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quarta-feira, 22 de setembro de 2021

COMO KARDEC ESTUDOU O ESPIRITISMO

Ao menos de modo mais patente, a partir do ano de 1848, desde Hydesville, fenômenos aparentemente do 'outro mundo' movimentaram Estados Unidos e Europa. Três mulheres, as irmãs Katherine Fox, Leah Fox e Margaret Fox chamaram a atenção do mundo.

Em meados da década de 50 do século 19, um influente educador, autor e tradutor francês, sob o pseudônimo de Allan Kardec, notabilizou-se por se ocupar de fenômenos semelhantes aos que ocorriam com as irmãs Fox.


Longe de ser para ele um trivial entretenimento, tornou-se objeto de profundos estudos, até surgir o que foi conceituado como Ciência Filosófico-Espírita. Esse meticuloso pesquisador constatou que os fenômenos aconteciam em vários pontos do planeta Terra, de modo simultâneo. No fundo descobriu-se que por trás dos fenômenos havia seres inteligentes, cujo objetivo era se comunicar. Eles denominaram a si mesmos como Espíritos.

Para manter o intercâmbio os Espíritos se valiam de certas pessoas que eram usadas nas comunicações em razão de faculdades especiais. Foram chamadas médiuns. Ao analisar as numerosas comunicações percebeu-se uma variedade de informações, individualmente incompletas, mas ao observá-las no conjunto havia complementaridade. Parecia que havia certa divisão de assuntos e temas. Kardec, então, passou a estudá-las, observar certos aspectos.

Sabendo da manifestação simultânea dos Espíritos por todo o Globo terrestre, Kardec criou um Jornal, que ficou conhecido como Revista Espírita. Nela passou a publicar todas as correspondências que recebia, testando teorias, apresentando ensaios, artigos, relatos, opiniões, enfim, transformou-a em uma tribuna livre. Para análise do conteúdo das mensagens lançou mão de um método:
  • Agrupar os fatos dispersos;
  • Verificar sua correlação;
  • Reunir os documentos diversos sobre os temas e assuntos;
  • Reunir as instruções dos Espíritos contidas nas comunicações que surgiam em diferentes pontos do planeta;
  • Agrupar por assuntos;
  • Comparação; e,
  • Análise.

Nada era aceito cegamente, como também eram afastadas as ideias preconcebidas e os prejuízos de seita. Havia, portanto, uma disposição de Kardec para aceitar as evidências da verdade, mesmo contrárias às suas opiniões pessoais. Esse trabalho exigia um critério; era necessário avaliar, segundo o esclarecimento maior ou menor dos Espíritos comunicantes, qual o grau de confiança que poderiam receber.

Para isso Kardec:
1. Diferenciava as ideias sistemáticas, individuais e isoladas daquelas que recebiam a sanção do ensinamento universal dos Espíritos;
2. Distinguia as utopias das ideias práticas;
3. Separava todas as informações dos Espíritos que eram desmentidas pelos dados da Ciência positiva e da lógica;
4. Fazia uso dos erros, das informações trazidas pelos Espíritos, mesmo os da mais baixa categoria, objetivando conhecer o estado do mundo invisível e formar um todo homogêneo.

Uma vez que o ensino dos Espíritos não foi dado de maneira completa em nenhuma parte, em razão de abarcarem grande quantidade de observações e assuntos diversos, requerendo conhecimentos e aptidões mediúnicas especiais, era impossível que estivessem reunidos em um mesmo ponto.

Tratava-se de um ensino coletivo e não individual. Segundo Kardec, os Espíritos dividiram o trabalho e distribuíram os temas de estudo e observação.

O conteúdo do ensino dos Espíritos era transmitido parcialmente em diversos lugares e por uma multidão de intermediários. Surpreendentemente, cada lugar apresentava o complemento daquilo que era obtido em outro e, a partir daí, organizados e coordenados, obtinha-se o conjunto. Esse conjunto é o que constitui a Doutrina Espírita.

Ao redor de Allan Kardec formou-se, pelo curso natural das coisas e das circunstâncias, um centro de elaboração. Tudo passava por um meticuloso controle e, com exame minucioso, tudo era discutido. A lógica era rigorosa. Nada que ferisse a razão e ao bom-senso era aceito de modo passivo ou absoluto. O essencial era manter tudo que não fosse sujeito a erros, contaminação ou mudança. O estudo e observação eram sérios, perseverantes e contínuos.

Certamente, é possível afirmar que as verdades espíritas se constituem em revelações de ordem moral, cuja finalidade é o progresso da humanidade. Estamos longe de abarcar a dimensão do conteúdo da Doutrina Espírita, do mesmo modo estamos longe de divisar a importância e magnitude do trabalho realizado por Allan Kardec.

Uberaba-MG, 22/09/2021.
Beto Ramos

quinta-feira, 16 de setembro de 2021

OBRAS PÓSTUMAS NÃO É UM LIVRO DOUTRINÁRIO


ALLAN KARDEC
E O
CONTEÚDO
DE
OBRAS
PÓSTUMAS


É bastante comum observamos no movimento espírita brasileiro o uso do conteúdo de Obras Póstumas para justificar esse ou aquele posicionamento relacionado à Doutrina Espírita.

Nesse sentido, é lícito indagar: o conteúdo de Obras Póstumas é produto do trabalho de Allan Kardec? Para responder não basta lançar mão de uma opinião pessoal, é preciso deter um conjunto de conhecimentos prévios sobre o Espiritismo.

Em discurso pronunciado no túmulo de Allan Kardec, por ocasião de seu falecimento e diante de seus restos mortais, Camille Flammarion começa dando testemunho 'do relevante serviço que o autor de O Livro dos Espíritos prestou à filosofia, provocando a atenção e a discussão de fatos até então pertencentes ao domínio mórbido e funesto das superstições religiosas". 

Mais à frente no seu longo discurso Flammarion esclarece que Allan Kardec preferiu "constituir um corpo de doutrina moral a ter aplicado a discussão científica à realidade e à natureza dos fenômenos".

Tudo isso para conferir a Allan Kardec o título de "o bom senso encarnado". É, portanto, nesse sentido que pretendemos objetar ao conteúdo de Obras Póstumas ser labor de Kardec para constituir e tomar parte da Doutrina dos Espíritos, uma vez que, como afirma Camille, "o Espiritismo não é uma religião, mas uma ciência".

Afastado o caráter religioso, é preciso recordar que Kardec, na Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita, afirmou que "O Livro dos Espíritos contém a Doutrina Espírita; como generalidade liga-se ao Espiritualismo, do qual apresenta uma das fases".

Para fundamentar nossa tese definiremos as palavras Doutrina e Filosofia. Doutrina é o conjunto coerente de ideias fundamentais que compõem um sistema filosófico a serem transmitidas, ensinadas. Filosofia é a ciência que investiga a dimensão essencial e ontológica do mundo real, ultrapassando a opinião irrefletida do senso comum, o qual é escravo da realidade empírica (materialismo).

