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domingo, 5 de fevereiro de 2023

TUDO QUE VOCÊ FAZ VOLTA PARA VOCÊ? NÃO É VERDADE!

Não é necessário pesquisar muito para encontrar frases do tipo: "tudo que você faz volta para você; isto te assusta ou te conforta?". É muito comum ouvir dizer: "a lei do retorno é infalível". Não é preciso muito para compreender que todas essas afirmações, apesar de antigas na história do gênero humano, cuja autoria se perdeu na noite das eras, são falsas, uma vez que não há nenhuma confirmação científica a respeito.

O fato é que não passam de afirmações absurdas, cuja base é a premissa do observável em leis que regem a matéria. Partiu-se do movimento dos astros, da matemática, da física e da química. Ocorre que tais leis regem as coisas materiais. Quando falamos do gênero humano, estamos diante de Espíritos (almas desencarnadas) ou seres humanos (almas encarnadas).

Quem afirma que tudo que você faz volta para você, está afirmando que há uma lei de causa e efeito, pressupondo fatalidade, atração irresistível e uma lei infalível que rege os destinos da humanidade, confundindo-se com o que se convencionou denominar KARMA.

Karma ou carma em sânscrito significa uma ação ou obra e seu efeito. Para os hindus trata-se de um princípio de causa e efeito, também chamado de princípio do carma, em que a intenção e as ações de um indivíduo (causa) influenciam o futuro desse indivíduo (efeito), como uma retribuição moral. Nesse sentido, boas ações contribuem para um bom carma (e renascimentos mais felizes), enquanto que más ações redundam em um mau carma (e maus renascimentos).

Para desenvolvimento desta reflexão importa saber se o Espiritismo valida a ideia de que tudo que você faz volta para você. Vamos prosseguir, mas já adiantando que essa hipótese é falsa. NÃO É VERDADE QUE TUDO QUE VOCÊ FAZ VOLTA PARA VOCÊ.

Primeiramente, em Espiritismo NÃO HÁ lei de causa e efeito, como já demonstrados aqui. A grande LEI que rege o universo é a da CONTINUIDADE. Esta lei nos remete a outra, de natureza moral, a lei do progresso. Destarte, conforme o item 11, capítulo 6, da obra A Gênese, "a natureza jamais se opõe a ela mesma".

Isto porque "nos degraus da vida, desde o último dos seres até Deus, vige uma lei de continuidade". As forças contidas em cada ser da criação forma, no conjunto, uma série. A soma de todas as forças, se confunde com a própria geratriz (ou criador). E essa a lei universal. Nesse sentido, a lei de continuidade importa em outra lei: a lei de harmonia.

Há, ao mesmo tempo, unidade (da harmonia da criação) e variedade (infinita dos seres). Segundo o item 15 da obra e capítulo mencionado "o mundo em seu surgimento, não se apresentava em sua força e plenitude de vida; não, o poder criador não se contradiz nunca e, como todas as coisas, o universo nasceu criança".

Aprendemos nessa fonte de pesquisa que a base do sistema do mundo físico é a IMORTALIDADE DAS ALMAS. Motivo pelo qual se afirma que, no espetáculo da criação, só ela é verdadeira. Veja-se que em O Livro dos Espíritos aprendemos que o mundo material poderia não ter existido, pois o espiritual é o primitivo. Contudo, o objetivo das obras da criação é despertar o pensamento e a inteligência.

Dessa forma, os seres descobrem, nos mundos que habitam, o poder e a sabedoria de Deus (o Criador dos mundos). Nesse processo cabe indagar: há solidariedade entre as almas? O que, de fato, reúne todos os seres enquanto FAMÍLIA HUMANA que habita os diversos mundos? Em primeiro lugar, os encontros se dão em razão das funções de vida (encontros temporários), para, após sucessivas reencarnações, haver reunião por simpatia (novos e duradouros encontros).

É assim que solidariedade e fraternidade, cujos significados ainda não são entendidos, vão se fortalecendo. Trata-se da irradiação do Espírito divino que envolve todo o universo, que permanece como modelo primitivo e último da perfeição espiritual (A Gênese, capítulo 6, item 56).

Bem entendidos esses fundamentos, vamos à FALÁCIA. Por que é FALSO afirmar que TUDO o que você faz volta para você de maneira inexorável?

Segundo o item 61 e seguintes da obra A Gênese (FEAL, 1868), "[...] quero falar do poder infinito da natureza e da ideia, que devemos fazer de seu modo de agir nas diversas partes do imenso universo".

"Habituados como estamos a julgar as coisas segundo nossa pobre e pequena morada dentro de regras que temos reconhecido na Terra", é imprescindível reconhecer a VERDADE UNIVERSAL de que "[...] a natureza toda-poderosa age conforme os lugares, os tempos e as circunstâncias". Se a natureza se conforma a lugares, tempos e circunstâncias, é falso pretender uma lei de Karma, destino ou causa e efeito. Portanto, não, tudo o que você faz não volta mesmo para você.

Observe que a natureza é única em sua harmonia geral, mas múltipla em suas produções (A Gênese, capítulo 6, item 63 - FEAL, 1868). "[...] Assim como nenhum rosto de homem é igual ao outro, em todo gênero humano também uma diversidade prodigiosa tem sido espalhada pelas moradas etéreas [...]" (idem, item 64).

A ciência humana só alcançou a noção matemática da séria das coisas secundárias e não lhe foi possível olhar face-a-face a CAUSA PRIMEIRA. (idem, item 58). Se nossas premissas alcançam somente coisas secundárias (Física), não há como pretender aplicá-las às coisas primárias (Metafísica).

