defensor da liberdade de expressãoliberdade de religião e a separação entre igreja e estado.

Seu modo de pensar pode ser descrito na frase de Evelyn Beatrice Hall"Posso não concordar com nenhuma palavra do que você disse, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo". Além disso, ele preconizava que cada um deveria pensar por si mesmo, desafiando os dogmas da igreja e da monarquia, estabelecendo que a certeza absoluta poderia até existir, mas era impossível de prová-la, sendo a dúvida o único ponto de vista lógico.

Ainda hoje, muitos se deixam arrebatar pelos escritos de Voltaire. No entanto, esse filósofo era um niilista. Um homem dotado de um grande gênio, ao qual a mediocridade era impossível. Como ser humano aspirava a liberdade, própria da sua essência. Ao chegar no mundo espiritual reencontrou tal liberdade, mas perdeu-se, confundiu-se.

O grande pregador do nada, o nada encontrou; mas, nada como compreendia. Se julgou tão grande, mas foi fulminado por sua pequenez, aniquilado diante de Deus, o qual era obrigado a contemplar diante da imortalidade da alma. Não experimentou qualquer julgamento preconizado pelas religiões ancestrais: "nem levanta-te meu filho, nem vai-te daqui". É que Deus lê nos corações de modo diverso de nós; Ele encontra o bem onde não achamos senão o mal.

O velho Voltaire desapareceu; surge o novo com suas confissões. Convertido, glorifica a Deus, confunde e impressiona aqueles que hoje deixam-se arrebatar por seus escritos.

De uma bela comunicação, “[...] traduzida do inglês [e] extraída da obra do juiz Edmonds, publicada nos Estados Unidos[, tem] a forma de uma conversa entre Voltaire e Wolsey, o célebre cardeal inglês do tempo de Henrique VIII [onde] dois médiuns atuaram separadamente para a transmissão desse diálogo”, podemos extrair algumas passagens interessantes, as quais reproduziremos a seguir.

Antes, porém, recomenda-se que o leitor busque os fundamentos da Filosofia Espírita, especialmente as questões 275, 275.a, 276 e 277 de O Livro dos Espíritos, onde iremos aprender que poder e consideração na Terra não dá supremacia no mundo espiritual, onde vige a superioridade real, que é a elevação moral, porquanto, todo orgulhoso sentir-se-á humilhado.

Destarte, como se depreende da questão 267.a de O Livro dos Espíritos, há uma luta que a ALMA ENCARNADA ENFRENTA, onde a matéria exerce influência para fruir e gozar e satisfazer aos cinco sentidos, enquanto o Espírito não quer esse gozo, mas conhecer os problemas oriundos da satisfação dos desejos.

Finalmente, é importante lembrar que, segundo as questões 266 e 318 de O Livro dos Espíritos, de volta ao mundo espiritual, o Espírito experimenta modificações de suas ideias, pois, para o Espírito liberto da matéria, cessa a ilusão, e a sua maneira de pensar é diferente.

1. Uma alma sedente de luz:

"Pretendeis acusar-me de infidelidade porque não me submeti aos acanhados preconceitos das seitas que me cercavam? É que a minha alma demandava uma amplidão de pensamento, um raio de luz, além das doutrinas humanas. Sim, minha alma entenebrecida tinha sede de luz".

2. Um Espírito assediado por uma luta interior:

"Mas notai bem que então eu tinha o Espírito assediado, por assim dizer, por uma luta interior. Considerava a Humanidade como se me fosse inferior em inteligência e em sagacidade; nela somente via marionetes, que podiam ser conduzidos por qualquer homem dotado de vontade forte, e me indignava de ver essa Humanidade, arrogando-se uma existência imortal, ser modelada por elementos ignóbeis. Seria possível crer que um ser dessa espécie fizesse parte da Divindade e pudesse, com suas frágeis mãos, apoderar-se da imortalidade? Esta lacuna entre duas existências tão desproporcionadas me chocava e eu não a podia preencher. No homem eu via apenas o animal, e não Deus".

3. Um Espírito em evolução com seus acertos e erros:

"Reconheço, em alguns casos, que minhas opiniões tiveram deploráveis desdobramentos, mas estou convencido de que, sob outros aspectos, apresentaram o seu lado bom. Conseguiram soerguer várias almas que se haviam degradado na escravidão; quebraram as cadeias do pensamento e deram asas às grandes aspirações. Mas, lamentavelmente, também eu, que planava tão alto, me perdi como os outros".

4. O gênio desenvolveu apenas a inteligência:

"Se em mim a parte espiritual tivesse se desenvolvido tão bem quanto a parte material, teria podido raciocinar com mais discernimento. Entretanto, confundindo-as, perdi de vista esta imortalidade da alma, que tanto procurava e não pedia senão para encontrar".

5. O Espírito passa em revista sua anterior reencarnação e se frustra pelo que não realizou:

"Só lamento ter vivido tanto tempo na Terra sem saber o que teria podido ser e o que teria podido fazer. O que não teria feito se tivesse sido abençoado por essas luzes do Espiritismo que hoje se derramam sobre os Espíritos dos homens!"

6. A confissão de Voltaire - Deus e a Imortalidade da Alma:

"Descrente e vacilante entrei no mundo espírita. Por si só minha presença era suficiente para banir qualquer clarão de luz que pudesse iluminar a minha alma obscurecida; apenas a parte material de meu corpo se havia desenvolvido na Terra; quanto à parte espiritual, havia-se perdido em meio aos meus descaminhos, na busca da luz, ferro. Altivo e zombeteiro, ali me iniciava, não conhecendo nem procurando conhecer esse futuro que em vida tanto havia combatido. Mas façamos aqui esta confissão: houve sempre em minha alma uma débil voz que se fazia ouvir através dos grilhões materiais e que pedia luz. Era uma luta incessante entre o desejo de saber e uma obstinação em não saber. Assim, pois, minha entrada estava longe de ser agradável. Não acabava eu de descobrir a falsidade, o nada das opiniões que havia sustentado com todas as forças de minhas faculdades? Depois de tudo, o homem se reconhecia imortal, e eu não podia deixar de ver que, igualmente, deveria existir um Deus, um Espírito imortal, que estava à frente e que governava esse espaço ilimitado que me cercava".

7. Recusando a imortalidade em vida, não haverá ninguém para estabelecer relações na vida espírita:

"Não pude realizar-me como Espírito que acabava de deixar o seu domicílio mortal! Não houve ninguém com quem pudesse estabelecer relações, porque a todos eu havia recusado a imortalidade. Para mim não existia repouso: estava sempre errante e desconfiado. Em mim o Espírito, tenebroso e amargo, comportava-se como um maníaco, incapaz de ser detido ou de perseguir um objetivo".

8. Nenhum castigo eterno, nenhuma punição, nenhuma recompensa:

"Foi nesse momento que o meu coração começou a sentir a necessidade de expandir-se; uma associação qualquer se tornava urgente, porque me sentia queimar pelo desejo de confessar o quanto tinha sido induzido em erro, não pelos outros, mas por meus próprios sonhos. Já não me restavam ilusões sobre a minha importância pessoal, porque percebia a minha insignificância neste grande mundo dos Espíritos. Enfim, de tal forma me deixara cair na lassidão e na humilhação, que me foi permitido reunir-me a alguns habitantes. Só então pude contemplar a posição em que me havia colocado na Terra e o que disso resultava no mundo espírita. Julgai se esta apreciação poderia favorecer-me".

Estes fragmentos dessa bela mensagem, sem perquirir a identidade do comunicante, valida muito do que ainda temos a apreender estudando a Doutrina Espírita tal qual organizada por Allan Kardec, eis que cada um de nós, mais cedo ou mais tarde, irá cair na real. E essa realidade é o mundo espiritual.

Para mais informações e estudo dessa comunicação, remetemos o leitor à Revista Espírita de Setembro de 1859, com este belo artigo de Allan Kardec: Confissões de Voltaire.

Uberaba-MG, 25/03/2023
Beto Ramos.

domingo, 12 de março de 2023

Racismo no Espiritismo: a polêmica dos ignorantes!

