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sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

A LEI DE CAUSA E EFEITO NÃO SE APLICA AO ESPIRITISMO

"A questão do livre-arbítrio pode resumir-se assim: o homem não é fatalmente conduzido ao mal; os atos que pratica não 'estavam escritos'; os crimes que comete não são o resultado de um decreto do destino" (Q. 872, LE).

Essa afirmativa de Allan Kardec, por si só, responde à seguinte indagação: a lei de causa e efeito se aplica ao espiritismo? Se os crimes cometidos pelo ser humano não resultam de determinações decretadas por um 'destino', ninguém será compelido a pagar o mal com o mal. Não haverá 'olho por olho, dente por dente'.

Mas, essa não é a ideia disseminada no movimento espírita. Pelo contrário. Eis o motivo, então, de nossa argumentação, segundo a Doutrina Espírita.

A princípio é necessário explicar o que se entende por lei de causa e efeito. Segundo a proposta comum a lei de causa e efeito seria um princípio universal, que significa que o acaso não existe. Essa afirmativa decorre da ideia de que um dos princípios da lógica é a causalidade, isto é, que todo efeito tem uma causa, a qual poderá ser boa ou ruim (resultados positivos ou negativos).

Uma confusão terrível sobre esse assunto é atribuir a Allan Kardec a ideia da existência de uma lei de causa e efeito. No entanto, como se depreende de sua afirmação em O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo 5 - Bem Aventurados os Aflitos, item 6, o organizador do Espiritismo, falando sobre as misérias humanas, esclarece que:

"[...] por virtude do axioma segundo o qual todo efeito tem uma causa, tais misérias são efeitos que hão de ter uma causa e, desde que se admita um Deus justo, essa causa também há de ser justa. Ora, ao efeito precedendo sempre a causa, se esta não se encontra na vida atual, há de ser anterior a essa vida, isto é, há de estar numa existência precedente".

Apontamos o seguinte:

1. Kardec afirma que efeito e causa é, para o Espiritismo, UM AXIOMA;

2. Toda a sua construção textual apresenta um hipótese teórica, conforme se vê no uso das expressões 'hão de ter', 'há de ser justa', 'se', 'há de ser' e 'há de estar';

3. Allan Kardec raciocina em 'alguma' existência precedente e não em 'uma existência específica'.

Já esclarecemos em outros artigos e vídeos que é necessário saber o significado de AXIOMA, uma vez que se trata uma premissa considerada necessariamente evidente e verdadeira, um fundamento de uma demonstração, isto é, uma premissa, um ponto de partida ou, em última instância, uma ideia para sustentar uma proposição. Um axioma é uma premissa importante, porém, ela é indemonstrável. Sua afirmação parte do raciocínio e de princípios inatos da consciência.

Por outro lado, a LEI, do ponto de vista filosófico, é uma expressão definidora das relações constantes que existem entre fenômenos naturais, como, por exemplo, a definição de uma propriedade física verificada de maneira precisa. Vale dizer: não se trata de uma hipótese teórica.

Se bem compreendida a diferença entre o axioma que é defendido pelo espiritismo e a ideia de lei, que é própria para fenômenos naturais, é importante recordar que uma das Leis Morais vigentes na Teoria Moral Espírita é a Lei do Progresso.

Kardec ensina que a força do espiritismo está na unidade de seus princípios e, nesse sentido, suas leis morais não podem se contradizer, isto é, nenhuma poderá ficar em posição antagônica às demais. Assim, nos seria lícito indagar: Há uma interferência divina no destino de cada indivíduo? Existe algo inexorável que o vá compelir nessa ou naquela direção?

A resposta é negativa, uma vez que na questão 802 de O Livro dos Espíritos, quanto à apressar ou não o progresso humano, encontra-se o seguinte ensinamento:

"[...] Não, não é por meio de prodígios que Deus conduzirá os homens. Na sua bondade ele quer deixar-lhes o mérito de se convencerem através da razão".

