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domingo, 16 de outubro de 2022

DEUS QUIS ASSIM... Será mesmo?

 

É muito comum, seja em berço espírita ou não, replicarem-se essa frase que se tornou, de certa maneira, uma máxima. Mas, será mesmo que o agir divino ocorre desta maneira. Todo acontecimento é proveniente de uma vontade permanentemente atuante nos destinos de cada um?

"Deus quis assim..."; Será mesmo? Para compreendermos melhor e enriquecer nosso processo reflexivo é necessário saber se, no campo da ciência espírita, os Espíritos ensinaram alguma coisa a respeito desse assunto.

Sem desejar esgotar o tema, especialmente, em duas obras é possível encontrar explicações profundas acerca dessa indagação: são as obras O Livro dos Espíritos e A Gênese (indicadas ao final).

Segundo depreendemos de nossos estudos até aqui, vejamos:

1. O Universo é criação de Deus e disto não temos qualquer dúvida.

2. Sabemos que o Universo é regido por leis universais, naturais, estabelecidas por Deus.

Na Terra, o ser humano conhece 3 reinos: mineral, vegetal e animal. A ciência ensina que o corpo humano possui, em si, as presenças desses 3 reinos. O Espiritismo, por sua vez, demonstra que o ser humano, como alma encarnada, precisa de vida vegetal, vida animal e vida espiritual.

Regendo o universo por leis, Deus proporciona ao Espírito humano a faculdade de escolha, denominada LIVRE-ARBÍTRIO. Essa faculdade ocorre pela:

a) Possibilidade de o Espírito escolher o gênero de provas que vai sofrer ao reencarnar; e,

b) É, também, a escolha entre o caminho do bem ou do mal, quando agir ou se omitir ante a qualquer situação.

A lei natural por trás dessa faculdade é que, em tais casos, o Espírito terá atraída para si toda a responsabilidade de seus atos e suas consequências.

Todavia, nada há de fatal nisto. Principalmente no tocante às más escolhas.

Diante das situações, os Espíritos devem escolher entre dois caminhos, seguindo um e abandonando outro.

Outra lei universal, natural e divina é que os Espíritos reencarnam. Portanto, quando escolhe um mal caminho terá sempre a possibilidade de recomeçar o que foi mal feito.

Um esclarecimento importante é que na Terra, por exemplo, os Espíritos enfrentam as tribulações próprias de um planeta organizado para receber Espíritos de nossa natureza e caráter, segundo nosso grau geral de evolução.

Sendo assim, o fato é que o Espírito precisa trabalhar para prover o necessário; precisa estudar e aprender como enfrentar as intempéries do clima, enfrentar doenças, alcançar conforto e minorar sofrimentos físicos e mentais (entre outras tantas tribulações que poderiam ser citadas).

"Nosso planeta é uma escola que proporciona experiência e aprendizado para os Espíritos". 



Se o mundo é regido por leis naturais, é importante lembrar que haverá, portanto, aquilo que é obra da VONTADE DE DEUS e aquilo que é proveniente da VONTADE HUMANA, uma vez que o Espírito é dotado do atributo vontade e, para exerce-la em sua plenitude e recolher a responsabilidade pela consequência de seus atos, Deus lhe atribui o LIVRE-ARBÍTRIO.


A. Vejamos o que decorre da vontade Deus:

Perigos que o Espírito enfrenta em determinado gênero de prova escolhido para determinada reencarnação.

Furacões e tornados

São as tempestades e chuvas cuja causa é o aquecimento das águas dos oceanos em latitudes intertropicais. Nos Estados Unidos ocorrem nos meses da primavera até o início do verão no hemisfério norte. A geografia daquele país é propícia à ocorrência do fenômeno, conhecido como temporada de furacões do atlântico norte.

Nesse período há um aumento da incidência de raios solares e a temperatura das águas do oceano atlântico norte, também, aumenta. Com temperatura média de 27º C, a massa de água quente começa a evaporar. O vapor de água se condensa e forma grandes nuvens que chegam a 500 Km de extensão. O ar mais quente e úmido fica menos denso, começa a subir, diminui a pressão atmosférica da superfície e cria uma área de baixa pressão.