Como afirmado acima, a matéria é objeto da atividade do Espírito para o DESENVOLVIMENTO DE SUAS FACULDADES, quais sejam: senso moral, razão, vontade, imaginação e livre-arbítrio (A Gênese, capítulo 6, item 10).

Por meio do corpo físico, que é instrumento do Espírito, este adquire novas aptidões. Nesse sentido, vai necessitar de novo invólucro, o qual ele aperfeiçoa, desenvolve e completa (falamos aqui do organismo físico), cuja finalidade é adaptar-se às novas necessidades.

Esse processo é progressivo: à medida que o Espírito experimenta a necessidade de manifestar novas faculdades pelas sucessivas reencarnações. Pensamos que as faculdades são despertadas e após, o Espírito sente necessidade de adaptar o seu instrumento para o melhor uso.

Vejamos porque o universo não é reativo, mas progride à medida que o seu habitante progride. A reação é ato ou efeito de reagir; comportamento de um ser vivo manifestado em presença de estímulo. Na Física trata-se de uma força da mesma magnitude, mas oposta a uma outra.

Por outro lado, em Espiritismo reação e consequência não são sinônimos. Nesta sede, consequência não é algo produzido por uma causa. Trata-se de um conjunto de condições. A consequência é o efeito, ou resultado desse conjunto de condições.

Para o Espírito, a consequência será o resulto encontrado após avaliar suas encarnações anteriores, o planejamento do seu futuro e a tomada de novas resoluções que vão guiá-lo na próxima reencarnação.

Conclui-se que a consequência deriva de um raciocínio lógico, de inferência, de dedução, de ilação. Como nenhum Espírito é igual ao outro, não haverá, em caso algum, consequência inevitáveis ou inexoráveis. Teremos progresso, experiência e instrução: continuidade, harmonia e progresso.

Lembramos que, segundo o item 11, capítulo 6 de A Gênese (FEAL, 1868), "a natureza jamais se opõe a ela mesma". É preciso, então, saber: o que constitui o ser espiritual? Segundo aprendemos na obra citada, item 23, capítulo 11, não é a sua origem, mas os atributos especiais dos quais está dotado, quando entra na humanidade (e é isso que faz dele um ser distinto dos demais), ponto este em que está dotado do SENSO MORAL e do LIVRE-ARBÍTRIO, quando começa a exercer RESPONSABILIDADE por seus atos.

Observamos que, chegado ao estado de alma humana com liberdade de ação, o Espírito possui CONSCIÊNCIA DOS ATOS, o que não significa que tem LUCIDEZ DE CONSCIÊNCIA.

Todavia, para analisar os próprios atos, o Espírito desencarnado que prepara novas experiências, procede assim:

1. Examina o que fez durante sua encarnação;

2. Passa em revista o que aprendeu;

3. Reconhece suas faltas;

4. Elabora seus planos para as futuras reencarnações;

5. Toma resoluções pelas quais conta conduzir-se em uma nova existência, tratando de fazer O SEU MELHOR.

Resumindo: para cada Espírito, cada existência é um passo adiante no caminho do progresso, uma ESPÉCIE de escola de educação. Porém, como se observa na obra O Céu e o Inferno, reconhecimento de culpa, arrependimento, expiação e retorno sincero ao bem não é processo simples e cada Espírito leva um tempo mais ou menos longo para completa-lo em relação a cada imperfeição que reconhece à medida que progride.

Portanto, NÃO, o que você faz não volta para você como uma lei inexorável, pois, o Espírito simples e ignorante não possui moral e inteligência, não tendo, assim, responsabilidade pelos seus atos.

Além do mais, consciência dos atos não importa em consciência lúcida, pois, é, ainda, na medida em que a alma goza de seu livre-arbítrio [que] sua responsabilidade cresce em razão do desenvolvimento de sua inteligência (Allan Kardec, Revista Espírita de 1864).

Claro que a lei é "a cada um segundo suas obras". Mas, o Espiritismo ensina que o  Espírito somente é responsabilizado conforme o esclarecimento que já tenha adquirido. Não se trata de uma responsabilização EXTERNA ao Espírito (heteronomia). Trata-se do exame de consciência que faz (autonomia), como o processo acima delineado. A responsabilidade é sempre proporcional à elevação e conhecimento adquirido pelo Espírito (inevitável lei do progresso).

Segundo a questão 262.a de O Livro dos Espíritos, Deus sabe esperar, não apressa a expiação. A Lei é de Progresso. Há uma INEXORÁVEL continuidade, sem a qual não haveria harmonia no universo.

Podemos afirmar que, em relação aos seres espirituais, o universo não é reativo, pois vige a harmonia entre a unidade e a variedade dos seres. Nenhum Espírito, portanto, desarmoniza a natureza.

Conforme a questão 132 da obra ora citada, a encarnação é meio para os Espíritos chegarem à perfeição. Conforme desenvolve sua inteligência, a responsabilidade do Espírito cresce. Cada um avalia a encarnação do seu ponto de vista, para uns é missão e para outros é expiação.

De acordo com a questão 166 de O Livro dos Espíritos, a reencarnação tem finalidade expiatória, ocasião em que o Espírito progride, se transforma, se despoja das impurezas.

O número de reencarnações varia de Espíritos para Espíritos. Uns avançam mais rápido e outros nem tanto, mas, as reencarnações são sempre numerosas. A ideia não é de reação, mas de consequência.

Você já havia meditado sobre esse tema. Compreende, agora, porque o Espiritismo não adota a teoria ou lei do Karma (carma)? Deixe sua contribuição.

