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quarta-feira, 8 de agosto de 2018

ORGANIZAÇÃO DO ESPIRITISMO




Principalmente quando o tema é caridade, é comum percebermos várias divagações referentes a diferentes temas. Quem nunca ouviu opiniões acerca do ingresso de confrades nos grupos?


Pois bem, hoje traremos para o leitor qual o legado de Allan Kardec quanto à formação dos grupos espíritas. Estudando a Revista Espírita de Dezembro de 1861 verifica-se que o Codificador tratou do tema. Lúcido, ponderado, firme, mas, sempre alicerçado em razões cujo propósito é preservar a Doutrina Espírita. Passemos a palavra para Allan Kardec.

1. [...] A princípio isolados, os adeptos hoje se surpreendem com o seu número; e como a similitude das ideias inspira o desejo de aproximação, procuram reunir-se e fundar sociedades. Assim, de todas as partes nos pedem instruções a respeito, manifestando o desejo de se unirem à Sociedade central de Paris. É, pois, chegado o momento de nos ocuparmos do que se pode chamar a organização do Espiritismo. O Livro dos Médiuns (2ª edição) contém observações importantes sobre a formação das Sociedades espíritas, às quais remetemos os interessados, rogando-lhes que meditem cuidadosamente. [...].

2. [...] Todos os dias recebemos cartas de pessoas que [...] perguntam o que podem fazer na ausência de médiuns e de coparticipantes do Espiritismo. [...] é muito simples. Para começar, podem trabalhar por conta própria, impregnando-se da doutrina pela leitura e meditação das obras especiais; quanto mais se aprofundarem, mais verdades consoladoras descobrirão confirmadas pela razão. [...] Em razão de sua própria posição, têm uma bela e importante missão a cumprir: a de espalhar a luz em seu redor. [...] Aos que fossem detidos pelo medo pueril do que os outros pensariam deles, nada temos a dizer, nenhum conselho a dar. Mas aos que têm a coragem da sua opinião, que estão acima das mesquinhas considerações mundanas, diremos que o que têm a fazer se limita a falar abertamente do Espiritismo, sem afetação, como de uma coisa muito simples e muito natural, sem a pregar e, sobretudo, sem buscar nem forçar convicções, nem fazer prosélitos a qualquer preço. O Espiritismo não deve ser imposto; vem-se a ele porque dele se necessita, e porque dá o que não dão as outras filosofias. [...] há pessoas que perguntarão: “O que é isto?” Apressai-vos, então, em satisfazê-las, proporcionando-lhes explicações conforme a natureza das disposições que nelas encontrardes. [...].

3. Falemos agora da organização do Espiritismo nos centros já numerosos. O aumento incessante dos adeptos demonstra a impossibilidade material de constituir-se numa cidade, sobretudo, numa cidade populosa, uma sociedade única. Além do número, há a dificuldade das distâncias que, para muitos, é um obstáculo. Por outro lado, é sabido que as grandes reuniões são menos favoráveis às belas comunicações e que as melhores são obtidas nos pequenos grupos. É, pois, na multiplicação dos grupos particulares que devemos concentrar os nossos esforços. Ora, como dissemos, vinte grupos de quinze a vinte pessoas obterão mais e farão mais pela propaganda do que uma sociedade única de quatrocentos membros. Os grupos se formam naturalmente pela afinidade de gostos, sentimentos, hábitos e posição social; todos ali se conhecem e, como são reuniões privadas, tem-se liberdade de número e de escolha dos que nela são admitidos.

4. [...] Cada grupo naturalmente é dirigido pelo chefe da casa, ou por aquele que para isso for designado; não há, a bem dizer, dirigente oficial, porque tudo se passa em família. O dono da casa, como tal, tem toda autoridade para manter a boa ordem. [...].

5. [...]. 6. [...].
7. Admitida, pois, em princípio a formação dos grupos, resta o exame de várias questões importantes. A primeira de todas é a uniformidade na doutrina. Essa uniformidade não seria mais bem garantida por uma sociedade compacta, pois os dissidentes sempre teriam facilidade de se retirar, formando grupo à parte. Quer a sociedade seja una ou fracionada, a uniformidade será a consequência natural da unidade de base que os grupos adotarem. Será completa em todos os que seguirem a linha traçada em O Livro dos Espíritos e em O Livro dos Médiuns. Um contém os princípios da filosofia da ciência; o outro, as regras da parte experimental e prática. Estas obras estão escritas com bastante clareza, de modo a não ensejar interpretações divergentes, condição essencial de toda doutrina nova. [...]. Podemos, pois, sem presunção, recomendar o seu estudo e prática às diversas reuniões espíritas, e isto com tanto mais razão quanto são as únicas, até o momento, em que a ciência é tratada de maneira completa. Todas as que foram publicadas sobre a matéria não abordaram senão alguns pontos isolados da questão. Aliás, não temos a menor pretensão de impor nossas ideias; nós as emitimos por ser um direito nosso. Aqueles a quem elas convêm as adotam; os outros as rejeitam, por ser também um direito que lhes assiste. [...].

8. O segundo ponto é a constituição dos grupos. Uma das primeiras condições é a homogeneidade, sem a qual não haveria comunhão de pensamentos. Uma reunião não pode ser estável, nem séria, se não há simpatia entre os que a compõem; e não pode haver simpatia entre pessoas que têm ideias divergentes e que fazem oposição surda, quando não aberta. Longe de nós dizermos com isso que se deva abafar a discussão; ao contrário, recomendamos o exame escrupuloso de todas as comunicações e de todos os fenômenos. Fique, pois, bem entendido, que cada um pode e deve externar a sua opinião; mas há pessoas que discutem para impor a sua, e não para se esclarecer. É contra o espírito de oposição sistemático que nos levantamos; contra as ideias preconcebidas, que não cedem nem mesmo perante a evidência. Tais pessoas incontestavelmente são uma causa de perturbação, que é preciso evitar. A este respeito, as reuniões espíritas estão em condições excepcionais. O que elas requerem acima de tudo é o recolhimento. Ora, como estar recolhido se, a cada momento, somos distraídos por uma polêmica acrimoniosa? Se, entre os assistentes, reina um sentimento de azedume e quando sentimos à nossa volta seres que sabemos hostis e em cuja fisionomia se lê o sarcasmo e o desdém por tudo quanto não concorde inteiramente com eles?