Na apresentação da obra O Céu e o Inferno por ocasião da notícia de seu lançamento, à guisa de prefácio, na Revista Espírita de setembro de 1865, Kardec esclarece como produzia uma obra. Afirmou que "como nossos outros escritos sobre a doutrina espírita, aí nada introduzimos que seja produto de um sistema preconcebido, ou de uma concepção pessoal, que não teria nenhuma autoridade: tudo aí é deduzido da observação e da concordância dos fatos".

Ali, também, Kardec indicou o conteúdo de cada obra publicada sobre o Espiritismo. O Livro dos Espíritos contém as bases fundamentais do Espiritismo cujo conteúdo é desenvolvido em outras obras. O Livro dos Médiuns e o Evangelho Segundo o Espiritismo se apresentam, sobre os princípios fundamentais, como pontos de vistas especiais, onde se deduzem todas as consequências e todas as aplicações à medida que se desenrolavam pelo ensino complementar dos Espíritos e por novas observações.

Importa remeter o leitor à uma nota de Kardec na Introdução de O Evangelho Segundo o Espiritismo, item I, objetivo da obra, em que afirma:

"Poderíamos dar, sem dúvida, sobre cada assunto, maior número de comunicações obtidas numa multidão de outras cidades e centros espíritas, além dos que citamos. Mas quisemos, antes de tudo, evitar a monotonia das repetições inúteis, e limitar a nossa escolha às que, por seu fundo e por sua forma, cabem mais especialmente no quadro desta obra, reservando para publicações posteriores as que não entraram aqui".

Cumpre, ainda, esclarecer qual era o critério de Kardec para publicação do Ensino dos Espíritos. Essa metodologia é que proporciona verificar a autoridade da Doutrina Espírita. Trata-se do controle universal do Ensino dos Espíritos. 

Antes de qualquer publicação Kardec usava o controle da razão, ao qual submetia tudo o que vinha dos Espíritos, sem exceção. O que encontrasse obstáculos no bom-senso, além do controle da razão, também submetia-se ao controle da lógica rigorosa. Mas, tudo isso, afirma Kardec, ainda era insuficiente para muitos casos, uma vez que muitos indivíduos não possuem conhecimento suficiente para o uso desse critério. Depreende-se que a análise das comunicações demanda domínio de várias áreas do conhecimento, bem como da Filosofia e da Lógica.

Por isso, além dos critérios acima, era necessário buscar a concordância no ensino dos Espíritos. Essa concordância requer espontaneidade nas comunicações, cuja fonte deve ser um grande número de médiuns, estranhos uns aos outros, e provenientes de diversos lugares. Outro critério de Kardec é o da prudência na publicação de qualquer informação. Não sendo atendidos todos os passos de seu método, aquilo que ele julgasse necessário publicar era publicado, mas, sempre com a advertência de que o fazia como opinião pessoal individual com a necessidade de comprovação.

Voltemos agora ao conteúdo de Obras Póstumas. Como se sabe esse livro foi publicado 20 anos depois da morte de Kardec. O que era importante publicar foi feito por Kardec em vida, conforme o método acima observado, no tempo oportuno e nas obras mencionadas. Haveria, então, alguma outra obra que Kardec gostaria de publicar?

Segundo Camille Flammarion, antes de morrer Allan Kardec trabalhava numa obra cujo conteúdo trataria de magnetismo e espiritismo. Ora, onde estão esse manuscritos? Por que esse conteúdo não seria mais importante que aquele de Obras Póstumas? Haveria interesses contrapostos à Doutrina dos Espíritos pelos 'continuadores' daquela sociedade criada pelo codificador?

Pois bem. Nada, absolutamente nada, sobre o tema que era estudado por Kardec foi publicado com tal indicação pelos mesmos publicadores do conteúdo de obras póstumas. O conteúdo dessa obra, portanto, seria fruto do trabalho de Kardec? A resposta é NÃO.

O fato de que os textos tenham sido encontrados nas gavetas de Kardec podem possuir valor do ponto de vista da história do espiritismo. Sua divulgação deveria ocorrer na integralidade e não com supressão de partes, pois isto indica interesse escuso ou, ao menos, estranho.

O trabalho de Kardec era organizar as informações advindas dos Espíritos e de interesse geral para a humanidade. O que possui caráter pessoal, segundo Kardec só é de interesse do destinatário. Mas, observamos que Obras Póstumas contém comunicações com a inscrição: particular.

Aliás, boa parte do conteúdo de Obras Póstumas tem natureza pessoal e não coletiva. Questionamos, então.

Por qual motivo Kardec não havia publicado esse conteúdo em vida? Teria dúvidas sobre o mesmo? Seria relevante para o público em geral? Passaram pelo crivo do controle universal? Kardec aguardava confirmação? Seria material para a história do espiritismo? Por que os 'continuadores' não publicaram o material referente a magnetismo e espiritismo tratado no discurso de Camille Flammarion no túmulo de Kardec?

Para comprovar nossa tese verificamos, conforme as imagens a seguir, que o conteúdo publicado em Obras Póstumas sofreu supressão (ou seria adulteração?). A seguir trazemos o conteúdo original , um manuscrito que tivemos a honra de ser agraciados com a imagem pelo Projeto Cartas de Kardec - FEAL, com o qual colaboramos, onde o Codificador conversa com um Espírito acerca de uma possível modificação na obra A Gênese.

Vamos recordar que há uma discussão/denúncia sobre existência de diferenças  retumbantes no conteúdo dessa obra entre a 4ª e 5ª edições, em que se discute a 'autoria' da mudança feita na 5ª edição (para facilitar, apresentamos, também, a tradução do manuscrito, o qual indicamos a leitura atenta):


O 'conteúdo' publicado em Obras Póstumas tratando do assunto desse mesmo manuscrito, referindo à mesma comunicação, além de sua reprodução com supressão de conteúdo, tem a flagrante constatação (na qual o leitor poderá observar por si mesmo, bastando a leitura atenta):




No manuscrito original, advindo do acervo da família de Canuto Abreu (em poder da FEAL), vê-se que a informação é distorcida. É lícito a qualquer estudante indagar qual o objetivo disto. Veja que no original a indicação é que o Espírito e Allan Kardec falavam sobre a Obra A Gênese. Falavam sobre o assunto alteração. Mas, o importante é verificar que estão tratando das 3ª e 4ª edições. Em Obras Póstumas, com o conteúdo modificado e suprimido, reportam-se à "4ª e 5ª". Nesse caso, a polêmica atribuída a Henri Sausse, levantada por Paulo Henrique de Figueiredo e pela FEAL na atualidade, não é produto de pessoas que postulam divisão no espiritismo, mas, seriedade com o conteúdo doutrinário. O mínimo que podemos fazer é atentar para a advertência e para as evidências ora apresentadas.

Convidamos o (a) leitor (a), após comparar os conteúdos ora publicamos, que reflita sobre a nossa afirmação derradeira:

O conteúdo de obras póstumas não é da lavra de Allan Kardec e não pertence ao conjunto publicado que contém a Doutrina dos Espíritos, poderá servir, se os documentos forem publicados integralmente, para compor a história do espiritismo, nada mais.

