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sábado, 25 de março de 2023

CONFISSÕES DE VOLTAIRE - UM MATERIALISTA DE VOLTA AO MUNDO ESPIRITUAL

François-Marie Arouet, conhecido como Voltaire, foi um escritor, historiador e filósofo iluminista francês que viveu no século 18 entre os anos 1694/1778 e ficou conhecido pelo pseudônimo M. de Voltaire. Aliás, codinome que adotou quando esteve preso na bastilha.

Voltaire era um cético inspirado pela ideia racional, herdada da Filosofia Renascentista, que elaborou uma teoria para refutar as tradições, tão preciosas para a religião e para a nobreza. Com isso, surgiu o argumento da certeza ser absurda.

Famoso por suas críticas sagazes ao cristianismo — especialmente à Igreja Católica Romana — e à escravidão, foi defensor da liberdade de expressãoliberdade de religião e a separação entre igreja e estado.

Seu modo de pensar pode ser descrito na frase de Evelyn Beatrice Hall"Posso não concordar com nenhuma palavra do que você disse, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo". Além disso, ele preconizava que cada um deveria pensar por si mesmo, desafiando os dogmas da igreja e da monarquia, estabelecendo que a certeza absoluta poderia até existir, mas era impossível de prová-la, sendo a dúvida o único ponto de vista lógico.

Ainda hoje, muitos se deixam arrebatar pelos escritos de Voltaire. No entanto, esse filósofo era um niilista. Um homem dotado de um grande gênio, ao qual a mediocridade era impossível. Como ser humano aspirava a liberdade, própria da sua essência. Ao chegar no mundo espiritual reencontrou tal liberdade, mas perdeu-se, confundiu-se.

O grande pregador do nada, o nada encontrou; mas, nada como compreendia. Se julgou tão grande, mas foi fulminado por sua pequenez, aniquilado diante de Deus, o qual era obrigado a contemplar diante da imortalidade da alma. Não experimentou qualquer julgamento preconizado pelas religiões ancestrais: "nem levanta-te meu filho, nem vai-te daqui". É que Deus lê nos corações de modo diverso de nós; Ele encontra o bem onde não achamos senão o mal.

O velho Voltaire desapareceu; surge o novo com suas confissões. Convertido, glorifica a Deus, confunde e impressiona aqueles que hoje deixam-se arrebatar por seus escritos.

De uma bela comunicação, “[...] traduzida do inglês [e] extraída da obra do juiz Edmonds, publicada nos Estados Unidos[, tem] a forma de uma conversa entre Voltaire e Wolsey, o célebre cardeal inglês do tempo de Henrique VIII [onde] dois médiuns atuaram separadamente para a transmissão desse diálogo”, podemos extrair algumas passagens interessantes, as quais reproduziremos a seguir.

Antes, porém, recomenda-se que o leitor busque os fundamentos da Filosofia Espírita, especialmente as questões 275, 275.a, 276 e 277 de O Livro dos Espíritos, onde iremos aprender que poder e consideração na Terra não dá supremacia no mundo espiritual, onde vige a superioridade real, que é a elevação moral, porquanto, todo orgulhoso sentir-se-á humilhado.

Destarte, como se depreende da questão 267.a de O Livro dos Espíritos, há uma luta que a ALMA ENCARNADA ENFRENTA, onde a matéria exerce influência para fruir e gozar e satisfazer aos cinco sentidos, enquanto o Espírito não quer esse gozo, mas conhecer os problemas oriundos da satisfação dos desejos.

Finalmente, é importante lembrar que, segundo as questões 266 e 318 de O Livro dos Espíritos, de volta ao mundo espiritual, o Espírito experimenta modificações de suas ideias, pois, para o Espírito liberto da matéria, cessa a ilusão, e a sua maneira de pensar é diferente.

1. Uma alma sedente de luz:

"Pretendeis acusar-me de infidelidade porque não me submeti aos acanhados preconceitos das seitas que me cercavam? É que a minha alma demandava uma amplidão de pensamento, um raio de luz, além das doutrinas humanas. Sim, minha alma entenebrecida tinha sede de luz".

2. Um Espírito assediado por uma luta interior:

"Mas notai bem que então eu tinha o Espírito assediado, por assim dizer, por uma luta interior. Considerava a Humanidade como se me fosse inferior em inteligência e em sagacidade; nela somente via marionetes, que podiam ser conduzidos por qualquer homem dotado de vontade forte, e me indignava de ver essa Humanidade, arrogando-se uma existência imortal, ser modelada por elementos ignóbeis. Seria possível crer que um ser dessa espécie fizesse parte da Divindade e pudesse, com suas frágeis mãos, apoderar-se da imortalidade? Esta lacuna entre duas existências tão desproporcionadas me chocava e eu não a podia preencher. No homem eu via apenas o animal, e não Deus".

