Espiritismo:
ciência da observação
Vários são os temas presentes na Codificação da Doutrina Espírita que podem ser estudados a fim de que o pesquisador possa atestar que Allan Kardec não fazia sobre nenhum tema o que chamamos vulgarmente de “tábula rasa”.
Como ele próprio afirma somente após obter todas as respostas acerca dos assuntos, considerando-os globalmente, estudando-os por todos os ângulos, refutando ou aceitando estudos anteriores, não admitindo de imediato todas as respostas dos Espíritos, é que Kardec elaborava conceitos, dissertações, teorias. Vários são os temas que continuam no campo do ensaio.
De outro lado, mesmo após o uso do
método da observação, quando o tema havia se consolidado e a matéria já
amadurecida, o Codificador não se comprometia a manter ad eternum uma opinião formada sobre tudo. Deixava, sempre, espaço
para corrigir eventuais enganos, equívocos e erros. Foi o que ocorreu com o
fenômeno da possessão.
Na Revista Espírita de 1858, Allan irá conceituar os fenômenos da obsessão, da subjugação e da fascinação (nessa ordem). Já, em O Livro dos médiuns, manterá algumas opiniões, apresentará outras que, e mudará a ordem estabelecida na RE/1858 para obsessão, fascinação e subjugação.
Tudo isto ocorria à medida que progredia a Ciência Espírita e Kardec ia fazendo constatações por meio da Observação.
N’O Livro dos Médiuns falou sobre o domínio de alguns Espíritos inferiores sobre certas pessoas, além de apresentar conceitos para as principais variedades de obsessão, desde a simples, passando pela fascinação, até a subjugação.
Interessante
ressaltar que nesta obra, traz-se o pensamento de que na subjugação há constrangimento
moral, como uma fascinação, e casos mais agudos onde o
constrangimento é físico.
Percebemos que de uma obra a outra,
de ano a outro, à medida que observa, interroga e analisa, o Codificador vai
enriquecendo as conceituações, às vezes modulando para cima ou para baixo, por
assim dizer, a teoria que está sendo construída.
Tanto na Revista Espírita como em O Livro dos Médiuns Kardec irá afirmar que possessão, um nome vulgarmente conhecido, não seria senão sinônimo de subjugação. Explicou, inclusive, por quais motivos a expressão não poderia ser usada.
A
mais interessante é onde afirma que a expressão dá ideia de apoderamento de um
corpo por um Espírito estranho, uma espécie de coabitação, quando havia somente
constrangimento. Até 1858 pensava que o fenômeno denominado possessão, onde a
vontade é afetada e a razão obliterada, tratava-se fascinação aguda.
Todavia, como ensina o Codificador o indivíduo frio e impassível vê as coisas
sem se deixar enganar: combina, pesa, amadurece e não é seduzido por nenhum
subterfúgio; o que lhe dá força. Veremos, portanto, que o pensamento de
Kardec sobre o tema irá evoluir, uma vez que o mesmo não se encontrava seduzido
por nenhum subterfúgio.
No ano de 1860, conforme relata na Revista Espírita de Novembro, o Codificador estuda um caso de obsessão física onde percebe que o Espírito encarnado tomava a aparência de um Espírito desencarnado.
Em 1862, o relato daquele jornal de estudos psicológicos fala
sobre a epidemia demoníaca em Saboya,
onde uma população fica sob o efeito de um tipo de obsessão, aparentando
sintomas de alienação mental.
Em abril de 1862 Allan Kardec vai registrar que os Espíritos não só agem sobre o pensamento, mas, também, sobre o corpo, com o qual se identificam e do qual se servem como se fosse seu.
Note-se
aqui uma gradual e perceptível evolução da compreensão do fenômeno, pois, o
registro é no sentido de que o Espírito encarnado se encontra afetado pela
subjugação de um Espírito estranho que o domina.
Mas, é no ano de 1863, precisamente
no mês de Dezembro, onde Allan Kardec fará uma correção de rumo e, portanto, reconsiderar
seu pensamento sobre a possessão. Nesse caso ele escreve que seu pensamento,
que fora posto quase que de forma absoluta, precisa ser reconsiderado, pois, lhe
foi demonstrado que pode haver verdadeira possessão.
Trata-se do caso conhecido como de possessão da senhoria Júlia onde Kardec
atende pessoalmente. Por se tratar de um assunto importante para o estudante do
Espiritismo, não vamos apresenta-lo integralmente nesse espaço e remetemos os
interessados à RE DEZ/1863, mas, deixar a informação de que o Codificador
constatou que a possessão é um estado transitório de substituição parcial de um
Espírito encarnado por um Espírito errante, onde o Espírito encarnado se afasta
momentaneamente do corpo ao qual está permanentemente ligado enquanto vive.
Pela observação e prática do
Espiritismo, atuando diretamente no caso, usando todo o seu conhecimento da
Doutrina e o auxílio dos Espíritos que trataram do tema na Sociedade Espírita,
Allan Kardec comprovou a existência de uma anomalia física, semelhante à
alienação mental, somente explicada pelo Espiritismo. Falou da modalidade aguda
de sofrimento da vítima, do processo de possessão e da cura, enfatizando que
conhecimento não basta, mas, também, a força moral.
Após o minucioso estudo sobre o
tema, por aproximadamente 15 (quinze) anos, a conclusão será feita no capítulo
XIV, Os Fluídos, tema obsessões e possessões, na Obra A Gênese de 1868, ao qual
remetemos o nosso atento leitor sedente pelo conhecimento completo da Doutrina
Espírita.
Uberaba – MG, 09 de junho de 2020.
Beto Ramos