Uberaba-MG, 16/09/2021
Beto Ramos.







segunda-feira, 19 de julho de 2021

CRÍTICA DE ALLAN KARDEC À CIÊNCIA ECONÔMICA

Os incautos militantes da sanha em tornar o Espiritismo neutro, como se não contivesse teoria e formasse um grande corpo de Doutrina, defendem questões que beiram o ridículo.

Allan Kardec, comentando sobre a Lei de Caridade, citada pelos Espíritos na resposta às questões 685 e 685.a de O Livro dos Espíritos, curiosamente, fala sobre o trabalho, o emprego e o direito ao repouso na velhice.

Ultimamente, o Brasil experimentou a edição de um conjunto regras e normas que parecem destoar daquilo que lemos e compreendemos ser o pensamento de Allan Kardec.

É nesse sentido que compartilhamos a integra DA NOTA DE ALLAN KARDEC:

"Não basta se diga ao homem que lhe corre o dever de trabalhar. É preciso que aquele que tem de prover à sua existência por meio do trabalho encontre em que se ocupar, o que nem sempre acontece. Quando se generaliza, a suspensão do trabalho assume as proporções de um flagelo, qual a miséria. A ciência econômica procura remédio para isso no equilíbrio entre a produção e o consumo. Esse equilíbrio, porém, dado seja possível estabelecer-se, sofrerá sempre intermitências, durante as quais não deixa o trabalhador de ter que viver. Há um elemento, que se não costuma fazer pesar na balança e sem o qual a ciência econômica não passa de simples teoria. Esse elemento é a educação, não a educação intelectual, mas a educação moral. Não nos referimos, porém, à educação moral pelos livros e sim à que consiste na arte de formar os caracteres, à que incute hábitos, porquanto a educação é o conjunto dos hábitos adquiridos. Considerando-se a aluvião de indivíduos que todos os dias são lançados na torrente da população, sem princípios, sem freio e entregues a seus próprios instintos, serão de espantar as consequências desastrosas que daí decorrem? Quando essa arte for conhecida, compreendida e praticada, o homem terá no mundo hábitos de ordem e de previdência para consigo mesmo e para com os seus, de respeito a tudo o que é respeitável, hábitos que lhe permitirão atravessar menos penosamente os maus dias inevitáveis. A desordem e a imprevidência são duas chagas que só uma educação bem entendida pode curar. Esse o ponto de partida, o elemento real do bem-estar, o penhor da segurança de todos”.


Apesar da obviedade da dissertação, lembramos que os imprevidentes e os desordeiros que não possuem senão a educação dos livros (por vezes nem esta) citados por Kardec são os condutores da ciência econômica e da política que aplica o pensamento econômico conforme a ideologia política, amplamente demostrada na prática que desconhecem a mencionada Lei de Caridade. Por último, para quem não compreendeu, a expressão bem-estar significa: bem-estar social, principalmente quando acompanhada da expressão "garantia da segurança de todos".

Trata-se de um grande convite à reflexão!


Uberaba-MG, 19 de Julho de 2021.
Beto Ramos

domingo, 25 de abril de 2021

QUEM SÃO OS INIMIGOS DO ESPIRITISMO?

 

Abordar o tema inimigos do espiritismo para estudiosos desta ciência filosófica não causa espanto algum. Não se pode dizer o mesmo daqueles que, além de não estudar com profundidade o espiritismo, desconsiderando o seu caráter científilo-filosófico, vêem e propagam o espiritismo por um prisma descartado por Kardec, que afirmou: o espiritismo não é religião.

Aquele que busca compreender as bases e princípios sob os quais repousam solidamente o edifício espírita, certamente deve começar pela obra O Que É O Espiritismo de autoria de Allan Kardec. Nela o codificador exporá claramente o que se compreende por inimigo/adversário do espiritismo. Há farto material sobre esse tema presente nas Revistas Espíritas.

No primeiro capítulo da obra O Que É O Espiritismo veremos o autor afirmar: "A maior parte dos que seriamente têm estudado a questão, mudou de ideia, e mais de um adversário se tem tornado adepto do Espiritismo, quando reconhece que o seu objetivo é muito diverso daquele que supunha.

Em outro diálogo, na mesma obra, o autor também vai declarar: "O Espiritismo era apenas uma simples doutrina filosófica; foi a igreja quem lhe deu maiores proporções, apresentando-o como inimigo formidável; foi ela, enfim, quem o proclamou nova religião. FOI ERRADO, mas, a paixão não raciocina melhor".

A respeito daquilo que "certas pessoas" consideram sobre as ideias espíritas, Kardec vai dizer: "Não é portanto, estranháveis que os inimigos do Espiritismo procurem agarrar-se a todos os pretextos [e] empregam-no logo, conquanto não resista ao mais ligeiro exame.

Referindo-se à interdição do Espiritismo, ainda na obra citada, Kardec é questionado sobre o tema e apresenta resposta objetiva: "Solicito-vos uma última resposta: O Espiritismo tem poderosos inimigos; não poderiam eles interditar-lhe a prática e as sociedades e, por esse meio, impedir-lhe a propagação? Seria um modo de perder a partida um pouco mais cedo, porque a violência é o argumento daqueles que não têm boa razões".

Quando falamos sobre esse tema, apresentamos as ideias e nos referimos às pessoas e grupos que se insurgiram, se insurgem e, certamente, ainda vão se insurgir contra o espiritismo, temos em mente um questionamento do próprio codificador ocorrido em 12 de Junho de 1856, quando, pela mediunidade da senhoria C, questiona ao Espírito da Verdade, verbis:

"Quais são as causas que me poderiam fazer fracassar? Seria a insuficiência das minhas aptidões? Não, mas a missão dos reformadores é cheia de escolhos e perigos; a tua é rude; previno-te, porque é ao mundo inteiro que se trata de agitar e de transformar. Não creias que te seja suficiente publicar um livro, dois livros, dez livros, e ficares tranquilamente em tua casa; não! é preciso de mostrares no conflito; contra ti se açularão terríveis ódios, implacáveis inimigos tramarão a tua perda; [...] as tuas melhores instruções serão impugnadas e desnaturadas; [...] Para tais missões não basta a inteligência. É preciso antes de tudo, para agradar a Deus, humildade, modéstia, desinteresse, porque abatem os orgulhosos e presunçosos. Para lutar contra os homens, é necessário coragem, perseverança e firmeza inquebrantáveis; [...]".

Alguns críticos tanto em seio espírita quanto fora, defendendo os seus "flancos" aduzem que o espiritismo não possui inimigos; outros por se filiarem às mais estranhas correntes de sistemas criados contemporâneos a Kardec e após, não se dignam ao mínimo exame das razões sob as quais assentam nossas advertência e denúncias para atacar com veemência esse escriba. No entanto, o que nos move é a razão, a lógica e o bom-senso.

