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domingo, 12 de março de 2023

Racismo no Espiritismo: a polêmica dos ignorantes!

No dia 12 de junho de 1856, em reunião familiar, pela médium Srta. Aline, o Espírito La Vérité (A Verdade) trava um diálogo com Allan Kardec. O assunto: a MISSÃO de Allan Kardec. Aquele que viria a ser o ORGANIZADOR DO ESPIRITISMO pergunta sobre o seu papel para que pudesse contribuir para a propagação da verdade. Kardec havia recebido a informação de outros Espíritos que incumbiria a ele a função de missionário-chefe do Espiritismo.

O Espírito A Verdade responde que CONFIRMA O QUE FOI DITO, aconselhando discrição para ser bem sucedido. Houve, também, uma advertência, isto é, o sucesso na missão dependeria integralmente do próprio Kardec, pois, poderia vencer como falir e nesse último caso SERIA SUBSTITUÍDO.

Por fim, A Verdade esclarece que somente após a obra terminada é que seria possível reconhecer se houve ou não sucesso. Kardec, então, reclama a assistência do próprio Espírito A Verdade, bem como dos BONS Espíritos. A resposta foi objetiva: "Não te faltaremos com ela". Kardec, então, assume a sua incumbência.

Nessa comunicação, um importante ponto a destacar. A Verdade afirma que a MISSÃO de Allan Kardec é a de revolver e formar o mundo inteiro. Para isto não seria bastante a inteligência, mas humildade, modéstia, desinteresse, dedicação, abnegação e disposição para o sacrifício.

Pois bem! Estamos no século 21 (vinte e um), 167 (cento e sessenta e sete) anos desde essa comunicação, quando escrevemos estas linhas. Parece que os Espíritas (não todos) estão SACRIFICANDO Allan Kardec uma vez mais. Não bastou dar sua vida à causa Espírita. Agora, lhe colocam a pecha de racista. Portanto, na visão de alguns pretensos espíritas, faltou uma série de qualidades a Kardec que foram vistas pelo Espírito A Verdade.

Antirracismo no Espiritismo é uma polêmica ignorante. O Espiritismo sofre ataque nas redes sociais e mídia em geral de ser uma seita racista, quando NUNCA foi apresentado por Kardec como uma religião; também, dizem que há racismo porque não encontram comunicações, por exemplo, de Mãe Menininha, uma importante figura de religiões de matriz africana no Brasil; Por último, mas sem esgotar os despautérios, dizem que não são recebidas comunicações de Espíritos 'negros'.

Nesse artigo não caberia os fundamentos em que a Filosofia Espírita, contida em O Livro dos Espíritos, refuta essas afirmações esdrúxulas. Além disto, agora, alguns se afirmando Espíritas, se deram o 'direito' de ADULTERAR textos de Allan Kardec. E fazem isto sob o argumento de que "não estamos alterando o que ele diz, mas a forma como diz".

Eis a primeira demonstração de ignorância quanto ao conteúdo doutrinário espírita, principalmente quanto às comunicações. Para o Espiritismo importa o fundo e não a forma. Ora, o racismo é questão de fundo e não de forma. Se a forma usada por Kardec não está conforme, é porque o que ele diz é racista? SE O QUE ELE DIZ NÃO É RACISTA, não há necessidade de alterar a forma.

Porém, uma pergunta é importante: Quem atribuiu a esses ditos espíritas que teriam a MISSÃO de alterar os textos de Kardec? Com Kardec adveio o Espírito A Verdade, e com esses tais, quem está por trás? A Doutrina Espírita é uma ciência filosófica, com metodologia, critérios, controle e organização. Qual é o método científico usado pelos pretensos espíritas para adulterar o conteúdo das obras organizadas por Kardec?

Na concepção dos tais, divergindo do Espírito A Verdade, Kardec faliu na sua missão? Se for isto, vamos recordar o que o organizador do Espiritismo escreveu sobre seus textos e a sua autoria em PROLEGÔMENOS n'O Livro dos Espíritos, verbis:

"Este livro é o compêndio dos seus ensinamentos. Foi escrito por ordem e sob ditado dos Espíritos superiores para estabelecer os fundamentos de uma filosofia racional, livre dos prejuízos do espírito de sistema. Nada contém que não seja a expressão de seu pensamento e não tenha sofrido o seu controle. A ordem e a distribuição metódica das matérias assim como as notas e a forma de algumas partes da redação constituem a única obra daquele que recebeu a missão de a publicar".