No dia 12 de junho de 1856, em reunião familiar, pela médium Srta. Aline, o Espírito La Vérité (A Verdade) trava um diálogo com Allan Kardec. O assunto: a MISSÃO de Allan Kardec. Aquele que viria a ser o ORGANIZADOR DO ESPIRITISMO pergunta sobre o seu papel para que pudesse contribuir para a propagação da verdade. Kardec havia recebido a informação de outros Espíritos que incumbiria a ele a função de missionário-chefe do Espiritismo.

O Espírito A Verdade responde que CONFIRMA O QUE FOI DITO, aconselhando discrição para ser bem sucedido. Houve, também, uma advertência, isto é, o sucesso na missão dependeria integralmente do próprio Kardec, pois, poderia vencer como falir e nesse último caso SERIA SUBSTITUÍDO.

Por fim, A Verdade esclarece que somente após a obra terminada é que seria possível reconhecer se houve ou não sucesso. Kardec, então, reclama a assistência do próprio Espírito A Verdade, bem como dos BONS Espíritos. A resposta foi objetiva: "Não te faltaremos com ela". Kardec, então, assume a sua incumbência.

Nessa comunicação, um importante ponto a destacar. A Verdade afirma que a MISSÃO de Allan Kardec é a de revolver e formar o mundo inteiro. Para isto não seria bastante a inteligência, mas humildade, modéstia, desinteresse, dedicação, abnegação e disposição para o sacrifício.

Pois bem! Estamos no século 21 (vinte e um), 167 (cento e sessenta e sete) anos desde essa comunicação, quando escrevemos estas linhas. Parece que os Espíritas (não todos) estão SACRIFICANDO Allan Kardec uma vez mais. Não bastou dar sua vida à causa Espírita. Agora, lhe colocam a pecha de racista. Portanto, na visão de alguns pretensos espíritas, faltou uma série de qualidades a Kardec que foram vistas pelo Espírito A Verdade.

Antirracismo no Espiritismo é uma polêmica ignorante. O Espiritismo sofre ataque nas redes sociais e mídia em geral de ser uma seita racista, quando NUNCA foi apresentado por Kardec como uma religião; também, dizem que há racismo porque não encontram comunicações, por exemplo, de Mãe Menininha, uma importante figura de religiões de matriz africana no Brasil; Por último, mas sem esgotar os despautérios, dizem que não são recebidas comunicações de Espíritos 'negros'.

Nesse artigo não caberia os fundamentos em que a Filosofia Espírita, contida em O Livro dos Espíritos, refuta essas afirmações esdrúxulas. Além disto, agora, alguns se afirmando Espíritas, se deram o 'direito' de ADULTERAR textos de Allan Kardec. E fazem isto sob o argumento de que "não estamos alterando o que ele diz, mas a forma como diz".

Eis a primeira demonstração de ignorância quanto ao conteúdo doutrinário espírita, principalmente quanto às comunicações. Para o Espiritismo importa o fundo e não a forma. Ora, o racismo é questão de fundo e não de forma. Se a forma usada por Kardec não está conforme, é porque o que ele diz é racista? SE O QUE ELE DIZ NÃO É RACISTA, não há necessidade de alterar a forma.

Porém, uma pergunta é importante: Quem atribuiu a esses ditos espíritas que teriam a MISSÃO de alterar os textos de Kardec? Com Kardec adveio o Espírito A Verdade, e com esses tais, quem está por trás? A Doutrina Espírita é uma ciência filosófica, com metodologia, critérios, controle e organização. Qual é o método científico usado pelos pretensos espíritas para adulterar o conteúdo das obras organizadas por Kardec?

Na concepção dos tais, divergindo do Espírito A Verdade, Kardec faliu na sua missão? Se for isto, vamos recordar o que o organizador do Espiritismo escreveu sobre seus textos e a sua autoria em PROLEGÔMENOS n'O Livro dos Espíritos, verbis:

"Este livro é o compêndio dos seus ensinamentos. Foi escrito por ordem e sob ditado dos Espíritos superiores para estabelecer os fundamentos de uma filosofia racional, livre dos prejuízos do espírito de sistema. Nada contém que não seja a expressão de seu pensamento e não tenha sofrido o seu controle. A ordem e a distribuição metódica das matérias assim como as notas e a forma de algumas partes da redação constituem a única obra daquele que recebeu a missão de a publicar".

Parece-nos que o PENSAMENTO expresso na FILOSOFIA ESPÍRITA pertence aos ESPÍRITOS. Além do mais, TUDO sofreu o CONTROLE DOS MESMOS. Tudo o que foi escrito é fruto da ORDEM E DO DITADO DOS ESPÍRITOS.

Não há qualquer bela frase que mude os fatos. Há pessoas que se dizem espíritas e que estão, DELIBERADAMENTE, adulterando obras organizadas por Allan Kardec e, por uma via hipócrita e falsa, ADULTERANDO O PENSAMENTO DOS ESPÍRITOS contidos nestas obras.

Vamos trazer algumas palavras sobre o antirracismo. Trata-se de uma forma de ação contra o ódio, preconceito racial, racismo sistêmico e a opressão estrutural de grupos marginalizados racialmente e etnicamente. Se estão adulterando as obras de Kardec é porque em seu bojo há disseminação de ódio, preconceito e marginalização?

Existem na Doutrina Espírita várias Leis Morais que atestam que não  há nenhuma dessas questões combatidas pelo antirracismo presentes em seu conteúdo. Aliás, Espírito não tem sexo, nem etnia (Q. 200, LE), pois são INCORPÓREOS (Q. 82, LE), uma vez que a ALMA é o ser individual que SOBREVIVE AO CORPO (Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita).

Contudo, tão importante quanto, a ausência de um estudo sério, de uma pesquisa qualificada, de adeptos responsáveis, bem como o fato de haver um COMPLETO DESCONHECIMENTO DA OBRA ORGANIZADA POR ALLAN KARDEC, pois seus livros NÃO SÃO estudados do ponto de vista científico-filosófico, enquanto o que há é uma verdadeira transformação da Doutrina Espírita em uma seita, há um descaso com as atuais pesquisas sobre as adulterações da obra de Kardec, assim como com os documentos historiográficos do Espiritismo que surgiram no século passado, mas que só neste é que está sendo amplamente divulgado.

Nesse sentido, colacionamos nesse artigo algumas páginas escritas por ALLAN KARDEC, o ORGANIZADOR DO ESPIRITISMO. Vejamos:

       

Trata-se do PROJETO CONCERNENTE AO ESPIRITISMO. Esses documentos estão disponíveis em https://projetokardec.ufjf.br/item-pt?id=229&q=projeto , com o Título: Projeto concernente ao Espiritismo, Tradução: Bruto Abel. Revisão e correção: Philippe Gilbert; Traduzir: Bruto Abel. Revisão e correção: Alexandre Caroli; Publicado em 10/02/2022; Atualizado em 29/01/2023.

Conforme a tradução do projeto para o português, cuja pesquisa poderá ser feita no endereço acima, verificamos que Kardec afirma:

"As bases do Espiritismo estão, sem dúvida, estabelecidas, mas ele precisa ser completado por muitos trabalhos que não podem ser a obra de um só homem. Para evitar, no futuro, as falsas interpretações, as aplicações errôneas, numa palavra, as dissidências, é necessário que todos os princípios sejam elucidados de maneira a não deixar nenhum equívoco, a não dar, tanto quanto possível, margem a controvérsia;"

Pelo visto, a preguiça de muitos em relação ao estudo aprofundado da Doutrina Espírita, mostram o quanto Kardec estava correto em se preocupar com AS FALSAS INTERPRETAÇÕES, APLICAÇÕES ERRÔNEAS E DISSIDÊNCIAS. Ademais, o organizador do Espiritismo, que agora é tachado de racista por pseudos espíritas e aqueles cuja vida se resume em criticar e julgar sem qualquer meditação razoável, afirmou:

"Para alcançar esse resultado, são condições essenciais a independência e a ausência das preocupações da vida material. Tais condições podem ser encontradas em uma espécie de comunidade, que daria a cada membro as disponibilidades necessárias para realizar proveitosamente os trabalhos essenciais, a salvo dos intrusos e dos curiosos".