Não é possível aceitar o que está fora do espiritismo, uma vez que, se coube ao codificador, por meio do seu trabalho TRANSFORMAR O MUNDO INTEIRO e, certo de que o mundo inteiro não está transformado, alguns autores não possuem a menor autoridade para desvirtuar a doutrina espírita.

Outros, ainda mais perigosos postulam uma pseudo-superação de Kardec e, consequentemente do espiritismo, e se arvoram a ser eles os que merecem ser seguidos em suas teorias não testificadas, cuja incoerência é flagrante, tanto do ponto de vista lógico e filosófico quanto do científico, vez que embasados em critérios puramente religiosos. Como visto, não é esse o caráter do espiritismo como codificado por Allan Kardec e ensinado pelos Espíritos Superiores.

Portanto, doendo em quem quer que seja, vamos continuar denunciando a presença dessas doutrinas, verdadeiros cavalos de tróia, no meio espírita, bem como quem quer que seja o seu adepto, uma vez que o compromisso de todo espírita deve ser com aquele Espírito que advertiu Kardec e reportou aos seus inimigos e, consequentemente, inimigos do espiritismo: A Verdade.

Uberaba - MG, 25 de abril de 2021.

Beto Ramos

domingo, 2 de dezembro de 2018

EXISTEM ESPÍRITOS?


NOÇÕES PRELIMINARES PARA ESTUDO DO ESPIRITISMO


 Antes de aceitarmos qualquer discussão espírita, temos de nos assegurar se o interlocutor admite a base sobre a qual está todo o edifício do Espiritismo, qual seja: a existência de Deus e da Alma. Não nos cabe forçar essa crença, eis que a vontade é individual e autônoma.

Para tanto, a esses interlocutores, são necessárias algumas perguntas iniciais para delimitar o campo da discussão, quais sejam:
 a) Crê em Deus?
    b) Crê na existência da Alma?
    c) Crê na sobrevivência da Alma após a morte?

Tais questões devem obter respostas positivas, sem as quais seria inútil prosseguir numa discussão comparável a tentar demonstrar as propriedades da luz a um cego que não admitisse a existência da luz.


EXISTEM ESPÍRITOS?
1.Os Espíritos não são seres a parte na criação e sua existência decorre, necessariamente, do fato de haver um princípio inteligente no Universo, além da matéria.

 2.O Espiritualismo em geral nos oferece a demonstração teórica dogmática da existência, sobrevivência e individualidade da alma, o que o Espiritismo demonstrou pelos experimentos.

 3. Pelo método indutivo do raciocínio, partindo da premissa que a alma existe e sua individualidade permanece após a morte, tem-se:
a) Ao separar-se do corpo a alma não conserva as propriedades materiais, portanto, sua natureza é diferente da corpórea;
b) Sendo feliz ou sofredora, a alma possui consciência própria e não é um ser inerte do qual nada valeria sua existência;
c) Se há consciência vai para algum lugar, que, segundo a crença comum é o Céu ou o Inferno, mas, o Espiritismo não é compatível com essa teoria;
d) O Céu ou o Inferno deveria estar circunscrito em algum lugar, mas, no Universo não há como conceituar alto e baixo, uma vez que os orbes são redondos, os astros giram e o alto e baixo se revezam de tempo em tempo, sendo desconhecido o infinito do espaço que possui distâncias incomensuráveis;
e) A razão não admite a inutilidade do infinito, que leva a crer serem os demais mundos também habitados;
f) A doutrina da localização das almas e os dados das ciências não concordam entre si, o que conduz a uma doutrina mais lógica que lhes dá o espaço infinito, isto é, todo um mundo invisível que nos envolve e no meio do qual vivemos rodeados por elas.

 4. A ideia das penas e recompensas, uma vez que as almas não vão para locais determinados, é absurda. Ao contrário de penarem ou gozarem em determinado lugar, carregam no seu íntimo a felicidade ou a desgraça, pois, a sorte de cada uma depende de sua condição moral.

 5. O progresso das almas depende dos esforços que fazem para melhorarem e, depois das provas necessárias, podem atingir os graus mais elevados. Portanto, os anjos, mensageiros de Deus, são almas humanas que chegaram ao grau supremo e todos podem chegar até lá através da Boa Vontade.

 6. Essas almas purificadas, chegadas ao grau supremo, são incumbidas por Deus de zelar pela execução de seus desígnios em todo o Universo.

 7. Com isto, ter uma condição útil e aceitável após a morte é uma teoria mais atraente que a inutilidade perpétua da contemplação eterna.

OS DEMÔNIOS
 8. São almas das criaturas más, ainda não depuradas, mas, que podem chegar como as outras, ao estado de pureza. Tal situação está em pleno acordo com a Justiça e Bondade de Deus e em conformidade com a razão, a lógica e o bom-senso.

ESPÍRITOS
 9. As almas são os Espíritos encarnados revestidos do invólucro corporal (corpo de carne), enquanto que os Espíritos que povoam o Universo infinito também são almas humanas, mas, desprovidas (despojadas) da roupagem material (corpo de carne).

 10. Admitir-se a existência das almas é o mesmo que admitirem-se os Espíritos. Estando as almas por toda parte, os Espíritos também estão. Negar um é negar o outro.

AÇÃO SOBRE A MATÉRIA / MANIFESTAÇÕES ESPÍRITAS
 11. Os Espíritos não são seres abstratos, vagos e indefinidos. Na sua união com o corpo, o Espírito é o elemento principal da união, pois é o ser pensante e que sobrevive à morte.

 12. O corpo é um acessório do Espírito, um invólucro, uma roupagem que abandona depois de usar.

 13. Além do envoltório material, o Espírito possui outro, semimaterial, que o liga ao primeiro. 

 14. Na morte o Espírito abandona o corpo, mas, não o segundo envoltório, que é chamado de perispírito.

 15. O perispírito, que tem a mesma forma humana do corpo, é uma espécie de corpo fluídico, vaporoso, invisível para o sentido humano quando se encontra em seu estado normal, mas, possui ainda algumas propriedades da matéria.

 16. O Espírito é um ser limitado e circunscrito, ao qual falta ser visível e palpável para assemelhar-se às criaturas humanas.

 17. Como os demais fluídos rarefeitos, tal qual a eletricidade, o Espírito, constituído de uma substância sutil e dirigido pela vontade, é uma força motriz que age sobre a matéria.

 18.O Espírito encarnado age sobre a matéria do seu corpo dirigindo-lhe os movimentos corporais.

 19. Como o mudo serve-se de uma pessoa que fala para fazer-se compreender, assim o Espírito desencarnado serve-se de outro corpo, em acordo com o Espírito nele encarnado, para manifestar o seu pensamento.

  20. Partindo-se do princípio da existência da alma e sua sobrevivência após a morte, considera-se que o ser pensante durante a vida terrena continua pensando após a morte; Pensa naqueles que amou e deseja se comunicar com eles; Está por toda parte e ao nosso lado, comunicando-se conosco.

 21. O Espírito age sobre a matéria inerte por intermédio de seu corpo fluídico, assim como age sobre a matéria de um ser vivo, inclusive, dirigindo-lhe a mão para fazê-lo escrever, além de lhes responder questões pela transmissão do pensamento.