Uberaba-MG, 05/02/2023
Beto Ramos

quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

MOVIMENTO PLANETÁRIO PARA O PROGRESSO MORAL

 

Há sinais de que, na Terra, "tende a se estabelecer uma nova ordem de coisas, e os homens que são seus maiores opositores, sem saber, contribuem para isso"?

Podemos afirmar que está surgindo uma geração desembaraçada das escórias do velho mundo e que é formada de elementos mais depurados, animada de ideias e sentimentos diferentes dos que a geração presente demonstra?

Será que o velho mundo, logo, estará morto e viverá apenas na história, como ocorreu com os tempos da idade média, com seus costumes bárbaros e suas crenças supersticiosas?

Por incrível que pareça, todas as respostas a estas indagações são afirmativas. Encontramos essa bela dissertação na obra A Gênese, de Allan Kardec, 1868 (FEAL, 2018), no capítulo 18, Os Tempos São Chegados.

No final do item 7 o organizador do Espiritismo escreve:

"No entanto, todos sabem quanto deixa a desejar a atual ordem de coisas. Após, de certa forma, ter se esgotado o bem-estar material que a inteligência pode produzir, se compreenderá que o complemento desse bem-estar só pode estar no desenvolvimento moral. Quanto mais se avança, mais se sente o que falta, entretanto, sem poder ainda definir claramente: trata-se do trabalho íntimo que se opera pela regeneração. Tem-se desejos, aspirações que são como o pressentimento de um estado melhor".

Chama a atenção a observação de Allan Kardec quanto aos acontecimentos que permeiam esse processo:

"Contudo, uma troca tão radical como essa que se elabora não pode se cumprir sem comoção. Há uma inevitável luta entre as ideias. Desse conflito nascerão forçosamente perturbações temporárias até que o terreno esteja limpo e o equilíbrio, restabelecido. Assim, da luta de ideias surgirão os graves acontecimentos anunciados, e não de cataclismos ou catástrofes PURAMENTE materiais. Os cataclismos gerais eram as consequências do estado de formação da Terra, e atualmente não se agitam mais as entranhas do globo, mas as da humanidade".

Observando os acontecimentos dos dias atuais seria possível identificar movimentos, isto é, agitações da humanidade?

Em substancioso artigo, disponível na internet em A ATUAL CRISE DO CAPITALISMO, Reinaldo A. Carcanholo (professor do programa de pós-graduação em Política Social da Universidade Federal do Espírito Santo) afirma:

"A verdade é que vivemos em um regime que significa uma verdadeira tragédia para importante porção da humanidade, ao lado da pobreza para grande parte do restante. O período do colapso da atual etapa e o futuro do capitalismo só aumentarão a tragédia. Acreditar no retorno de um capitalismo capaz de crescimento sustentável e até de concessões aos trabalhadores é crer em ilusões; divulgar ideias nesse sentido é disseminar falsas esperanças. A perspectiva reformista produz um grande dano político. O capitalismo de amanhã só poderá ser pior do que o de hoje. Em nossos dias, para a humanidade, o capitalismo teoricamente está morto, é necessário matá-lo historicamente. E isso será muito difícil, mas não impossível."

Não estaríamos, segundo o estudo apresentado, diante do  que Kardec descreveu como o prelúdio do esgotamento do tal bem-estar material, que exige os esforços da humanidade para ser superado pelo desenvolvimento moral?

Responde-se positivamente a essa indagação. Contudo, é importante lembrar que o "progresso de cada parte do conjunto é relativo ao seu grau de adiantamento" (A Gênese, Allan Kardec, 1868 (FEAL, 2018), capítulo 18, item 9, Os Tempos São Chegados).

Há uma luta entre as ideias e isto se comprova por meio do estudo publicado na Revista Internacional Educon (ISSN 2675-672, vol. 2, n. 3, set/dez 2021), cujo título é "O Negacionismo: uma Crise Social da Relação com a “Verdade” na Sociedade Contemporânea", que esclarece:

"O que está em jogo no negacionismo e na crise da relação com a verdade, porém, não é apenas a ciência e seu ensino: é o espírito crítico, a liberdade de pensamento, a convivência democrática, a possibilidade de um mundo comum, compartilhado por pessoas diferentes. O que está em jogo, em todas as disciplinas da escola, e também na educação pelos pais e na forma como a sociedade trata os jovens, é a questão que Charlot levantou no seu livro Educação ou Barbárie? (Charlot, 2020). Formas antigas de barbárie estão voltando: nacionalismos agressivos, fundamentalismos religiosos excludentes, celebração das armas, da sobrevivência dos mais fortes e da morte dos mais fracos. Formas novas de barbárie estão invadindo o espaço público: cyberbullying, assédio e ódio nas redes sociais. O negacionismo é a forma epistemológica da barbárie contemporânea".

Todavia, apesar da luta de ideias nos dias atuais, Allan Kardec afirmou ainda no século 19 que "o progresso intelectual realizado até hoje, em grandes proporções, constitui um grande passo e marca a primeira fase da humanidade, mas sozinho é impotente para regenerá-la. Enquanto o homem estiver dominado pelo orgulho e egoísmo, utilizará sua inteligência e seus conhecimentos em proveito de suas paixões e de seus interesses pessoais" (Idem, item 16).

E não é exatamente o que se verifica no atual século 21? A bem dizer, o que se verifica não é o "aperfeiçoamento dos meios de prejudicar os outros e de destruição mútua" (ibidem)? Constata-se positivamente o vaticínio de Kardec.