9. Traçamos o caráter das principais variedades de espíritas em O Livro dos Médiuns, nº 28. Sendo tal distinção importante para o assunto que nos ocupa, julgamos dever lembrá-la. Pode-se pôr em primeira linha os que creem pura e simplesmente nas manifestações. Para eles o Espiritismo não passa de uma ciência de observação, uma série de fatos mais ou menos curiosos; a filosofia e a moral são acessórios de que pouco se ocupam e de cujo alcance nem mesmo desconfiam. Nós os chamamos espíritas experimentadores. Vêm a seguir os que veem no Espiritismo algo mais que simples fatos; compreendem o seu alcance filosófico; admiram a moral dele decorrente, mas não a praticam; extasiam-se ante as belas comunicações, como diante de um sermão eloquente, que ouvem, mas não aproveitam. A influência sobre o seu caráter é insignificante ou nula; em nada mudam seus hábitos e não se privariam de um único prazer: o avarento é sempre avarento, o orgulhoso sempre cheio de si mesmo, o invejoso e o ciumento sempre hostis. Para eles a caridade cristã é apenas uma bela máxima e os bens deste mundo os arrastam na sua estima sobre os do futuro. São os espíritas imperfeitos. Ao lado destes há outros, mais numerosos do que se pensa, que não se limitam a admirar a moral espírita, mas que a praticam e a aceitam em todas as suas consequências. Convencidos de que a existência terrena é uma prova passageira, tratam de aproveitar estes curtos instantes para marchar na via do progresso, esforçando-se por fazer o bem e reprimir as más inclinações; suas relações são sempre seguras, porque sua convicção os afasta de todo mau pensamento. Em tudo a caridade é sua regra de conduta. São os verdadeiros espíritas, ou, melhor, os espíritas cristãos.

10. Se bem compreendido o que precede, compreender-se-á também que um grupo formado exclusivamente por elementos desta última classe estaria em melhores condições, porque entre pessoas que praticam a lei de amor e de caridade é que se pode estabelecer uma séria ligação fraternal. Entre homens para quem a moral não passa de uma teoria, a união não seria durável; como não impõem nenhum freio ao orgulho, à ambição, à vaidade e ao egoísmo, não o imporão também às suas palavras; quererão ser os primeiros, quando deveriam humilhar-se; irritar-se-ão com as contradições e não terão nenhum escrúpulo em semear a perturbação e a discórdia. Entre verdadeiros espíritas, ao contrário, reina um sentimento de confiança e de recíproca benevolência; sentem-se à vontade nesse meio simpático, ao passo que há constrangimento e ansiedade num ambiente heterogêneo.

11. Isto faz parte da natureza das coisas e nada inventamos a respeito. Daí se segue que, na formação dos grupos, deve-se exigir a perfeição? Seria simplesmente absurdo, porque exigir o impossível e, neste ponto, ninguém poderia pretender dele fazer parte. Tendo como objetivo a melhoria dos homens, o Espiritismo não vem recrutar os que são perfeitos, mas os que se esforçam em o ser, pondo em prática o ensino dos Espíritos. O verdadeiro espírita não é o que alcançou a meta, mas o que deseja seriamente atingi-la. Sejam quais forem os seus antecedentes, será bom espírita desde que reconheça suas imperfeições e seja sincero e perseverante no propósito de emendar-se. Para ele o Espiritismo é uma verdadeira regeneração, porque rompe com o passado; indulgente para com os outros, como gostaria que fossem para consigo, de sua boca não sairá nenhuma palavra malevolente nem ofensiva contra ninguém. Aquele que, numa reunião, se afastasse das conveniências, não só provaria falta de civilidade e de urbanidade, mas falta de caridade; aquele que se melindrasse com a contradição e pretendesse impor a sua pessoa ou as suas ideias, daria prova de orgulho. Ora, nem um nem outro estariam no caminho do verdadeiro Espiritismo cristão. Aquele que pensa ter uma opinião mais justa fará que os outros a aceitem melhor pela persuasão e pela doçura; o azedume, de sua parte, seria um péssimo negócio.

12. A simples lógica demonstra, pois, a quem quer que conheça as leis do Espiritismo, quais os melhores elementos para a composição dos grupos verdadeiramente sérios, e não vacilamos em dizer que são os que exercem maior influência na propagação da doutrina. [...].

13. Acabamos de indicar a melhor composição dos grupos. [...]. Às vezes nos deixamos dominar pelas circunstâncias, mas é na eliminação dos obstáculos que devemos concentrar todos os nossos cuidados. Infelizmente, quando criamos um grupo, somos muito pouco rigorosos na escolha, porque, antes de tudo, queremos formar um núcleo. Para nele ser admitido basta, na maioria das vezes, um simples desejo ou uma adesão qualquer às ideias mais gerais do Espiritismo. Só mais tarde é que percebemos ter facilitado em demasia a admissão.

14. Num grupo sempre há elementos estáveis e flutuantes. O primeiro é composto de pessoas assíduas, que formam a base; o segundo, das que são admitidas temporária e acidentalmente. É essencial prestar escrupulosa atenção no que respeita à composição do elemento estável; neste caso, não se deve hesitar em sacrificar a quantidade pela qualidade, porque é ele que dá impulso e serve de regulador. O elemento flutuante é menos importante, porque sempre se é livre para modificá-lo à vontade. Não se deve perder de vista que as reuniões espíritas, como, aliás, todas as reuniões em geral, haurem as forças de sua vitalidade na base sobre a qual se assentam; neste particular, tudo depende do ponto de partida. Aquele que tem a intenção de organizar um grupo em boas condições deve, antes de tudo, assegurar-se do concurso de alguns adeptos sinceros, que levem a doutrina a sério e cujo caráter, conciliador e benevolente, seja conhecido. Formado esse núcleo, ainda que de três ou quatro pessoas, estabelecer-se-ão regras precisas, seja para as admissões, seja para a realização das sessões e para a ordem dos trabalhos, regras às quais os recém vindos terão de se conformar. Essas regras podem sofrer modificações conforme as circunstâncias, mas há algumas que são essenciais.

