Para a MEDICINA tradicional
a doença e a cura vêm de causas externas. O ser humano é
bombardeado pelo meio em que está situado e será o que lhe rodeia, coisas
visíveis ou invisíveis a olho nu, que vão lhe causar os males físicos. Pelo
mesmo raciocínio, a cura somente poderá advir de causas igualmente externas (remédios,
chás, sangrias, amputações, radiações e outras tantas estratégias).
No século 19 acreditava-se
que CURAR SERI EXPULSAR O MAL DO CORPO.
E, somente por TRATAMENTOS feitos por MÉDICOS poderiam ‘expulsar’ esse mal. A
lógica é a mesma de certas religiões para as quais havia a hipótese de que certos
males seriam causados por demônios, os quais, também, precisavam ser expulsos
do corpo do individuo. E, somente,
religiosos habilitados poderiam EXORCIZAR
o indivíduo.
Esse é o cenário do século
19 em que o Espiritismo moderno chegou à Terra:
Figura 1
Para bem se compreender
melhor o assunto CURA PELO PASSE MAGNÉTICO é necessário voltar ao século 18
para conhecer a figura de FRANZ ANTON MESMER.
Mesmer nasceu em Constança, na Suábia, região que hoje pertence à Alemanha, no dia 23 de maio do ano de 1734. De família católica, em 1743, foi encaminhado pelos pais a um monastério em Constança onde, durante alguns anos, estudou línguas, literatura clássica e música.
Em 1750 ingressou na
Universidade da Companhia de Jesus na Baviera onde estudou filosofia chegando
ao doutorado. Ali encontrou as obras de Galileu, Descartes, Leibniz, Kepler,
Newton e outros.
Em 1754 iniciou o curso de
teologia na Universidade da Baviera e cinco anos depois, na Universidade de
Viena da Áustria, dedicou seu 1º ano na instituição ao estudo das leis e se transferiu
depois para o curso de medicina, considerado o melhor da Europa.
Depois de seis anos de
estudo conquistou o Doutorado com a sua Dissertatio physico-medica de planetarum
influxu (Dissertação físico-médica sobre a influência dos planetas),
sob a égide de Newton e talvez de Paracelso. Em sua dissertação usa pela
primeira vez o conceito de fluido universal.
Figura 2
O primeiro tratamento por meio
do magnetismo animal feito por Franz
Anton Mesmer teve início em 1773. A paciente foi uma parenta de sua esposa e
amiga da família Mozart, Franziska Esterlina, uma senhorita de vinte e nove
anos, bastante debilitada.
Com a pouca acolhida dada à
sua descoberta, em 1775 Mesmer se determinou a nada mais realizar publicamente
em Viena. Viajou para diversos países da Europa anunciando a sua descoberta
(Suábia, Baviera, Suíça, Hungria e outros países). Publicou uma Carta ao povo
de Frankfurt, que representa uma importante fase do desenvolvimento de sua
teoria. Em 5 de janeiro, publicou em jornais e panfletos uma Carta a um médico
estrangeiro esclarecendo a terapia do magnetismo animal.
Em 1776, Mesmer deixou de
fazer uso do ímã como simples condutor do magnetismo animal, para evitar
mal-entendidos por parte dos médicos e físicos. Continuou a usar água, garrafas
e barras de ferro. Publicou Cartas sobre a cura magnética, esclarecendo a sua
tese de doutorado, e as enviou, como divulgação, a alguns médicos. No ano seguinte,
Mesmer aceitou como paciente a famosa pianista Maria Theresia Von Paradis,
curando sua cegueira e gerando controvérsias.
PROCESSO
DO MESMERISMO:
A teoria e a prática da cura
proposta por Mesmer considerava o uso de um método com os seguintes recursos:
- Passes
- Água
fluidificada
- Imposição
de mãos
Mesmer propôs que “a vontade forte de uma pessoa bem
intencionada sobre outra doente, pelo contato ou não, e até a certa distância,
pode fazer agir uma força vital do “mesmerizador” sadio dotado deste poder
sobre outra pessoa dinamicamente”.
Para esse processo são
necessários sintonia e vontade para incitar o processo natural de cura próprio
do paciente.