Hoje, o negacionismo, como meio de prejudicar e destruir o próximo, distancia-se da crença estabelecida nas verdades eternas, que, não sujeitas à discussão, seriam aceitas por todos. O trabalho de esclarecimento, pois, está no início e exige o esforço de todos, uma vez que:

"Somente o progresso moral pode assegurar a felicidade dos homens sobre a Terra, colocando um freio às más paixões; só ele pode fazer reinar entre todos a concórdia, a paz, a fraternidade [...] Um tal estado de coisas supõe uma troca radical de sentimento das massas, um progresso geral que só poderia ocorrer saindo-se do círculo de ideias mesquinhas e triviais que alimentam o egoísmo".

A verdade é que ainda haverá choro e ranger de dentes. A batalha pela regeneração da humanidade coloca, lado-a-lado, os detentores das ideias progressivas e maduras e os refratários, que combatem as ideias novas como subversivas.

Nesse sensível movimento planetário para o progresso moral, é possível observar uma luta entre a geração de Espíritos refratários e a geração dos Espíritos que, mesmo não regenerados, amadureceram para as ideias de convivência fraterna, igualitária e solidária?

Responde aí nos comentários.


Uberaba-MG, 01/12/2022
Beto Ramos.

segunda-feira, 21 de novembro de 2022

O CONHECIMENTO ESPÍRITA PERMITE MUDAR DE OPINIÃO?

De maneira simples, a mudança de opinião consiste em deixar um pensamento, até então tido como certo, para assumir uma ideia nova. Trata-se, na verdade, da capacidade humana de adaptação ao novo. Para tanto, é necessário ter a mente aberta para novos conhecimentos, o que implica, também, ver-se na situação de constante aprendizado.

Partindo dessa premissa, indagamos: o conhecimento espírita permite mudar de opinião? A resposta, por mais simples que possa parecer, requer antes de tudo, saber se:

a) O Espiritismo é dogmático ou permite a reflexão?

b) A teoria espírita é de autonomia e liberdade ou é de heteronomia e obediência?

c) O ensino pelos Espíritos de sua ciência, que permitiu organizar uma verdadeira Doutrina, foi ministrado a um só tempo ou de maneira progressiva?

d) A revelação espírita é centralizada em uma só entidade ou é produto do trabalho coletivo com participação humana? É de origem apenas divina ou, também, humana?

e) Compreender o espiritismo exige fé cega ou raciocinada? Como se conduz o indivíduo em um e em outro caso?

Poderíamos, evidentemente, trazer um longo questionário antes de buscar responder se o espírita pode ou não mudar sua opinião à medida que conhece, estuda e busca compreender a Doutrina dos Espíritos e sua ciência.

No entanto, um exemplo poderá arrastar muito mais que as complexas respostas dadas pelos sofistas que procuram macular a Doutrina dos Espíritos, com suas ideias mirabolantes, que induzem ao campo da religião positiva e dogmática ancestral.

Desse modo, é o próprio organizador do Espiritismo quem vai nos dar um belo exemplo. Em um de seus artigos na Revista Espírita de Outubro de 1858, Allan Kardec discorreu sobre sua compreensão acerca do tema 'possessão'. No caso, apresentou sua teoria e hipóteses para não aceitá-la, uma vez que implicaria na ideia de seres especializados e votados ao mal para a eternidade, os chamados demônios, bem como por induzir à ideia de uma 'coabitação' em um mesmo corpo físico por dois Espíritos, como se pode observar:

"Para nós, a possessão seria um sinônimo de subjugação. Se não adotamos esse termo, foi por dois motivos: primeiro, porque implica a crença em seres criados e votados perpetuamente ao mal, mas apenas existem seres mais ou menos imperfeitos e todos podem melhorar; segundo, porque pressupõe igualmente a ideia de tomada de posse do corpo por um Espírito estranho, uma espécie de coabitação, quando só há constrangimento. A palavra subjugação traduz perfeitamente esse pensamento. Dessa forma, para nós, não existem possessos no sentido vulgar do termo, mas tão somente obsidiados, subjugados e fascinados". (Kardec, Allan. Revista espírita: ano primeiro: 1858 pp. 372-373, FEB. Edição do Kindle).

No entanto, adquirindo conhecimento doutrinário espírita, estudando com afinco, investigando a ciência dos Espíritos e formulando os princípios e postulados espíritas, Kardec escreve sobre Um Caso de Possessão - Senhorita Júlia, onde esclarece:

"Dissemos que não havia possessos no sentido vulgar do termo, mas subjugados. Queremos reconsiderar esta asserção, posta de maneira um tanto absoluta, já que agora nos é demonstrado que pode haver verdadeira possessão, isto é, substituição, embora parcial, de um Espírito encarnado por um Espírito errante". (Revista Espírita, Dezembro/1863). 

E, de modo definitivo, Kardec discorre sobre obsessão e possessão na obra A Gênese, de 1868, especialmente nos itens 45, 46, 47, 48 e 49 do Capítulo XIV, Os Fluidos, em que deixa clara e cristalina sua compreensão acerca do fenômeno.

Com tal exemplo, o propósito desse artigo parece ter sido alcançado no sentido de responder:

- Sim, o conhecimento espírita permite mudar de opinião, pois, se Allan Kardec não se envergonhou de corrigir e mudar sua opinião, predispondo-se a não impor qualquer restrição por orgulho, vaidade ou prepotência ao seu processo de raciocinar e aprender, nenhum obstáculo há para o espírita sincero e sequioso do conhecimento doutrinário que se depara com informações novas, lógicas e razoáveis, fruto do estudo sério e da observação.

Você sabia que o conhecimento espírita é progressivo e que Kardec recalculou a rota em várias oportunidades sem, por isso, se envergonhar?

