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segunda-feira, 24 de maio de 2021

INFÂNCIA E INFLUÊNCIA DO MEIO NA OBRA DE RIVAIL - O EDUCADOR

Fonte: Internet (Google). Castelo de Yverdon.

2ª PARTE

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A vila de Saint-Denis era um local muito visitado e os seus próprios moradores gostavam de passear por aquela região. Não deveria ser diferente com a família Rivail, pois, a beleza natural rodeava o seu lar.

Burg-en-Bresse possuía grandes construções que ostentavam valor turístico e histórico. O real monastério de Brou, então Igreja de Brou, foi uma destas construções mais visitadas de toda a França naquela época.

Praças, fontes, hospital e hotéis, como o Marron de Meillonnas (de 1770) são destaques na pequena, mas, aconchegante região central da localidade. As crianças viviam em meio aos animais, esquilos, doninhas, ouriços e outros, assim como aves. O pica-pau era morador comum.

Para os ávidos dos detalhes e estudiosos da história do espiritismo, a informação a seguir é preciosa. O burgo, ou unidade administrativa francesa onde cresceu o pequeno Rivail, leva Bresse em seu nome. Trata-se de um termo da cultura celta que significa lama, argila.

Conta-se que no ano de 1817, quando, então, seria construída uma prisão na cidade, o castelo dos duques de Saboia foi demolido. Entre as suas fundações foi localizado um monumento dos druidas, onde destacava-se um círculo de grandes pedras onde dolmens se apoiavam.

Sabemos que Rivail escolheu um antigo nome druida para usar como pseudônimo em suas obras: Allan Kardec. Quem acaso visite o túmulo onde repousam os restos mortais do Codificador do Espiritismo, certamente, verá uma imitação daquele monumento encontrado em Burg-en-Bresse.

No campo da cultura, a cidade possuía um belo teatro, vasta e rica biblioteca e, também, um colégio. Esse último, fundado em 1649, foi conduzido por jesuítas e, mais tarde, por professores leigos. A partir de 1801, o físico Ampere figurou entre eles, ali permanecendo por alguns anos.

Aquela pequena localidade abrigou a Sociedade Imperial de Emulação de Ain, criada em 1783, cujo objetivo era lidar com literatura, ciências, agricultura, belas artes e história. Dotada de jornal, oferecia prêmios e possuía coleções valiosas, sendo, inclusive, consultada pelo governo do departamento. Rivail, em 1818, seria nomeado membro correspondente dessa sociedade.

Em uma de suas obras, cujo título é Plano para melhoria da Educação Pública da França, no ano de 1828, aos 24 anos de idade, Rivail relata o que ele considerava uma educação ideal. Eis uma informação que poucos espíritas conhecem e que está relacionada com a teoria espírita que viria a lume a partir da década de 50 daquele século.

O ambiente de aprendizado deveria ser uma bela região, que proporcionaria vida campestre unida à ocupações sérias, onde o aprendiz teria aula de historia natural do campo. A instrução ocorreria por meio de conversações e durante passeios pelo campo. O educador levaria seus alunos em viagens para estudo. Eles próprios experimentariam o contato com os costumes dos povos visitando lugares históricos.

Percebe-se que Rivail estava falando de sua infância e da influência que recebeu do meio em sua obra. O educador descrevia nada menos que sua infância em Burg-en-Bress.

Sua pedagogia direciona o educador para proporcionar às crianças, desde cedo, ideias sobre história natural, física e química. Coisas como estátuas, quadros, plantas, animais e fenômenos da natureza que poderiam testemunhar, até mesmo uma pedra, interessam ao universo do educando. A atenção da criança está desperta. Por suas perguntas é possível tirar partido de sua inteligência e com ela lidar convenientemente para torná-lo autônomo. Não seria outra a proposta do espiritismo.

Pelas ideias depositadas em sua obra como educador francês é possível perceber a influência e as características de sua terra natal na sua formação acadêmica. Em 1834, Rivail escreveu que é importante fixar a atenção da criança sobre o que se passa à sua volta, a fim de que ela perceba o que vê, o que ouve e o que faz. Forçando-a a pensar, tudo será natural e terá explicações simples, tudo se compreendendo através da razão.

O educador, portanto, idealizava uma postura autônoma para a criança, a fim de que estivesse pronta para exercer a crítica diante de qualquer área. Estimulada à aquisição do conhecimento, sempre que estiver diante de evidências novas, por estar sempre pronta a aprender, a criança manteria sempre uma mente aberta. 