E, voltando à questão 872, iremos verificar que "sem o livre-arbítrio o homem não tem culpa do mal, nem o mérito no bem; e isso é de tal modo reconhecido que no mundo se proporciona sempre a censura ou o elogio à intenção, o que quer dizer à vontade; ora, quem diz vontade diz liberdade".

Mas, o que todas essas proposições tem a ver com a proposição inaugural, isto é, que a lei de causa e efeito não se aplica ao espiritismo?

É que na questão 804, que trata da lei de igualdade, em O Livro dos Espíritos, vamos verificar que:

"Deus criou todos os Espíritos iguais, mas cada um deles viveu mais ou menos tempo, e por conseguinte realizou mais ou menos aquisições; a diferença está no grau de experiência e vontade, que é o livre arbítrio; daí decorre que uns se aperfeiçoam mais rapidamente, o que lhes dá aptidões diversas".

Para encerrar, sobre fatalidade, os Espíritos ensinam na questão 851 de O Livro dos Espíritos que:

"A fatalidade só existe no tocante à escolha feita pelo Espírito, ao se encarnar, de sofrer esta ou aquela prova; Ao escolhê-la ele traça para si mesmo uma espécie de destino, que é a própria consequência da posição em que se encontra".

Todavia, os Espíritos explicam essa "espécie de destino": tratam-se das provas de natureza física (frio, calor, fome, sede, trabalho, cansaço, saúde, etc.).

Quanto às provas morais e as tentações, o Espírito conserva o seu direito à escolha entre o bem e o mal, sendo sempre senhor de si no que tange à ceder ou resistir, pois a vontade do Espírito encarnado é soberana e não é violada de forma alguma.

Concluindo, conforme a questão 872 de O Livro dos Espíritos, o que há de fatal para o Espírito encarnado será quanto à sua posição na Terra, suas funções a ser desempenhada (como consequência do gênero de prova que escolheu). Além disto, sofre todos os problemas dessa existência e todas as tendências boas ou más que lhe são inerentes. Contudo, ainda assim, ceder ou não às suas más tendências (ao próprio caráter) fica na dependência da sua própria vontade.

O que surge para garantir a impossibilidade da lei de causa e efeito ser aplicada à teoria espírita é que:

"[...] Os detalhes dos acontecimentos estão na dependência das circunstâncias que ele mesmo provoque, com os seus atos, e sobre os quais podem influir os Espíritos, através dos pensamentos que lhe sugerem; [...] a fatalidade está, portanto, nos acontecimentos que se apresentam ao homem em consequência da escolha de existência feita pelo Espírito; mas pode não estar no resultado desses acontecimentos, pois pode depender do homem modificar o curso das coisas, pela sua prudência; e jamais se encontra nos atos da vida moral.

É nossa opinião que os Espíritos e Kardec não poderiam ser mais claros em nos demonstrar a IMPOSSIBILIDADE de se aplicar uma lei de causa e efeito ao espiritismo. Portanto, podemos afirmar sem assombros: A LEI DE CAUSA E EFEITO NÃO SE APLICA AO ESPIRITISMO.

Aproveito, por fim, para refutar todas as minhas opiniões anteriores em contrário.

Uberaba-MG, 20/01/2023
Beto Ramos

segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

HÁ RELAÇÃO ENTRE A SOCIOLOGIA E O ESPIRITISMO?

O nosso propósito nesta publicação é saber se o Espiritismo, como ciência da observação e filosofia com consequências morais ‘absorve’ de certa maneira, ou melhor dizendo, atrai para si a preocupação com os objetos de estudos de outras ciências.

Vamos refletir sobre a sociologia.

Sabemos que é uma parte das ciências humanas que estuda o comportamento humano em função do meio e os processos que interligam os indivíduos em associações, grupos e instituições.

Aprendemos no Espiritismo que o meio vai influenciar sobremaneira no gênero de provas a que o Espírito se submete, isto é, suas escolhas consideram, entre outras coisas, o meio a que está inserido.