No entorno dessa superfície tem-se uma região de ar frio e alta pressão atmosférica, exercendo força contrária. Essa dinâmica atmosférica faz com que haja deslocamento de massas de ar da região de alta pressão para o centro, formando os velozes ventos do furacão. Os ventos vão carregar a umidade presente na superfície das águas do oceano e acentuar o processo de formação de grandes nuvens de chuva e de aumento da temperatura, que dá origem aos furacões.

O olho do furacão fica abaixo das nuvens, com tamanho aproximado de 20 Km; essa é a área que forma a coluna de ar, onde há muito calor e não chove, o que contribui para retroalimentar o sistema do furacão com vapor de água.

A Terra se movimento numa rotação de OESTE para LESTE (sentido horário). O furacão desloca-se no sentido anti-horário no hemisfério norte e forma um funil, onde suas paredes de vento chegam a 250 km/h. O furacão busca regiões onde a água está mais quente para continuar seu ciclo. Por isso, movimenta-se do oceano para o continente.

Ao atingir o continente americano, o furacão perde forças e dissipa-se, mas não sem antes provocar inundações e estragos, deixando mortos e desabrigados. Os furacões podem ser previstos e monitorados, mas não podem ser impedidos, uma vez que se trata de um evento meteorológico (um fenômeno atmosférico).

Portanto, para nosso estudo é imprescindível notar que esse fenômeno decorre das leis naturais que regem o universo e, no caso específico, do tipo de atmosfera que predomina no planeta Terra.

B. Vejamos o que decorre da vontade humana:

Das informações colhidas denota-se que o ser humano NÃO é o criador das leis que regem os fenômenos climáticos. Portanto, os furacões são perigos decorrentes de fenômenos atmosféricos naturais, mas que colocam em risco a vida humana.

Assim, ao escolher o gênero da reencarnação, é pela VONTADE soberana do Espírito que ele, então, SE EXPÕE AOS PERIGOS decorrentes de uma reencarnação em regiões como a descrita acima, que são assoladas por esses perigos naturais.

O Espírito, na erraticidade, escolhe esse gênero de reencarnação por compreender que lhe será útil e terá a possibilidade de enfrentar tais perigos como meio do seu próprio adiantamento. Deus apenas permite que sua vontade seja atendida, tendo em vista que essa permissão, também, decorre de leis naturais de afinidade, sintonia, magnetismo e atração.

Nesse sentido, podemos afirmar com certeza que NÃO FOI DEUS QUE QUIS ASSIM, pois Deus é paciente e não apressa a expiação de ninguém. O Espírito escolhe e sofre as consequências dos seus atos. Deus só quer o bem, o mal vem do ser humano, decorre de sua ignorância, pois o verdadeiro mal é a ignorância.

O Espírito possui o livre-arbítrio, tendo como guia nas suas  escolhas as leis divinas. A causa de todo o mal é a ignorância; pela escolha o Espírito poderá evitar o mal; desde que se conduza baseado nas leis divinas. Não existe, para o Espírito, qualquer tendência predominante entre o bem e o mal; há apenas o seu livre-arbítrio.

Diz-se que as leis divinas estão gravadas na consciência; é verdade e o processo de recorrer a elas é bem simples. As leis divinas consubstanciam-se em avisos da consciência humana ou, mais precisamente, DOS LIMITES estabelecidos para tudo.

Um exemplo prático é o limite para a satisfação das necessidades. Veja-se no campo da alimentação. Deus impõe o limite: a saciedade. Não ouvir o aviso que declara "estou satisfeito" atrairá: doenças, fraquezas do corpo e a morte. TUDO ISSO É OBRA HUMANA E NÃO DE DEUS.

Por tudo isto, é errado usar a expressão DEUS QUIS ASSIM quando o mal ou o bem são produzidos pela ação humana. Isto é, tudo decorreu das escolhas do indivíduo.

Fontes:
KARDEC, Allan. O Livro dos Espírito, Q. 258 (entre outras) - 1860;
KARDEC, Allan.  A Gênese, Capítulo 3 (item 7, entre outros) - 1868.

Uberaba-MG, 16/10/2022
Beto Ramos.


sexta-feira, 7 de outubro de 2022

PROFECIA OU AVISO DOS ESPÍRITOS? CHEGARAM OS TEMPOS ANUNCIADOS!

As coisas estão ocorrendo com tanta rapidez que os Espíritos avisam: "já não dizemos mais que os tempos estão próximos, mas OS TEMPOS SÃO CHEGADOS".

