Talvez
uma das grandes dificuldades enfrentadas pelos Espíritas é afirmar o
Espiritismo como ciência. Nos dias atuais não encontramos o mesmo “clima
acadêmico” da época de Kardec. Além disto, poucos sabem, verdadeiramente,
situar o Espiritismo como ciência no próprio tempo em que viveu o Codificador
da Doutrina Espírita.
Nesse
sentido, os que buscam afirmar o Espiritismo como ciência, nos dias de hoje,
ficam com certas dificuldades quando indagados acerca do caráter materialista
da ciência tradicional que exige a prova
experimental. Quem poderá responder
que o Espiritismo é, rigorosamente, do ponto de vista científico, quanto à sua
elaboração, uma ciência experimental?
O
estudante, ao pesquisar, irá se deparar com o dilema enfrentado pelos
precursores da ideia espírita cujo objeto de investigação é o mesmo da ciência metafísica, um subgrupo das ciências filosóficas que, de acordo com a
classificação aceita no período contemporâneo a Kardec, pertencia ao grande
grupo das Ciências Morais. Na
atualidade não se verifica essa divisão que se perdeu no caminho da “evolução”
científica.
Possuir essa informação faz toda a diferença. A dificuldade gira em torno do objeto de
pesquisa: Deus, alma, matéria, psicologia
racional, cosmologia racional e teologia racional. O Filósofo Paul Janet perguntará: como poderia o absoluto ser estudado de
maneira experimental?
A
princípio, considera-se ciência as que partem por construção do que “deve
ser” e não daquilo que “é na realidade”. O ponto de
partida, após a experiência, se conclui em determinado resultado, o que permite
conhecer fatos e fenômenos. Ou, ainda, o processo pelo qual há uma ocorrência fortuita
e casual quando considerada isoladamente, mas, necessária e inevitável ao ser
relacionada às causas que lhe deram origem.
Sendo
a metafísica abstrata e ideal, cujo objeto de pesquisa ultrapassa o objeto de
investigação da ciência concreta, a
priori, não poderia ser o resultado da experiência. Para muitos, é possível
que não seja nem mesmo ciência, vez que “não
seria possível nem pela razão, nem pela experiência”.
A
solução desse problema, primeiramente, ocorreu por meio da aplicação do método reflexivo, isto é, o resultado da
pesquisa não seria produto da imaginação, mas, da observação, onde, para além
da ideia de concepção das coisas, há verdadeira sensação e percepção.
Mas,
Allan Kardec, superou essa teoria e comprovou que os fenômenos espíritas eram
passíveis de experimentações materiais. E, o que é mais notável, tais
experiências demonstrariam resultados positivos. Até o advento do Espiritismo
acreditava-se que o método experimental,
aplicado às ciências e responsável pelos seus progressos, era somente aplicado
à matéria. Kardec provará que esse método, também, pode ser aplicado às coisas
metafísicas.
A
grande revolução do conhecimento está no fato de que as ideias metafísicas podem
ser observadas e experimentadas. O processo é simples. Os Espíritos
comunicam-se por meio dos médiuns e transmitem conhecimento. Esses
conhecimentos referem-se ao mundo espiritual. Os Espíritos tratam do ambiente físico
em que vivem, das leis naturais que regem esse ambiente e de suas experiências
dos fenômenos que lhes ocorrem, os quais são percebidos por meio dos sentidos
de seu corpo espiritual.
Estamos
diante de dois novos ramos do conhecimento humano:
a) Epistemologia
espírita: método
fundamentado de Kardec usado para pesquisar e compreender nas manifestações os
ensinamentos dos Espíritos;
b) Epistemologia
dos Espíritos: teoria do conhecimento do mundo dos
espíritos (como os Espíritos descobrem coisas e aprendem).
Temos a experiência na Ciência dos Espíritos e a observação na Ciência Espírita. A partir do surgimento da Doutrina dos Espíritos é possível o ser humano superar a limitação de estudar a natureza somente pelos sentidos e de abordar as questões espirituais somente por meio da reflexão.
É válido argumentar que o Espiritismo não é produto da imaginação, pois, ultrapassa o problema do método enfrentado pela metafísica como compreendida antes do seu advento. O método reflexivo foi superado. Como todas as demais ciências positivas, ao Espiritismo aplica-se o método experimental.
Uberaba-MG, 04 de Janeiro de 2021.
Beto Ramos
Fonte Bibliográfica:
FIGUEIREDO,
Paulo Henrique de. Revolução Espírita – a teoria esquecida de Allan Kardec. São
Paulo – SP: Maat, 2016.