15. Sendo a unidade de princípios um dos pontos importantes, não pode existir naqueles que, não tendo estudado, não podem ter opinião formada. Assim, a primeira condição a impor, caso não queiramos ser interrompidos a cada instante por objeções ou perguntas ociosas, é o estudo prévio. A segunda é uma profissão de fé categórica e uma adesão formal à doutrina de O Livro dos Espíritos, além de outras condições especiais julgadas convenientes. Isto quanto aos membros titulares e dirigentes. Para os assistentes, que geralmente vêm para adquirir um pouco mais de conhecimento e de convicção, pode-se ser menos rigoroso; todavia, como há os que poderiam causar perturbação com observações despropositadas, é importante assegurar-se de suas disposições. Faz-se necessário, acima de tudo e sem exceção, afastar os curiosos e quem quer que seja atraído por motivo frívolo.

16. A ordem e a regularidade dos trabalhos são coisas igualmente essenciais. Consideramos de grande utilidade abrir cada sessão pela leitura de algumas passagens de O Livro dos Médiuns e de O Livro dos Espíritos. Por esse meio, ter-se-ão sempre presentes na memória os princípios da ciência e os meios de evitar os escolhos encontrados a cada passo na prática. Assim, a atenção será fixada sobre uma porção de pontos, que muitas vezes escapam numa leitura particular e poderão ensejar comentários e discussões instrutivas, das quais os próprios Espíritos poderão participar. Não menos importante é recolher e passar a limpo todas as comunicações obtidas, por ordem de datas, com indicação do médium que serviu de intermediário. Esta última menção é útil para o estudo do gênero da faculdade de cada um. Mas muitas vezes acontece que se perde de vista estas comunicações, que assim se tornam letra morta; isto desencoraja os Espíritos que as tinham dado, com vistas à instrução dos assistentes. É necessário, pois, fazer uma coleta especial das mais instrutivas e proceder à sua releitura de vez em quando. Frequentemente essas comunicações são de interesse geral e não são dadas pelos Espíritos apenas para a instrução de alguns ou para serem relegadas aos arquivos. Assim, é útil que, para a publicidade, sejam levadas ao conhecimento de todos. [...].

17. [...], nossas instruções destinam-se exclusivamente aos grupos formados de elementos sérios e homogêneos; aos que querem seguir a rota do Espiritismo moral, visando o progresso de cada um, fim essencial e único da doutrina; enfim, aos que nos querem aceitar por guia e levar em conta os conselhos de nossa experiência. É incontestável que um grupo formado nas condições que indicamos funcionará com regularidade, sem entraves e de maneira proveitosa. O que um grupo pode fazer, outros também o podem. [...].

18. [...].
19. [...] tudo isto é de execução muito simples e sem burocracia; [...] tudo depende [...] da composição dos grupos primitivos. Se formados de bons elementos, serão outras tantas boas raízes que darão bons frutos. Se, ao contrário, forem formados de elementos heterogêneos e antipáticos, de espíritas duvidosos, mais preocupados com a forma do que com o fundo, que consideram a moral como parte acessória e secundária, há que se esperar polêmicas irritantes, que a nada levam, pretensões pessoais, atritos de susceptibilidades e, em consequência, conflitos precursores da desorganização. [...].

20. Talvez digam que essas restrições severas sejam um obstáculo à propagação. Isto é um equívoco. Não imagineis que, abrindo a porta ao primeiro que surgisse, estaríeis fazendo mais prosélitos; a experiência aí está para provar o contrário. Seríeis assaltados pela multidão dos curiosos e dos indiferentes, que ali viriam como a um espetáculo. Ora, os curiosos e os indiferentes são um estorvo, e não auxiliares. Quanto aos incrédulos, seja por sistema, seja por orgulho, por mais que lho mostreis, não tratarão disso senão com zombaria, porque não o compreenderão e não querem dar-se ao trabalho de compreender. Já o dissemos, e nunca repetiríamos em demasia: a verdadeira propagação, aquela que é útil e proveitosa, é feita pelo ascendente moral das reuniões sérias. [...]. Sede, pois, sérios, em toda a acepção da palavra e as pessoas sérias virão a vós: são os melhores propagadores, porque falam com convicção e tanto pregam pelo exemplo, quanto pela palavra.

21. [...]
22. Dissemos no começo que diversos círculos espíritas pediram para se unir à Sociedade de Paris; utilizaram até mesmo a palavra filiar-se. A respeito faz-se necessária uma explicação. A Sociedade de Paris foi a primeira a ser regularizada e legalmente constituída. Por sua posição e pela natureza de seus trabalhos, teve uma grande parte no desenvolvimento do Espiritismo e, em nossa opinião, justifica o título de Sociedade Iniciadora, que lhe deram certos Espíritos. Sua influência moral se fez sentir longe e, embora restrita, numericamente falando, tem consciência de ter feito mais pela propaganda do que se tivesse aberto as portas ao público. Formou-se com o único objetivo de estudar e aprofundar a ciência espírita. Para isto não necessita de um auditório numeroso, nem de muitos membros, pois sabe muito bem que a verdadeira propaganda é feita pela influência dos princípios; como não é movida por nenhum interesse material, um excedente numérico ser-lhe-ia mais prejudicial do que útil. [...] A palavra filiação seria, pois, imprópria, porque suporia de sua parte uma espécie de supremacia material, à qual ela absolutamente não aspira, e que teria mesmo inconvenientes. Como Sociedade iniciadora e central, pode estabelecer com os outros grupos ou sociedades relações puramente científicas, limitando-se aí o seu papel; não exerce nenhum controle sobre essas sociedades, que em nada dependem dela e ficam inteiramente livres para se constituírem como bem o entenderem, sem ter de prestar contas a ninguém, e sem que a Sociedade de Paris tenha que se imiscuir no que for em seus negócios. [...]