Infelizmente, o que não falta é intruso e curioso se pretendo a organizador do Espiritismo sem qualquer pudor ou caráter. Mas, Kardec continua em sua maravilhosa proposta, cujo empreendimento ele iria empregar uma grande propriedade que, muito custosamente, manteve em seu patrimônio apesar das dificuldades, asseverando que:

"É a uma reunião desse gênero que tenho o projeto de consagrar posteriormente minha propriedade, que se tornaria assim o Port-Royal do Espiritismo, sem ter o caráter monástico. Seria uma grande família unida pelos laços de uma verdadeira fraternidade, e por uma comunhão de crenças e de princípios. Uma regra determinaria as relações mútuas, as quais seriam baseadas na prática rigorosa da abnegação, da caridade e da moral espírita".

Um filósofo da qualidade de Kardec ser acusado de racista é sinal de que nada do seu legado foi absorvido pelo acusador. Vejamos o que o Espiritismo representa para Allan Kardec no que tange à regeneração da humanidade:

"Qualquer um que conheça os princípios da doutrina e os felizes resultados que ela produz a cada dia verá, na sua propagação e na união dos seus adeptos, a melhor garantia da ordem social, visto que ela tem por lema: Fora da caridade não há salvação, e por guia estas palavras do Cristo: Amai-vos uns aos outros; perdoai os vossos inimigos; não façais aos outros o que não quereríeis que vos fosse feito [e fazei o que gostaríeis que vos fosse feito]".

Para o coletivo, a garantia da ordem social. Para os indivíduos, eis o que a Doutrina Espírita representa para Allan Kardec:

"[...] ela proclama que todos os homens são irmãos, sem distinção de nacionalidades, de seitas, de castas, de raças nem de cores; que ela os ensina a se contentar com o que têm e a suportar com coragem as vicissitudes da vida; que, finalmente, com a caridade, os homens viverão em paz, [...]".

Se o Espiritismo, tal qual organizado por Allan Kardec, não está em conformidade com o pensamento, crença e ideologia desses pretensos espíritas, que busquem organizar outra filosofia, caso em que, SE ESTIVEREM COM A VERDADE, sua doutrina prevalecerá. Todavia, não cremos, uma vez que há claridade solar no texto acima, onde Kardec proclama COM TODAS AS LETRAS que a Doutrina Espírita proclama que todos os homens são irmãos, SEM DISTINÇÃO de nacionalidades, de seitas, de castas, DE RAÇAS NEM DE CORES.

Será mesmo esse o Allan Kardec racista?

Por fim, advertimos que o correto é que não ADULTEREM OBRA ALHEIA, pois, ISTO É UM CRIME TIPIFICADO NA LEI BRASILEIRA, SEGUNDO A CONVENÇÃO DE BERNA, que trata do DIREITO MORAL DO AUTOR, conforme imagem a seguir:


Para que as pessoas possam se inteirar e, também, se engajar nas causas antirracistas, uma vez que é necessário não só pregar, mas aplicar em nossas vidas a fraternidade e a solidariedade, fruto da Lei Moral de Justiça, Amor e Caridade (Capítulo 11 de O Livro dos Espíritos), indicamos o seguinte endereço eletrônico para conhecer algumas obras relevantes e importantes para compreender e extirpar o racismo no Brasil:

https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/book-friday-amazon/15-obras-fundamentais-sobre-luta-racial.phtml

Acreditamos que não será ADULTERANDO OBRAS ALHEIAS e DETURPANDO UMA DOUTRINA FILOSÓFICA que vamos acabar com o que de pior impregna a consciência humana. Tudo, como ensinou Rivail, depois Kardec e os Espíritos Superiores, passa pela educação, mas não a encontrada em livros e sim a EDUCAÇÃO MORAL. Para isso, conforme o Espirito A Verdade: "Espíritas, amai-vos e instruí-vos".

Uberaba-MG, 12/03/2023
Beto Ramos

segunda-feira, 6 de março de 2023

O Brasil não tem um movimento espírita!

Em 1868 Allan Kardec escreveu um substancioso artigo intitulado Constituição Transitória do Espiritismo, o qual foi publicado na Revista Espírita de Dezembro. Naquela ocasião, entre outros temas relevantes, o organizador do Espiritismo tratou do que seriam os cismas do Espiritismo. Sua questão principal era: "Estará preservado deles o Espiritismo?".

Sabemos que o organizador do Espiritismo não usava palavras vãs. Importa verificar que cisma significa: dissidência de opiniões; desacordo; produto da fantasia, da utopia; devaneio; divagação; receio de origem supersticiosa.

O que, segundo Allan Kardec, seriam os motivos que levam aos cismas? No campo da doutrina espírita, ele destaca:

a. Ideias pessoais, sempre absolutas, tenazes, refratárias a se amalgamarem com as ideias dos demais;

b. Ambição de alguns que, a despeito de tudo, se empenham por ligar seus nomes a uma inovação qualquer;

c. Aqueles que criam novidades só para dizer que não pensam ou agem como os outros;

d. Em razão do amor-próprio por não ocuparem senão uma posição secundária;

e. Aqueles que veem com despeito o outro fazer o que não fizeram e, ainda, triunfar.

É possível pensar em algumas dessas situações ocorrendo com o conjunto de pessoas que dizem se filiar à ideia espírita?

Kardec destaca todas essas fraquezas humanas como situações que, infelizmente, é preciso contar sempre. Para neutralizar as consequências funestas de tais fraquezas Allan Kardec trabalhou para afastar todos os sistemas divergentes que surgiram, de modo que todas as partes da Doutrina [fossem] determinadas com precisão e clareza.

Destarte, na Doutrina Espírita não há nada que seja impreciso ou que se preste à interpretação contraditória ou ambígua.

Contudo, deve-se ter em conta as fraquezas humanas antes mencionadas, pois Kardec advertiu peremptoriamente que:

1. Deve-se considerar o caráter progressivo da Doutrina, que não se imobiliza no tempo, mas se apoia em Leis da Natureza; Assim, sempre que uma nova lei for descoberta, o Espiritismo deve se colocar em acordo com a mesma, desde que seja reconhecidamente justa;

2. Não obstante, haveria utopias, princípios considerados quiméricos, fazendo com que pessoas racionais se afastassem do Espiritismo, uma vez que é preciso ter certeza de um princípio, não aceitando as quimeras e as utopias;

3. Sem tais cuidados, seitas poderão se formar ao lado da Doutrina (e não dentro da Doutrina); seitas que não lhe adotem os princípios ou todos os princípios;

Seita tem o significado de partido, bando ou facção; grupo de dissidentes de uma doutrina ou de sua comunhão principal.

Para Kardec, uma seita até pode admitir alguns princípios espíritas, mas busca outra verdade, distante da teoria moral espírita de autonomia e liberdade. Assim, as duas não estarão com a verdade; no entanto, o Espiritismo sempre buscará o bem e a verdade e, assim, NUNCA SERÁ ASSIMILADO, mas, assimilará.

Não estando com a verdade, uma seita cairá no descrédito. Contudo, o verdadeiro espírita tende a tolerar todas as seitas que se formam pelo afastamento de adeptos, eis que "a tolerância, fruto da caridade, que constitui a base da moral espírita, lhe impõe como um dever respeitar todas as crenças. Querendo ser aceita livremente, por convicção e não por constrangimento, proclamando a liberdade de consciência um direito natural imprescritível, diz: Se tenho razão, todos acabarão por pensar como eu; se estou em erro, acabarei por pensar como os outros. Em virtude destes princípios, não atirando pedras a ninguém, ela nenhum pretexto dará para represálias e deixará aos dissidentes toda a responsabilidade de suas palavras e de seus atos.

Por tais razões, fundado em Kardec, pensamos que o Brasil não possui um movimento espírita, isto é, um conjunto de adeptos que conhecem, estudam, disseminam e aplicam a si mesmos os princípios e postulados espíritas, uma vez que quaisquer afastamentos de tais princípios, pelos motivos aqui elencados, constituem seitas que se formam à ilharga da Doutrina Espírita.

Por fim, é importante lembrar que uma instituição que se apresenta como órgão de unificação de tal movimento, por mais de 100 (cem) anos manteve a determinação estatutária de se estudar uma obra (Os Quatro Evangelhos de Roustaing) que contraria TODOS os princípios espíritas deduzidos, pelo trabalho de Kardec, do ensino dos Espíritos Superiores, cuja organização recebeu o nome de Doutrina Espírita (um conjunto de informações essenciais a ser ensinadas no campo da filosofia espírita).