E você, está pronto para mudar de opinião?

Uberaba-MG, 21/11/2022
Beto Ramos

quarta-feira, 1 de junho de 2022

SINAIS DOS TEMPOS

 


Grandes eventos serão realizados com o propósito de regenerar a humanidade. Sendo vigente no universo a lei de harmonia, é preciso compreender que Deus não é um arbitrário interventor, pois que isso confronta a ideia de uma suprema sabedoria divina.

O planeta, sujeito à Lei do Progresso, transforma-se fisica e moralmente. No primeiro caso, pelos seus componentes e, no segundo, pela depuração dos Espíritos. No entanto, no campo da ciência e no campo da moral, o progresso não caminha lado-a-lado.

O que o nosso século reclama é que o movimento progressivo atinja o ápice de fazer reinar entre a humanidade a caridade, a fraternidade e a solidariedade que vão assegurar o bem-estar moral. Muitas instituições, ultrapassadas, não atendem mais às necessidades do gênero humano, que reclama ultrapassar esses obstáculos.

Estamos diante do estabelecimento de uma nova ordem de coisas, uma nova ordem mundial. A contradição que se opera é que aqueles que são os maiores opositores à essa nova ordem, sem saber, contribuem para que o progresso moral seja atingido de modo mais célere.

De um lado temos o que se pode denominar de geração futura, desembaraçada das escórias do velho mundo, formada por elementos mais depurados, animada por ideias e sentimentos distintos daqueles que se apresentam na geração velha e ultrapassada. Destarte, o velho mundo estará morto e viverá apenas na história. Aliás, como ocorreu com os tempos da Idade Média com seus costumes bárbaros e suas crenças supersticiosas.

Estamos diante do ocaso e do esgotamento do tão almejado bem-estar material que a inteligência pode produzir. É hora de se compreender e se produzir o complemento: o desenvolvimento moral. Todos estão sentindo no íntimo essa necessidade, ou melhor, essa falta. Tudo somente podendo ser atingido através do trabalho íntimo, o qual se opera somente pela regeneração. Todos desejam, aspiram e pressentem que é possível atingir um estado melhor.

Há, sem dúvida, uma inevitável luta de ideias. Desse processo resulta, com toda certeza, perturbações. Essas perturbações, dolorosas por sinal, são temporárias. Vão persistir até que o terreno esteja limpo, equilibrado, restabelecido. Dessas lutas de ideias surgirão os graves acontecimentos anunciados.

Aqueles que esperam cataclismos ou catástrofes serão surpreendidos por um cataclismo moral, o qual vai devorar em poucos instantes as instituições do passado. Assim, de imediato, haverá a inesperada sucessão da velha ordem pela NOVA ORDEM QUE SE ESTABELECE AOS POUCOS, na medida em que a calma se restabelece e se torna definitiva.

Para os que puderem viver e observar bastante as duas versões da nova fase, parecerá que um mundo novo saiu das ruinas do velho. O caráter, os costumes, os hábitos, tudo mudado. Seres humanos melhores e regenerados. Ideias velhas que serão levadas pela geração que se extingue dando lugar para as ideias novas da geração que surge.

A nossa humanidade chegou a um desses períodos de transformação. Sugiro que você se prepare. Essa transformação te convida à participar ativamente. Trata-se do crescimento moral da humanidade. SEJA BEM VINDO AO FUTURO ou... desapareça com o passado.


Uberaba-MG, 01/06/2022
Beto Ramos

Fonte:
KARDEC, Allan. A Gênese - 1868. Cap. 18 - Os tempos são chegados. São Paulo: FEAL, 2018.

quinta-feira, 16 de setembro de 2021

OBRAS PÓSTUMAS NÃO É UM LIVRO DOUTRINÁRIO


ALLAN KARDEC
E O
CONTEÚDO
DE
OBRAS
PÓSTUMAS


É bastante comum observamos no movimento espírita brasileiro o uso do conteúdo de Obras Póstumas para justificar esse ou aquele posicionamento relacionado à Doutrina Espírita.

Nesse sentido, é lícito indagar: o conteúdo de Obras Póstumas é produto do trabalho de Allan Kardec? Para responder não basta lançar mão de uma opinião pessoal, é preciso deter um conjunto de conhecimentos prévios sobre o Espiritismo.

Em discurso pronunciado no túmulo de Allan Kardec, por ocasião de seu falecimento e diante de seus restos mortais, Camille Flammarion começa dando testemunho 'do relevante serviço que o autor de O Livro dos Espíritos prestou à filosofia, provocando a atenção e a discussão de fatos até então pertencentes ao domínio mórbido e funesto das superstições religiosas". 

Mais à frente no seu longo discurso Flammarion esclarece que Allan Kardec preferiu "constituir um corpo de doutrina moral a ter aplicado a discussão científica à realidade e à natureza dos fenômenos".

Tudo isso para conferir a Allan Kardec o título de "o bom senso encarnado". É, portanto, nesse sentido que pretendemos objetar ao conteúdo de Obras Póstumas ser labor de Kardec para constituir e tomar parte da Doutrina dos Espíritos, uma vez que, como afirma Camille, "o Espiritismo não é uma religião, mas uma ciência".

Afastado o caráter religioso, é preciso recordar que Kardec, na Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita, afirmou que "O Livro dos Espíritos contém a Doutrina Espírita; como generalidade liga-se ao Espiritualismo, do qual apresenta uma das fases".

