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terça-feira, 25 de maio de 2021

YVERDON-LES-BAINS: RIVAIL E PESTALOZZI SE ENCONTRAM

 

Fonte: Internet (Google). Representação do exército de Napoleão no frio.

3ª PARTE

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No ano de 1812 os franceses invadem a Rússia com mais de seiscentos mil homens. O exército lutava contra um inverno rigoroso, um longo caminho de volta e o seu desabastecimento de provisões. Chegou a perder cerca de quatrocentos mil homens.

Com o enfraquecimento do exército, em 1814, seus inimigos ficaram animados a invadir a França. E é assim que Prússia, Rússia, Reino Unido e Áustria formam uma aliança e levam a guerra para o solo francês. Ain é um dos departamentos invadidos, pois, havia o objetivo inimigo de tomar a cidade de Lyon.

Mas, o bravo povo de Bresse forma uma resistência contra os austríacos, prendendo e matando alguns. Em retaliação o burgo é saqueado pelos austríacos. Logo que Paris foi tomada, Napoleão abdicou do poder. A família de Rivail, aflita, sofria com a guerra que tomou as ruas de sua cidade. Hippolyte contava, então, com a idade de 11 anos. Jeane-Louise, sua mãe, havia perdido um casal de filhos e experimentou uma gravidez de grande risco para ter o terceiro filho.


Temerosa, portanto, Jeane-Louise, junto a Rivail, que agora era tudo para sua mãe, tomam a estrada para a Suíça e na cidade de Yverdon, cantão de Vaud, chegam no Castelo onde funcionava o Instituto de Pestalozzi.

Ali estudavam cerca de cento e cinquenta alunos, cuja metade era constituída de estrangeiros, dentre os quais franceses, ingleses, brasileiros e estadunidenses. Verdadeira mistura de línguas e culturas.

No instituto havia o grupo de alunos que podiam pagar pelos estudos e o grupo que estudaria de graça. O pagamento dos primeiros permitia o estudo dos demais. Jeanne considerou que sua família tinha condição de pagar. Para tanto, no ano de 1815 colocou um imóvel à venda, o que custearia as despesas com a educação de Rivail.

A vida dos alunos em Yverdon era dotada de grande liberdade, portas do castelo abertas e o clima de uma verdadeira família. O período de aulas era de dez horas diárias e cada aula era ministrada no prazo de uma hora, seguida de intervalo.

As atividades, regadas de recreações, desenvolviam-se em práticas, como natação, ginástica, jardinagem e outros trabalhos manuais. No período noturno, entre dezenove e vinte horas, havia uma aula livre, onde os alunos correspondiam com os pais, desenhavam ou adiantavam seus deveres.

O estudo de geografia ocorria durante caminhas pelos campos e montanhas. A botânica consistia no estudo de plantas nos lugares onde nasciam. As datas festivas integravam os alunos à sociedade. Também havia aulas de canto, sempre presentes durantes os recreios e passeios.

A pedagogia de Pestalozzi nem de longe copiava Santo Agostinho. Não havia qualquer modalidade de castigo ou recompensas. Nada era obtido por meio de coação ou medo. A disciplina era conquista da afeição e do dever sincero. Fruto do amor com o qual todos eram recebidos. As crianças aprendiam e se desenvolviam pelo próprio interesse.

No castelo de Yverdon, sob a orientação de Pestalozzi, todos os jovens aprendiam por meio de suas próprias descobertas. Aprendiam a aprender, como também a ensinar. Os próprios alunos tornavam-se educadores. Como relata o próprio Pestalozzi: "obrigado a instruir sozinho, sem outros para ajudar naquela tarefa, aprendi a arte do ensino mútuo" (SOËTARD, 2010). Havia naquela escola, portanto, a verdadeira liberdade de pensar.

Compreender a pedagogia de Pestalozzi e sua influência no homem em que se transformaria Rivail não é tão difícil. Uma das citações presentes no meio espírita é que toda análise deve passar pelo crivo da razão, da lógica e do bom-senso. A base do ensino de Pestalozzi passava por essa ideia. Ante a gama de percepções que chegam ao aprendiz pelos sentidos, tudo de maneira caótica e desconexa, a conquista da informação e sua apreensão pela memória é uma conquista da lógica e da razão.

Não adianta obrigar ninguém a aprender nada. Decorar e memorizar sem que seja uma conquista do trabalho lógico da razão não é sinônimo de conhecimento. As informações permanecerão amontoadas na memória e a pergunta "qual a utilidade" ficará sem resposta.

Para Pestalozzi, o esforço, a observação e a meditação permitem que a descoberta seja fruto do trabalho pessoal do aluno de aprender a apreender. Esse processo considera a intuição como fundamento do conhecimento e da instrução. Seria uma espécie de visão mental; a faculdade de ver ou discernir mentalmente aquilo que não se pode perceber por meio dos sentidos.