Parece-nos que o PENSAMENTO expresso na FILOSOFIA ESPÍRITA pertence aos ESPÍRITOS. Além do mais, TUDO sofreu o CONTROLE DOS MESMOS. Tudo o que foi escrito é fruto da ORDEM E DO DITADO DOS ESPÍRITOS.

Não há qualquer bela frase que mude os fatos. Há pessoas que se dizem espíritas e que estão, DELIBERADAMENTE, adulterando obras organizadas por Allan Kardec e, por uma via hipócrita e falsa, ADULTERANDO O PENSAMENTO DOS ESPÍRITOS contidos nestas obras.

Vamos trazer algumas palavras sobre o antirracismo. Trata-se de uma forma de ação contra o ódio, preconceito racial, racismo sistêmico e a opressão estrutural de grupos marginalizados racialmente e etnicamente. Se estão adulterando as obras de Kardec é porque em seu bojo há disseminação de ódio, preconceito e marginalização?

Existem na Doutrina Espírita várias Leis Morais que atestam que não  há nenhuma dessas questões combatidas pelo antirracismo presentes em seu conteúdo. Aliás, Espírito não tem sexo, nem etnia (Q. 200, LE), pois são INCORPÓREOS (Q. 82, LE), uma vez que a ALMA é o ser individual que SOBREVIVE AO CORPO (Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita).

Contudo, tão importante quanto, a ausência de um estudo sério, de uma pesquisa qualificada, de adeptos responsáveis, bem como o fato de haver um COMPLETO DESCONHECIMENTO DA OBRA ORGANIZADA POR ALLAN KARDEC, pois seus livros NÃO SÃO estudados do ponto de vista científico-filosófico, enquanto o que há é uma verdadeira transformação da Doutrina Espírita em uma seita, há um descaso com as atuais pesquisas sobre as adulterações da obra de Kardec, assim como com os documentos historiográficos do Espiritismo que surgiram no século passado, mas que só neste é que está sendo amplamente divulgado.

Nesse sentido, colacionamos nesse artigo algumas páginas escritas por ALLAN KARDEC, o ORGANIZADOR DO ESPIRITISMO. Vejamos:

       

Trata-se do PROJETO CONCERNENTE AO ESPIRITISMO. Esses documentos estão disponíveis em https://projetokardec.ufjf.br/item-pt?id=229&q=projeto , com o Título: Projeto concernente ao Espiritismo, Tradução: Bruto Abel. Revisão e correção: Philippe Gilbert; Traduzir: Bruto Abel. Revisão e correção: Alexandre Caroli; Publicado em 10/02/2022; Atualizado em 29/01/2023.

Conforme a tradução do projeto para o português, cuja pesquisa poderá ser feita no endereço acima, verificamos que Kardec afirma:

"As bases do Espiritismo estão, sem dúvida, estabelecidas, mas ele precisa ser completado por muitos trabalhos que não podem ser a obra de um só homem. Para evitar, no futuro, as falsas interpretações, as aplicações errôneas, numa palavra, as dissidências, é necessário que todos os princípios sejam elucidados de maneira a não deixar nenhum equívoco, a não dar, tanto quanto possível, margem a controvérsia;"

Pelo visto, a preguiça de muitos em relação ao estudo aprofundado da Doutrina Espírita, mostram o quanto Kardec estava correto em se preocupar com AS FALSAS INTERPRETAÇÕES, APLICAÇÕES ERRÔNEAS E DISSIDÊNCIAS. Ademais, o organizador do Espiritismo, que agora é tachado de racista por pseudos espíritas e aqueles cuja vida se resume em criticar e julgar sem qualquer meditação razoável, afirmou:

"Para alcançar esse resultado, são condições essenciais a independência e a ausência das preocupações da vida material. Tais condições podem ser encontradas em uma espécie de comunidade, que daria a cada membro as disponibilidades necessárias para realizar proveitosamente os trabalhos essenciais, a salvo dos intrusos e dos curiosos".