23. [...]
24. [...]. Sabe-se que os Espíritos, não possuindo todos a soberana ciência, podem considerar certos princípios de seu ponto de vista pessoal e, conseqüentemente, nem sempre estarão de acordo. O melhor critério da verdade está naturalmente na concordância dos princípios ensinados sobre diversos pontos, por Espíritos diferentes e por meio de médiuns estranhos uns aos outros. Desse modo foi composto O Livro dos Espíritos. Mas ainda restam muitas questões importantes a serem resolvidas desta maneira, cuja solução terá mais autoridade quando obtida por grande maioria. [...] Existe um grande número de obras antigas e modernas, nas quais se encontram testemunhos mais ou menos diretos em favor das ideias espíritas. Uma coleção desses testemunhos seria muito preciosa, [...].

25. No estado atual das coisas está é a única organização possível do Espiritismo. Mais tarde as circunstâncias poderão modificá-la, mas nada dever ser feito intempestivamente; [...] Disseram, por pura maldade, que queríamos fazer escola no Espiritismo. E por que não teríamos esse direito? [...] Mas aos olhos de certa gente aí está o nosso erro, pois não nos perdoam por havermos chegado primeiro que eles e, sobretudo, por havermos triunfado. Que seja, pois, uma escola, [...]: Escola do Espiritismo Moral, Filosófico e Cristão; e a ela convidamos todos os que têm por divisa amor e caridade. Aos que aderirem a esta bandeira, todas as nossas simpatias; o nosso concurso jamais faltará.

Allan Kardec


Revista Espírita*. Dezembro / 1861. Organização do Espiritismo.

* (o texto reproduziu as partes que o autor compreende necessárias para o espaço e conhecimento, ficando a investigação das partes omitidas a cargo do leitor).

terça-feira, 17 de julho de 2018

JESUS FALAVA DO AMOR A DEUS

“Para bem compreender certas passagens do Evangelho, é necessário conhecer o valor de muitas palavras que são frequentemente empregadas nos textos, e que caracterizam o estado dos costumes e da sociedade judia naquela época (Allan Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo, Notícias Históricas, item III, Introdução).

Desde cedo, conforme aprendemos nos Evangelhos da Boa Nova, Jesus demonstrava profundo conhecimento dos Profetas e da Lei. Nascido Judeu pertencia à cultura de sua época e dela fazia uso nas suas pregações, na convivência e na vivência do Evangelho.

O Codificador do Espiritismo possuía esse conhecimento e não “colocou a luz embaixo da cama”. Legou ao Espírita, já na Introdução do Evangelho Segundo o Espiritismo uma lição fundamental para, afinal, a FÉ SER RACIOCINADA. Vejamos um exemplo:

Em Lucas 14:26, Jesus, tratando sobre o que custa ser discípulo, usa palavras aparentemente estranhas. Diz o Mestre:

"Se alguém vem a mim e ama o seu pai, sua mãe [...], não pode ser meu discípulo".

Afirmaria, então, o Professor de Lyon: “Essas palavras, não tendo para nós o mesmo sentido, foram quase sempre mal interpretadas, gerando algumas incertezas. A compreensão da sua significação explica também o verdadeiro sentido de certas máximas, que á primeira vista parecem estranhas”. (ESSE, Introdução, item III, parte final).

Basta uma investigação sobre essas palavras ditas por Jesus e “biografadas” em Lucas 14:26 que o estudante encontrará 
diferentes interpretações. Algumas veem nelas a anulação do quarto mandamento constante do Deuteronômio 5:16 e do Livro de Êxodo 20:12 “Honra teu pai e tua mãe”.

Vamos seguir o conselho de Allan Kardec?

Pois bem. As palavras de Jesus podem ser compreendidas quando ouvidas em sintonia com Deuteronômio 33:8-10. Este capítulo trata das bênçãos de Moisés sobre os israelitas antes de morrer. Nos versículos mencionados a bênção é:

“Para Levi. Para teus leais, os tumim e urim. Tu os puseste à prova em Massa, os desafiaste em Meriba; disse a seus pais: “Não vos obedeço”; a seus irmãos: “Não vos reconheço”; a seus filhos: “Não vos conheço”. Cumpriram teus mandatos e guardaram tua aliança, ensinarão teus mandamentos a Jacó e tua lei a Israel”;

Segundo Luís Alonso Shökel (Bíblia do Peregrino, Paulus), Tumin e Urim são instrumentos das sortes oraculares. O Ofício de Levi é instruir na lei, mas, nem todas as tradições lhes reconhecem funções sacerdotais.

Portanto, os sacerdotes, a fim de cumprirem suas funções, em PRIMEIRO LUGAR COLOCAM A ALIANÇA COM DEUS, SENDO FIEIS À SUA LEI E AOS SEUS MANDAMENTOS ENSINANDO-OS AO POVO DE ISRAEL.

No cumprimento desse mister, quando há conflito entre QUEM AMAR, se aos pais, aos irmãos ou aos filhos ou A DEUS SOBRE TODAS AS COISAS, não há conflito. Cumprem os mandamentos e guardam a aliança, ensinando os mandamentos e a lei. Numa palavra: não há acordo e nem vista grossa para com os parentes e familiares. A LEI DE DEUS ESTÁ PARA SER CUMPRIDA.

Algumas traduções, quanto a Levi e o respeito de seu pai e sua mãe, trazem a seguinte afirmação: “Não tenho consideração por eles”. Quer dizer que Levi não reconheceu seus irmãos e não conhece os próprios filhos porque ele guardou a tua palavra e observou a tua aliança

Agora, conhecendo o texto do Antigo Testamento acima e fazendo comparação com o texto de Lucas 14:26 é fácil notar que Jesus não revoga o quarto mandamento e nem tampouco contradiz a Torá. Pelo contrário, Jesus conhecia as afirmações contraditórias da Torah que eram resolvidas quando considerado um mandamento em relação ao outro.

Como na linguagem jurídica, na atualidade do direito constitucional, quando os princípios constitucionais colidem, utiliza-se a razoabilidade e a ponderação para confrontá-los, sendo que uns sujeitam-se a outros.

Na linguagem simbólica Levi é o povo que tem amor pela palavra de Deus e que superam o amor familiar.