Esta comunicação é do maior interesse de todos, pois que se trata de instruções dos Espíritos sobre a REGENERAÇÃO DA HUMANIDADE.

Será um novo dilúvio? Um cataclismo? Uma perturbação geral? Seriam convulsões parciais do globo, os sinais dos tempos?

Essa mensagem não é nova, uma vez que há diversas previsões no Evangelho de Jesus. É isto que se realiza e se cumpre neste momento, mas que será reconhecido como tal apenas mais tarde.

Será que todos os sinais anunciados no Evangelho do Cristo vão ocorrer como está escrito letra por letra? O aviso dos Espíritos é que não devemos tomar esses sinais e anúncios pela sua letra, mas é preciso captar o espírito. Naquelas escrituras existem grandes verdades, mas estão cobertas pelo véu da alegoria. Nós não podemos nos extraviar na sua interpretação, pois isso nos desvia da compreensão do que está predito.

Para entender os sinais de que os tempos preditos chegaram, há necessidade de uma chave para a compreensão do seu verdadeiro sentido. Essa chave está nas descobertas da Ciência e nas leis do mundo espiritual que o Espiritismo nos revela. Dessa forma, tudo que era incompreensível se torna claro e de fácil entendimento.

Os Espíritos avisam que tudo segue uma ordem natural de coisas e está submetido às leis imutáveis de Deus. Não haverá milagres, não haverá acontecimentos prodigiosos, nada de sobrenatural. Não haverá NENHUM sinal no céu. De nada adiantará ficar olhando para ele. Quem anuncia o contrário são enganadores.

Para ver os sinais precursores será preciso olhar ao redor, entre os indivíduos que compõem a sociedade humana; será aí que os sinais serão encontrados.

Há uma agitação em todo o planeta Terra e todos os Espíritos estão como se tivessem um pressentimento de que se aproxima uma tempestade. Já se pode adiantar que NÃO HAVERÁ UM FIM DO MUNDO MATERIAL.

Não é disso que se trata. Não acredite em nenhuma teoria apocalíptica de fim do mundo. A verdade é que a Terra progrediu desde sua transformação e deverá progredir mais ainda. Deus não quer a Terra destruída. O fato é que a HUMANIDADE chegou a um de seus períodos de transformação. A Terra, por sua vez, se elevará na hierarquia dos mundos.

Os Espíritos avisam: "Não é, pois, o fim do mundo material que se prepara, mas o fim do mundo moral; é o velho mundo, o mundo dos preconceitos, do egoísmo, do orgulho e do fanatismo que se desmorona; cada dia leva consigo os seus destroços".

Os Espíritos, nessa comunicação, também esclarecem: "Tudo acabará para ele com a geração que se vai, e a GERAÇÃO NOVA ERGUERÁ O NOVO EDIFÍCIO QUE AS GERAÇÕES SEGUINTES CONSOLIDARÃO E COMPLETARÃO".

A comunicação traz uma advertência importante, quem tiver ouvidos de ouvir e olhos de ver que ouçam e vejam, pois, dizem os Espíritos: "Para que os homens sejam felizes na Terra, é necessário que esta só seja povoada de Espíritos bons, encarnados e desencarnados, que não quererão senão o bem".

Segundo os Espíritos "[...] uma grande emigração se realiza neste momento entre os que a habitam [a Terra]; os que fazem o mal pelo mal e não são tocados pelo sentimento do bem por não serem dignos da Terra transformada, dela serão excluídos, porque aí trariam novamente a perturbação e a confusão e seriam um obstáculo ao progresso".

Mas, o que de fato vai ocorrer com esses Espíritos arraigados no mal? Segundo essa comunicação, "Irão expiar seu endurecimento nos mundos inferiores, para onde levarão os conhecimentos adquiridos e terão por missão fazê-los progredir".

Além disto, os Espíritos anunciam nessa mensagem o que vai ocorrer aqui no planeta com os Espíritos endurecidos: "Serão substituídos na Terra por Espíritos melhores, que farão reinar entre eles a justiça, a paz e a fraternidade".