Infelizmente, o que não falta é intruso e curioso se pretendo a organizador do Espiritismo sem qualquer pudor ou caráter. Mas, Kardec continua em sua maravilhosa proposta, cujo empreendimento ele iria empregar uma grande propriedade que, muito custosamente, manteve em seu patrimônio apesar das dificuldades, asseverando que:

"É a uma reunião desse gênero que tenho o projeto de consagrar posteriormente minha propriedade, que se tornaria assim o Port-Royal do Espiritismo, sem ter o caráter monástico. Seria uma grande família unida pelos laços de uma verdadeira fraternidade, e por uma comunhão de crenças e de princípios. Uma regra determinaria as relações mútuas, as quais seriam baseadas na prática rigorosa da abnegação, da caridade e da moral espírita".

Um filósofo da qualidade de Kardec ser acusado de racista é sinal de que nada do seu legado foi absorvido pelo acusador. Vejamos o que o Espiritismo representa para Allan Kardec no que tange à regeneração da humanidade:

"Qualquer um que conheça os princípios da doutrina e os felizes resultados que ela produz a cada dia verá, na sua propagação e na união dos seus adeptos, a melhor garantia da ordem social, visto que ela tem por lema: Fora da caridade não há salvação, e por guia estas palavras do Cristo: Amai-vos uns aos outros; perdoai os vossos inimigos; não façais aos outros o que não quereríeis que vos fosse feito [e fazei o que gostaríeis que vos fosse feito]".

Para o coletivo, a garantia da ordem social. Para os indivíduos, eis o que a Doutrina Espírita representa para Allan Kardec:

"[...] ela proclama que todos os homens são irmãos, sem distinção de nacionalidades, de seitas, de castas, de raças nem de cores; que ela os ensina a se contentar com o que têm e a suportar com coragem as vicissitudes da vida; que, finalmente, com a caridade, os homens viverão em paz, [...]".

Se o Espiritismo, tal qual organizado por Allan Kardec, não está em conformidade com o pensamento, crença e ideologia desses pretensos espíritas, que busquem organizar outra filosofia, caso em que, SE ESTIVEREM COM A VERDADE, sua doutrina prevalecerá. Todavia, não cremos, uma vez que há claridade solar no texto acima, onde Kardec proclama COM TODAS AS LETRAS que a Doutrina Espírita proclama que todos os homens são irmãos, SEM DISTINÇÃO de nacionalidades, de seitas, de castas, DE RAÇAS NEM DE CORES.

Será mesmo esse o Allan Kardec racista?

Por fim, advertimos que o correto é que não ADULTEREM OBRA ALHEIA, pois, ISTO É UM CRIME TIPIFICADO NA LEI BRASILEIRA, SEGUNDO A CONVENÇÃO DE BERNA, que trata do DIREITO MORAL DO AUTOR, conforme imagem a seguir:


Para que as pessoas possam se inteirar e, também, se engajar nas causas antirracistas, uma vez que é necessário não só pregar, mas aplicar em nossas vidas a fraternidade e a solidariedade, fruto da Lei Moral de Justiça, Amor e Caridade (Capítulo 11 de O Livro dos Espíritos), indicamos o seguinte endereço eletrônico para conhecer algumas obras relevantes e importantes para compreender e extirpar o racismo no Brasil:

https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/book-friday-amazon/15-obras-fundamentais-sobre-luta-racial.phtml

Acreditamos que não será ADULTERANDO OBRAS ALHEIAS e DETURPANDO UMA DOUTRINA FILOSÓFICA que vamos acabar com o que de pior impregna a consciência humana. Tudo, como ensinou Rivail, depois Kardec e os Espíritos Superiores, passa pela educação, mas não a encontrada em livros e sim a EDUCAÇÃO MORAL. Para isso, conforme o Espirito A Verdade: "Espíritas, amai-vos e instruí-vos".

Uberaba-MG, 12/03/2023
Beto Ramos

quarta-feira, 29 de setembro de 2021

ALLAN KARDEC ERA RACISTA?

 

"Acusar Allan Kardec de racista é, ou falta de conhecimento, ou leviandade. Talvez, as duas coisas".