Em suas pesquisas Mesmer
descobre que era possível provocar o sonambulismo
em outra pessoa, cujos sentidos ganham uma profunda ampliação. Em uma das
experiências feitas com o grão de pão demonstrou a ampliação da percepção por
meio da constatação dos sabores: farinha, sal, fermento, etc. (tudo em
separado).
As
faculdades ampliadas detectadas no sonâmbulo foram:
- Visão
à distância
- Previsão
de fatos futuros
- Exames
internos de doentes (o sonâmbulo via o interior do organismo)
- Descrição
de doença
- Sugestão
de tratamento
- Previsão
a cura
Mesmer chamou isto de
lucidez sonambúlica. O objeto de seus estudos era a alma, por meio do método
científico, não havendo nada sobrenatural, nem espírito de sistema.
Constatou-se que a alma age
por meio da VONTADE sobre o corpo, como FONTE DE FORÇA necessária para
RESTABELECER A SAÚDE. Mesmer descobriu que o princípio da cura está no próprio
indivíduo. O processo de cura é de dentro para fora. É no organismo do
indivíduo doente que se inicia, intimamente, o processo de cura.
Conforme a Teoria Geral
todos os fenômenos naturais (luz, som, eletricidade, calor, etc.) seriam
propagados por meio de uma VIBRAÇÃO, nos diversos graus de fluidez do FLUIDO
UNIVERSAL.
Em toda a teoria de Mesmer
sobre o magnetismo animal, a ação da VONTADE e sua PROPAGAÇÃO por um meio
material constitui o PONTO CENTRAL de toda a teoria. VONTADE E PENSAMENTO
PROVOCAM VIBRAÇÕES DE AGENTE GERADOR, o que produz efeito à distância por meio
de ondas do meio, que se espalham pelo espaço.
Mesmer partiu da teoria
cogitada por Newton, onde o movimento animal (isto é, os movimentos musculares)
é provocado por vibrações do meio, excitados pelo cérebro pelo poder da
vontade, propagados pelo meio de fibras sólidas muito tênues, transparentes,
uniformes dos nervos para os músculos, para contraí-los e dilatá-los.
E esse, também, é o conceito
da Doutrina Espírita. Segundo Kardec, em A Gênese, de 1868, o fluido
perispiritual é o traço de união entre Espírito e Matéria. Durante sua união
com o corpo, é o veículo do pensamento do Espírito para transmitir MOVIMENTO ÀS
DIFERENTES PARTES DO ORGANISMO, os quais atuam SOB O IMPULSO DE SUA VONTADE, e
para REPERCUTIR NO ESPÍRITO AS SENAÇÕES PRODUZIDAS PELOS AGENTES EXTERNOS. Tem
por fios condutores os nervos.
De acordo com a ciência do
magnetismo animal A CURA não ocorre por ação de uma substância, mas pela
SINTONIA, isto é, CONCORDÂNCIA ENTRE DUAS VONTADES, a do magnetizador e a do
paciente, motivando a FORÇA NATURAL DO ORGANISMO para restabelecer a SAÚDE.
Esse é o princípio essencial. Entre o Espiritismo e o Magnetismo o laço de
união fundamental é a TEORIA DA VONTADE. Em 1861, Kardec afirmou que a vontade
desempenha papel capital em todos os fenômenos do magnetismo. A vontade
participa não como um ser, uma substância ou uma propriedade da matéria,
mas, como um atributo do espírito, o ser
pensante encarnado ou errante.
A faculdade de cura se
explica pela ação do Espírito sobre a matéria elementar. Até certo limite, o
Espírito pode lhe modificar as propriedades.
A compreensão do passe nos
dias atuais não é condizente com a teoria, observação, experimento e práticas
do magnetismo animal de Mesmer. Isso se explica em razão de que alguns
magnetizadores se diziam seus discípulos. No entanto, defendiam posições
diferentes.
Um deles, DELEUZE, não
possuindo conhecimento de conceitos da Física, como o de potencial de força, não abordava o assunto no sentido dos debates
entre movimento ondulatório e mecânico. Deleuze, afirmava que os
efeitos produzidos são unicamente devidos à natureza, cuja ação é reforçada
pela ação do magnetizador.