A lição de Jesus em Lucas 14:26 é sobre a existência de hierarquia entre os mandamentos, onde todos sujeitam-se ao Primeiro e Maior Mandamento: AMAR A DEUS SOBRE TODAS AS COISAS. Esse, portanto, o custo do discipulado. Carece abnegação, renúncia e entrega total. Foi, portanto, este o ensinamento de Jesus quando pronunciou aquelas palavras: O discípulo observa a Lei, cumpre os Mandamentos e ensina por meio de exemplos; acima de tudo AMA A DEUS.

segunda-feira, 16 de julho de 2018

O CORPO DE CRISTO

REFERINDO-SE À FUNÇÃO DO CRISTÃO (TRABALHADOR DO CRISTO)
(há exemplos em outras Cartas de Paulo, como Efésios)

Romanos 12:4-5 (FUNÇÕES DIVERSAS NO TRABALHO PARA CRISTO).

“Assim como cada um de nós tem um corpo com muitos membros e esses membros não exercem todos a mesma função, assim também em Cristo nós, que somos muitos, formamos um corpo, e cada membro está ligado a todos os outros”.

Coríntios 12:1-31 (DONS E HABILIDADES DAQUELES QUE VÃO EXECUTAR O TRABALHO SÃO DIFERENTES).

“Ora, há diversidade de dons, porém o Espírito é o mesmo. E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. [...] Se o pé disser: Porque não sou mão, não sou do corpo; não será por isso do corpo? [...] Ora, vós sois o corpo de Cristo, e membros em particular. [...] E a uns pôs Deus na igreja; primeiramente, apóstolos; em segundo lugar, profetas; em terceiro, mestres; depois, milagres; depois, dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas. Porventura são todos apóstolos? São todos profetas? São todos mestres? São todos operadores de milagres? Têm todos o dom de curar? Falam todos diversas línguas? Interpretam todos?”

Qual a ideia e a mensagem nos textos acima?

João, o Evangelista, contou-nos que JESUS é a LUZ DO PRINCÍPIO, a LUZ QUE ESTAVA NO VERBO DE DEUS. Que essa LUZ É A VIDA DOS HOMENS. Que “veio” entre os seus e eles não o “receberam” ou não o “reconheceram”. O Evangelista nos indicará que Jesus é SUPREMA SABEDORIA E AMOR para os homens (Ben Adam), isto é, os terrenos (terrícolas, terráqueos), porque Adam (Adão) significa TERRA.

Paulo, o Apóstolo também ensinará sobre a superioridade de Jesus, afirmando que Ele estava presente desde a Criação do Planeta e foi Ele quem conduziu o trabalho de Criação do Orbe em Nome e por Determinação de Deus.

Há que se compreender que Jesus, por Misericórdia ENCARNA COMO SER HUMANO NA TERRA e é o PRÓPRIO EVANGELHO, pois sua vida é TESTEMUNHO. Jesus, ao mesmo tempo em que ensina em palavras, educa com ações. Vive o Evangelho de Deus.

O texto que se refere ao CORPO DE CRISTO, nas palavras do APÓSTOLO PAULO, traz um maravilhoso exemplo de como se compreender a atividade e função de cada Cristão. Para uns foram designadas certas tarefas e a outros foram designadas tarefas diferentes. Perceba que a expressão IGREJA quer dizer COMUNIDADE. Note que Paulo afirma que EM CRISTO FORMAMOS UM CORPO. Fora do Cristo, isto é, FORA DO SEU EVANGELHO, NÃO FORMAMOS UM CORPO. Em bom português, está CADA UM POR SI.

REFERINDO-SE AO CORPO DE CARNE (entregue à Crucificação)

Romanos 7:4 (MORTE FÍSICA DE JESUS: FIM DA LEI DE “TALIÃO” e IMPLANTAÇÃO DA LEI DE AMOR)

“Assim, meus irmãos, também vós morrestes relativamente à lei, por meio do corpo de Cristo, para pertencerdes a outro, a saber, aquele que ressuscitou dentre os mortos, a fim de que frutifiquemos para Deus”.

Quando Jesus Cristo encarnou teve início a “nova aliança” que, em razão de nossa natureza primitiva, derramaria Seu sangue (Mateus 26:28).

REFERINDO-SE À LIDERANÇA DE JESUS E NÃO DE HOMENS
Efésios 4:15 “Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo”.

Além do significado implícito de Suprema Sabedoria em relação aos que evoluem na Terra, o texto paulino afirma que NÃO HÁ LIDERANÇA OUTORGADA A MÃOS HUMANAS. No TRABALHO DO CRISTO ELE é o LÍDER (Governador).

Conclusão:
O corpo de Cristo, na Bíblia, alude ao próprio corpo físico de Jesus Cristo entregue na cruz do calvário. Noutros casos refere-se ao conjunto da humanidade que tem em Jesus seu modelo e guia, o qual exerce a Liderança confiada por Deus. E, relativamente ao Evangelho, quanto aos trabalhadores, refere-se à suas funções e a integração que deve existir entre o Cristão e o Cristo.

Não se vê referência à possibilidade de que Jesus Cristo não tenha se valido de um corpo de carne na sua passagem pelo orbe.

segunda-feira, 9 de julho de 2018

RETRATO DE UMA SOCIDADE ENFERMA




Abra o Jornal, impresso ou eletrônico. As notícias referem-se a polêmicas por diferenças de opiniões. Ofensas em razão do desrespeito recíproco ao direito de livre manifestação do pensamento. Uma ferrenha disputa pelo lugar de “dono da verdade”. Animosidade traduzida em suas piores consequências: fratricídios, parricídios, infanticídios, feminicídios, homicídios, suicídios e tantos outros nomes atribuídos ao ato de “matar”.

Quando a falta de amor não termina assim, em trágicas mortes, ocasiona uma infinidade de doenças. NOSSA SOCIEDADE ESTÁ DOENTE E A DOENÇA MOSTRA SUA CARA! SUA PIOR FACE... Quem deve administrar não administra; quem deve ensinar não ensina; quem deve julgar não julga; quem deve segurança não se desincumbe; quem deve educar não educa; Parafraseando Roberto e Erasmo: todos perdidos nos pensamentos poluídos pela falta de amor! A sociedade “esqueceu” seus deveres... Diante disto voltam a pulular teorias hobbesianas para dizer o mínimo. “Doentes” se reconhecendo “médicos” afirmam ter “cura” e “patenteiam” “remédios infalíveis”. (muitas aspas e metáforas).