Mais comum do que deveria é o indivíduo fazer a leitura de qualquer escrito e partir para o ataque. Certamente, ao ler a afirmação acima, se o (a) leitor (a) tiver uma ideia formada sobre o assunto, possivelmente já julgou esse escriba.

Antes, então, ofereça o benefício da dúvida, e busque tirar conclusões após receber o conjunto de informações que passamos a compartilhar a partir de agora.

Por ocasião do ano de 1862, Allan Kardec fez publicar na Revista Espírita do mês de Abril um artigo trazendo o título: frenologia espiritualista e espírita - perfectibilidade da raça negra.

Uma longa elaboração foi feita por seu autor. Mas, o furor manifesto ocorre em razão do título e, ao depois, pelo conteúdo do artigo. É que, novamente, mais comum do que se deveria, busca-se o isolamento de parte do texto com o qual se filia ou se refuta. No caso daquele artigo, o objetivo dos críticos é atacar o seu autor sem, no entanto, considerar o que segue:

1. Quem é o autor do artigo?

2. Qual o tema central?

3. Por que escreveu?

4. Qual era o contexto em que o artigo foi escrito?

5. Qual o público-alvo do artigo?

6. Quando escreveu ou publicou?

7. Onde publicou?

8. Quais áreas do conhecimentos são necessárias para analisar o artigo?

9. Quanto conheço daquela época, do ponto de vista histórico?

10. Os meus conceitos ou preconceitos prejudicam uma análise racional do artigo?

Começando pelo título, Kardec refere-se a quatro pontos fundamentais, a saber:

a) Frenologia;

b) Espiritualismo;

c) Espiritismo;

d) Expressão oriunda de dogma católico.

 
(vídeo com apresentação dos slides que estão disponíveis para download na descrição do mesmo na página do YouTube)

Quanto à frenologia, cabe informar que foi criada em 1796 por Frans J. Gall, exercendo certa influência na psiquiatria e psicologia entre os anos 1810 e 1840. Seu rigor metodológico era questionável, considerando-se uma pseudociência pelos autores do século 19.

Essa pseudociência defendia que a forma e protuberâncias do crânio são indicativas de faculdades e aptidões mentais de uma pessoa. Kardec usa-a apenas como um ponto de partida para sua argumentação.

Fazendo uma crítica a essa 'teoria' Kardec vai dizer que "enganar-se-ia redondamente quem acreditasse poder deduzir o caráter absoluto de uma pessoa pela simples inspeção das saliências do crânio". É que essa foi uma das conclusões da frenologia sobre o volume do órgão e do desenvolvimento da faculdade investigada.

A referência de Kardec à frenologia se dá em razão de que, naquela época, dois sistemas radicalmente opostos eram apresentados por frenologistas materialistas e frenologistas espiritualistas.

Os primeiros defendiam uma doutrina monstruosa de que o cérebro secretava pensamentos e esses influenciavam as diversas aptidões do ser humano. Para os espiritualistas, ao contrário, o pensamento é um atributo da alma, não do cérebro, seguindo-se daí que o desenvolvimento de um órgão é efeito, não a causa. Ninguém é apto porque possui um órgão para determinada aptidão; Ele possui o orgão adequado para sua aptidão porque é apto. Duas coisas diferentes.

Nesse ponto, Kardec faz referência de importância capital. Apresenta outra crítica à teoria frenológica. Recordamos que o fato de se acreditar em algo além da matéria não torna o indivíduo espírita. É a compreensão dos princípios espíritas que conduzem a isso. Diante disso, há erro no pensamento do frenologista espiritualista quanto à questão das aptidões.

Na frenologia o cérebro conduz o desenvolvimento das aptidões. Os frenologistas espiritualistas postulavam que a alma comanda o pensamento que desenvolve os órgãos de manifestação. Então, sutilmente, Kardec diz que é preciso explicar porque alguém possui certa aptidão e o outro, educado nas mesmas condições, não a possui, o que ocorre com todas as aptidões.

Insere aí a teoria espírita que explica a criação da alma em tempo diverso da criação do corpo e, para tanto, faz remissão às figuras do sábio do instituto e a do selvagem. Esclarece que pessoas nascidas em meios ingratos e refratários se tornam gênios, enquanto outros que recebem a Ciência desde a infância são imbecis. Trata dos instintivamente bons ou maus, inteligentes ou estúpidos.