Conforme FIGUEIREDO (Maat, 2016) "a educação de Pestalozzi certamente foi responsável por Rivail adquirir a prática da investigação aliada à liberdade de pensamento, recursos fundamentais para sua futura carreira como pedagogo que também o qualificavam adequadamente para a sua liderança frente ao espiritismo".

Sobre o castelo que abrigou o Instituto de Pestalozzi, vale a pena salientar que, depois do ano de 1838, passou a abrigar uma escola pública, com a criação de novas salas de aula, erguendo-se paredes e divisórias, janelas adicionais, que mudaram a fachada do castelo. 

Depois do ano de 1950, essas salas de aula foram gradualmente abandonadas. Em 1974 saíram as últimas classes. Restaurou-se a estrutura medieval do castelo, que hoje é um centro cultural que abriga um museu regional, um teatro e várias salas de conferências, bem como a mais antiga biblioteca pública da Suíça (1763).

A formação de Rivail continua, pois, são várias as influências que recebeu na sua formação. Mas, esta é outra história.

Uberaba-MG, 25 de maio de 2021.
Beto Ramos

Fontes: Além das citadas, também, Wikipédia.


segunda-feira, 24 de maio de 2021

INFÂNCIA E INFLUÊNCIA DO MEIO NA OBRA DE RIVAIL - O EDUCADOR

Fonte: Internet (Google). Castelo de Yverdon.

2ª PARTE

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A vila de Saint-Denis era um local muito visitado e os seus próprios moradores gostavam de passear por aquela região. Não deveria ser diferente com a família Rivail, pois, a beleza natural rodeava o seu lar.

Burg-en-Bresse possuía grandes construções que ostentavam valor turístico e histórico. O real monastério de Brou, então Igreja de Brou, foi uma destas construções mais visitadas de toda a França naquela época.

Praças, fontes, hospital e hotéis, como o Marron de Meillonnas (de 1770) são destaques na pequena, mas, aconchegante região central da localidade. As crianças viviam em meio aos animais, esquilos, doninhas, ouriços e outros, assim como aves. O pica-pau era morador comum.

Para os ávidos dos detalhes e estudiosos da história do espiritismo, a informação a seguir é preciosa. O burgo, ou unidade administrativa francesa onde cresceu o pequeno Rivail, leva Bresse em seu nome. Trata-se de um termo da cultura celta que significa lama, argila.

Conta-se que no ano de 1817, quando, então, seria construída uma prisão na cidade, o castelo dos duques de Saboia foi demolido. Entre as suas fundações foi localizado um monumento dos druidas, onde destacava-se um círculo de grandes pedras onde dolmens se apoiavam.

Sabemos que Rivail escolheu um antigo nome druida para usar como pseudônimo em suas obras: Allan Kardec. Quem acaso visite o túmulo onde repousam os restos mortais do Codificador do Espiritismo, certamente, verá uma imitação daquele monumento encontrado em Burg-en-Bresse.

No campo da cultura, a cidade possuía um belo teatro, vasta e rica biblioteca e, também, um colégio. Esse último, fundado em 1649, foi conduzido por jesuítas e, mais tarde, por professores leigos. A partir de 1801, o físico Ampere figurou entre eles, ali permanecendo por alguns anos.

Aquela pequena localidade abrigou a Sociedade Imperial de Emulação de Ain, criada em 1783, cujo objetivo era lidar com literatura, ciências, agricultura, belas artes e história. Dotada de jornal, oferecia prêmios e possuía coleções valiosas, sendo, inclusive, consultada pelo governo do departamento. Rivail, em 1818, seria nomeado membro correspondente dessa sociedade.

Em uma de suas obras, cujo título é Plano para melhoria da Educação Pública da França, no ano de 1828, aos 24 anos de idade, Rivail relata o que ele considerava uma educação ideal. Eis uma informação que poucos espíritas conhecem e que está relacionada com a teoria espírita que viria a lume a partir da década de 50 daquele século.

O ambiente de aprendizado deveria ser uma bela região, que proporcionaria vida campestre unida à ocupações sérias, onde o aprendiz teria aula de historia natural do campo. A instrução ocorreria por meio de conversações e durante passeios pelo campo. O educador levaria seus alunos em viagens para estudo. Eles próprios experimentariam o contato com os costumes dos povos visitando lugares históricos.

Percebe-se que Rivail estava falando de sua infância e da influência que recebeu do meio em sua obra. O educador descrevia nada menos que sua infância em Burg-en-Bress.

Sua pedagogia direciona o educador para proporcionar às crianças, desde cedo, ideias sobre história natural, física e química. Coisas como estátuas, quadros, plantas, animais e fenômenos da natureza que poderiam testemunhar, até mesmo uma pedra, interessam ao universo do educando. A atenção da criança está desperta. Por suas perguntas é possível tirar partido de sua inteligência e com ela lidar convenientemente para torná-lo autônomo. Não seria outra a proposta do espiritismo.