Portanto, como disseram, a Terra será transformada. Não por cataclismos e convulsões, o que poderia aniquilar subitamente uma geração. O que ocorrerá é o seguinte: "A geração atual desparecerá gradualmente, e a nova a sucederá, sem que nada seja mudado na ordem natural das coisas. Tudo se passará exteriormente, como de hábito, com uma única diferença, mas esta diferença é capital: uma parte dos Espíritos que aí se encarnavam não mais encarnarão. Numa criança que nascer, em vez de um Espírito atrasado e devotado ao mal que tivesse encarnado, será um Espírito mais adiantado e devotado ao bem".

Quem aguarda uma transformação por efeitos sobrenaturais e maravilhosos ficarão decepcionados. Estamos em uma época de transição. Segundo a mensagem, os Espíritos afirmam que "os elementos das duas gerações se confundem. Colocados em ponto intermediário, assistis a partida de uma e à chegada de outra, e cada um já se assinala no mundo pelos caracteres que lhe são próprios".

Há um antagonismo no campo das ideias e dos pontos de vista opostos. Segundo os Espíritos informam, "pela natureza das disposições morais, mas, sobretudo, das disposições intuitivas e inatas, é fácil distinguir a qual das duas pertence cada indivíduo".

Estamos vivenciando neste planeta a fundação da era do progresso moral, "a nova geração se distingue por uma inteligência e uma razão geralmente precoces, aliadas ao sentimento inato do bem e das crenças espiritualistas, o que é sinal indubitável de certo grau de progresso anterior".

De acordo com a mensagem, os Espíritos avisam que a nova geração "não será composta exclusivamente de Espíritos eminentemente superiores, mas daqueles que, tendo já progredido, estão predispostos a assimilar TODAS AS IDEIAS PROGRESSIVAS, e aptos a secundar o movimento regenerador".

Observando ao redor, segundo nos avisam os Espíritos, "o que distingue os Espíritos atrasados é, primeiro, a revolta contra Deus pela negação da Providência e de todo poder superior à Humanidade; depois, a propensão instintiva às paixões degradantes, aos sentimentos antifraternos do egoísmo, do orgulho, do ódio, do ciúme, da cupidez, enfim, a predominância do apego a tudo que é material".

Uma das características de grande parte de certos Espíritos que parecem votados ao mal é que, em verdade, estão como que hipnotizados por pessoas e coisas. Nesse sentido, para alguns, "uma vez subtraídos à influência da matéria e dos preconceitos do mundo corporal, a maioria verá as coisas de maneira completamente diferente do que quando vivos".

Por fim, o aviso está dado: "só haverá exclusão definitiva para os Espíritos rebeldes por natureza, aqueles que o orgulho e o egoísmo, mais que a ignorância, tornam-se surdos à voz do bem e da razão".

Alguns sinais demonstrarão a marcha veloz deste tempo chegado; dizem os Espíritos: "[...] ver-se-ão os suicídios multiplicando-se em proporção nunca vista, até entre as crianças. A loucura jamais terá ferido maior número de homens que, mesmo antes da morte, serão riscados do número dos vivos. São estes os verdadeiros sinais dos tempos".

Essa mensagem deixa claro, também, quais são os sinais do raiar da ERA NOVA: "[...] os povos se estendem as mãos; a barbárie se familiariza ao contato da civilização; os preconceitos de raças e de seitas, [...] se extinguem; o fanatismo e a intolerância perdem terreno, enquanto a liberdade de consciência introduz-se nos costumes e se torna um direito".

De fato, como ensinam com benevolência os Espíritos: "o mundo está num imenso processo de gestação [...]. Nesse trabalho, ainda confuso, vê-se, no entanto, dominar uma tendência ao objetivo: o da unidade e da uniformidade que predispõem à fraternização".

Até superarmos a fase migratória e da exclusão dos Espíritos endurecidos, teremos ainda que lutar contra os dois maiores inimigos do movimento regenerador: "[...] a incredulidade e o fanatismo que, coisa bizarra, se dão as mãos para o abater".

Essa mensagem foi recebida pelos médiuns Srs. M. e T., em sonambulismo, no mês de abril de 1866.

Fonte: Revista Espírita, outubro de 1866.

Uberaba-MG, 07/10/2022.
Beto Ramos.

sexta-feira, 23 de setembro de 2022

PLURALIDADE DOS TESTEMUNHOS


Método científico apropriado aos fatos históricos. 



Ainda hoje vários campos da ciência utilizam esse método científico. É o caso, por exemplo, do Direito Penal e Processual Penal, ramo da Ciência Jurídica (ou do Direito), onde é comum a autoridade policial e seus agentes, em sede inquisitorial, envidar esforços para ouvir todas as testemunhas que presenciaram determinado evento delitivo.