É lícito perguntar como esse comportamento dos encarnados irá influenciar na vida do Espírito? Indivíduos que se reuniram em associações, grupos e instituições vão, novamente, se reunir no mundo espiritual?

A sociologia tem uma base teórico-metodológica voltada para o estudo dos fenômenos sociais, tentando explicá-los e analisando os seres humanos em suas relações de interdependência. Portanto, um dos objetivos da sociologia será compreender as diferentes sociedades e culturas.

A pergunta que fazemos é: como essa compreensão influenciará na vida espiritual? Há uma relação de interdependência entre os Espíritos nas suas diversidades de classes?

Acreditamos que é possível encontrar respostas concretas para essas e outras reflexões que podemos fazer na relação entre a Sociologia e o Espiritismo. Deixamos aqui consignado para que você, leitor ou leitora, traga a sua contribuição para esse ensaio.

Uberaba-MG, 02/01/2023

Beto Ramos

quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

MOVIMENTO PLANETÁRIO PARA O PROGRESSO MORAL

 

Há sinais de que, na Terra, "tende a se estabelecer uma nova ordem de coisas, e os homens que são seus maiores opositores, sem saber, contribuem para isso"?

Podemos afirmar que está surgindo uma geração desembaraçada das escórias do velho mundo e que é formada de elementos mais depurados, animada de ideias e sentimentos diferentes dos que a geração presente demonstra?

Será que o velho mundo, logo, estará morto e viverá apenas na história, como ocorreu com os tempos da idade média, com seus costumes bárbaros e suas crenças supersticiosas?

Por incrível que pareça, todas as respostas a estas indagações são afirmativas. Encontramos essa bela dissertação na obra A Gênese, de Allan Kardec, 1868 (FEAL, 2018), no capítulo 18, Os Tempos São Chegados.

No final do item 7 o organizador do Espiritismo escreve:

"No entanto, todos sabem quanto deixa a desejar a atual ordem de coisas. Após, de certa forma, ter se esgotado o bem-estar material que a inteligência pode produzir, se compreenderá que o complemento desse bem-estar só pode estar no desenvolvimento moral. Quanto mais se avança, mais se sente o que falta, entretanto, sem poder ainda definir claramente: trata-se do trabalho íntimo que se opera pela regeneração. Tem-se desejos, aspirações que são como o pressentimento de um estado melhor".

Chama a atenção a observação de Allan Kardec quanto aos acontecimentos que permeiam esse processo:

"Contudo, uma troca tão radical como essa que se elabora não pode se cumprir sem comoção. Há uma inevitável luta entre as ideias. Desse conflito nascerão forçosamente perturbações temporárias até que o terreno esteja limpo e o equilíbrio, restabelecido. Assim, da luta de ideias surgirão os graves acontecimentos anunciados, e não de cataclismos ou catástrofes PURAMENTE materiais. Os cataclismos gerais eram as consequências do estado de formação da Terra, e atualmente não se agitam mais as entranhas do globo, mas as da humanidade".

Observando os acontecimentos dos dias atuais seria possível identificar movimentos, isto é, agitações da humanidade?

Em substancioso artigo, disponível na internet em A ATUAL CRISE DO CAPITALISMO, Reinaldo A. Carcanholo (professor do programa de pós-graduação em Política Social da Universidade Federal do Espírito Santo) afirma:

"A verdade é que vivemos em um regime que significa uma verdadeira tragédia para importante porção da humanidade, ao lado da pobreza para grande parte do restante. O período do colapso da atual etapa e o futuro do capitalismo só aumentarão a tragédia. Acreditar no retorno de um capitalismo capaz de crescimento sustentável e até de concessões aos trabalhadores é crer em ilusões; divulgar ideias nesse sentido é disseminar falsas esperanças. A perspectiva reformista produz um grande dano político. O capitalismo de amanhã só poderá ser pior do que o de hoje. Em nossos dias, para a humanidade, o capitalismo teoricamente está morto, é necessário matá-lo historicamente. E isso será muito difícil, mas não impossível."