 Fonte:
KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. (Primeira Parte, Noções Preliminares, Capítulo I - Existem Espíritos?).  LAKE: São Paulo, 2013.

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

A HABITAÇÃO DOS ESPÍRITOS INFERIORES

 
Sabemos, conforme a Escala Espírita, que os Espíritos encarnados e desencarnados classificam-se segundo o grau de desenvolvimento, as qualidades adquiridas e imperfeições de que ainda não se livraram.

Em 1858 Allan Kardec abordou esse tema na Revista Espírita. Naquela oportunidade o Codificador não havia inserido a Décima Classe dos Espíritos componentes da Terceira Ordem da Escala, que trata das caraterísticas predominantes dos Espíritos Inferiores. Contudo, a Terceira ordem é composta pelos Espíritos Impuros, Levianos, Pseudossábios, Neutros e os Batedores e Perturbadores. (LE, Q-100/106).

Segue abaixo, conforme seus estudos psicológicos, uma dissertação de Allan Kardec sobre o tema. Esse texto encontra-se na RE-Mar/1858 onde o leitor poderá estudar e melhor refletir sobre o assunto.

Afirma o Codificador: 
“O mundo dos Espíritos compõe-se das almas de todos os humanos desta Terra e de outras esferas, despojadas dos liames corporais; do mesmo modo, todos os humanos são animados por Espíritos neles encarnados.

Há, pois, solidariedade entre esses dois mundos: os homens terão as qualidades e as imperfeições dos Espíritos aos quais estão unidos. Os Espíritos serão mais ou menos bons ou maus, conforme os progressos que hajam feito durante sua existência corporal. Estas poucas palavras resumem toda a doutrina.

Como os atos dos homens são o produto de seu livre-arbítrio, carregam a marca da perfeição ou da imperfeição do Espírito que os provoca. Ser-nos-á, pois, muito fácil fazer uma ideia do estado moral de um mundo qualquer, conforme a natureza dos Espíritos que o habitam; de algum modo poderíamos descrever sua legislação, traçar o quadro de seus costumes, de seus usos e de suas relações sociais.

Suponhamos, então, um globo habitado exclusivamente por Espíritos da Nona Classe, por Espíritos Impuros, e para lá nos transportemos pelo pensamento.

Nele veremos todas as paixões liberadas e sem freio; o estado moral no mais baixo grau de embrutecimento; a vida animal em toda a sua brutalidade; nada de laços sociais, porquanto cada um só vive e age por si e para satisfazer seus grosseiros apetites; o egoísmo ali reina como soberano absoluto, arrastando no seu cortejo o ódio, a inveja, o ciúme, a cupidez e o assassínio*.

Passemos agora a uma outra esfera, onde se encontram Espíritos de todas as classes da terceira ordem: Espíritos impuros, levianos, pseudo-sábios, neutros. Sabemos que o mal predomina em todas as classes dessa ordem; porém, sem ter o pensamento do bem, o do mal decresce à medida que se afastam da última classe.

O egoísmo é sempre o móvel principal das ações, mas os costumes são mais suaves, a inteligência mais desenvolvida; o mal aí está um pouco disfarçado, enfeitado, dissimulado.

Essas próprias qualidades dão origem a outro defeito: o orgulho, pois as classes mais elevadas são suficientemente esclarecidas para terem consciência de sua superioridade, mas não o bastante para compreenderem aquilo que lhes falta; daí sua tendência à escravização das classes inferiores ou das raças mais fracas, que mantêm sob o seu jugo.

Não possuindo o sentimento do bem, só têm o instinto do eu, pondo a inteligência em proveito da satisfação das paixões. Se numa tal sociedade dominar o elemento impuro, este aniquilará o outro; caso contrário, os menos maus procurarão destruir seus adversários; em todos os casos haverá luta, luta sangrenta, de extermínio, porque são dois elementos que têm interesses opostos.

Para proteger os bens e as pessoas, serão necessárias leis; mas essas leis serão ditadas pelo interesse pessoal e não pela justiça; é o forte que as fará, em detrimento do fraco”.

Esperamos que o presente texto possa servir para uma série de reflexões, mormente em face dos tormentosos acontecimentos que ocorrem no planeta Terra e em nosso País. Onde chegaremos com as dissidências causadas em razão de nossas imperfeições? Que faremos para que a vitória seja do bem?

Sentimo-nos na obrigação de advertir que para bem se compreender a Doutrina Espírita, um estudo sério das Revistas Espíritas é sempre atual e necessário. Todos os temas que foram objeto da Codificação encontram-se devidamente investigados na Revista Espírita.

(*) Verifique a notícia que consta na Obra Francisco de Assis, ditada pelo Espírito Miramez a João Nunes Maia, no capítulo "Uma Cidade Estranha", onde há uma referência à cidade denominada "A Cruzada".

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

A GÊNESE - por São Luís

Esta obra vem na hora certa, na medida em que a doutrina está hoje bem estabelecida do ponto de vista moral e religioso. Seja qual for a direção que tome de agora em diante, tem precedentes muito arraigados no coração dos adeptos, para que ninguém possa temer que ela se desvie de seu caminho.

O que importava satisfazer antes de tudo, eram as aspirações da alma; era suprir o vazio deixado pela dúvida nas almas vacilantes em sua fé. Esta primeira missão hoje está cumprida. O Espiritismo entra atualmente em uma nova fase; ao atributo de consolador, alia o de instrutor e diretor do espírito, em ciência e em filosofia, como em moralidade. A caridade, sua base inabalável, dele fez o laço das almas ternas; a Ciência, a solidariedade, a progressão, o espírito liberal dele farão o traço de união das almas fortes.

Conquistou os corações que amam com armas de doçura; hoje viril, é às inteligências viris que se dirige. Materialistas, positivistas, todos os que, por um motivo qualquer, se afastaram de uma espiritualidade cujas imperfeições suas inteligências lhes mostravam, nele vão encontrar novos alimentos para sua insaciabilidade.

A Ciência é sua senhora, mas uma descoberta chama outra, e o homem avança sem cessar com ela, de desejo em desejo, sem encontrar completa satisfação. É que o Espírito também tem suas necessidades; é que a alma mais ateísta tem aspirações secretas, inconfessadas, e que essas aspirações reclamam seu alimento.

A religião, antagonista da Ciência, respondia pelo mistério a todas as questões da filosofia céptica. Ela violava as leis da Natureza e as adaptava à sua fantasia, para daí extrair uma explicação incoerente de seus ensinamentos. Vós, ao contrário, vos sacrificais à Ciência; aceitais todos os seus ensinamentos sem exceção e lhe abris horizontes que ela supunha intransponíveis.

Tal será o efeito desta nova obra; não poderá senão assegurar mais os fundamentos da crença espírita nos corações que já a possuem, e fará dar um passo à frente para a unidade a todos os dissidentes, à exceção, entretanto, dos que o são por interesse ou por amor próprio; esses o vêem com despeito sobre bases cada vez mais inabaláveis, que os lançam para trás e os rechaçam na sombra.