Para fundamentar nossa tese definiremos as palavras Doutrina e Filosofia. Doutrina é o conjunto coerente de ideias fundamentais que compõem um sistema filosófico a serem transmitidas, ensinadas. Filosofia é a ciência que investiga a dimensão essencial e ontológica do mundo real, ultrapassando a opinião irrefletida do senso comum, o qual é escravo da realidade empírica (materialismo).

Na apresentação da obra O Céu e o Inferno por ocasião da notícia de seu lançamento, à guisa de prefácio, na Revista Espírita de setembro de 1865, Kardec esclarece como produzia uma obra. Afirmou que "como nossos outros escritos sobre a doutrina espírita, aí nada introduzimos que seja produto de um sistema preconcebido, ou de uma concepção pessoal, que não teria nenhuma autoridade: tudo aí é deduzido da observação e da concordância dos fatos".

Ali, também, Kardec indicou o conteúdo de cada obra publicada sobre o Espiritismo. O Livro dos Espíritos contém as bases fundamentais do Espiritismo cujo conteúdo é desenvolvido em outras obras. O Livro dos Médiuns e o Evangelho Segundo o Espiritismo se apresentam, sobre os princípios fundamentais, como pontos de vistas especiais, onde se deduzem todas as consequências e todas as aplicações à medida que se desenrolavam pelo ensino complementar dos Espíritos e por novas observações.

Importa remeter o leitor à uma nota de Kardec na Introdução de O Evangelho Segundo o Espiritismo, item I, objetivo da obra, em que afirma:

"Poderíamos dar, sem dúvida, sobre cada assunto, maior número de comunicações obtidas numa multidão de outras cidades e centros espíritas, além dos que citamos. Mas quisemos, antes de tudo, evitar a monotonia das repetições inúteis, e limitar a nossa escolha às que, por seu fundo e por sua forma, cabem mais especialmente no quadro desta obra, reservando para publicações posteriores as que não entraram aqui".

Cumpre, ainda, esclarecer qual era o critério de Kardec para publicação do Ensino dos Espíritos. Essa metodologia é que proporciona verificar a autoridade da Doutrina Espírita. Trata-se do controle universal do Ensino dos Espíritos. 

Antes de qualquer publicação Kardec usava o controle da razão, ao qual submetia tudo o que vinha dos Espíritos, sem exceção. O que encontrasse obstáculos no bom-senso, além do controle da razão, também submetia-se ao controle da lógica rigorosa. Mas, tudo isso, afirma Kardec, ainda era insuficiente para muitos casos, uma vez que muitos indivíduos não possuem conhecimento suficiente para o uso desse critério. Depreende-se que a análise das comunicações demanda domínio de várias áreas do conhecimento, bem como da Filosofia e da Lógica.

Por isso, além dos critérios acima, era necessário buscar a concordância no ensino dos Espíritos. Essa concordância requer espontaneidade nas comunicações, cuja fonte deve ser um grande número de médiuns, estranhos uns aos outros, e provenientes de diversos lugares. Outro critério de Kardec é o da prudência na publicação de qualquer informação. Não sendo atendidos todos os passos de seu método, aquilo que ele julgasse necessário publicar era publicado, mas, sempre com a advertência de que o fazia como opinião pessoal individual com a necessidade de comprovação.

Voltemos agora ao conteúdo de Obras Póstumas. Como se sabe esse livro foi publicado 20 anos depois da morte de Kardec. O que era importante publicar foi feito por Kardec em vida, conforme o método acima observado, no tempo oportuno e nas obras mencionadas. Haveria, então, alguma outra obra que Kardec gostaria de publicar?

Segundo Camille Flammarion, antes de morrer Allan Kardec trabalhava numa obra cujo conteúdo trataria de magnetismo e espiritismo. Ora, onde estão esse manuscritos? Por que esse conteúdo não seria mais importante que aquele de Obras Póstumas? Haveria interesses contrapostos à Doutrina dos Espíritos pelos 'continuadores' daquela sociedade criada pelo codificador?

Pois bem. Nada, absolutamente nada, sobre o tema que era estudado por Kardec foi publicado com tal indicação pelos mesmos publicadores do conteúdo de obras póstumas. O conteúdo dessa obra, portanto, seria fruto do trabalho de Kardec? A resposta é NÃO.

O fato de que os textos tenham sido encontrados nas gavetas de Kardec podem possuir valor do ponto de vista da história do espiritismo. Sua divulgação deveria ocorrer na integralidade e não com supressão de partes, pois isto indica interesse escuso ou, ao menos, estranho.

O trabalho de Kardec era organizar as informações advindas dos Espíritos e de interesse geral para a humanidade. O que possui caráter pessoal, segundo Kardec só é de interesse do destinatário. Mas, observamos que Obras Póstumas contém comunicações com a inscrição: particular.

Aliás, boa parte do conteúdo de Obras Póstumas tem natureza pessoal e não coletiva. Questionamos, então.

Por qual motivo Kardec não havia publicado esse conteúdo em vida? Teria dúvidas sobre o mesmo? Seria relevante para o público em geral? Passaram pelo crivo do controle universal? Kardec aguardava confirmação? Seria material para a história do espiritismo? Por que os 'continuadores' não publicaram o material referente a magnetismo e espiritismo tratado no discurso de Camille Flammarion no túmulo de Kardec?

Para comprovar nossa tese verificamos, conforme as imagens a seguir, que o conteúdo publicado em Obras Póstumas sofreu supressão (ou seria adulteração?). A seguir trazemos o conteúdo original , um manuscrito que tivemos a honra de ser agraciados com a imagem pelo Projeto Cartas de Kardec - FEAL, com o qual colaboramos, onde o Codificador conversa com um Espírito acerca de uma possível modificação na obra A Gênese.