LAFONTAINE, um magnetizador
que fazia oposição à união entre magnetismo e Espiritismo, apoiado pela Igreja,
defendeu a teoria do fluindo vital. Esse e outros magnetizadores foram
denominados FLUIDISTAS. Nunca viram ou experimentaram pela observação tal
teoria, mas, combatiam a ideia de cura baseada na TEORIA DA VONTADE. Para
estes, o fluido vital era a CAUSA dos EFEITOS MAGNÉTICOS.
O fato é que o caminho
contrário ao proposto por Mesmer se dava em razão de que a comunidade
científica das ciências naturais não aceitavam quaisquer questões psicológicas.
Lafontaine preferiu negar a verdade para que o magnetismo fosse aceito pela
comunidade científica. Algo parecido com o que ocorreu com Galileu sobre o fato
de a Terra girar. Por outro lado, Mesmer faz parte do grupo dos que não
abandonam a verdade, como é o caso de Giordano Bruno.
Em suma, Lafontaine negava o
fenômeno mediúnico. Dizia que a natureza é a do sonambulismo e afirmava não
existir comunicação com o mundo dos Espíritos, visto que essa era impossível. Na
opinião dos magnetizadores fluidistas materialistas, afastando os conceitos de
vontade, alma e pensamento, a ação mecânica e curativa de uma substância acumulada
pelo magnetizador é transmitida ao paciente, que a absorve.
Esta
é a TEORIA DA SUBSTÂNCIA MATERIAL baseada na Teoria do Fluido
Vital de Claude Nicolos Le Cat, que estudou as sensações nos amputados.
O seu método de pesquisa era a observação, a
imaginação e a produção de hipóteses.
Importante ressaltar como e
porque se usava a expressão FLUIDO. Essa ideia surgiu para explicar os
fenômenos observados repetidamente, considerando a comunicação à distância.
Essa comunicação ocorria por “algum meio”. E, a esse, deram o nome de
FLUIDO. É daí que surgem os nomes fluido
animal, vital, elétrico, etc.
A hipótese fundamental dessa
teoria é que a natureza era composta por forças
observáveis. Essas forças foram concebidas como SUBSTÂNCIAIS ESPECIAIS. Sua
composição era de ÁTOMOS (esferas duras, invisíveis, que possuíam cada uma
delas propriedades das diferentes forças).
Para explicar o CALOR
pensavam que a sensação causada no indivíduo era provocada por essas esferas, as
quais formavam a substância denominada FLUIDO CALÓRICO. Laplace e Lavoisier admitiam essa hipótese para explicar TODOS OS
FENÔMENOS DA NATUREZA.
Trata-se de uma TEORIA
MATERIALISTA. Perceba que o átomo, a substância, o fluído, tudo é matéria,
sendo que a sua transmissão, isto é, ALGO FLUINDO, é toda material,
nada psicológico. Flui porque é considerada SUBSTÂNCIA. Segundo
EINSTEIN, o calor NÃO É substância, nem mesmo sem peso.
No magnetismo animal a
natureza física do universo está relacionada com ESTADOS DE VIBRAÇÃO nos
diversas fases de um PLENO, isto é, TODA MATÉRIA SEM QUE EXISTAM VAZIOS. Os
sentidos humanos apreendem as vibrações dos meios. Para Mesmer o fluido cósmico
é o conjunto de todas as séries da
matéria, que é dividida pelo movimento interno, ou seja, o movimento das
partículas entre si.
O universo, portanto, está
fundido e reduzido a uma única massa. A essência do fluido cósmico é sua
fluidez. Não possui nenhuma propriedade, não é elástico e não tem peso. É o
meio apropriado para determinar as propriedades de todas as todas as ordens da
matéria.
HIPÓTESE
è FLUIDO
VITAL / EXEMPLO: FLUIDO CALÓRICO
Figura 3
As propriedades são
consideradas próprias dessa qualidade do átomo.
Figura 4
Para os partidários da
teoria do fluido vital, as propriedades curativas estariam relacionadas com a
própria natureza dos átomos dessa imaginária substância especial, sendo ela
própria a cura. Nesse caso, o processo se dá por meio de uma quantidade de fluido acumulada no magnetizador
que seria transferida por meio de EMISSÃO para o paciente carente dessa
substância. A ação, nessa hipótese, estaria relacionada apenas com a
quantidade que seria transferida. Os defensores da teoria concluem que, sendo algo físico, os atos mecânicos são
possíveis, ou seja: acumular, guardar e transferir. ESSA HIPÓTESE É FALSA.