Nesse sentido, não há qualquer surpresa verificar que Allan Kardec, o organizador do Espiritismo, também houvesse lançado mão do mesmo recurso.

Em razão da natureza da revelação Espírita e da sua fonte (manifestações e comunicações dos Espíritos), isto é, tratando-se de algo cuja concepção não é puramente humana, bem como ocorrer por todo o planeta, em toda parte, por todos os povos e nações, por todas as seitas e por todos os partidos, Kardec teve necessidade de validar as informações que eram recebidas.

O fato é que, entre os Espíritos como entre os seres humanos, há diversos graus de conhecimento. Sabendo que nenhum Espírito possui, individualmente, toda a verdade, seria imprudência aceitar e propagar uma mensagem somente em razão de sua fonte ser espiritual.

Além disto, o organizador do Espiritismo percebia que nas manifestações havia ensino moral, tanto quanto embustes, opiniões pessoais, sistemas, falsos ensinos e utopias.

Era, portanto, necessário criar uma forma de controle. Kardec se orientou da seguinte maneira:

1. Pelo crivo da razão;

2. Pelo uso do bom-senso;

3. Pela lógica rigorosa.

E não permitia exceção para nenhuma comunicação. Desta maneira, qualquer comunicação que não passasse por esse primeiro controle deveria ser REJEITADA.

Mas, não ficava somente nisto. Era necessária a concordância com os princípios doutrinários essenciais. Além disto, estabeleceu o critério da CONCORDÂNCIA DO ENSINO DOS ESPÍRITOS, cuja fonte deveria se dar pela:

a. Pluralidade de Espíritos;

b. Pluralidade de Médiuns;

c. Médiuns de diferentes centros;

d. Médiuns desconhecidos entre si.

e. Pluralidade de localidades de onde emanam as comunicações.

f. Espontaneidade na comunicação quanto o tema central fosse doutrinário.

O fato é que as revelações obtidas por esse método, ou seja, pela universalidade dos Espíritos, somente pela coincidência entre os ensinos é que se lhe atribua valor.

Curiosamente, esse método ao qual Kardec lançou mão para validar o ensino dos Espíritos, não foi objeto de revelação, tampouco sua invenção. Foi tomado emprestado da ciência que estudava fatos históricos.

No século 19, como ensina FIGUEIREDO, na obra AUTONOMIA, as ciências históricas baseavam-se em um tipo de conhecimento chamado Testemunho dos Indivíduos. Os pesquisadores e cientistas precisavam atestar a veracidade do testemunho, a fim de afastar as opiniões puramente pessoais. Desta maneira buscavam evitar:

I - O erro;

II - A mentira;

III - E os vícios que podem corromper o discurso.

Ora, um indivíduo poderia se iludir em sua observação dos fatos sem se dar conta disso, por sua ignorância quanto às leis envolvidas. O importante que, usando esse método, todos poderiam dar seu testemunho.

No caso, é o indivíduo que interroga quem deve ter o cuidado de perguntar a cada um acerca dos fatos sobre os quais poderia depor, como nos ensina PAUL JANET, filósofo espiritualista racional do século 19. Por um lado, quem vivenciou determinado fato particular ou vivência específica é o verdadeiro conhecedor naquelas circunstâncias. Por outro lado, como julgar a sinceridade de depoente? Como afastar o seu interesse pessoal? Como confiar na testemunha?

Esses pontos precisavam ser controlados, e assim:

A) independente da sinceridade, se a testemunha é única, há razões suficientes para a DÚVIDA;

B) o testemunho tem peso maior quando MUITAS testemunhas participam do mesmo fato;

C) ainda haverá a hipótese de que padecem de ignorância coletiva ou falsidade num ponto determinado;

Nesse sentido é necessário:

- Comparar os testemunhos;

- Observar quais são os mais esclarecidos;

- Pesar entre os numerosos que não esclarecem e dar atenção aos mais esclarecidos;

- Investigar se os testemunhos foram desinteressados (esses possuem mais valor).

À medida que o testemunho apresenta origens diversas, classes, paixões, interesse e conhecimento entre as testemunhas, se verá maior conformidade de suas declarações, como ensina Paul Janet. Segundo esse autor, é um erro grave considerar um testemunho como fonte única de certeza no exame de um fato ou fenômeno. É compreender o fato e saber que o testemunho é um fato composto.

