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sexta-feira, 23 de setembro de 2022

PLURALIDADE DOS TESTEMUNHOS


Método científico apropriado aos fatos históricos. 



Ainda hoje vários campos da ciência utilizam esse método científico. É o caso, por exemplo, do Direito Penal e Processual Penal, ramo da Ciência Jurídica (ou do Direito), onde é comum a autoridade policial e seus agentes, em sede inquisitorial, envidar esforços para ouvir todas as testemunhas que presenciaram determinado evento delitivo.

Nesse sentido, não há qualquer surpresa verificar que Allan Kardec, o organizador do Espiritismo, também houvesse lançado mão do mesmo recurso.

Em razão da natureza da revelação Espírita e da sua fonte (manifestações e comunicações dos Espíritos), isto é, tratando-se de algo cuja concepção não é puramente humana, bem como ocorrer por todo o planeta, em toda parte, por todos os povos e nações, por todas as seitas e por todos os partidos, Kardec teve necessidade de validar as informações que eram recebidas.

O fato é que, entre os Espíritos como entre os seres humanos, há diversos graus de conhecimento. Sabendo que nenhum Espírito possui, individualmente, toda a verdade, seria imprudência aceitar e propagar uma mensagem somente em razão de sua fonte ser espiritual.

Além disto, o organizador do Espiritismo percebia que nas manifestações havia ensino moral, tanto quanto embustes, opiniões pessoais, sistemas, falsos ensinos e utopias.

Era, portanto, necessário criar uma forma de controle. Kardec se orientou da seguinte maneira:

1. Pelo crivo da razão;

2. Pelo uso do bom-senso;

3. Pela lógica rigorosa.

E não permitia exceção para nenhuma comunicação. Desta maneira, qualquer comunicação que não passasse por esse primeiro controle deveria ser REJEITADA.

Mas, não ficava somente nisto. Era necessária a concordância com os princípios doutrinários essenciais. Além disto, estabeleceu o critério da CONCORDÂNCIA DO ENSINO DOS ESPÍRITOS, cuja fonte deveria se dar pela:

a. Pluralidade de Espíritos;

b. Pluralidade de Médiuns;

c. Médiuns de diferentes centros;

d. Médiuns desconhecidos entre si.

e. Pluralidade de localidades de onde emanam as comunicações.

f. Espontaneidade na comunicação quanto o tema central fosse doutrinário.

O fato é que as revelações obtidas por esse método, ou seja, pela universalidade dos Espíritos, somente pela coincidência entre os ensinos é que se lhe atribua valor.

Curiosamente, esse método ao qual Kardec lançou mão para validar o ensino dos Espíritos, não foi objeto de revelação, tampouco sua invenção. Foi tomado emprestado da ciência que estudava fatos históricos.

No século 19, como ensina FIGUEIREDO, na obra AUTONOMIA, as ciências históricas baseavam-se em um tipo de conhecimento chamado Testemunho dos Indivíduos. Os pesquisadores e cientistas precisavam atestar a veracidade do testemunho, a fim de afastar as opiniões puramente pessoais. Desta maneira buscavam evitar:

I - O erro;

II - A mentira;

III - E os vícios que podem corromper o discurso.

Ora, um indivíduo poderia se iludir em sua observação dos fatos sem se dar conta disso, por sua ignorância quanto às leis envolvidas. O importante que, usando esse método, todos poderiam dar seu testemunho.

No caso, é o indivíduo que interroga quem deve ter o cuidado de perguntar a cada um acerca dos fatos sobre os quais poderia depor, como nos ensina PAUL JANET, filósofo espiritualista racional do século 19. Por um lado, quem vivenciou determinado fato particular ou vivência específica é o verdadeiro conhecedor naquelas circunstâncias. Por outro lado, como julgar a sinceridade de depoente? Como afastar o seu interesse pessoal? Como confiar na testemunha?

Esses pontos precisavam ser controlados, e assim:

A) independente da sinceridade, se a testemunha é única, há razões suficientes para a DÚVIDA;

B) o testemunho tem peso maior quando MUITAS testemunhas participam do mesmo fato;

C) ainda haverá a hipótese de que padecem de ignorância coletiva ou falsidade num ponto determinado;

Nesse sentido é necessário:

- Comparar os testemunhos;

- Observar quais são os mais esclarecidos;

- Pesar entre os numerosos que não esclarecem e dar atenção aos mais esclarecidos;

- Investigar se os testemunhos foram desinteressados (esses possuem mais valor).