Pelas ideias depositadas em sua obra como educador francês é possível perceber a influência e as características de sua terra natal na sua formação acadêmica. Em 1834, Rivail escreveu que é importante fixar a atenção da criança sobre o que se passa à sua volta, a fim de que ela perceba o que vê, o que ouve e o que faz. Forçando-a a pensar, tudo será natural e terá explicações simples, tudo se compreendendo através da razão.

O educador, portanto, idealizava uma postura autônoma para a criança, a fim de que estivesse pronta para exercer a crítica diante de qualquer área. Estimulada à aquisição do conhecimento, sempre que estiver diante de evidências novas, por estar sempre pronta a aprender, a criança manteria sempre uma mente aberta. 

Rivail (1834) desejou, ainda, que a criança conheça o movimento dos astros e que seu espírito penetre no espaço e, assim, ela não será indiferente a tudo que maravilha o seu olhar, como fazem os brutos. Não acreditará em almas do outro mundo, nem em fantasmas, não acreditará em ledores de sorte, não verá no movimento dos astros qualquer presságio de funestos acontecimentos, enfim, seu espírito se alargará contemplando o espaço imenso e sem limites.

Bem antes de tornar-se o Codificador do Espiritismo, Rivail já apresentava ideias lúcidas sobre algo que poderíamos chamar: um estilo de vida.

(Continua)

Uberaba-MG, 24 de maio de 2021.

Beto Ramos


Bibliografia:

FIGUEIREDO, Paulo Henrique. Revolução Espírita - A teoria esquecida de Allan Kardec. São Paulo (SP): Maat, 2016.

sábado, 22 de maio de 2021

A VIDA NO CAMPO DE RIVAIL NO "MAISON DE MAITRE" EM SAINT-DENIS-LES-BOURG



Fonte: Imagens da internet (Google). Casas onde viveu Vitor Hugo, na França.

1ª PARTE

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Conforme narra FIGUEIREDO (Maat, 2016), o pequeno RIVAIL passou sua infância numa localidade chamada Saint-Denis-les-Bourg, que ficava no ambiente rural de Bourg-en-Bresse. Nesse lugar residiam, aproximadamente, 600 (seiscentos) moradores. Por sua importância, contava com sua própria Igreja.

No século 19 havia casas com uma arquitetura toda particular. Eram as chamadas 'Maison de Maitre'. Típicas da época, essas casas eram muito grandes. Nelas residiam advogados, médicos e outros integrantes da elite rural.

Essas casas possuíam grandes janelas na sua fachada e eram construídas com mais de um andar e a maioria possuía 03 (três). A porta central ficava diante de pequeno lance de escadas na entrada. O acesso à propriedade era feito transpondo um enorme portão de ferro forjado.

Propriedades como esta possuíam várias salas, lavanderia, estábulos para animais, pátio, jardim, área para crias e para plantios, além de vários terrenos à sua volta. Do ponto de vista do morador dessa casa era possível ver extensas pradarias amarelas, ampla planície, plantações de trigo e outros grãos, principal produto da economia local da época.

Jeane-Louise Duhamel, a Senhora Rivail, conforme publicação do Journal de l'Ain, n. 56, de 10 de maio de 1826, colocava a casa onde morava com sua mãe para alugar, descrevendo-a aos interessados.

A vila de Saint-Denis ficava no centro de um grande bosque, cortado por diversos riachos ladeados por salgueiros formando veios tortuosos por onde se podia caminhar, pisando em pedras e saltando os trechos estreitos. Muita sombra, pescaria abundante, jardins regados pelo rio Veyle e o barulho característico dos moinhos movidos pelo rio servindo às moendas de trigo. Imagine o jovem Rivail crescendo no meio dessa paisagem.

Uma pequena cidade, cheia de história, teve no famoso astrônomo francês Lalande, nativo de Bourg, um grande fomentador da cultura. Além da diversão, Rivail tinha um ambiente de extraordinária oportunidade para aprender.

O lugar, de clima difícil, muito frio em certas épocas do ano, também tinha um calor abafado característico nos demais períodos. Por vezes, a cidade era coberta por denso nevoeiro. Seus habitantes, camponeses tradicionais, eram generosos de coração, mas muito desconfiados dos que chegavam para visitas à cidade.

Entre personalidades famosas que visitaram a cidade ao longo da história vamos encontrar a nobreza, reis e imperadores. Francisco I, Henry IV, Napoleão Bonaparte, Charles X, o Duque de Orleans e Napoleão III caminharam pelas ruas de Bresse.

(Continua)

Uberaba-MG, 22 de maio de 2021.

Beto Ramos

DESTAQUE DA SEMANA

A DOUTRINA DOS ESPÍRITOS NÃO É ASSUNTO QUE SE ESGOTA EM UMA PALESTRA

  EM SUAS VIAGENS KARDEC MINISTRAVA ENSINOS COMPLEMENTARES AOS QUE JÁ POSSUIAM CONHECIMENTO E ESTUDO PRÉVIO. Visitando a cidade Rochefort, n...