Uberaba-MG, 06/03/2023
Beto Ramos

domingo, 12 de fevereiro de 2023

O SUPOSTO TRÍPLICE ASPECTO DO ESPIRITISMO É FALSO

É possível que você tenha ouvido falar que o espiritismo possui tríplice aspecto, qual seja: científico, filosófico e religioso.

A introdução desta ideia (porque há outras fontes que a mencionam) pode ser atribuída ao conteúdo da obra O Consolador, psicografia de Chico Xavier, ditada por Emmanuel (FEB, 1940), onde há remissão a um diálogo ocorrido em 31.10.1939, intitulado definição, cujas questões propostas são respondidas, aparentemente, em 08.03.1940.

Importa salientar que consta no referido texto que foi iniciado um estudo de 'temas doutrinários' realizado por meio de "perguntas nossas à entidade Emmanuel, a fim de ampliar-se a esfera dos nossos conhecimentos". Esse texto informa ainda que o estudo foi inaugurado com duas questões, as quais são precedidas de uma INFORMAÇÃO curiosa, a saber:

1. Afirma o autor da nota, que, SEGUNDO O GRUPO DE ESTUDOS DAQUELE CENTRO, o "espiritismo, na sua feição de Consolador prometido pelo Cristo", APRESENTA "três aspectos diferentes: científico, filosófico e religioso";

2. Em seguida à informação, o autor da nota diz que a dúvida capital para AQUELE GRUPO seria acerca de "qual desses aspectos é o maior"?

3. A segunda questão, refere-se ao DESEJO DO GRUPO de intensificar os conhecimentos, relativamente ao tríplice aspecto do Espiritismo (sic) e, se neste sentido, poderiam continuar perguntando a respeito.

É de se estranhar que no bojo da obra NÃO SE ENCONTRA nenhuma questão sobre o tema TRÍPLICE ASPECTO, além do fato capital de que este NUNCA FORA MENCIONADO POR KARDEC. Portanto, é o autor da nota (que não é assinada) quem AFIRMA que o espiritismo possui um tríplice aspecto.

Ora, um grupo de estudos deveria partir da premissa que pouco conhecem e questionar SE o espiritismo possui ou não tal aspecto, cuja ideia é fruto do pouco ou nada que compreenderam dessa ciência filosófica. Outro ponto crucial é perquirir sobre o fato de que o organizador do espiritismo não o apresentou dessa forma, como veremos no desenvolvimento do artigo.

Além disto, o 'porta-voz' do grupo, declarou que haveria o objetivo de ampliar-se a esfera de conhecimentos do grupo quanto a 'temas doutrinários'. Bem se vê que essa informação, por si só, já traz muita controvérsia. É que Allan Kardec apresenta o espiritismo como ciência filosófica (O que é o Espiritismo, preâmbulo), afirma que o seu trabalho foi sempre para apresentar o caráter moral da doutrina espírita (Viagem Espírita em 1862, primeiro discurso), assim como refuta peremptoriamente a ideia de 'religião espírita' no artigo onde responde ao Abade Chesnel (Revista Espírita, 1859).

controvérsia se dá na ausência de explicação pelo autor da nota (esclarecimento) o que o grupo entende por DOUTRINA. O fato é que a expressão doutrina refere-se a um conjunto coerente de ideias fundamentais a serem transmitidas, ensinadas; ideias básicas que compõem um sistema filosófico, político ou religioso. Nem é preciso dizer quem decide qual é o conteúdo de sua obra.

Mas, é importante esclarecer que Kardec trata da natureza do conteúdo do ensino dos Espíritos superiores. Com clareza solar enfatiza que o conteúdo de O Livro dos Espíritos é a Doutrina Espírita (como especialidade). E diz mais, ao contrário de política ou religião, o organizador do espiritismo esclarece que o conteúdo da obra filia-se ao Espiritualismo (como generalidade), razão porque traz o enunciado Filosofia Espiritualista (Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita, item I). Há alguma dúvida ainda? Se ainda restar, mostraremos o equívoco a seguir.

Sobre a entidade espiritual que o autor da nota diz ter consultado, sabemos que se trata de um Espírito que apresentou um alto nível de conhecimento no conteúdo da obra Pensamento e Vida, ditada ao mesmo médium. E, curiosamente, nas suas supostas respostas contidas na nota intitulada DEFINIÇÃO (O Consolador, FEB, 1940) o Espírito NÃO MENCIONA SEQUER UMA LINHA sobre o conteúdo da REVISTA ESPÍRITA DE DEZEMBRO DE 1868, onde Allan Kardec, o organizador do Espiritismo, DEMONSTROU em minúcias porque o espiritismo NÃO É uma religião, como se verá mais à frente.

Saliente-se que a obra O CONSOLADOR foi dividida em três partes, a saber: ciência, filosofia e religião. Quem se der ao trabalho de analisar a parte que se refere ao tema RELIGIÃO, observará que as perguntas feitas não possuem qualquer conteúdo relacionado com a teoria moral espírita, pois que, no limite, buscou-se interpretar textos contidos nas narrativas dos Evangelhos de João, Lucas, Marcos e Mateus, etc.

Note-se que o texto retro mencionado da obra O Consolador é datado, mas NÃO É ASSINADO nem pelo Espírito, nem pelo autor. Pela construção textual, parece se tratar de documento produzido por terceiros, ocasião em que se atribui a autoria das tais respostas ao Espírito Emmanuel.

Esse fato é sobremaneira importante! É que não se pode trabalhar com uma afirmação peremptória de que o Espírito tenha respondido ou não, validado ou não, o suposto tríplice aspecto, objeto de investigação desse trabalho.

Na prática verifica-se a seguinte situação ambígua:

a. A afirmação sobre o suposto tríplice aspecto do espiritismo parte da crença, sob palavra, em um autor que não assina o documento; Mais ou menos assim: "foi o outro que falou, mas eu ouvi e estou atestando";

b. Não há, além do texto em livro, qualquer informação sobre a existência de documento original que comprove a afirmação de que tais perguntas, de fato, foram encaminhadas à entidade espiritual declarada em seu conteúdo e, ainda, que a respectiva entidade as tenha respondido realmente;

c. O texto fonte menciona, tão somente, ao final: Pedro Leopoldo, 8 de março de 1940, SEM O NOME DO AUTOR da nota que teria ouvido/transcrito as respostas.  Nesse sentido, há defeito de autoria. Estamos diante de uma notícia apócrifa (não autêntica por falta de assinatura).

Informamos ainda que, na obra Pensamento e Vida (FEB, 1958), o Espírito Emmanuel, apresentando uma singela cartilha falada a respeito dos problemas do Espírito, utilizada nas escolas de regeneração, entre a morte e o renascimento, junto aos companheiros em trânsito para o berço (reencarnação)NÃO TRATA DO TEMA RELIGIÃO, limitando-se a trazer, nos capítulos 6 e 26, os temas Fé Oração, respectivamente.

Neste sentido, pode-se questionar se em uma obra que dialoga com a teoria moral espírita de autonomia e liberdade, caso o espiritismo possuísse um tríplice aspecto, não seriam apresentados aos reencarnantes informações sobre tal ideia?

Todavia Emmanuel trata de ciência e filosofia na obra Pensamento e Vida. Não é curioso?

É espantoso como outra questão importante passou ao largo desta controvérsia. É que os textos acima mencionados foram publicados, conforme informações extraídas das próprias obras, nos anos de 1940 (O Consolador) e 1958 (Pensamento e Vida), enquanto que, segundo o pesquisador e filósofo José Herculano Pires, na obra O Verbo e a Carne:

"Toda a coleção da Revista Espírita do tempo de Kardec indispensável ao estudo da doutrina, só foi publicada no Brasil, a revelia e contra a vontade da FEB, na década de 60, em tradução de Júlio Abreu Filho. O importante livrinho de Kardec O Espiritismo na sua mais simples expressão só apareceu em 1970". 

Destarte, fica comprovado que a maioria dos integrantes do grupo de estudos, senão todos, DESCONHECIAM todo o conteúdo das revistas espíritas (neste trabalho traremos o conteúdo de importantes publicações de Allan Kardec na Revista Espírita).