Para compreendê-lo e atestá-lo é necessário o uso da maior parte das faculdades intelectuais do ser humano, considerando:

    • a autoridade da consciência;
    • a autoridade dos sentidos;
    • a autoridade do juízo;
    • a autoridade do raciocínio.

Em filosofia há espaço para uso do testemunho pela inteligência humana, mas o testemunho não submete a inteligência humana a ele completamente. Kardec usou esse método para deduzir os princípios da Doutrina Espírita.

Nas suas pesquisas sobre o elemento espiritual, em diálogos com Espíritos, Kardec se dedicou a estudar as milhares de comunicações. Mas, havia outro problema. O Espírito é um ser humano desencarnado, cujo testemunho tem valor relativo ao do encarnado, isto é, são apenas opiniões.

Como a Doutrina Espírita é revelação dos Espíritos, somente estes poderiam ensinar sobre o mundo espiritual, pois, somente eles percebem fatos e fenômenos espirituais por meio de seu perispírito.

Foram os Espíritos superiores, estudando o mundo espiritual, que produziram a ciência dos Espíritos. É baseado nas suas instruções e nas Leis Naturais de seu mundo que se constituiu a Doutrina dos Espíritos.

Na Revista Espírita de 1861, Kardec afirma que os Espíritos consentiram em nos iniciar em parte quanto ao seu mundo. Portanto, deve ficar claro que o meio principal da observação para a ciência espírita são os testemunhos dos Espíritos por meio dos médiuns. Kardec ouvia tanto os Espíritos superiores quanto mantinha contato com a máxima diversidade de Espíritos, cujo objetivo era identificar os fatos que mereciam estudo. Como ele mesmo confessa, aprendeu a conversar com os Espíritos pela experiência (RE, 1859).

Junto ao seu grupo de pesquisadores, Kardec identificava os fenômenos, considerava as hipóteses relevantes para explicá-los e, só então, os pesquisadores recebiam o ensino oportuno dos Espíritos, isto é, a elucidação das generalizações e das leis derivadas.

Na obra A Gênese (1868), Kardec afirma que a iniciativa da elaboração da Doutrina Espírita é dos Espíritos, mas há uma parte que cabe à atividade humana. Assim, não sendo resultado da opinião pessoal de nenhum Espírito, a Doutrina Espírita é o resultado do ensinamento coletivo e concordante dos Espíritos e, somente por isso, é que se trata de uma Doutrina dos Espíritos.

Em conformidade com a Filosofia Espiritualista, tendo como base o método das ciências históricas, Kardec declara na obra A Gênese que o CARÁTER ESSENCIAL DA DOUTRINA ESPÍRITA É A GENERALIDADE E CONCORDÂNCIA NO ENSINO, fruto de revelações espontâneas, pois, são eles, os Espíritos, quem controlam a sucessão e o progresso do ensino espírita.

Kardec resolveu a crise interna no uso do método científico das ciências históricas quanto ao testemunho como fato composto, usando todas as faculdades humanas na sua apreciação. Na obra A Gênese (1868), Kardec informa que submete a coletividade de opinião dos Espíritos ao critério da lógica, cuja aplicação constitui a força da Doutrina e lhe assegura a perpetuidade.

Nenhuma revelação será considerada divina, nem se submeterá ao campo da fé cega; todas as comunicações sofrerão a aplicação do método científico do testemunho, submetendo-se ao pensamento racional e positivo. Na Introdução do Evangelho Segundo o Espiritismo, item 2, encontra-se os elementos que atribui a AUTORIDADE DA DOUTRINA ESPÍRITA ou aquela que Kardec chamou de A FORÇA DO ESPIRITISMO: a universalidade do ensino dos Espíritos.

   Uberaba-MG, 23/09/2022
   Beto Ramos

DESTAQUE DA SEMANA

A DOUTRINA DOS ESPÍRITOS NÃO É ASSUNTO QUE SE ESGOTA EM UMA PALESTRA

  EM SUAS VIAGENS KARDEC MINISTRAVA ENSINOS COMPLEMENTARES AOS QUE JÁ POSSUIAM CONHECIMENTO E ESTUDO PRÉVIO. Visitando a cidade Rochefort, n...