A solução possível, afirma Kardec, é a preexistência da alma, sua anterioridade ao nascimento do corpo, ao desenvolvimento adquirido conforme o tempo vivido e as várias migrações percorridas. Destarte, as faculdades inatas tem sua fonte no Espírito, que afeta os órgãos de manifestação, provocando seu desenvolvimento segundo as leis biológicas.

Parece, a essa altura, que o tema levantado por Kardec ficou lateral. Discordamos. Primeiro, porque, de partida, fica consignado no artigo que o assunto referente à perfectibilidade racial é do interesse da humanidade e requer um exame mais cuidadoso e não uma conslusão leviana.

O certo é que Kardec afasta refutações materialistas e espiritualistas e explica o princípio espírita da anterioridade da alma e, claro, a própria reencarnação. O estudante do espiritismo aprende que o ensino dos Espíritos superiores estabelecem os fundamentos de um filosofia racional, isenta dos preconceitos do espírito de sistema. Portanto, no tempo de Kardec, o tema não recebia óbice à sua discussão.

De fato, Kardec dialoga no seu artigo com uma teoria vigente em sua época - um dogma religioso. O tema de tal gravidade afetava interesses econômicos, sociais e humanitários. No preâmbulo do artigo Kardec questinou: deve-se deixar o assunto sem discussão? O certo é que ele enfrenta o debate, atento e sem leviandade.

É preciso não perder de vista a transcrição abaixo do artigo onde Kardec dialoga com a teoria da criação da alma ao mesmo tempo que o corpo. Veja que ele a 'admite' para argumentar. Isto é uma estratégia para desconstrução de teorias que possuem inconsistências internas e é isso que Kardec faz durante o desenvolvimento das ideias para apresentar a ideia fundamental do Espiritismo:

"Com efeito, se a alma fosse criada ao mesmo tempo que o corpo, a do sábio do Instituto seria tão nova quanto a do selvagem. Então, por que há na Terra selvagens e membros do Instituto? Direis que depende do meio em que vivem. Seja". [...] (grifo nosso).

A doutrina espírita possui, como essencial, o caráter progressivo. Tudo o que se apreende carece amadurecimento. Sobre esse tema, perfectibilidade das raças, Kardec trata no capítulo 7 da obra O Céu e o Inferno, que entre outras coisas esclarece: 'A perfeição corporal de raças adiantadas é consequência do trabalho do Espírito; Não há criações distintas".

Para uma análise imparcial do artigo de Kardec é preciso:

I. Considerar a natureza do Espiritismo: a doutrina promove um diálogo entre a cultura humana e a doutrina dos Espíritos.
II. Identificar o tema central do artigo: a opinião supersticiosa e de origem religiosa de que a raça negra não é perfectível porque Deus a criou para figurar numa eterna inferioridade.

Pela importância atribuída por Kardec ao tema, está implícito que essa teoria analisada:
a) Visava explicar a exploração dos negros por meio da escravidão;
b) Ao mesmo tempo em que fazia nascer o preconceito ao lado do interesse.

Kardec se preocupou e não deixou, simplesmente, tudo como estava. Enfrentou, e discutiu o tema com os elementos que possuia. No artigo Kardec opõe o pensamento filosófico ao preconceito de natureza religiosa sobre o negro. Esse tipo de discussão tornaria a ocorrer mais tarde (RE, 1866, sobre a justiça divina na criação de homens selvagens).

Ora, o preconceito existia na sociedade. Certamente havia uma origem. Assentava-se sobre o dogma religioso que não admitia a preexistência da alma, uma vez que Deus, segundo a crença dominante, criava uma alma nova para cada novo ser que nascia.

Não se pode esquecer que na filosofia de Rousseau, conhecida e estudada por Allan Kardec, era preconizado que o que nos diferencia dos animais é a perfectibilidade da alma.

Outra questão de suma importância é que, ao tempo de Kardec, havia, além do conceito das almas criadas iguais, outra que era admitida pela ciência. Tratava-se da divisão da espécie humana em raças (Georges Cuvier, 1769/1832). A teoria, reportando a diferenças geográficas e faciais, dividia a espécie humana em: caucasiana, etiópica e mongólica. Nessa teoria, os etiópicos eram considerados primitivos, enquanto os caucásicos uma raça desenvolvida.