Sem receita, observo. A origem dos males tem sede em nós mesmos. Queremos ser donos, verdadeiros proprietários, dos indivíduos que nos rodeiam. Queremos ser servidos em lugar de servir. Queremos falar em lugar de ouvir. Queremos ser compreendidos em lugar de compreender. Queremos receber sem nada oferecer.

Na sociedade dos “donos da verdade” o que temos? Indivíduos de difícil trato, impulsivos de pavio curto que explodem ante uma opinião diferente, não economizam palavras ofensivas, são intolerantes e não fazem qualquer rodeio para aviar uma ofensa. Em todo campo são fanáticos. Intransigentes, não vivem e não permitem uma convivência pacífica. Nessa faixa de vibração se desculpam na “cegueira pela raiva que lhe fizeram” e cometem as piores atrocidades contra outros e a si mesmos.

Seria cômodo apontar o dedo, mas, assim somos todos. Não atendidos apresentamos o pior em nós. Nada a ver com “lado" animal, eles são superiores. Em verdade, cada criatura com os sentimentos que lhe caracterizam a vida íntima emite raios específicos e vive na onda espiritual com que se identifica (Emmanuel).*

Estamos certos que não basta à criatura apegar-se à existência humana, mas precisa saber aproveitá-la dignamente; que os passos do cristão, em qualquer escola religiosa, devem dirigir-se verdadeiramente ao Cristo, e que, em nosso campo doutrinário, precisamos, em verdade, do Espiritismo e do Espiritualismo, mas, muito mais, de Espiritualidade (Emmanuel).*

*Nos Domínios da Mediunidade e Nosso Lar (prefácio).

sexta-feira, 6 de julho de 2018

CONHEÇA SUA BÍBLIA: AS DUAS NAÇÕES


No Livro de Gênesis, Antigo Testamento, encontramos a história de Rebeca. Grávida, preocupada, numa sociedade primitiva, foi consultar o Senhor, afinal Rebeca era estéril havia vinte anos. O Senhor, atendendo-a, disse: "Duas nações estão em seu ventre [...] Mas o mais velho servirá ao mais novo" (Capítulo 25, versículo 23). As traduções que conhecemos hoje (século XXI) no Brasil sempre apresentam a última frase do versículo com a frase acima: "o mais velho servirá ao mais novo".
Todavia, a Torah, matéria-prima para todo erudito e tradutor, que dá origem ao que conhecemos como Bíblia, não foi escrita e muito menos ensinada em Língua Portuguesa. Aliás, naquele tempo não havia língua portuguesa, não havia portugueses e muito menos Portugal.
A Lei, tanto oralmente quanto quando foi escrita, usou a língua hebraica. No hebraico essas palavras que originaram a tradução mencionada não são tão claras e apresentam ambiguidade considerável: v’rav ya’avod tzair (וְרַב יַעֲבֹד צָעִיר).
O que se sabe é que em hebraico não há clareza sobre qual seria a palavra usada na frase para expressar o objeto e qual seria aquela para o sujeito. É que o texto pode ser interpretado em ambos os sentidos.

Parece que ficou muito confuso, mas, é possível esclarecer. NÃO HÁ NENHUMA MANEIRA DE DETERMINAR QUEM SERVIRÁ A QUEM. TALVEZ PODERIA SER O MAIS NOVO A SERVIR AO MAIS VELHO.
Emmanuel na obra A Caminho da Luz, ditada a Chico Xavier, (FEB, 1939), no capítulo em que relata sobre o Judaísmo e o Cristianismo afirma que “[..] o Antigo Testamento é um repositório de conhecimentos secretos, dos iniciados do povo judeu, e que somente os grandes mestres da raça poderiam interpretá-lo fielmente, nas épocas mais remotas”.
No capítulo 7, denominado O Povo de Israel, afirma que eminentes estudiosos buscaram penetrar os obscuros segredos contidos no Antigo Testamento aproximando-se da realidade com referência às interpretações, não conseguindo, todavia, solucionar os vastos problemas que as suas expressões oferecem.
E, afirma o benfeitor na página 59 da 3ª impressão da 38ª edição: “Os livros dos profetas israelitas estão saturados de palavras enigmáticas e simbólicas, constituindo um monumento parcialmente decifrado da ciência secreta dos hebreus. [...] É por isso que, a par do Evangelho, está o Velho Testamento tocado de clarões imortais, para a visão espiritual de todos os corações”.
Chamamos sua atenção para a importância de uma leitura da Torá em hebraico. Não se trata de violar sua consciência, menos ainda sua crença. Mas, convidamos para que o texto seja lido, pelo menos, junto com o texto hebraico.

É que os tradutores, constatando a ambiguidade do texto, bem como e a complexidade da língua hebraica, acabam (e não quer dizer que seja má-fé) traduzindo o texto conforme seus conceitos.
Nesse caso, sobram duas escolhas: ou se compreende a Bíblia conforme a interpretação teológica de tais tradutores ou é possível descobrir a Bíblia Hebraica, buscando as próprias respostas às perguntas levantadas pela Torá. E, para tanto, é possível contar com excelentes cursos feitos, inclusive, pela internet, isto é, à distância.

Podemos recomendar um que pensamos ter atendido às nossas expectativas: ISRAEL INSTITUTE OF BIBLICAL STUDIES, parceira acadêmica da THE HEBREW UNIVERSITY OF JERUSALEM. Achou complicado? Então segue o endereço: https://israelbiblicalstudies.com/pt/

XAVIER, Francisco Cândido. A Caminho da Luz. Pelo Espírito Emmanuel. Brasília: FEB, 1939.

segunda-feira, 30 de abril de 2018

O LIVRO DE JONAS



O LIVRO DE JONAS

Jonas é o quinto dos Profetas Menores, cujo empenho foi sempre no sentido contrário. Não fazia o que um profeta deveria fazer.


O Livro de Jonas é uma narrativa poética em prosa hebraica. A mensagem trazida por Jonas é vista pelos primeiros cristãos como símbolo de ressurreição e salvação, onde "Deus salvou o profeta do perigo mortal dele para salvar, por meio dele, um povo gentio". A mensagem usa a ironia até a beira do sarcasmo, pois, Jonas é o antiprofeta que não quer ir aonde o Senhor o envia, nem dizer o que Ele lhe ordena. Trata, portanto, de uma lição sapiencial do profeta teimoso.