E, a sua impressão sobre o conteúdo da Doutrina Espírita é fruto da maneira equivocada como o Espiritismo foi divulgado no Brasil, principalmente após os anos de 1917 e seguintes, quando os precursores do Espiritismo no Brasil, que estudavam essa ciência filosófica como desenvolvida por Allan Kardec, já haviam sido "substituídos" por um grupo de religiosos dissidentes da igreja católica (ver obra AUTONOMIA - a história jamais contada do espiritismo).

Será que o a entidade espiritual mencionada na nota intitulada DEFINIÇÃO, não sabia da existência da resposta dada por Allan Kardec na Revista Espírita de dezembro de 1868, onde o organizador deixa claro que o espiritismo não é uma religião? O que dizer sobre a resposta de Kardec ao Abade Chesnel na Revista Espírita de Maio de 1859 sobre o mesmo assunto? E quanto ao conteúdo das demais Revistas Espíritas, que tratam de refutar, peremptoriamente, a suposta existência de um caráter religioso da Doutrina Espírita, bem como as demais obras até aqui citadas?

Se sabia, por quais motivos não as citou e apresentou suas refutações (ou concordância), como procedeu no caso da questão envolvendo o tema metades eternas quando usou uma nota ao final da obra para se explicar?

Aproveitamos para lembrar que a entidade Emmanuel, segundo relato de Francisco Xavier, o instruiu para ficar com Jesus e Kardec quando, em qualquer hipótese, ele apresentasse qualquer contradição com a Doutrina Espírita em suas dissertações. Observamos que no caso da obra O Consolador, nota-se que houve clara contradição em mais de uma vez (caso das metades eternas e o suposto tríplice aspecto do espiritismo).

Antes de prosseguir com as provas irrefutáveis de que o suposto tríplice aspecto do espiritismo é falso, pois o espiritismo não é uma religião, vamos trazer alguns conhecimentos importantes para a nossa pesquisa, cujo conteúdo poderá guiar melhor o pesquisador sério que se dedicar à temática do presente artigo.

Todo questionamento é importante para uma investigação, pois o objetivo do espiritismo é revelar a verdade, conforme aprendemos no capítulo 1 da obra A Gênese, Allan Kardec, 1868. Por isto mesmo é preciso nos entendermos quanto às palavras.

I. Por que o suposto tríplice aspecto do espiritismo é falso? Por se tratar de uma falácia. Vejamos, então, o significado:

FALÁCIA na FILOSOFIA de Aristóteles é qualquer enunciado ou raciocínio falso que, entretanto, simula a veracidade; trata-se de um sofisma (uma mentira com aparência de verdade).

Até que se prove peremptoriamente a autoria das respostas, o que o documento supõe é a simulação de uma verdade por meio de um sofisma, pois que apresenta um raciocínio falso quando tentamos aproximar o seu conteúdo dos postulados, princípios, teoria moral, ensinamento dos Espíritos superiores e os textos legados de Allan Kardec.

II. Por que o espiritismo é filosofia? Sobre a obra O Livro dos Espíritos, Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita, item I, Espiritismo e Espiritualismo, no último parágrafo, Allan Kardec esclarece qual é o seu conteúdo: 

"Como especialidade "O Livro dos Espíritos" contém a Doutrina Espírita; como generalidade liga-se ao Espiritualismo, do qual apresenta uma das fases. Essa a razão porque traz sobre o título as palavras: Filosofia Espiritualista".

III. O que é teodiceia?  Na Filosofia Espiritualista, própria do pensamento francês do século 19, vamos verificar a presença da matéria TEODICÉIA, que era estudada nos liceus e na universidade de Sorbonne, importando ao estudante do espiritismo compreender seu significado e origem. Vejamos:

TEODICEIA (FILOSOFIA):

1. No leibnizianismo, conjunto de argumentos que, em face da presença do mal no mundo, procuram defender e justificar a crença na onipotência e suprema bondade do Deus criador, contra aqueles que, em vista de tal dificuldade, duvidam de sua existência ou perfeição.
2. Qualquer doutrina ou argumentação com características semelhantes.
3. Teoria que, no pensamento francês do séc. XIX, além de contestar os argumentos antirreligiosos decorrentes da existência da maldade, explicava racionalmente a natureza divina e seus atributos.


IV. O que é religião natural? Outra informação relevante é compreender, em filosofia, o que se entende por religião natural, a fim de não fazer confusão e criar aspectos para conteúdos doutrinários onde eles não existem.

RELIGIÃO NATURAL: significa a "religião da natureza", na qual Deus, as almas, os espíritos, e todos os objetos do sobrenatural são considerados como parte da natureza e não separados dela; É uma expressão usada na filosofia para descrever alguns aspectos da religião (que devem ser conhecidos à parte da revelação divina) apenas através da lógica e razão, por exemplo, a existência da causa primeira do universo. Portanto, religião natural é assunto da FILOSOFIA.

Não há consenso entre os autores consagrados, pois uns consideram a religião natural como o fundamento das religiões monoteístas (judaísmo, o cristianismo e islamismo) e outros como diferente delas. Segundo alguns autores são encontrados universalmente, entre todos os povos, aspectos da religião natural. O que não ocorre com as seitas, oriundas da cultura e tradição, que possuem aspectos singulares, diferindo-se entre si.

V. O espiritismo pertence ao conhecimento humano:

O caráter do espiritismo é sua universalidade. Sobre a influência do Espiritismo no Progresso, Kardec indagou aos Espíritos superiores na questão 798: O Espiritismo se tornará crença comum, ou ficará sendo partilhado, como crença, apenas por algumas pessoas? No que eles responderam:

“Certamente que se tornará crença geral e marcará nova era na história da humanidade, porque está na natureza e chegou o tempo em que ocupará lugar entre os conhecimentos humanos”.

O conhecimento humano é fruto de sua ciência, da sua filosofia. O pensamento religioso é todo conjectural, baseado numa fé cega, não importando em zetética (perguntar, questionar, refutar, etc.), mas, repleto de dogmas particulares (conceitos inquestionáveis).

VI. O espiritismo é uma lei da natureza:

Quanto ao Espiritismo, eis o ensinamento contido na resposta à questão 222:

"[...]. Nunca dissemos ser de invenção moderna a Doutrina Espírita. Constituindo uma lei da Natureza, o Espiritismo há de ter existido desde a origem dos tempos e sempre nos esforçamos por demonstrar que dele se descobrem sinais na antiguidade mais remota".

Se é uma lei da natureza e não é um conhecimento moderno, verifica-se que não possui aspecto de religião.

Importa, agora, obter respostas a algumas questões que deveriam ser as premissas de todos os estudantes sérios a fim de evitar desdizer o que foi afirmado por Allan Kardec, o organizador do espiritismo.

VII. O que é a religião? é o inverso da filosofia, pois se baseia na fé cega, em acreditar em algo no qual não se pode comprovar, na crença inabalável de ensinamentos impostos por revelações divinas, o que leva a rotinas e dogmas.

Refletindo sobre os conceitos e definições, bem como nas informações compartilhadas alhures, o que é que se pretendeu afirmar com a ideia de um suposto aspecto religioso do espiritismo?

Será que o espiritismo busca explicar a origem do universo sem uso da razão?

É objetivo do espiritismo demostrar o inexplicável como vontade divina?

Há no espiritismo um confronto entre fé e razão?

Obviamente todas as respostas são negativas, uma vez que o espiritismo se ocupa da fé raciocinada. Por outro lado, A FILOSOFIA reflete a busca do ser humano pelo conhecimento de si mesmo e do mundo onde vive.

Não seria essa busca presente na Doutrina Espírita, conforme podemos verificar nas respostas às questões 918 e 919 de O Livro dos Espíritos?

VIII. Ainda é preciso perguntar: como surgiu a filosofia?

Foi da tentativa de superar uma fé cega em que os gregos viviam, tentando explicar os fenômenos através de causas racionais e não através dos mitos. O Iluminismo é uma expressão desse movimento, quando se esperava a superação total das crenças pela razão.

E, sem dúvida, a Filosofia Espiritualista Racional tem suas raízes nesse grande movimento do pensamento científico humano. Alguns filósofos acreditam que o melhor meio de alcançar a divindade é através da razão. E não é outra a busca que se estabelece na Doutrina Espírita?