Importa ter em mente a lei moral do progresso. A base da fé racional em Allan Kardec consistia na afirmação de que onde a ciência avançar, o Espiritismo fica com a ciência. Tratava-se de um método de conciliação para não cair no dogmatismo da fé cega. Assim, quando as pesquisas da ciência avançarem, o Espiritismo não a tendo negado, estará em acordo com o seu progresso.

Segundo SUSSMAN (2014, p. 198), aqueles que tinham uma visão poligenista da origem humana acreditavam na criação divina de todas as formas humanas, mas como espécies diferenciadas, e que Adão e Eva eram antecessores apenas dos povos europeus e judeus, mas não dos povos considerados selvagens.

Portanto, possuímos agora um conjunto de informações não presentes no artigo de Allan Kardec, mas que fazia parte da discussão implementada no mesmo. Conhecendo o contexto, é possível ter uma visão mais justa sobre a elaboração contida na publicação.

A construção do pensamento de Kardec considerava a ciência da época, refutava uma pseudociência, o materialismo e o erro dos espiritualistas. Destarte, os negros eram considerados selvagens no tempo de Kardec. Em razão dos fatos da ciência positiva, considerou sua organização física inferior. Sua proposta, consoante o que havia aprendido na ciência espírita, era que como Espíritos estavam na infância espiritual, nas primeiras reencarnações. Como todo Espírito iriam adquirir conhecimentos e evoluir.

Fazemos, agora, um convite à reflexão. Houve erro na conclusão entabulada por Kardec? Podemos responder positivamente. O erro está em Kardec e na Doutrina Espírita? A resposta é negativa, pois, seu ponto de partida foi a construção teórico-científica da época. Mas, a ciência avançou e aquela construção usada no artigo de Kardec estava equivocada. Atualmente, a ciência afirma que não há diferença racial entre os seres humanos e que a capacidade cerebral não se diferencia.

Importa, ainda, salientar que, conforme FIGUEIREDO (2016, p. 365), sobre a teoria expendida por Kardec no artigo os Espíritos nada disseram. Veremos a seguir que a Doutrina dos Espíritos resolvia a questão. Era necessário que houvesse avançao no campo da ciência tradicional.

No entanto, existem diferenças. São as características como a cor da pele causada por questões climáticas, diferenças étnicas e diferenças de origem cultural.

Finalmente, é preciso compreender o artigo e sua publicação na Revista Espírita do século 19, ocasião em que se formulava o corpo de doutrina do Espiritismo.

A Revista Espírita era usada para testar hipóteses, teorias e ensaios. Um terreno de estudo e de elaboração dos princípios, cujos artigos se destinavam a sondar a opinião humana e dos espíritos. Era o local para dar opinião sobre temas de interesse, considerando que a doutrina espírita só adotava uma opinião se fosse justa e rejeitava se fosse falsa (RE, 1868, p. 134). Tudo que não fosse confirmado ou contraditado ficava no campo da opinião pessoal.

O Espiritismo tem natureza de revelação porque os fatos que não são desmentidos possuem caráter de verdade. Essa natureza se revelou no artigo de Kardec, pois a ciência avançou e o princípio fundamental da doutrina se manteve de pé: a evolução contínua e perpétua do espírito.

Para o espiritismo a natureza humana é espiritual, o que supera particularidades das mais diferentes encarnações, seja negro, índio, homem ou mulher. Segundo o espiritismo, todos nós vivemos ou viveremos todas elas.

No ano de 1867, na mesma Revista Espírita, Kardec vai afirmar: "Muito foi dito e escrito contra a escravidão e o preconceito da cor. Tudo quanto disseram é justo e moral; mas não passava de uma tese filosófica. A lei da pluralidade das existências e da reencarnação vem a isto acrescentar a irrefutável sanção de uma lei da Natureza, que consagrava a fraternidade de todos os homens. Tom, o escravo, nascido e aclamado na América, é um protesto vivo contra os preconceitos ainda reinantes nesse país".