Vamos recordar que há uma discussão/denúncia sobre existência de diferenças  retumbantes no conteúdo dessa obra entre a 4ª e 5ª edições, em que se discute a 'autoria' da mudança feita na 5ª edição (para facilitar, apresentamos, também, a tradução do manuscrito, o qual indicamos a leitura atenta):


O 'conteúdo' publicado em Obras Póstumas tratando do assunto desse mesmo manuscrito, referindo à mesma comunicação, além de sua reprodução com supressão de conteúdo, tem a flagrante constatação (na qual o leitor poderá observar por si mesmo, bastando a leitura atenta):




No manuscrito original, advindo do acervo da família de Canuto Abreu (em poder da FEAL), vê-se que a informação é distorcida. É lícito a qualquer estudante indagar qual o objetivo disto. Veja que no original a indicação é que o Espírito e Allan Kardec falavam sobre a Obra A Gênese. Falavam sobre o assunto alteração. Mas, o importante é verificar que estão tratando das 3ª e 4ª edições. Em Obras Póstumas, com o conteúdo modificado e suprimido, reportam-se à "4ª e 5ª". Nesse caso, a polêmica atribuída a Henri Sausse, levantada por Paulo Henrique de Figueiredo e pela FEAL na atualidade, não é produto de pessoas que postulam divisão no espiritismo, mas, seriedade com o conteúdo doutrinário. O mínimo que podemos fazer é atentar para a advertência e para as evidências ora apresentadas.

Convidamos o (a) leitor (a), após comparar os conteúdos ora publicamos, que reflita sobre a nossa afirmação derradeira:

O conteúdo de obras póstumas não é da lavra de Allan Kardec e não pertence ao conjunto publicado que contém a Doutrina dos Espíritos, poderá servir, se os documentos forem publicados integralmente, para compor a história do espiritismo, nada mais.

Uberaba-MG, 16/09/2021
Beto Ramos.







terça-feira, 9 de junho de 2020

Progressão do Aprendizado do Ensino dos Espíritos

Espiritismo: ciência da observação

Vários são os temas presentes na Codificação da Doutrina Espírita que podem ser estudados a fim de que o pesquisador possa atestar que Allan Kardec não fazia sobre nenhum tema o que chamamos vulgarmente de “tábula rasa”.

Como ele próprio afirma somente após obter todas as respostas acerca dos assuntos, considerando-os globalmente, estudando-os por todos os ângulos, refutando ou aceitando estudos anteriores, não admitindo de imediato todas as respostas dos Espíritos, é que Kardec elaborava conceitos, dissertações, teorias. Vários são os temas que continuam no campo do ensaio.

De outro lado, mesmo após o uso do método da observação, quando o tema havia se consolidado e a matéria já amadurecida, o Codificador não se comprometia a manter ad eternum uma opinião formada sobre tudo. Deixava, sempre, espaço para corrigir eventuais enganos, equívocos e erros. Foi o que ocorreu com o fenômeno da possessão.

Na Revista Espírita de 1858, Allan irá conceituar os fenômenos da obsessão, da subjugação e da fascinação (nessa ordem). Já, em O Livro dos médiuns, manterá algumas opiniões, apresentará outras que, e mudará a ordem estabelecida na RE/1858 para obsessão, fascinação e subjugação. 

Tudo isto ocorria à medida que progredia a Ciência Espírita e Kardec ia fazendo constatações por meio da Observação.

N’O Livro dos Médiuns falou sobre o domínio de alguns Espíritos inferiores sobre certas pessoas, além de apresentar conceitos para as principais variedades de obsessão, desde a simples, passando pela fascinação, até a subjugação.

Interessante ressaltar que nesta obra, traz-se o pensamento de que na subjugação há constrangimento moral, como uma fascinação, e casos mais agudos onde o constrangimento é físico.

Percebemos que de uma obra a outra, de ano a outro, à medida que observa, interroga e analisa, o Codificador vai enriquecendo as conceituações, às vezes modulando para cima ou para baixo, por assim dizer, a teoria que está sendo construída.

Tanto na Revista Espírita como em O Livro dos Médiuns Kardec irá afirmar que possessão, um nome vulgarmente conhecido, não seria senão sinônimo de subjugação. Explicou, inclusive, por quais motivos a expressão não poderia ser usada. 

A mais interessante é onde afirma que a expressão dá ideia de apoderamento de um corpo por um Espírito estranho, uma espécie de coabitação, quando havia somente constrangimento. Até 1858 pensava que o fenômeno denominado possessão, onde a vontade é afetada e a razão obliterada, tratava-se fascinação aguda.

Todavia, como ensina o Codificador o indivíduo frio e impassível vê as coisas sem se deixar enganar: combina, pesa, amadurece e não é seduzido por nenhum subterfúgio; o que lhe dá força. Veremos, portanto, que o pensamento de Kardec sobre o tema irá evoluir, uma vez que o mesmo não se encontrava seduzido por nenhum subterfúgio.

No ano de 1860, conforme relata na Revista Espírita de Novembro, o Codificador estuda um caso de obsessão física onde percebe que o Espírito encarnado tomava a aparência de um Espírito desencarnado.

Em 1862, o relato daquele jornal de estudos psicológicos fala sobre a epidemia demoníaca em Saboya, onde uma população fica sob o efeito de um tipo de obsessão, aparentando sintomas de alienação mental.

Em abril de 1862 Allan Kardec vai registrar que os Espíritos não só agem sobre o pensamento, mas, também, sobre o corpo, com o qual se identificam e do qual se servem como se fosse seu.