Não estaríamos, segundo o estudo apresentado, diante do  que Kardec descreveu como o prelúdio do esgotamento do tal bem-estar material, que exige os esforços da humanidade para ser superado pelo desenvolvimento moral?

Responde-se positivamente a essa indagação. Contudo, é importante lembrar que o "progresso de cada parte do conjunto é relativo ao seu grau de adiantamento" (A Gênese, Allan Kardec, 1868 (FEAL, 2018), capítulo 18, item 9, Os Tempos São Chegados).

Há uma luta entre as ideias e isto se comprova por meio do estudo publicado na Revista Internacional Educon (ISSN 2675-672, vol. 2, n. 3, set/dez 2021), cujo título é "O Negacionismo: uma Crise Social da Relação com a “Verdade” na Sociedade Contemporânea", que esclarece:

"O que está em jogo no negacionismo e na crise da relação com a verdade, porém, não é apenas a ciência e seu ensino: é o espírito crítico, a liberdade de pensamento, a convivência democrática, a possibilidade de um mundo comum, compartilhado por pessoas diferentes. O que está em jogo, em todas as disciplinas da escola, e também na educação pelos pais e na forma como a sociedade trata os jovens, é a questão que Charlot levantou no seu livro Educação ou Barbárie? (Charlot, 2020). Formas antigas de barbárie estão voltando: nacionalismos agressivos, fundamentalismos religiosos excludentes, celebração das armas, da sobrevivência dos mais fortes e da morte dos mais fracos. Formas novas de barbárie estão invadindo o espaço público: cyberbullying, assédio e ódio nas redes sociais. O negacionismo é a forma epistemológica da barbárie contemporânea".

Todavia, apesar da luta de ideias nos dias atuais, Allan Kardec afirmou ainda no século 19 que "o progresso intelectual realizado até hoje, em grandes proporções, constitui um grande passo e marca a primeira fase da humanidade, mas sozinho é impotente para regenerá-la. Enquanto o homem estiver dominado pelo orgulho e egoísmo, utilizará sua inteligência e seus conhecimentos em proveito de suas paixões e de seus interesses pessoais" (Idem, item 16).

E não é exatamente o que se verifica no atual século 21? A bem dizer, o que se verifica não é o "aperfeiçoamento dos meios de prejudicar os outros e de destruição mútua" (ibidem)? Constata-se positivamente o vaticínio de Kardec.

Hoje, o negacionismo, como meio de prejudicar e destruir o próximo, distancia-se da crença estabelecida nas verdades eternas, que, não sujeitas à discussão, seriam aceitas por todos. O trabalho de esclarecimento, pois, está no início e exige o esforço de todos, uma vez que:

"Somente o progresso moral pode assegurar a felicidade dos homens sobre a Terra, colocando um freio às más paixões; só ele pode fazer reinar entre todos a concórdia, a paz, a fraternidade [...] Um tal estado de coisas supõe uma troca radical de sentimento das massas, um progresso geral que só poderia ocorrer saindo-se do círculo de ideias mesquinhas e triviais que alimentam o egoísmo".

A verdade é que ainda haverá choro e ranger de dentes. A batalha pela regeneração da humanidade coloca, lado-a-lado, os detentores das ideias progressivas e maduras e os refratários, que combatem as ideias novas como subversivas.

Nesse sensível movimento planetário para o progresso moral, é possível observar uma luta entre a geração de Espíritos refratários e a geração dos Espíritos que, mesmo não regenerados, amadureceram para as ideias de convivência fraterna, igualitária e solidária?

Responde aí nos comentários.


Uberaba-MG, 01/12/2022
Beto Ramos.

DESTAQUE DA SEMANA

A DOUTRINA DOS ESPÍRITOS NÃO É ASSUNTO QUE SE ESGOTA EM UMA PALESTRA

  EM SUAS VIAGENS KARDEC MINISTRAVA ENSINOS COMPLEMENTARES AOS QUE JÁ POSSUIAM CONHECIMENTO E ESTUDO PRÉVIO. Visitando a cidade Rochefort, n...