Figura 5
Aplicando a teoria do fluido cósmico (Mesmer) ao magnetismo animal (Mesmer):
HIPÓTESE è FLUIDO UNIVERSAL:
As propriedades dos fluidos
estão relacionadas com a ação do magnetizador. O magnetizador GERA o MOVIMENTO. Esse movimento é uma ONDA, que
terá a FREQUÊNCIA equivalente ao TIPO DE PENSAMENTO do magnetizador. Sua POTÊNCIA
está relacionada com a FORÇA DA VONTADE empregada pelo magnetizador. É o
movimento gerado pelo magnetizador que induz a VONTADE do PACIENTE. A causa da cura do paciente está no esforço
do seu organismo em promover seu próprio reequilíbrio.
Figura
6
Resumindo:
Figura 7
Os fatos envolvidos nesse
processo são fisiológicos e psicológicos.
Enquanto a teoria de Mesmer propõe uma união entre fenômenos do mundo
físico e moral para um mesmo agente gerador, que corresponde aos fenômenos observados pelos Espíritos Superiores no
mundo espiritual, os teóricos fluidistas derivaram várias práticas formais
sem fundamento no fenômeno, tais como:
1. Limite de quantidade de
fluido a ser transmitida.
2. Risco de o magnetizador
ficar sem estoque, adoecer ou se esgotar.
3. Colocar as mãos do
paciente para cima para o fluido penetrar mais facilmente.
4. Pensar no mau
direcionamento do fluido, que passaria ao lado do paciente.
5. Cada magnetizador
fluidista passa a criar um ‘sistema próprio’.
Percebemos que todas essas
práticas formais não passam de rituais. E é nesse sentido que é preciso recordar
a ciência filosófico-espírita que não adota NENHUM tipo de ritual ou
formalidade.
No Brasil, compreende-se o
passe como sendo um fluído vital se
desprendendo do magnetizador, projetando-se para fora, sendo dirigido para o
corpo do paciente que, o absorvendo, obterá o efeito curativo dessa substância.
Essa é a teoria dos magnetizadores fluidistas do século 19. Mas, não é essa a
teoria de Mesmer.
Os princípios do magnetismo animal
são diferentes. Além disto, a compreensão do passe no Brasil é diferente do
ensino dos Espíritos na obra de Kardec. É preciso lembrar, uma vez mais que a Doutrina dos Espíritos possui
caráter progressivo. Não basta ler uma obra e pensar que já sabe o que é e
como é alguma coisa. É necessário saber o que foi dito pelos Espíritos
Superiores, o que foi objeto de experimento de Allan Kardec e o que está
registrado nas obras Espíritas.
Figura 8
Os defensores da corrente
fluidista (a mesma defendida no Brasil) deixam de lado o princípio espiritual,
quando não o negam absolutamente. Para essa corrente tudo se relaciona com a
ação do fluido material e, por isto, estão em oposição de princípios com os
espíritas.
Na RE de 1867, Kardec
explicou que os magnetizadores fluidistas imaginam os efeitos do magnetismo
como uma ação de um fluido fisiológico material, sem relação nenhuma com a
alma.
O magnetismo animal de
Mesmer não promoveu a teoria do fluido nervoso vital ou magnético, que se
desprende do nosso corpo, projeta-se para fora e transporta-se em caso de
necessidade através do espaço.
Para saber mais sobre o
fluído cósmico universal e como se passam os fenômenos no mundo espiritual, bem
como conhecer o papel da vontade e do pensamento no processo de cura, de acordo
com a prática espírita e com o ensino dos Espíritos Superiores, é preciso estudar
a 2ªParte do Livro dos Médiuns, especialmente o capítulo 8, Laboratório do Mundo
Invisível, além do capítulo 14, os fluídos, de A Gênese de 1868.
Uberaba-MG, 22/12/2021.
Beto Ramos
Fonte de pesquisa principal:
FIGUEIREDO, Paulo Henrique de. AUTONOMIA – A história jamais contada do Espiritismo. São Paulo: FEAL, 2019.