XI. Qual a diferença entre religião e filosofia? 

a. RELIGIÃO é a crença na existência de um poder ou princípio superior, sobrenatural, do qual depende o destino do ser humano e ao qual se deve respeito e obediência.

É isto que o espiritismo propõe? Ou a proposta espírita é a conformação às leis divinas por meio da aquisição do conhecimento e do uso dos atributos do Espírito, para fins de uma decisão individual de fazer o bem, pelo bem de todos, sem qualquer tipo de coação, seja íntima ou externa?(questões 629 e seguintes de O Livro dos Espíritos).

Além do mais, o religioso (partidário de qualquer religião) toma uma postura intelectual e moral que resulta de sua crença religiosa.

É essa a proposta do espiritismo ou ele ensina que há apenas uma conduta moral a ser atingida como meta: fazer o bem, pelo bem e para o bem de todos? (questão 629 e ss. LE).

b. FILOSOFIA é uma ciência com vários conceitos a depender do campo científico de sua aplicação. Sobremaneira, refere-se à razão e à sabedoria. Trata-se de um pensamento onde o ser humano busca compreender a si mesmo e a realidade circundante, e que determinará o seu caráter prescritivo ou prático, voltado para a ação concreta e suas consequências éticas, políticas ou psicológicas.

Veremos, mais à frente, que Kardec, respondendo à questão: o que é o espiritismo? Vai responder em consonância com essa definição.

É verdade que, no campo da metafísica, como é próprio da filosofia, que o espiritismo apresenta um conjunto de especulações teóricas, busca as verdades primeiras e incondicionadas relativas à natureza de Deus, da alma e do universo, mas utilizando procedimentos argumentativos, lógicos e dedutivos, sem prescindir da observação (método próprio da Filosofia do século 19).

É possível verificar em O Livro dos Espíritos, já no início da obra, respostas sobre Deus, Alma e Universo. Portanto, o espiritismo é filosófico.

Para algumas informações contidas até aqui, sem prescindir de outras fontes, remetemos o leitor ao seguinte endereço eletrônico: https://blog.portaleducacao.com.br/religiao-e-filosofia-o-que-sao-e-quais-as-diferencas/ (acesso em 03.02.2023).


O SUPOSTO TRÍPLICE ASPECTO DO ESPIRITISMO É FALSO:

Se bem entendidos os conceitos de filosofia, religião, teodiceia, metafísica, religião natural, filosofia espiritualista, entre outros, é possível compreender a afirmação de Kardec na obra O Espiritismo em sua Mais Simples Expressão (Histórico do Espiritismo, pg. 27):

"Do ponto de vista religioso, o Espiritismo tem por base as verdades fundamentais de todas as religiões: Deus, a alma, imortalidade, as penas e recompensas futuras, sendo, porém, independente de qualquer culto em particular. Seu objetivo é provar àqueles que negam, ou que duvidam, que a alma existe, que ela sobrevive ao corpo e que sofre, após a morte, as consequências do bem ou do mal que praticar durante a vida corpórea: o objetivo de todas as religiões".

Não, Kardec não está afirmando que o Espiritismo é uma religião, pois, se assim fosse, ele não continuaria esclarecendo que:

"Católicos - gregos ou romanos - protestantes, judeus ou mulçumanos podem crer nas manifestações dos Espíritos e ser, por conseguinte, Espíritas. A prova está em que o Espiritismo tem adeptos em todas as religiões".

Nessa mesma obra o organizador do Espiritismo ainda vai afirmar que "o Espiritismo [...] não constitui uma religião especial, pois não possui sacerdotes nem templos".

Na obra O Que é o Espiritismo, Allan Kardec, em seu 3º diálogo (com o Padre), vai esclarecer de onde surgiu a falaciosa afirmação do Espiritismo como uma religião: 

"O Espiritismo não era mais que simples doutrina filosófica, foi a própria Igreja que o desenvolveu, apresentando-o como um temível inimigo. Foi ela, enfim, quem o proclamou como nova religião. Era uma demonstração de inépcia, mas a paixão na raciocina".

Em verdade é preciso raciocinar, a fim não confundir uma doutrina filosófica com consequências morais em razão das relações que se podem estabelecer entre os Espíritos com uma mera religião. É oportuno, também, uma vez que estamos mencionando a obra O Que é o Espiritismo, colacionar como Allan Kardec define o Espiritismo:

"O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática, consiste nas relações que se podem estabelecer com os Espíritos; como filosofia, compreende todas as consequências morais que decorrem dessas relações. Podemos assim defini-lo: o Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, da origem e do destino dos Espíritos e de suas relações com o mundo corporal".

Não se verifica, em nenhuma hipótese, qualquer expressão na definição de Kardec que se trataria de uma doutrina com tríplice aspecto. No máximo, dois, se não se considerar como o próprio organizador do Espiritismo o define em última instância: ciência.

Neste sentido, o que pede Allan Kardec para os Espíritas quanto a esse tema? Trata-se do estudo e da observação, conforme suas palavras no diálogo com o Padre, que reproduzimos:

"Melhor observado depois que se vulgarizou, o Espiritismo vem derramar luz sobre grande número de questões, até hoje insolúveis ou mal compreendidas. Seu verdadeiro caráter é, pois, o de uma ciência, e não de uma religião; e a prova disso é que ele conta entre os seus aderentes homens de todas as crenças, que por esse fato não renunciaram às suas convicções: católicos fervorosos que não deixam de praticar todos os deveres do seu culto, quando a Igreja os não repele; protestantes de todas as seitas, israelitas, muçulmanos e mesmo budistas e bramanistas".

Além de não ser uma religião, ter entre seus adeptos pessoas de todas as crenças, o Espiritismo é um grande aliado para fazer a ponte entre ciência e religião, uma vez que:

"Não será isso um pequeno serviço prestado à humanidade e à Religião? Porém, não é ainda tudo: a certeza da vida futura, o quadro vivo daqueles que nos precederam nela, mostram a necessidade do bem e as consequências inevitáveis do mal. Eis por que, sem ser uma Religião, o Espiritismo se prende essencialmente às ideias religiosas, desenvolve-as naqueles que não as possuem, fortifica-as nos que as têm incertas".

 

Kardec anteviu que o Espiritismo sofreria ataques por meio de interpretações sistemáticas e errôneas. Eis o que escreveu sobre isso no texto impressões gerais, preâmbulo da obra Viagem Espírita em 1862:

"Quando a ciência espírita estiver solidamente constituída e escoimada de todas as interpretações sistemáticas e errôneas, que caem a cada dia ante o exame sério, eles se ocuparão de estabelecê-la em âmbito universal, para isso empregando poderosos meios".

O esforço de Allan Kardec sempre foi no sentido de demonstrar a face grave e sublime dessa nova ciência:

"[...] fazendo-a sair do caminho puramente experimental para fazê-la penetrar no da filosofia e da moral [...]" (idem, primeiro discurso).

Os graves erros, as interpretações errôneas, com toda certeza é fruto de ausência total ou da deficiência de estudos da Doutrina Espírita em obras genuinamente espíritas, pois, como o próprio Kardec afirmou:

"Onde quer que minhas obras penetraram e servem de guia, o Espiritismo é visto sob o seu verdadeiro aspecto, isto é, sob um caráter EXCLUSIVAMENTE MORAL (idem)".

Certamente, Allan Kardec falou sobre ASPECTO DO ESPIRITISMO, mas, como podemos comprovar, tratou do verdadeiro aspecto, DO MAIOR ASPECTO DO ESPIRITISMO, que é o ASPECTO MORAL. Portanto, divergindo totalmente daquela afirmação feita na nota apócrifa da obra O Consolador, Kardec não afirmou existir um suposto aspecto religioso e, sem dúvida, não há tríplice aspecto.

Cabe, ainda, trazer ao presente artigo as palavras profundas e esclarecedoras sobre esse tema: o suposto tríplice aspecto do espiritismo. Segundo Allan Kardec NÃO EXISTE o aspecto religioso, pois, o espiritismo não é uma religião. É o que se depreende da longa resposta contida na RE – Maio/1859 – Respondendo a um artigo do Abade François Chesnel publicado no Jornal Univers.