Só havia pouco ou nenhum terreno comum onde se pudessem encontrar. Hoje, o materialismo vos acotovela por toda parte, porque estando em seu terreno, não estareis menos no vosso, e ele não poderá fazer outra coisa senão aprender a conhecer os hóspedes que lhe traz a filosofia espírita. É um instrumento de duplo efeito: uma sapa, uma mina que ainda derruba algumas ruínas do passado, uma colher de pedreiro que edifica para o futuro.

A questão de origem que se prende à Gênese é para todos uma questão apaixonada. Um livro escrito sobre esta matéria deve, em conseqüência, interessar a todos os espíritos sérios. Por esse livro, como vos disse, o Espiritismo entra numa nova fase e esta preparará as vias da fase que mais tarde se abrirá, porque cada coisa deve vir a seu tempo. Antecipar o momento propício é tão prejudicial quanto deixá-lo escapar.

Paris, 18 de dezembro de 1867 – Médium: Sr. Desliens (RE FEV/1868).

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

ORGANIZAÇÃO DO ESPIRITISMO




Principalmente quando o tema é caridade, é comum percebermos várias divagações referentes a diferentes temas. Quem nunca ouviu opiniões acerca do ingresso de confrades nos grupos?


Pois bem, hoje traremos para o leitor qual o legado de Allan Kardec quanto à formação dos grupos espíritas. Estudando a Revista Espírita de Dezembro de 1861 verifica-se que o Codificador tratou do tema. Lúcido, ponderado, firme, mas, sempre alicerçado em razões cujo propósito é preservar a Doutrina Espírita. Passemos a palavra para Allan Kardec.

1. [...] A princípio isolados, os adeptos hoje se surpreendem com o seu número; e como a similitude das ideias inspira o desejo de aproximação, procuram reunir-se e fundar sociedades. Assim, de todas as partes nos pedem instruções a respeito, manifestando o desejo de se unirem à Sociedade central de Paris. É, pois, chegado o momento de nos ocuparmos do que se pode chamar a organização do Espiritismo. O Livro dos Médiuns (2ª edição) contém observações importantes sobre a formação das Sociedades espíritas, às quais remetemos os interessados, rogando-lhes que meditem cuidadosamente. [...].

2. [...] Todos os dias recebemos cartas de pessoas que [...] perguntam o que podem fazer na ausência de médiuns e de coparticipantes do Espiritismo. [...] é muito simples. Para começar, podem trabalhar por conta própria, impregnando-se da doutrina pela leitura e meditação das obras especiais; quanto mais se aprofundarem, mais verdades consoladoras descobrirão confirmadas pela razão. [...] Em razão de sua própria posição, têm uma bela e importante missão a cumprir: a de espalhar a luz em seu redor. [...] Aos que fossem detidos pelo medo pueril do que os outros pensariam deles, nada temos a dizer, nenhum conselho a dar. Mas aos que têm a coragem da sua opinião, que estão acima das mesquinhas considerações mundanas, diremos que o que têm a fazer se limita a falar abertamente do Espiritismo, sem afetação, como de uma coisa muito simples e muito natural, sem a pregar e, sobretudo, sem buscar nem forçar convicções, nem fazer prosélitos a qualquer preço. O Espiritismo não deve ser imposto; vem-se a ele porque dele se necessita, e porque dá o que não dão as outras filosofias. [...] há pessoas que perguntarão: “O que é isto?” Apressai-vos, então, em satisfazê-las, proporcionando-lhes explicações conforme a natureza das disposições que nelas encontrardes. [...].

3. Falemos agora da organização do Espiritismo nos centros já numerosos. O aumento incessante dos adeptos demonstra a impossibilidade material de constituir-se numa cidade, sobretudo, numa cidade populosa, uma sociedade única. Além do número, há a dificuldade das distâncias que, para muitos, é um obstáculo. Por outro lado, é sabido que as grandes reuniões são menos favoráveis às belas comunicações e que as melhores são obtidas nos pequenos grupos. É, pois, na multiplicação dos grupos particulares que devemos concentrar os nossos esforços. Ora, como dissemos, vinte grupos de quinze a vinte pessoas obterão mais e farão mais pela propaganda do que uma sociedade única de quatrocentos membros. Os grupos se formam naturalmente pela afinidade de gostos, sentimentos, hábitos e posição social; todos ali se conhecem e, como são reuniões privadas, tem-se liberdade de número e de escolha dos que nela são admitidos.

4. [...] Cada grupo naturalmente é dirigido pelo chefe da casa, ou por aquele que para isso for designado; não há, a bem dizer, dirigente oficial, porque tudo se passa em família. O dono da casa, como tal, tem toda autoridade para manter a boa ordem. [...].

5. [...]. 6. [...].
7. Admitida, pois, em princípio a formação dos grupos, resta o exame de várias questões importantes. A primeira de todas é a uniformidade na doutrina. Essa uniformidade não seria mais bem garantida por uma sociedade compacta, pois os dissidentes sempre teriam facilidade de se retirar, formando grupo à parte. Quer a sociedade seja una ou fracionada, a uniformidade será a consequência natural da unidade de base que os grupos adotarem. Será completa em todos os que seguirem a linha traçada em O Livro dos Espíritos e em O Livro dos Médiuns. Um contém os princípios da filosofia da ciência; o outro, as regras da parte experimental e prática. Estas obras estão escritas com bastante clareza, de modo a não ensejar interpretações divergentes, condição essencial de toda doutrina nova. [...]. Podemos, pois, sem presunção, recomendar o seu estudo e prática às diversas reuniões espíritas, e isto com tanto mais razão quanto são as únicas, até o momento, em que a ciência é tratada de maneira completa. Todas as que foram publicadas sobre a matéria não abordaram senão alguns pontos isolados da questão. Aliás, não temos a menor pretensão de impor nossas ideias; nós as emitimos por ser um direito nosso. Aqueles a quem elas convêm as adotam; os outros as rejeitam, por ser também um direito que lhes assiste. [...].

8. O segundo ponto é a constituição dos grupos. Uma das primeiras condições é a homogeneidade, sem a qual não haveria comunhão de pensamentos. Uma reunião não pode ser estável, nem séria, se não há simpatia entre os que a compõem; e não pode haver simpatia entre pessoas que têm ideias divergentes e que fazem oposição surda, quando não aberta. Longe de nós dizermos com isso que se deva abafar a discussão; ao contrário, recomendamos o exame escrupuloso de todas as comunicações e de todos os fenômenos. Fique, pois, bem entendido, que cada um pode e deve externar a sua opinião; mas há pessoas que discutem para impor a sua, e não para se esclarecer. É contra o espírito de oposição sistemático que nos levantamos; contra as ideias preconcebidas, que não cedem nem mesmo perante a evidência. Tais pessoas incontestavelmente são uma causa de perturbação, que é preciso evitar. A este respeito, as reuniões espíritas estão em condições excepcionais. O que elas requerem acima de tudo é o recolhimento. Ora, como estar recolhido se, a cada momento, somos distraídos por uma polêmica acrimoniosa? Se, entre os assistentes, reina um sentimento de azedume e quando sentimos à nossa volta seres que sabemos hostis e em cuja fisionomia se lê o sarcasmo e o desdém por tudo quanto não concorde inteiramente com eles?