3. Um Espírito em evolução com seus acertos e erros:

"Reconheço, em alguns casos, que minhas opiniões tiveram deploráveis desdobramentos, mas estou convencido de que, sob outros aspectos, apresentaram o seu lado bom. Conseguiram soerguer várias almas que se haviam degradado na escravidão; quebraram as cadeias do pensamento e deram asas às grandes aspirações. Mas, lamentavelmente, também eu, que planava tão alto, me perdi como os outros".

4. O gênio desenvolveu apenas a inteligência:

"Se em mim a parte espiritual tivesse se desenvolvido tão bem quanto a parte material, teria podido raciocinar com mais discernimento. Entretanto, confundindo-as, perdi de vista esta imortalidade da alma, que tanto procurava e não pedia senão para encontrar".

5. O Espírito passa em revista sua anterior reencarnação e se frustra pelo que não realizou:

"Só lamento ter vivido tanto tempo na Terra sem saber o que teria podido ser e o que teria podido fazer. O que não teria feito se tivesse sido abençoado por essas luzes do Espiritismo que hoje se derramam sobre os Espíritos dos homens!"

6. A confissão de Voltaire - Deus e a Imortalidade da Alma:

"Descrente e vacilante entrei no mundo espírita. Por si só minha presença era suficiente para banir qualquer clarão de luz que pudesse iluminar a minha alma obscurecida; apenas a parte material de meu corpo se havia desenvolvido na Terra; quanto à parte espiritual, havia-se perdido em meio aos meus descaminhos, na busca da luz, ferro. Altivo e zombeteiro, ali me iniciava, não conhecendo nem procurando conhecer esse futuro que em vida tanto havia combatido. Mas façamos aqui esta confissão: houve sempre em minha alma uma débil voz que se fazia ouvir através dos grilhões materiais e que pedia luz. Era uma luta incessante entre o desejo de saber e uma obstinação em não saber. Assim, pois, minha entrada estava longe de ser agradável. Não acabava eu de descobrir a falsidade, o nada das opiniões que havia sustentado com todas as forças de minhas faculdades? Depois de tudo, o homem se reconhecia imortal, e eu não podia deixar de ver que, igualmente, deveria existir um Deus, um Espírito imortal, que estava à frente e que governava esse espaço ilimitado que me cercava".

7. Recusando a imortalidade em vida, não haverá ninguém para estabelecer relações na vida espírita:

"Não pude realizar-me como Espírito que acabava de deixar o seu domicílio mortal! Não houve ninguém com quem pudesse estabelecer relações, porque a todos eu havia recusado a imortalidade. Para mim não existia repouso: estava sempre errante e desconfiado. Em mim o Espírito, tenebroso e amargo, comportava-se como um maníaco, incapaz de ser detido ou de perseguir um objetivo".

8. Nenhum castigo eterno, nenhuma punição, nenhuma recompensa:

"Foi nesse momento que o meu coração começou a sentir a necessidade de expandir-se; uma associação qualquer se tornava urgente, porque me sentia queimar pelo desejo de confessar o quanto tinha sido induzido em erro, não pelos outros, mas por meus próprios sonhos. Já não me restavam ilusões sobre a minha importância pessoal, porque percebia a minha insignificância neste grande mundo dos Espíritos. Enfim, de tal forma me deixara cair na lassidão e na humilhação, que me foi permitido reunir-me a alguns habitantes. Só então pude contemplar a posição em que me havia colocado na Terra e o que disso resultava no mundo espírita. Julgai se esta apreciação poderia favorecer-me".

Estes fragmentos dessa bela mensagem, sem perquirir a identidade do comunicante, valida muito do que ainda temos a apreender estudando a Doutrina Espírita tal qual organizada por Allan Kardec, eis que cada um de nós, mais cedo ou mais tarde, irá cair na real. E essa realidade é o mundo espiritual.

Para mais informações e estudo dessa comunicação, remetemos o leitor à Revista Espírita de Setembro de 1859, com este belo artigo de Allan Kardec: Confissões de Voltaire.

Uberaba-MG, 25/03/2023
Beto Ramos.

Um comentário:

Lauro Rodrigues e Cleide Gonçalves disse...

Muito bom!

Percebi que em momento algum, Voltaire usa expressões onde, nos induzem a pensar em localidades para Espíritos sofredores. As suas decepções, seus sofrimentos sã íntimos. Assim, como ele pensava, no nada, assim ele se viu no mundo espiritual, sozinho, em qualquer lugar que estivesse.

É aí que o orgulho se dobra diante de Deus, pois que se vê vivo, mais vivo que nunca.
Dessa forma, como era de uma inteligência bem desenvolvida, pôde, assim que se deu conta, como Espírito livre, identificar seus equívocos.

Os Espíritos vão nos dizer que a maior expiação é para o Espírito, não enxergar o fim de seus sofrimentos.

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