Segundo Allan Kardec, o artigo do Abade "contém um erro grave e pode dar uma ideia muito falsa, quer do Espiritismo em geral, quer em particular do caráter e do objetivo dos trabalhos da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas".

Assim, Kardec responde o clérigo nos seguintes termos:

"[...] Senhor abade, o artigo que publicastes no Univers, relativamente ao Espiritismo, contém vários erros que importa retificar e que procedem, fora de dúvida, de um incompleto estudo da matéria".

O tema central, bem como o título do artigo é “Uma nova religião em Paris”. Sobre o qual Kardec responde que:

"Admitindo que tal fosse, com efeito, o caráter do Espiritismo, aí haveria um primeiro erro, considerando-se que ele está longe de circunscrever-se a Paris. Conta milhões de aderentes espalhados nas cinco partes do mundo e Paris não foi o foco primitivo. Em segundo lugar, o Espiritismo é uma religião? Fácil é demonstrar o contrário".

Destarte, esclarece Kardec sobre o VERDADEIRO CARÁTER DO ESPIRITISMO que:

"[...] Seu verdadeiro caráter é, pois, o de uma ciência e não o de uma religião, e a prova disso é que conta, entre seus aderentes, homens de todas as crenças, e que nem por isso renunciaram às suas convicções: católicos fervorosos, que praticam todos os deveres de seu culto, protestantes de todas as seitas, israelitas, muçulmanos e até budistas e bramanistas. Há de tudo, exceto materialistas e ateus, porque essas ideias são incompatíveis com as observações espíritas".

Além do mais, Kardec explica os fundamentos da Doutrina Espírita, advertindo que:

"O Espiritismo, pois, repousa sobre princípios gerais, independentes de toda questão dogmática. É verdade que tem consequências morais, como todas as ciências filosóficas. Essas consequências são no sentido do Cristianismo, porque, de todas as doutrinas, o Cristianismo é a mais esclarecida, a mais pura, razão por que, de todas as seitas religiosas do mundo, são as cristãs as mais aptas a compreendê-lo em sua verdadeira essência".

Vamos traduzir o que Kardec está afirmando. As consequência morais das relações que se podem estabelecer entre e com os Espíritos se conformam ao Cristianismo. O Cristianismo é uma doutrina, que por seus fundamentos está em melhores condições (ou apta) a entender, compreender os princípios, postulados e filosofia espírita (no geral em relação ao Espiritualismo e no particular quanto à doutrina espírita).

Dessa forma, para quem julga equivocadamente o espiritismo, é preciso prestar atenção nas palavras de Kardec, pois, ele afirma que:

"O Espiritismo não é, pois, uma religião. Se o fosse teria seu culto, seus templos, seus ministros. Sem dúvida cada um pode fazer uma religião de suas opiniões e interpretar à vontade as religiões conhecidas, mas daí à constituição de uma nova Igreja há uma grande distância e creio que seria imprudência seguir tal ideia".

E continua:

"Em resumo, o Espiritismo se ocupa da observação dos fatos e não das particularidades de tal ou qual crença, da pesquisa das causas, da explicação que esses fatos podem dar de fenômenos conhecidos, assim na ordem moral como na ordem física, e não impõe nenhum culto aos seus partidários, como a astronomia não impõe o culto dos astros, nem a pirotecnia o culto do fogo".

Fato de não somenos importância é a explicação de Kardec sobre o próprio nome dado à instituição que fundou para pesquisar o espiritismo. Ele afirma que:

"[...] a denominação Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas não se assemelha ao de nenhuma seita; tão diferente é o seu caráter que seu estatuto proíbe tratar de questões religiosas".

E que:

"[...] está classificada na categoria das sociedades científicas, porque, com efeito, seu objetivo é estudar e aprofundar todos os fenômenos que resultam das relações entre os mundos visível e invisível; tem seu presidente, seu secretário e seu tesoureiro, como todas as sociedades".

Além do fato de que, quanto a fazer prosélitos:

"[...] não convida o público às suas sessões; ali não se faz nenhum discurso, nem coisa alguma que tenha o caráter de um culto qualquer".

Bem como, sobre a condução de suas sessões e trabalhos:

"[...] Conduz os seus trabalhos com calma e recolhimento, primeiro porque é uma condição necessária para as observações e, segundo, porque sabe que devem ser respeitados aqueles que não vivem mais na Terra".

Inclusive, esclarece sob a forma de convidar os Espíritos para comparecerem às sessões e a realização das mesmas, dizendo que:

"[...] Ela os chama em nome de Deus porque crê em Deus, em sua Onipotência e sabe que nada se faz neste mundo sem a sua permissão. Abre as sessões com um apelo geral aos Espíritos bons, uma vez que, sabendo que os há bons e maus, cuida para que estes últimos não venham se misturar fraudulentamente nas comunicações que recebe e induzi-la em erro".

Finalmente, pergunta Allan Kardec ao Abade:

[...] O que prova isso? Que não somos ateus; mas de modo algum implica que sejamos partidários de uma religião.

O que chama a atenção é a seriedade de Allan Kardec quanto aos que insistem em atribuir um caráter religioso ao espiritismo, quando adverte e convida a todos os incautos:

"Disso deveria ter ficado convencida a pessoa que vos descreveu o que se passa entre nós, se tivesse acompanhado os nossos trabalhos e, sobretudo, se os tivesse julgado com menos leviandade e talvez com espírito menos prevenido e menos apaixonado. Assim, os próprios fatos protestam contra a qualificação de nova seita que destes à Sociedade, certamente por não a conhecerdes melhor".

Nem se perca de vista que, tão importante quanto aos argumentos de Allan Kardec, são as respostas apresentadas pelo espiritista Senhor Dombre a um pregador que havia afirmado em sermão que o espiritismo seria uma religião. Na Revista Espírita de setembro de 1862, assevera o Senhor Dombre:

"Não; o Espiritismo não é uma religião, nem pretende ser uma religião. O Espiritismo se baseia na existência de um mundo invisível, formado por seres incorpóreos que povoam o espaço e que são apenas as almas dos que viveram na Terra ou em outros globos. [...] O Espiritismo desvenda-nos o mundo invisível; não é novidade, já que é mencionado pela história de todos os povos. Repousa sobre princípios gerais, independentes de toda questão dogmática. [...]; cada um pode fazer de suas opiniões uma religião, mas daí para a constituição de uma nova Igreja a distância é grande. Portanto, o Espiritismo não é uma nova religião". 

Para aqueles que ainda não compreenderam o que Allan Kardec quer dizer a respeito do espiritismo quando afirma que não possui culto nem templos, vejamos sua exposição em algumas refutações na Revista Espírita de maio de 1863. Verbis:

"Pareceis ignorar uma coisa que é bom saibais. Os grupos espíritas não são absolutamente necessários; são simples reuniões onde se sentem felizes por encontrar-se pessoas que pensam do mesmo modo. E a prova disto é que hoje, na França, há mais de 600.000 espíritas, 99% dos quais não fazem parte de nenhum grupo e neles jamais puseram os pés; que eles não existem numa porção de cidades";

E prossegue:

"[...] que nem os grupos nem as sociedades abrem suas portas ao público para pregar suas doutrinas aos transeuntes; que o Espiritismo se prega por si mesmo e pela força das coisas, porque responde a uma necessidade da época; que as ideias espíritas estão no ar e são aspiradas por todos os poros da inteligência; que o contágio está no exemplo dos que são felizes com essas crenças e que são encontrados por toda parte, na sociedade, sem que se precise procurá-los nos grupos".

 

Em 1864, conforme se depreende da Revista Espírita do mês de setembro, novamente, Allan Kardec responde sobre a esdrúxula afirmação dos representantes da igreja, os quais proclamavam o Espiritismo como nova religião do século 19. Verbis:

"Observação – Eis mais um príncipe da Igreja que proclama, num ato oficial, que o Espiritismo é uma religião que se cria. É o caso de repetir aqui o que já dissemos a respeito: Se algum dia o Espiritismo se tornar uma religião, a Igreja terá sido a primeira a dar tal ideia".