Será que quando nos desviamos do caminho e entramos em lugares que não deveríamos o nosso "GPS Divino" recalcula a rota? Parece que sim e essa, também, parece ser a mensagem depreendida do Livro de Jonas, uma vez que a VONTADE DE DEUS será feita na Terra como nos Céus!


Nossa história começa quando o filho de Amati  (Bíblia de Jerusalém) recebe a Palavra de Deus que o envia a Nínive, que é a capital de  um Império agressor e expansionista,  para nela proclamar que a maldade daquela grande metrópole chegara ao fim.

Mas, não é que Jonas resolve fugir para Társis! Assim, desce a Jope onde pega um barco. O seu propósito é ficar longe do Senhor. Então, paga o preço para embarcar. Apesar de não encontrarmos nenhuma informação do autor desse Livro, suspeita-se que a fuga é empreendida em razão do medo que toma conta de Jonas, pois, não seria uma tarefa fácil. Imagine você só e contra um império!


Jonas, então, tendo empreendido a fuga e estando alojado naquele barco eis que O Senhor envia um vento impetuoso (que figura como ministros de Deus,  conforme o Salmo 104:4), o qual levanta uma furiosa tempestade (expressão que representa a manifestação divina nas narrativas bíblicas), a ponto de o barco quase naufragar. Mas, Jonas pensava que estava longe do Senhor. É que, naquele tempo se acreditava que O Senhor habitava em Sião.


Naquele barco, os marinheiros, temendo a tempestade e o mar revolto pelo vento, cada qual gritava ao seu próprio deus, ao mesmo tempo em que lançavam apetrechos no mar para aliviar o navio. Em razão do politeísmo, para a maioria das culturas, não havia apenas Um Deus, mas, diversos deuses.


Jonas, todavia, estando ao fundo do navio, dormia profundamente e a ele chega o capitão da embarcação o acordando e manda que grite (no sentido de proclamar) o teu Deus para que se compadeça de todos e evite o naufrágio onde todos morreriam.


Nesse mesmo tempo, os marinheiros lançavam sorte (costume da época: Js 7; 1Sm 14; Pr 16:33) para ver quem era o culpado por aquela calamidade. Interessante que o autor dessa narrativa nos conta que os marinheiros, a um só tempo, estavam apavorados com a tempestade, lançavam apetrechos no mar para aliviar o peso da embarcação, oravam aos seus deuses e lançavam sorte para saber de quem era a culpa pela tempestade e, ainda irão interrogar o culpado.

Mas, não obstante esse pequeno detalhe, a culpa caiu sobre Jonas, que foi interrogado sobre os motivos daquela calamidade. Jonas afirmou ser hebreu e adorar o Senhor Deus do céu que fez o mar e a terra firme. Os marinheiros, apavorados, compreenderam que Jonas fugia do Senhor (tudo em razão do que ele declarou) e questionaram sobre o que fazer para que o mar agitado se acalmasse. Ele, então, respondeu que seria necessário levantá-lo e lança-lo ao mar, uma vez que ele também sabia que foi por culpa dele que sobreveio a furiosa tempestade.


Apesar de não se encaixarem as perguntas e as respostas, é importante perceber que Jonas reconheceu sua missão (ir a Nínive) e ofereceu sua vida em favor daqueles marinheiros (pois, não seria justo que eles pagassem pelo desvio cometido por Jonas, o qual não foi proclamar em Nínive a Palavra do Senhor).


Todavia, os marinheiros tentaram remar para fugir da tempestade e não fizeram o que fora dito por Jonas de imediato. O caso é que não conseguiram alcançar terra firme, o mar continuou revolto. Nessa hora, invocaram o Senhor e disseram para que Ele não os fizesse responsáveis por sangue inocente, pois, o Senhor poderia fazer o que quisesse. Levantaram Jonas no ar e o lançaram ao mar, e o mar se acalmou em sua fúria. Assim, aqueles pelos quais Jonas dava sua própria vida eram os mesmos que o lançavam ao mar. Contudo, precisamos perceber que ao contrário de suplicarem aos deuses como faziam antes, agora, depois da confissão de Jonas, todos adoraram ao Deus Único, ao Senhor Deus de Jonas.

Em verdade, os marinheiros temeram O Senhor e lhes ofereceram sacrifícios, fazendo votos. E é dessa forma que a imprevista tarefa missionária de Jonas foi um êxito, pois, fugiu do Senhor, mas, ao mesmo tempo pregou em seu nome aos pagãos. Nos parece assim que o livre-arbítrio não é tão livre assim, pois, o "GPS de Jonas recalculou a rota”.

Mas, ainda não era a hora de Jonas e sua salvação veio pela misericórdia do Senhor que enviou em seu socorro um gigantesco peixe para que tragasse Jonas (o engolisse). E Jonas ficou no seu ventre por três dias e três noites. Durante esse período Jonas rezou ao Senhor Deus dizendo que Ele o havia expulsado de sua presença, mas, pedia para ver novamente o seu santo templo. Afirmou, ainda, que Deus tirou sua vida da cova e prometeu cumprir seus votos e lhe ser leal gritando em ação de graças que “a salvação vem do Senhor”.

O peixe, por ordem do Senhor, vomitou Jonas em Terra firme (salvação, conforme Sl 18:17-20). JONAS, ENTÃO, ESTAVA EM NÍNIVE, exatamente a cidade que Deus queria que ele estivesse. Nesse momento Jonas percebe que é impossível fugir de Deus, o máximo que conseguiu foi escapar da morte.

Novamente o Senhor manda que Jonas anuncie o que Ele disser. Jonas, então, caminha pela cidade por um dia dizendo: DENTRO DE 40 DIAS NÍNIVE SERÁ ARRASADA!

Após ter feito o anúncio como Deus havia mandado, Jonas saiu da cidade, se instalou no oriente e fez uma cabana. Ali aguardava o destino de Nínive.  Enquanto isso O Senhor fez crescer uma mamoneira para que fizesse sombra à cabeça Jonas para que não morresse de insolação. Jonas se encantou com a mamoneira.