Note-se aqui uma gradual e perceptível evolução da compreensão do fenômeno, pois, o registro é no sentido de que o Espírito encarnado se encontra afetado pela subjugação de um Espírito estranho que o domina.

Mas, é no ano de 1863, precisamente no mês de Dezembro, onde Allan Kardec fará uma correção de rumo e, portanto, reconsiderar seu pensamento sobre a possessão. Nesse caso ele escreve que seu pensamento, que fora posto quase que de forma absoluta, precisa ser reconsiderado, pois, lhe foi demonstrado que pode haver verdadeira possessão.

Trata-se do caso conhecido como de possessão da senhoria Júlia onde Kardec atende pessoalmente. Por se tratar de um assunto importante para o estudante do Espiritismo, não vamos apresenta-lo integralmente nesse espaço e remetemos os interessados à RE DEZ/1863, mas, deixar a informação de que o Codificador constatou que a possessão é um estado transitório de substituição parcial de um Espírito encarnado por um Espírito errante, onde o Espírito encarnado se afasta momentaneamente do corpo ao qual está permanentemente ligado enquanto vive.

Pela observação e prática do Espiritismo, atuando diretamente no caso, usando todo o seu conhecimento da Doutrina e o auxílio dos Espíritos que trataram do tema na Sociedade Espírita, Allan Kardec comprovou a existência de uma anomalia física, semelhante à alienação mental, somente explicada pelo Espiritismo. Falou da modalidade aguda de sofrimento da vítima, do processo de possessão e da cura, enfatizando que conhecimento não basta, mas, também, a força moral.

Após o minucioso estudo sobre o tema, por aproximadamente 15 (quinze) anos, a conclusão será feita no capítulo XIV, Os Fluídos, tema obsessões e possessões, na Obra A Gênese de 1868, ao qual remetemos o nosso atento leitor sedente pelo conhecimento completo da Doutrina Espírita.

Uberaba – MG, 09 de junho de 2020.

Beto Ramos

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

A GÊNESE - por São Luís

Esta obra vem na hora certa, na medida em que a doutrina está hoje bem estabelecida do ponto de vista moral e religioso. Seja qual for a direção que tome de agora em diante, tem precedentes muito arraigados no coração dos adeptos, para que ninguém possa temer que ela se desvie de seu caminho.

O que importava satisfazer antes de tudo, eram as aspirações da alma; era suprir o vazio deixado pela dúvida nas almas vacilantes em sua fé. Esta primeira missão hoje está cumprida. O Espiritismo entra atualmente em uma nova fase; ao atributo de consolador, alia o de instrutor e diretor do espírito, em ciência e em filosofia, como em moralidade. A caridade, sua base inabalável, dele fez o laço das almas ternas; a Ciência, a solidariedade, a progressão, o espírito liberal dele farão o traço de união das almas fortes.

Conquistou os corações que amam com armas de doçura; hoje viril, é às inteligências viris que se dirige. Materialistas, positivistas, todos os que, por um motivo qualquer, se afastaram de uma espiritualidade cujas imperfeições suas inteligências lhes mostravam, nele vão encontrar novos alimentos para sua insaciabilidade.

A Ciência é sua senhora, mas uma descoberta chama outra, e o homem avança sem cessar com ela, de desejo em desejo, sem encontrar completa satisfação. É que o Espírito também tem suas necessidades; é que a alma mais ateísta tem aspirações secretas, inconfessadas, e que essas aspirações reclamam seu alimento.

A religião, antagonista da Ciência, respondia pelo mistério a todas as questões da filosofia céptica. Ela violava as leis da Natureza e as adaptava à sua fantasia, para daí extrair uma explicação incoerente de seus ensinamentos. Vós, ao contrário, vos sacrificais à Ciência; aceitais todos os seus ensinamentos sem exceção e lhe abris horizontes que ela supunha intransponíveis.

Tal será o efeito desta nova obra; não poderá senão assegurar mais os fundamentos da crença espírita nos corações que já a possuem, e fará dar um passo à frente para a unidade a todos os dissidentes, à exceção, entretanto, dos que o são por interesse ou por amor próprio; esses o vêem com despeito sobre bases cada vez mais inabaláveis, que os lançam para trás e os rechaçam na sombra.

Só havia pouco ou nenhum terreno comum onde se pudessem encontrar. Hoje, o materialismo vos acotovela por toda parte, porque estando em seu terreno, não estareis menos no vosso, e ele não poderá fazer outra coisa senão aprender a conhecer os hóspedes que lhe traz a filosofia espírita. É um instrumento de duplo efeito: uma sapa, uma mina que ainda derruba algumas ruínas do passado, uma colher de pedreiro que edifica para o futuro.

A questão de origem que se prende à Gênese é para todos uma questão apaixonada. Um livro escrito sobre esta matéria deve, em conseqüência, interessar a todos os espíritos sérios. Por esse livro, como vos disse, o Espiritismo entra numa nova fase e esta preparará as vias da fase que mais tarde se abrirá, porque cada coisa deve vir a seu tempo. Antecipar o momento propício é tão prejudicial quanto deixá-lo escapar.

Paris, 18 de dezembro de 1867 – Médium: Sr. Desliens (RE FEV/1868).

DESTAQUE DA SEMANA

A DOUTRINA DOS ESPÍRITOS NÃO É ASSUNTO QUE SE ESGOTA EM UMA PALESTRA

  EM SUAS VIAGENS KARDEC MINISTRAVA ENSINOS COMPLEMENTARES AOS QUE JÁ POSSUIAM CONHECIMENTO E ESTUDO PRÉVIO. Visitando a cidade Rochefort, n...