Agora, estudando profunda e seriamente a Doutrina dos Espíritos, convido a pensarmos a situação seguinte. Suponha que, evocados os Espíritos, pudéssemos fazer-lhes as questões seguintes. Pelo conjunto da obra, arriscamos a pensar nas prováveis respostas:

1. Os Espíritos tem cor?

R. Não como entendeis. Porque, tendo o ser humano surgido em muitos pontos do planeta, suas diferenças físicas ocorreram em razão de clima, vida e costumes, bem como, ao dispersarem-se pelo globo, se uniram e deram origem a novos tipos.

2. O Espírito que animou um ser humano etíope ou africano poderia animar um caucasiano ou mongólico e vice-versa?

R. Sim, pois são os mesmos Espíritos que animam todos os seres humanos, independente de etnia, credo ou cor. A natureza da humanidade é espiritual e não material.

3. Quando somos Espíritos, preferimos encarnar nessa ou naquela cor?

R. Isso pouco importa; depende das provas que o Espírito escolhe para evoluir e para corrigir imperfeições de seu caráter, uma vez que toda imperfeição, inerente ao Espírito, é de natureza moral.

De concreto, Kardec organizou o item 4 do Livro Primeiro, capítulo 3, Criação, cujo título é Diversidade das Raças Humanas. Nesse conjunto de questões pode-se testificar que, no silêncio dos Espíritos e do público da Revista Espírita quanto ao tema proposto, consignou-se o ensino dos Espíritos advindos de muitos pontos do planeta, em razão da convergência da ampla maioria. Ali ficou patente que NÃO HÁ diferenças e TODOS os seres humanos SÃO IRMÃOS EM DEUS, pois, SÃO ANIMADOS PELO ESPÍRITO E TENDEM AO MESMO OBJETIVO.

Em O Livro dos Espíritos, nos deparamos com a questão 863, donde se conclui que são os seres humanos os responsáveis pelos costumes sociais e não Deus. Todos os seres humanos deveriam se submeter às Leis Naturais (ou Divinas) e não à opiniões alheias para definir as próprias escolhas.

A humanidade ainda age pela conveniência, mas, isso é um ato livre. Qualquer um pode fazer diferente. Sempre que necessário é preciso afrontar a opinião errônea procedente de costumes embasados em preconceitos. O equilíbrio deve ser o alvo da humanidade. Todos os que não sacrificam a própria vaidade, terão contas a acertar com o tribunal de sua consciência.

Os Espíritos nos trouxeram um conjunto de conhecimentos que derivou na Lei Moral de Igualdade, questões 803 e seguintes de O Livro dos Espíritos. Todos tendendo para o mesmo fim, submetidos às mesmas leis naturais, sujeitos às mesmas dores, experimentando experiências em classes sociais, ninguém recebeu superioridade natural em detrimento de outro, nem pelo nascimento, nem pela morte. Todos são guais perante Deus.

Arremata o pensamento que buscamos elaborar, porquanto a questão da escravidão nos conduz aos preconceitos de todos os matizes, e, sem dúvida, à questão do trabalho, a seguinte informação contida na Questão 812 da obra comentada: 'o bem-estar é relativo e cada um poderia gozá-lo, se todos se entendessem bem. Porque o verdadeiro bem-estar consiste no emprego do tempo de acordo com a vontade, e não em trabalhos pelos quais não se tem nenhum gosto. Como cada um tem aptidões diferentes, nenhum trabalho útil ficaria por fazer. O equilíbrio existe em tudo, o ser humano é quem o perturba'.

Essas, portanto, são nossas considerações sobre a imperfeição moral atribuída por muitos a Allan Kardec em relação ao seu artigo publicado no periódico espírita do século 19, quando adjetivado de racista.

Uberaba-MG, 29 de Setembro de 2021.
Beto Ramos.

BIBLIOGRAFIA:
FIGUEIREDO, Paulo Henrique de. Revolução Espírita - A teoria esquecida de Allan Kardec. São Paulo: MAAT, 2016.
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos.
KARDEC, Allan. Revistas Espíritas.
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo.
KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno.
KARDEC, Allan. A Gênese.
- Para informações sobre, acesse: FRENOLOGIA .
- Para informações sobre a visão poligenista da criação - humana, acesse: POILIGENISTA e POLIGENISMO .
- Para acesso a informações sobre GEORGES CUVIER E O SEU RACISMO .

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