9. Traçamos o caráter das principais variedades de espíritas em O Livro dos Médiuns, nº 28. Sendo tal distinção importante para o assunto que nos ocupa, julgamos dever lembrá-la. Pode-se pôr em primeira linha os que creem pura e simplesmente nas manifestações. Para eles o Espiritismo não passa de uma ciência de observação, uma série de fatos mais ou menos curiosos; a filosofia e a moral são acessórios de que pouco se ocupam e de cujo alcance nem mesmo desconfiam. Nós os chamamos espíritas experimentadores. Vêm a seguir os que veem no Espiritismo algo mais que simples fatos; compreendem o seu alcance filosófico; admiram a moral dele decorrente, mas não a praticam; extasiam-se ante as belas comunicações, como diante de um sermão eloquente, que ouvem, mas não aproveitam. A influência sobre o seu caráter é insignificante ou nula; em nada mudam seus hábitos e não se privariam de um único prazer: o avarento é sempre avarento, o orgulhoso sempre cheio de si mesmo, o invejoso e o ciumento sempre hostis. Para eles a caridade cristã é apenas uma bela máxima e os bens deste mundo os arrastam na sua estima sobre os do futuro. São os espíritas imperfeitos. Ao lado destes há outros, mais numerosos do que se pensa, que não se limitam a admirar a moral espírita, mas que a praticam e a aceitam em todas as suas consequências. Convencidos de que a existência terrena é uma prova passageira, tratam de aproveitar estes curtos instantes para marchar na via do progresso, esforçando-se por fazer o bem e reprimir as más inclinações; suas relações são sempre seguras, porque sua convicção os afasta de todo mau pensamento. Em tudo a caridade é sua regra de conduta. São os verdadeiros espíritas, ou, melhor, os espíritas cristãos.

10. Se bem compreendido o que precede, compreender-se-á também que um grupo formado exclusivamente por elementos desta última classe estaria em melhores condições, porque entre pessoas que praticam a lei de amor e de caridade é que se pode estabelecer uma séria ligação fraternal. Entre homens para quem a moral não passa de uma teoria, a união não seria durável; como não impõem nenhum freio ao orgulho, à ambição, à vaidade e ao egoísmo, não o imporão também às suas palavras; quererão ser os primeiros, quando deveriam humilhar-se; irritar-se-ão com as contradições e não terão nenhum escrúpulo em semear a perturbação e a discórdia. Entre verdadeiros espíritas, ao contrário, reina um sentimento de confiança e de recíproca benevolência; sentem-se à vontade nesse meio simpático, ao passo que há constrangimento e ansiedade num ambiente heterogêneo.

11. Isto faz parte da natureza das coisas e nada inventamos a respeito. Daí se segue que, na formação dos grupos, deve-se exigir a perfeição? Seria simplesmente absurdo, porque exigir o impossível e, neste ponto, ninguém poderia pretender dele fazer parte. Tendo como objetivo a melhoria dos homens, o Espiritismo não vem recrutar os que são perfeitos, mas os que se esforçam em o ser, pondo em prática o ensino dos Espíritos. O verdadeiro espírita não é o que alcançou a meta, mas o que deseja seriamente atingi-la. Sejam quais forem os seus antecedentes, será bom espírita desde que reconheça suas imperfeições e seja sincero e perseverante no propósito de emendar-se. Para ele o Espiritismo é uma verdadeira regeneração, porque rompe com o passado; indulgente para com os outros, como gostaria que fossem para consigo, de sua boca não sairá nenhuma palavra malevolente nem ofensiva contra ninguém. Aquele que, numa reunião, se afastasse das conveniências, não só provaria falta de civilidade e de urbanidade, mas falta de caridade; aquele que se melindrasse com a contradição e pretendesse impor a sua pessoa ou as suas ideias, daria prova de orgulho. Ora, nem um nem outro estariam no caminho do verdadeiro Espiritismo cristão. Aquele que pensa ter uma opinião mais justa fará que os outros a aceitem melhor pela persuasão e pela doçura; o azedume, de sua parte, seria um péssimo negócio.

12. A simples lógica demonstra, pois, a quem quer que conheça as leis do Espiritismo, quais os melhores elementos para a composição dos grupos verdadeiramente sérios, e não vacilamos em dizer que são os que exercem maior influência na propagação da doutrina. [...].

13. Acabamos de indicar a melhor composição dos grupos. [...]. Às vezes nos deixamos dominar pelas circunstâncias, mas é na eliminação dos obstáculos que devemos concentrar todos os nossos cuidados. Infelizmente, quando criamos um grupo, somos muito pouco rigorosos na escolha, porque, antes de tudo, queremos formar um núcleo. Para nele ser admitido basta, na maioria das vezes, um simples desejo ou uma adesão qualquer às ideias mais gerais do Espiritismo. Só mais tarde é que percebemos ter facilitado em demasia a admissão.

14. Num grupo sempre há elementos estáveis e flutuantes. O primeiro é composto de pessoas assíduas, que formam a base; o segundo, das que são admitidas temporária e acidentalmente. É essencial prestar escrupulosa atenção no que respeita à composição do elemento estável; neste caso, não se deve hesitar em sacrificar a quantidade pela qualidade, porque é ele que dá impulso e serve de regulador. O elemento flutuante é menos importante, porque sempre se é livre para modificá-lo à vontade. Não se deve perder de vista que as reuniões espíritas, como, aliás, todas as reuniões em geral, haurem as forças de sua vitalidade na base sobre a qual se assentam; neste particular, tudo depende do ponto de partida. Aquele que tem a intenção de organizar um grupo em boas condições deve, antes de tudo, assegurar-se do concurso de alguns adeptos sinceros, que levem a doutrina a sério e cujo caráter, conciliador e benevolente, seja conhecido. Formado esse núcleo, ainda que de três ou quatro pessoas, estabelecer-se-ão regras precisas, seja para as admissões, seja para a realização das sessões e para a ordem dos trabalhos, regras às quais os recém vindos terão de se conformar. Essas regras podem sofrer modificações conforme as circunstâncias, mas há algumas que são essenciais.

15. Sendo a unidade de princípios um dos pontos importantes, não pode existir naqueles que, não tendo estudado, não podem ter opinião formada. Assim, a primeira condição a impor, caso não queiramos ser interrompidos a cada instante por objeções ou perguntas ociosas, é o estudo prévio. A segunda é uma profissão de fé categórica e uma adesão formal à doutrina de O Livro dos Espíritos, além de outras condições especiais julgadas convenientes. Isto quanto aos membros titulares e dirigentes. Para os assistentes, que geralmente vêm para adquirir um pouco mais de conhecimento e de convicção, pode-se ser menos rigoroso; todavia, como há os que poderiam causar perturbação com observações despropositadas, é importante assegurar-se de suas disposições. Faz-se necessário, acima de tudo e sem exceção, afastar os curiosos e quem quer que seja atraído por motivo frívolo.