Ao amanhecer do dia seguinte Deus enviou um verme que danificou a mamoneira e ela secou. Ao esquentar do sol Deus enviou um vento oriental sufocante. O sol abrasou a cabeça de Jonas e o fez desmaiar. JONAS DESEJOU A MORTE dizendo: “É melhor morrer que viver”. Deus, então, disse a Jonas: “e vale a pena irritar-se pela mamoneira?”. Jonas respondeu: “Ah, se vale! Mortalmente”.

O Senhor replicou: “Tu tens compaixão de uma mamoneira que não te custou cultivá-la, que brota numa noite e na outra morre e eu não vou ter compaixão de Nínive, a grande metrópole, em que habitam mais de cento e vinte mil homens que não distinguem a direita da esquerda, e muitíssimo gado?”.

É que, após o anúncio de Jonas, os ninivitas creram em Deus, proclamaram jejum e se vestiram de pano de saco, pequenos e grandes. A mensagem chegou ao rei de Nínive que se levantou do trono e mandou proclamar um decreto real e da corte com o seguinte teor: “Homens e animais, vacas e ovelhas não provem nada, não pastem, nem bebam; homens e animais se cubram com pano de saco. Invoquem fervorosamente a Deus; cada qual se converta de sua má vida e de suas ações violentas. Vamos ver se Deus se arrepende, cessa o incêndio e sua ira e não perecemos”. (no decreto real percebe-se que a criação diante de Deus é igual, pois, os animais foram convidados ao jejum, Sl 36:7; conversão e arrependimento vale para israelitas e pagãos, Ex 32:14; Jr 26:13; 36:7; Jr 18:7s).


Diante da atitude dos habitantes de Nínive Deus não enviou nenhuma catástrofe. Vendo isto Jonas sentiu um grande desgosto, ficou irritado, pois Deus o deixou como mentiroso. E, segundo o profeta Jeremias, 28:9, um profeta é acreditado quando a sua profecia se cumpre.

E foi por isso que Jonas fugiu da presença de Deus quando lhe foi determinada a missão. Jonas sabia que o Senhor “é um Deus compassivo e clemente, paciente e misericordioso”, que ameaça, mas, não cumpre.


Por isso, Jonas disse que era melhor morrer que viver e pediu que o Senhor lhe tirasse a vida, pois, com um Deus justo se podem fazer contas e prever o resultado; Mas, com um Deus misericordioso não se pode fazer cálculos, porque Ele é capaz de perdoar aos maiores adversários, deixando prejudicado o profeta.


Tendo perdido todo o crédito profissional Jonas não queria continuar vivendo. Deus, então, perguntou a Jonas: valeria a pena irritar-se?

O Livro de Jonas ensina que se o homem é capaz de ter misericórdia por algo que não criou, mas lhe apraz, mais razão tem Deus de ter misericórdia por tudo que criou, pois, não há limites para o Amor de Deus.

Nessa passagem o Profeta Jonas é confrontado com seus próprios interesses. Deve pesar se eles são magnânimos ou mesquinhos? Numa análise mais ampla confronta àqueles que se creem bons e desprezam os maus.


Deixa-nos um ponto para reflexão: o que significa ser profeta de um Deus misericordioso?


Para uma análise mais profunda remetemos o leitor para o diálogo entre o Pai com o Irmão Mais Velho em Lucas 15:32, onde conta-se a história dos Dois Irmãos (o Filho Pródigo e o Filho Egoísta).


Supõe-se que o Livro de Jonas, constituído por 04 capítulos e 48 versículos, tenha sido escrito em torno de 800 a.C., uma vez que em 2Rs 14:25 o profeta aparece com nome e sobrenome, anterior a Jeroboão (782-753).

A obra pode ser uma alusão à relutância da nação judaica no cumprimento de sua missão para com os gentios, pois, ensina que Deus é Soberanamente Bom e Justo, cuja Misericórdia alcança aos que se voltam a Ele com coração puro e sincero, independente do critério de nacionalidade ou religião.


Pode ser também, uma profecia referente ao FILHO OBEDIENTE, ou o Segundo Adão nas palavras de Paulo, que viria cumprir a missão que a saga bíblica demonstra, por meio das personagens, que nunca é cumprida na sua integralidade, uma vez que a figura humana está sempre afastada da União e Integração com o Criador. Pois, como no Livro de Jonas, os interesses humanos dos "missionários bíblicos" nem sempre são magnânimos.


Várias passagens desse Livro nos remetem a Jesus: 


a) Jonas é enviado para confrontar um império agressor e expansionista; Jesus, da mesma forma, com o império romano; 


b) Jonas deve divulgar que o mal daquele império chegara ao fim; Jesus Cristo, conforme mensagem contida no item 5 do Capítulo VI do Evangelho Segundo o Espiritismo, é o vencedor do mal;


c) Jonas sabia que o Senhor “é um Deus compassivo e clemente, paciente e misericordioso”; Jesus também sabia; Todavia, Jonas se preocupou com o prestígio humano, Jesus serve a Deus;


d) Jonas queria pregar para um tipo de Justiça: a que promete e cumpre, isto é, uma justiça que exterminaria Nínive; Jesus, como no item do Evangelho acima mencionado, diz: "Meu Pai não quer aniquilar a raça humana. Ele quer que, ajudando-vos uns aos outros [...] sejais socorridos [...];


e) Jonas sabia da própria culpa e que as "tempestades" vinham em razão dos seus atos, mas teve medo de se oferecer em sacrifício; Jesus não tinha culpa alguma e se ofereceu para nossa redenção;

f) Jonas foi tragado por aquele "peixe gigantesco" e ficou em seu ventre por três dias e três noites, depois foi cuspido para a terra firme; Jesus foi crucificado no Planeta Terra e enterrado pelo mesmo período, pois venceu a morte segundo a carne, "porque a morte não existe";


g) Jonas ouve de Deus que Ele terá compaixão de Nínive, a grande metrópole, em que habitam mais de cento e vinte mil homens que não distinguem a direita da esquerda; Jesus, por sua vez, ensina no Capítulo 26 do Livro Boa Nova, intitulado A Negação de Pedro que "o homem do mundo é mais frágil do que perverso".


Mas, as possibilidades são variadas e você poderá "ver" outras ligações. Então, conta pra gente sua experiência e nos informe outras variáveis.

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