Rivail (1834) desejou, ainda, que a criança conheça o movimento dos astros e que seu espírito penetre no espaço e, assim, ela não será indiferente a tudo que maravilha o seu olhar, como fazem os brutos. Não acreditará em almas do outro mundo, nem em fantasmas, não acreditará em ledores de sorte, não verá no movimento dos astros qualquer presságio de funestos acontecimentos, enfim, seu espírito se alargará contemplando o espaço imenso e sem limites.

Bem antes de tornar-se o Codificador do Espiritismo, Rivail já apresentava ideias lúcidas sobre algo que poderíamos chamar: um estilo de vida.

(Continua)

Uberaba-MG, 24 de maio de 2021.

Beto Ramos


Bibliografia:

FIGUEIREDO, Paulo Henrique. Revolução Espírita - A teoria esquecida de Allan Kardec. São Paulo (SP): Maat, 2016.

sábado, 22 de maio de 2021

A VIDA NO CAMPO DE RIVAIL NO "MAISON DE MAITRE" EM SAINT-DENIS-LES-BOURG



Fonte: Imagens da internet (Google). Casas onde viveu Vitor Hugo, na França.

1ª PARTE

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Conforme narra FIGUEIREDO (Maat, 2016), o pequeno RIVAIL passou sua infância numa localidade chamada Saint-Denis-les-Bourg, que ficava no ambiente rural de Bourg-en-Bresse. Nesse lugar residiam, aproximadamente, 600 (seiscentos) moradores. Por sua importância, contava com sua própria Igreja.

No século 19 havia casas com uma arquitetura toda particular. Eram as chamadas 'Maison de Maitre'. Típicas da época, essas casas eram muito grandes. Nelas residiam advogados, médicos e outros integrantes da elite rural.

Essas casas possuíam grandes janelas na sua fachada e eram construídas com mais de um andar e a maioria possuía 03 (três). A porta central ficava diante de pequeno lance de escadas na entrada. O acesso à propriedade era feito transpondo um enorme portão de ferro forjado.

Propriedades como esta possuíam várias salas, lavanderia, estábulos para animais, pátio, jardim, área para crias e para plantios, além de vários terrenos à sua volta. Do ponto de vista do morador dessa casa era possível ver extensas pradarias amarelas, ampla planície, plantações de trigo e outros grãos, principal produto da economia local da época.

Jeane-Louise Duhamel, a Senhora Rivail, conforme publicação do Journal de l'Ain, n. 56, de 10 de maio de 1826, colocava a casa onde morava com sua mãe para alugar, descrevendo-a aos interessados.

A vila de Saint-Denis ficava no centro de um grande bosque, cortado por diversos riachos ladeados por salgueiros formando veios tortuosos por onde se podia caminhar, pisando em pedras e saltando os trechos estreitos. Muita sombra, pescaria abundante, jardins regados pelo rio Veyle e o barulho característico dos moinhos movidos pelo rio servindo às moendas de trigo. Imagine o jovem Rivail crescendo no meio dessa paisagem.

Uma pequena cidade, cheia de história, teve no famoso astrônomo francês Lalande, nativo de Bourg, um grande fomentador da cultura. Além da diversão, Rivail tinha um ambiente de extraordinária oportunidade para aprender.

O lugar, de clima difícil, muito frio em certas épocas do ano, também tinha um calor abafado característico nos demais períodos. Por vezes, a cidade era coberta por denso nevoeiro. Seus habitantes, camponeses tradicionais, eram generosos de coração, mas muito desconfiados dos que chegavam para visitas à cidade.

Entre personalidades famosas que visitaram a cidade ao longo da história vamos encontrar a nobreza, reis e imperadores. Francisco I, Henry IV, Napoleão Bonaparte, Charles X, o Duque de Orleans e Napoleão III caminharam pelas ruas de Bresse.

(Continua)

Uberaba-MG, 22 de maio de 2021.

Beto Ramos

sexta-feira, 21 de maio de 2021

A HISTÓRIA DO ESPIRITISMO, DA FRANÇA E DE KARDEC, EM CERTA MEDIDA, SE CONFUDEM

   
3ª PARTE

Retomando a história da família do codificador, encontraremos sua mãe dedicando-se ao lar e seu pai assumindo funções militares como promotor militar e Juiz de Paz. Nas suas funções Jean Rivail tinha que acompanhar os destacamentos militares. Quando necessário, deveria convocar um Tribunal, onde se estabelecia formalmente a acusação aos réus no campo de guerra.

A Revolução prosseguia e acirrava-se a rivalidade entre Girondinos e Jacobinos. Nesta disputa, vencem os Jacobinos. Covardemente, começam a matar os adversários implantando a ditadura.