16. A ordem e a regularidade dos trabalhos são coisas igualmente essenciais. Consideramos de grande utilidade abrir cada sessão pela leitura de algumas passagens de O Livro dos Médiuns e de O Livro dos Espíritos. Por esse meio, ter-se-ão sempre presentes na memória os princípios da ciência e os meios de evitar os escolhos encontrados a cada passo na prática. Assim, a atenção será fixada sobre uma porção de pontos, que muitas vezes escapam numa leitura particular e poderão ensejar comentários e discussões instrutivas, das quais os próprios Espíritos poderão participar. Não menos importante é recolher e passar a limpo todas as comunicações obtidas, por ordem de datas, com indicação do médium que serviu de intermediário. Esta última menção é útil para o estudo do gênero da faculdade de cada um. Mas muitas vezes acontece que se perde de vista estas comunicações, que assim se tornam letra morta; isto desencoraja os Espíritos que as tinham dado, com vistas à instrução dos assistentes. É necessário, pois, fazer uma coleta especial das mais instrutivas e proceder à sua releitura de vez em quando. Frequentemente essas comunicações são de interesse geral e não são dadas pelos Espíritos apenas para a instrução de alguns ou para serem relegadas aos arquivos. Assim, é útil que, para a publicidade, sejam levadas ao conhecimento de todos. [...].

17. [...], nossas instruções destinam-se exclusivamente aos grupos formados de elementos sérios e homogêneos; aos que querem seguir a rota do Espiritismo moral, visando o progresso de cada um, fim essencial e único da doutrina; enfim, aos que nos querem aceitar por guia e levar em conta os conselhos de nossa experiência. É incontestável que um grupo formado nas condições que indicamos funcionará com regularidade, sem entraves e de maneira proveitosa. O que um grupo pode fazer, outros também o podem. [...].

18. [...].
19. [...] tudo isto é de execução muito simples e sem burocracia; [...] tudo depende [...] da composição dos grupos primitivos. Se formados de bons elementos, serão outras tantas boas raízes que darão bons frutos. Se, ao contrário, forem formados de elementos heterogêneos e antipáticos, de espíritas duvidosos, mais preocupados com a forma do que com o fundo, que consideram a moral como parte acessória e secundária, há que se esperar polêmicas irritantes, que a nada levam, pretensões pessoais, atritos de susceptibilidades e, em consequência, conflitos precursores da desorganização. [...].

20. Talvez digam que essas restrições severas sejam um obstáculo à propagação. Isto é um equívoco. Não imagineis que, abrindo a porta ao primeiro que surgisse, estaríeis fazendo mais prosélitos; a experiência aí está para provar o contrário. Seríeis assaltados pela multidão dos curiosos e dos indiferentes, que ali viriam como a um espetáculo. Ora, os curiosos e os indiferentes são um estorvo, e não auxiliares. Quanto aos incrédulos, seja por sistema, seja por orgulho, por mais que lho mostreis, não tratarão disso senão com zombaria, porque não o compreenderão e não querem dar-se ao trabalho de compreender. Já o dissemos, e nunca repetiríamos em demasia: a verdadeira propagação, aquela que é útil e proveitosa, é feita pelo ascendente moral das reuniões sérias. [...]. Sede, pois, sérios, em toda a acepção da palavra e as pessoas sérias virão a vós: são os melhores propagadores, porque falam com convicção e tanto pregam pelo exemplo, quanto pela palavra.

21. [...]
22. Dissemos no começo que diversos círculos espíritas pediram para se unir à Sociedade de Paris; utilizaram até mesmo a palavra filiar-se. A respeito faz-se necessária uma explicação. A Sociedade de Paris foi a primeira a ser regularizada e legalmente constituída. Por sua posição e pela natureza de seus trabalhos, teve uma grande parte no desenvolvimento do Espiritismo e, em nossa opinião, justifica o título de Sociedade Iniciadora, que lhe deram certos Espíritos. Sua influência moral se fez sentir longe e, embora restrita, numericamente falando, tem consciência de ter feito mais pela propaganda do que se tivesse aberto as portas ao público. Formou-se com o único objetivo de estudar e aprofundar a ciência espírita. Para isto não necessita de um auditório numeroso, nem de muitos membros, pois sabe muito bem que a verdadeira propaganda é feita pela influência dos princípios; como não é movida por nenhum interesse material, um excedente numérico ser-lhe-ia mais prejudicial do que útil. [...] A palavra filiação seria, pois, imprópria, porque suporia de sua parte uma espécie de supremacia material, à qual ela absolutamente não aspira, e que teria mesmo inconvenientes. Como Sociedade iniciadora e central, pode estabelecer com os outros grupos ou sociedades relações puramente científicas, limitando-se aí o seu papel; não exerce nenhum controle sobre essas sociedades, que em nada dependem dela e ficam inteiramente livres para se constituírem como bem o entenderem, sem ter de prestar contas a ninguém, e sem que a Sociedade de Paris tenha que se imiscuir no que for em seus negócios. [...]

23. [...]
24. [...]. Sabe-se que os Espíritos, não possuindo todos a soberana ciência, podem considerar certos princípios de seu ponto de vista pessoal e, conseqüentemente, nem sempre estarão de acordo. O melhor critério da verdade está naturalmente na concordância dos princípios ensinados sobre diversos pontos, por Espíritos diferentes e por meio de médiuns estranhos uns aos outros. Desse modo foi composto O Livro dos Espíritos. Mas ainda restam muitas questões importantes a serem resolvidas desta maneira, cuja solução terá mais autoridade quando obtida por grande maioria. [...] Existe um grande número de obras antigas e modernas, nas quais se encontram testemunhos mais ou menos diretos em favor das ideias espíritas. Uma coleção desses testemunhos seria muito preciosa, [...].

25. No estado atual das coisas está é a única organização possível do Espiritismo. Mais tarde as circunstâncias poderão modificá-la, mas nada dever ser feito intempestivamente; [...] Disseram, por pura maldade, que queríamos fazer escola no Espiritismo. E por que não teríamos esse direito? [...] Mas aos olhos de certa gente aí está o nosso erro, pois não nos perdoam por havermos chegado primeiro que eles e, sobretudo, por havermos triunfado. Que seja, pois, uma escola, [...]: Escola do Espiritismo Moral, Filosófico e Cristão; e a ela convidamos todos os que têm por divisa amor e caridade. Aos que aderirem a esta bandeira, todas as nossas simpatias; o nosso concurso jamais faltará.

Allan Kardec


Revista Espírita*. Dezembro / 1861. Organização do Espiritismo.

* (o texto reproduziu as partes que o autor compreende necessárias para o espaço e conhecimento, ficando a investigação das partes omitidas a cargo do leitor).

DESTAQUE DA SEMANA

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