À medida que o testemunho apresenta origens diversas, classes, paixões, interesse e conhecimento entre as testemunhas, se verá maior conformidade de suas declarações, como ensina Paul Janet. Segundo esse autor, é um erro grave considerar um testemunho como fonte única de certeza no exame de um fato ou fenômeno. É compreender o fato e saber que o testemunho é um fato composto.

Para compreendê-lo e atestá-lo é necessário o uso da maior parte das faculdades intelectuais do ser humano, considerando:

    • a autoridade da consciência;
    • a autoridade dos sentidos;
    • a autoridade do juízo;
    • a autoridade do raciocínio.

Em filosofia há espaço para uso do testemunho pela inteligência humana, mas o testemunho não submete a inteligência humana a ele completamente. Kardec usou esse método para deduzir os princípios da Doutrina Espírita.

Nas suas pesquisas sobre o elemento espiritual, em diálogos com Espíritos, Kardec se dedicou a estudar as milhares de comunicações. Mas, havia outro problema. O Espírito é um ser humano desencarnado, cujo testemunho tem valor relativo ao do encarnado, isto é, são apenas opiniões.

Como a Doutrina Espírita é revelação dos Espíritos, somente estes poderiam ensinar sobre o mundo espiritual, pois, somente eles percebem fatos e fenômenos espirituais por meio de seu perispírito.

Foram os Espíritos superiores, estudando o mundo espiritual, que produziram a ciência dos Espíritos. É baseado nas suas instruções e nas Leis Naturais de seu mundo que se constituiu a Doutrina dos Espíritos.

Na Revista Espírita de 1861, Kardec afirma que os Espíritos consentiram em nos iniciar em parte quanto ao seu mundo. Portanto, deve ficar claro que o meio principal da observação para a ciência espírita são os testemunhos dos Espíritos por meio dos médiuns. Kardec ouvia tanto os Espíritos superiores quanto mantinha contato com a máxima diversidade de Espíritos, cujo objetivo era identificar os fatos que mereciam estudo. Como ele mesmo confessa, aprendeu a conversar com os Espíritos pela experiência (RE, 1859).

Junto ao seu grupo de pesquisadores, Kardec identificava os fenômenos, considerava as hipóteses relevantes para explicá-los e, só então, os pesquisadores recebiam o ensino oportuno dos Espíritos, isto é, a elucidação das generalizações e das leis derivadas.

Na obra A Gênese (1868), Kardec afirma que a iniciativa da elaboração da Doutrina Espírita é dos Espíritos, mas há uma parte que cabe à atividade humana. Assim, não sendo resultado da opinião pessoal de nenhum Espírito, a Doutrina Espírita é o resultado do ensinamento coletivo e concordante dos Espíritos e, somente por isso, é que se trata de uma Doutrina dos Espíritos.

Em conformidade com a Filosofia Espiritualista, tendo como base o método das ciências históricas, Kardec declara na obra A Gênese que o CARÁTER ESSENCIAL DA DOUTRINA ESPÍRITA É A GENERALIDADE E CONCORDÂNCIA NO ENSINO, fruto de revelações espontâneas, pois, são eles, os Espíritos, quem controlam a sucessão e o progresso do ensino espírita.

Kardec resolveu a crise interna no uso do método científico das ciências históricas quanto ao testemunho como fato composto, usando todas as faculdades humanas na sua apreciação. Na obra A Gênese (1868), Kardec informa que submete a coletividade de opinião dos Espíritos ao critério da lógica, cuja aplicação constitui a força da Doutrina e lhe assegura a perpetuidade.

Nenhuma revelação será considerada divina, nem se submeterá ao campo da fé cega; todas as comunicações sofrerão a aplicação do método científico do testemunho, submetendo-se ao pensamento racional e positivo. Na Introdução do Evangelho Segundo o Espiritismo, item 2, encontra-se os elementos que atribui a AUTORIDADE DA DOUTRINA ESPÍRITA ou aquela que Kardec chamou de A FORÇA DO ESPIRITISMO: a universalidade do ensino dos Espíritos.

   Uberaba-MG, 23/09/2022
   Beto Ramos

segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

ESPIRITISMO: CIÊNCIA DA OBSERVAÇÃO COM MÉTODO EXPERIMENTAL

Fonte: banco de imagns google/internet (experiências de laboratório)

Talvez uma das grandes dificuldades enfrentadas pelos Espíritas é afirmar o Espiritismo como ciência. Nos dias atuais não encontramos o mesmo “clima acadêmico” da época de Kardec. Além disto, poucos sabem, verdadeiramente, situar o Espiritismo como ciência no próprio tempo em que viveu o Codificador da Doutrina Espírita.