O pai de Jeanne, avô de Hippolyte Rivail, é preso e depois executado no dia 16/03/1794. Contava , então, com 53 anos. Seu marido, Jean-Baptiste Rivail, também é preso. Assim como o Sr. Duhamel, Rivail pai foi acusado de conspiração.

Foi condenado à morte. No entanto, evocou o decreto de 28 de Pluviôse. Por essa lei deveria ser julgado em sua terra natal. Foi mandado preso de volta a Burge-en-Bresse e solto dois meses depois (em 29/04/1794) junto aos demais inocentes.

Nessa ocasião contou-se 16 (dezesseis) mil mortes pela guilhotina em toda a França; As prisões, 500 (quinhentas) mil; Mas, após um ano de matança, o pesçoco de Robespierre é reclamado. Foi guilhotinado em 28/07/1794.

Charlotte Bochard, a Sra. Duhamel, foi autorizada pelo Estado a receber do espólio sequestrado de seu marido a soma de 600 (seiscentas) mil libras por ano; Assim, ela foi morar com seu irmão, o tio-avô de Hippolyte, François Duhamel. A casa, que também abrigava seus parentes, ficava numa pequena aldeia rural denominada Saint-Denis-les-Bourg, contígua à Bourg-en-Bresse. O lugar era lindo, havia lagos, florestas e extensas plantações.

Passado o terror, chega o inverno rigoroso trazendo junto a fome, desemprego, aumento de preços, indigência e falta de alimentos. Nessa época ascendia o jovem Napoleone Di Buonaparte, que guerreava pela França e conquistou a Itália. Luxo e cargos públicos para as ricas casas. No entanto, faltava pão ao povo.

A família Rivail recebia no ano de 1796 o primogênito Auguste Claude Joseph François; em agosto de 1799 chegava uma menina, Marie-Françoise Charlotte Eloise; irmãos do Codificador.

Nesse ano de 1799 Napoleão passou a governar por uma ditadura e foi nomeado primeiro-cônsul; A revolução era, então, encerrada. Todavia, os problemas dos subúrbios não foram solucionados.

O ano de 1804 será marcante. Jean Rivail, pai do codificador do espiritismo, é requisitado em suas funções militares. Jeanne-Louise, grávida pela terceira vez, contando com seus 30 anos de idade e precisando de cuidados médicos especiais, estava em um estabelecimento de águas minerais artificiais na cidade de Lyon, na Rua Sala, 74, à margem do rio Ródano. Era um local que atendia casos de saúde.

Aos 03/10/1804, Jeanne-Louise trazia ao mundo Hippolyte Léon Denizard Rivail, ao qual se dedicaria de corpo e alma nas próximas décadas. O batismo do menino aconteceu na cidade de Lyon.

Em 1807 Napoleão estava próximo de tornar os povos da Europa um só povo e Paris a capital do mundo. Mas, o ditador queria mais. Com um exército de 25 mil homens estacionados na Espanha, Napoleão queria invadir Lisboa e determinou que o exército continuasse a marcha. Os mapas de Napoleão estavam desatualizados. Faltavam as indicações das montanhas e de obstáculos quase instransponíveis. O pai do pequeno Rivail estava entre os homens que integravam esse exército.

Frio e chuva pioram, os equipamentos ficam presos e faltam provisões. Os soldados iam morrendo um a um. Sem qualquer resistência de Portugal, chegaram apenas 10 (dez) mil homens. Contudo, testemunharam a estratégia da Corte Portuguesa: os navios partiram levando a família real para o Brasil.

Ningúem soube o destino do pai do pequeno Rivail. Desaparecido, foi dado como morto em 1807. Seu filho contava com apenas 03 (três) anos de idade.

A brava Jeanne, sem esquecer os filhos que perdeu, dedicaria sua vida ao pequenino Rivail e investiria todo o seu amor, força e posses para educá-lo. E é assim que a história da França e do Espiritismo se entrelaçam. Sem dúvida, a mãe daquele que viria a ser o Kardec foi fundamental para edificar solidamente sua personalidade. Mas, esta é outra história.


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Uberaba-MG, 25 de maio de 2021.

Beto Ramos.

DESTAQUE DA SEMANA

A DOUTRINA DOS ESPÍRITOS NÃO É ASSUNTO QUE SE ESGOTA EM UMA PALESTRA

  EM SUAS VIAGENS KARDEC MINISTRAVA ENSINOS COMPLEMENTARES AOS QUE JÁ POSSUIAM CONHECIMENTO E ESTUDO PRÉVIO. Visitando a cidade Rochefort, n...