Muitos ainda vão afirmar que o espiritismo adotando as preces será, de fato, uma religião, ao que o próprio Allan Kardec, tecendo considerações sobre a prece no espiritismo,  responde na Revista Espírita do mês de janeiro de 1866, afirmando:

"Cada um é livre de encarar as coisas à sua maneira, e nós, que reclamamos esta liberdade para nós, não podemos recusa-la aos outros. Mas, do fato de uma opinião ser livre, não se segue que não se possa discuti-la, examinar o lado forte e o fraco, pesar suas vantagens e inconveniências. [...] O Espiritismo é uma ciência puramente filosófica; não só não é uma religião, como não deve ter nenhum caráter religioso. Toda prece dita nas reuniões tende a manter a superstição e a hipocrisia religiosa".

E, ainda na Revista Espírita de 1866, agora no mês de fevereiro, o organizador do espiritismo, apresentando o espiritismo segundo os espíritas, reportando a um artigo publicado por um periódico sério da França do século 19, demonstrou que era corrente entre os espíritas, entre outras coisas, a seguinte compreensão sobre a Doutrina Espírita:

“Não é uma Religião, pois não tem dogmas, nem culto, nem sacerdotes, nem artigos de fé; é mais que uma filosofia, porque sua doutrina é estabelecida sobre a prova certa da imortalidade da alma. É para fornecer esta prova que os espíritas evocam os Espíritos de além-túmulo".

Mas, todos sabemos de onde vem, de fato, esse ranço empedernido de querer fazer da Doutrina Espírita e do Espiritismo o que não é e nem nunca foi. Ao artigo da Revista Espírita de 1859, onde Kardec trava um diálogo com o Abade Chesnel, refutando o aspecto religioso da Doutrina Espírita, se somou furtivamente uma nota (de n. 9 na edição em pdf - FEB) do tradutor da revista, em um acerbo desserviço para a propagação, divulgação e disseminação da ciência filosófico-espírita, conforme transcrição a seguir:

"NOTA DO TRADUTOR DA REVISTA À AFIRMAÇÃO DE KARDEC QUANTO AO ESPIRITISMO NÃO SER UMA RELIGIÃO - Em vão se tentará negar o aspecto religioso do Espiritismo, tomando por base, de forma isolada, o presente raciocínio de Allan Kardec. Há que se examinar o conjunto de sua obra, a fim de não se chegar a conclusões precipitadas. Na Revista Espírita de dezembro de 1868 o Codificador defende de maneira peremptória o caráter religioso da Doutrina Espírita".

É uma nota de um deficiente intelectual, ao qual falta discernimento e cognição a priori. Sem dúvida, ao fazer uma afirmação rasteira destas, estará num daqueles grupos citados por Kardec: ou dos levianos ou dos apaixonados. Estudando a obra Viagem Espírita em 1862, veremos que o autor dessa nota está longe de pertencer à categoria dos verdadeiros espíritas.

Como visto, demonstrou-se nesse artigo que o tradutor da revista e autor da nota ora guerreada (sobre a afirmação de Kardec) está LONGE/DISTANTE de ter procedido um exame acurado do conjunto da obra. Não deve ter lido, porque estudar seria pedir muito para quem já vem com o copo cheio, nenhuma das informações que colacionamos nesse artigo. VEJAM QUE ESTAMOS ANALISANDO O CONJUNTO DA OBRA, isto é, nas Revistas Espíritas, bem como em todas as demais produzidas por Allan Kardec. O autor da nota, sem dúvida, não procedeu da mesma forma, pois já vinha com o seu julgamento antecipado sobre o tema.

Kardec, não só pela quantidade de informações, mas em face da qualidade das mesmas, afirmou em mais de uma ocasião qual é o verdadeiro caráter do espiritismo - uma ciência. Vale, finalmente, apresentar o conteúdo usado por muitos para afirmar que Allan Kardec mudou seu pensamento sobre o fato de não ser o Espiritismo uma religião. Pois bem, é o contrário. Na Revista a seguir verificamos que o suposto tríplice aspecto do espiritismo é falso:

Na Revista Espírita de dezembro de 1868, Kardec foi instado a responder se o espiritismo é uma religião. Apesar da profundidade daquele texto, onde são dadas minuciosas explicações sobre o significado e sentido da palavra religião; além do fato de Kardec demonstrar cabalmente que o Espiritismo não se enquadra na compreensão humana do que se convencionou denominar religião, ainda há muita má vontade nesse campo de estudo.

Kardec citou o significado da expressão religião como sendo um laço que religa os seres humanos entre si (e não com Deus, com o qual NUNCA perdeu sua ligação) numa comunhão de sentimentos, de princípios e de crenças.

Além disto, a obra A Gênese traz importante esclarecimento nesse sentido, pois que, para se afastar do Criador haveria de ter algum distanciamento entre Deus e os seres inteligentes, implicando na ausência de unidade do Universo, hipótese falsa, senão vejamos:

"O Universo é, ao mesmo tempo, um mecanismo imenso conduzido por um número incontável de inteligências, um enorme governo onde cada ser inteligente tem sua parte de ação sob o olhar do soberano Criador, cuja vontade única mantém a UNIDADE POR TODA A PARTE. Sob o império desse vasto poder regulador tudo se movimento, tudo funciona numa perfeita ordem". (Capítulo 18, item 4).

Explicou que o nome religião foi dado ao conjunto de princípios codificados e formulados em dogmas ou artigos de fé (observe que Kardec critica a ideia de codificar, codificador, etc., mas isso é matéria para outro artigo).

Como exemplo disto citou a hipótese da religião política, que implica uma fé política, consubstanciada numa ideia particular, ocasião em que demonstrou, ainda, que os seres humanos podem se filiar a um partido por um interesse, mas sem fé nesse partido. O mal da reunião por interesse é que há uma permanência, uma persistência à custa dos maiores sacrifícios. Não há fé sincera e nem renúncia dos interesses pessoais.

Portanto, Kardec explicou qual o sentimento que une os seres humanos nas seitas. Não é um laço de fraternidade e de solidariedade, mas apenas compromissos materiais e interesses pessoais, que podem ser rompidos facilmente.

Destarte, asseverou que:

"Não tendo o Espiritismo nenhum dos caracteres de uma religião, na acepção usual da palavra, não podia nem devia enfeitar-se com um título sobre cujo valor inevitavelmente se teria equivocado. Eis por que simplesmente se diz: DOUTRINA FILOSÓFICA E MORAL".

Neste sentido, fico com Kardec. Uma vez QUE EXISTE NO MUNDO APENAS A EXPRESSÃO RELIGIÃO e a mesma não traduz a ideia de uma religião natural ou filosófica sem os caracteres próprios de uma seita, o Espiritismo NÃO É UMA RELIGIÃO.

Mas, não se engane, o próprio Kardec esclareceu que o ser humano pode transformar qualquer ideia numa religião, fruto de sua interpretação equivocada, do seu erro, bem como do seu interesse pessoal.

Além do mais, importa colacionar uma importante instrução de Allan Kardec, contida no vocabulário espírita, obra Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas, ao explicar o significado do vocábulo ESFERA, ocasião que adverte sobre a precaução que devemos ter com pseudo sábios e expressões viciosas. Verbis:

"[...] Se um homem  que julgais sábio sustenta uma teoria evidentemente absurda, duvidais do seu saber [...]".

O profundo cuidado de Kardec com expressões viciosas e equivocadas usadas vulgarmente, como é o caso da palavra religião tratada na Revista Espírita de dezembro de 1868, o impulsionou a escrever o que segue (idem):

"Essas expressões são viciosas, mesmo tomadas em sentido figurado, porque podem induzir em erro sobre o sentido verdadeiro pelo qual se deve entender [...]".


Por fim, não pediremos ao leitor que tire suas próprias conclusões acerca do assunto nessa oportunidade, pois o próprio Allan Kardec refutou o suposto tríplice aspecto do espiritismo.

Assim, a conclusão é de uma lógica solar, visto que o organizador do Espiritismo deixa claro o VERDADEIRO CARÁTER DO ESPIRITISMO, ou seja, uma ciência.

Neste sentido, O SUPOSTO TRÍPLICE ASPECTO DO ESPIRITISMO É FALSO. Trata-se de uma falácia.

Uberaba-MG, 10/02/2023 (atualização/finalização: 23/02/2023)
Autor e revisor: Beto Ramos
Rev. textual/conteúdo: Lauro Rodrigues

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