Nesse sentido, os que buscam afirmar o Espiritismo como ciência, nos dias de hoje, ficam com certas dificuldades quando indagados acerca do caráter materialista da ciência tradicional que exige a prova experimental. Quem poderá responder que o Espiritismo é, rigorosamente, do ponto de vista científico, quanto à sua elaboração, uma ciência experimental?

O estudante, ao pesquisar, irá se deparar com o dilema enfrentado pelos precursores da ideia espírita cujo objeto de investigação é o mesmo da ciência metafísica, um subgrupo das ciências filosóficas que, de acordo com a classificação aceita no período contemporâneo a Kardec, pertencia ao grande grupo das Ciências Morais. Na atualidade não se verifica essa divisão que se perdeu no caminho da “evolução” científica.

Possuir essa informação faz toda a diferença. A dificuldade gira em torno do objeto de pesquisa: Deus, alma, matéria, psicologia racional, cosmologia racional e teologia racional. O Filósofo Paul Janet perguntará: como poderia o absoluto ser estudado de maneira experimental?

A princípio, considera-se ciência as que partem por construção do que “deve ser” e não daquilo que “é na realidade”. O ponto de partida, após a experiência, se conclui em determinado resultado, o que permite conhecer fatos e fenômenos. Ou, ainda, o processo pelo qual há uma ocorrência fortuita e casual quando considerada isoladamente, mas, necessária e inevitável ao ser relacionada às causas que lhe deram origem.

Sendo a metafísica abstrata e ideal, cujo objeto de pesquisa ultrapassa o objeto de investigação da ciência concreta, a priori, não poderia ser o resultado da experiência. Para muitos, é possível que não seja nem mesmo ciência, vez que “não seria possível nem pela razão, nem pela experiência”.

A solução desse problema, primeiramente, ocorreu por meio da aplicação do método reflexivo, isto é, o resultado da pesquisa não seria produto da imaginação, mas, da observação, onde, para além da ideia de concepção das coisas, há verdadeira sensação e percepção.

Mas, Allan Kardec, superou essa teoria e comprovou que os fenômenos espíritas eram passíveis de experimentações materiais. E, o que é mais notável, tais experiências demonstrariam resultados positivos. Até o advento do Espiritismo acreditava-se que o método experimental, aplicado às ciências e responsável pelos seus progressos, era somente aplicado à matéria. Kardec provará que esse método, também, pode ser aplicado às coisas metafísicas.

A grande revolução do conhecimento está no fato de que as ideias metafísicas podem ser observadas e experimentadas. O processo é simples. Os Espíritos comunicam-se por meio dos médiuns e transmitem conhecimento. Esses conhecimentos referem-se ao mundo espiritual. Os Espíritos tratam do ambiente físico em que vivem, das leis naturais que regem esse ambiente e de suas experiências dos fenômenos que lhes ocorrem, os quais são percebidos por meio dos sentidos de seu corpo espiritual.

Estamos diante de dois novos ramos do conhecimento humano:

a) Epistemologia espírita: método fundamentado de Kardec usado para pesquisar e compreender nas manifestações os ensinamentos dos Espíritos;

b) Epistemologia dos Espíritos: teoria do conhecimento do mundo dos espíritos (como os Espíritos descobrem coisas e aprendem).

Temos a experiência na Ciência dos Espíritos e a observação na Ciência Espírita. A partir do surgimento da Doutrina dos Espíritos é possível o ser humano superar a limitação de estudar a natureza somente pelos sentidos e de abordar as questões espirituais somente por meio da reflexão. 

É válido argumentar que o Espiritismo não é produto da imaginação, pois, ultrapassa o problema do método enfrentado pela metafísica como compreendida antes do seu advento. O método reflexivo foi superado. Como todas as demais ciências positivas, ao Espiritismo aplica-se o método experimental.


Uberaba-MG, 04 de Janeiro de 2021.

Beto Ramos


Fonte Bibliográfica:

FIGUEIREDO, Paulo Henrique de. Revolução Espírita – a teoria esquecida de Allan Kardec. São Paulo – SP: Maat, 2016.


DESTAQUE DA SEMANA

A DOUTRINA DOS ESPÍRITOS NÃO É ASSUNTO QUE SE ESGOTA EM UMA PALESTRA

  EM SUAS VIAGENS KARDEC MINISTRAVA ENSINOS COMPLEMENTARES AOS QUE JÁ POSSUIAM CONHECIMENTO E ESTUDO PRÉVIO. Visitando a cidade Rochefort, n...