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sexta-feira, 8 de julho de 2022

O ESPIRITISMO E A PESQUISA CIENTÍFICA.

 

Allan Kardec, pseudônimo do educador e filósofo Rivail, apresentou na obra O QUE É O ESPIRITISMO um quadro restrito de algumas das perguntas fundamentais sobre o Espiritismo e declarou: "é a primeira iniciação para aquele que deseja saber se vale a pena estudar o Espiritismo".

No preâmbulo dessa obra, de partida, esse fantástico pedagogo afirmou que o Espiritismo é uma ciência da observação e uma doutrina filosófica. E esclareceu que, enquanto ciência da observação, o Espiritismo se ocupa das relações que podem ser mantidas com os Espíritos; como filosofia, estuda as consequências morais que decorrem destas relações.

Ainda que não exista qualquer dúvida quanto aos esclarecimentos, bem como o locus epistemológico do Espiritismo na TEORIA DO CONHECIMENTO, é comum encontrar indivíduos que se declaram 'espíritas', mas incluem o Espiritismo no campo da religião, caracterizando-o como  uma seita a mais.

Esse erro induz o leigo a crer que o Espiritismo seria apenas mais uma revelação de natureza religiosa, cuja origem é divina e exige crença cega, sem hipótese de questionamentos. Sobre esse equívoco o próprio Allan Kardec tratou com clareza na obra A Gênese, capítulo 1, A Natureza da Revelação Espírita.

Por outro lado, informações inadequadas e estudos incompletos, bem como interpretações equivocadas, sem lastro que as fundamentem, leva o indivíduo a julgar que, no trabalho realizado por Allan Kardec, não houve a coerência da investigação que tem o rigor da ciência. Mas, ao contrário disto, o trabalho que culminou nas obras espíritas demonstram uma fina arte de raciocinar, onde Kardec buscou distinguir raciocínios válidos de outros não válidos, indagou, investigou, pesquisou, ligando ideias coerentes segundo as leis do raciocínio.

Kant, em 1786, declarou: "afirmo que sempre que se tenha prolongado uma disputa, especialmente no campo filosófico, havia, em suas raízes, não um simples problema de palavras, mas um problema genuíno acerca das coisas". Mais tarde, os Espíritos vão dizer a Kardec: entendei-vos quanto as palavras.

Karl Popper (2008, 16ª edição, tradução em língua portuguesa), afirma que um cientista, seja teórico ou experimental, formula enunciados ou sistemas de enunciados e verifica-os um a um. No campo das ciências empíricas, para particularizar, ele formula hipóteses ou sistemas de teorias, e submete-os a teste, confrontando-os com a experiência, através de recursos de observação e experimentação.

Percebemos que estudar, pesquisar, produzir ciência não é uma tarefa fácil e simples. Se um estudo conduzisse a uma única resposta científica, isto é, válida, para cada problema apresentado, a tarefa de separar a opinião vulgar da científica seria menos inglória. No entanto, o pesquisador encontra uma variedade de respostas válidas, o que lhe coloca numa posição difícil de julgar o que é científico e o que é vulgar. 

Porém, sabemos que, se todas as respostas forem válidas, não haverá como distinguir o científico e o vulgar. Entre outas coisas, é possível presumir que esse dilema advém da polissemia de expressões, consequências de usos ideológicos opostos e múltiplos. O papel do pesquisador será os identificar. Um dos muitos trabalhos de Kardec foi esse.

Segundo informa FIGUEIREDO (Revolução Espírita, Maat, 2016) o professor Rivail ficou diante de um fenômeno original, que merecia ser investigado. Entre outras obras desse cientista, pedagogo e filósofo, vamos encontrar O Livro dos Espíritos, contendo vários temas com uma coordenação precisa de hipóteses, cujo conteúdo forma uma teoria metafísica sólida, coerente e com encadeamento lógico exato, abrangendo todas as principais questões da ciência, da moral e da psicologia.

Qual era o fenômeno original que se apresentava diante de Rivail? Inúmeras manifestações ocorriam em todo o planeta, ao mesmo tempo, e diversos estudiosos tentavam explicá-las, como informa FIGUEIREDO na obra citada. Qual a diferença desse movimento para aqueles fenômenos que ocorriam desde a antiguidade? Tratava-se de uma diversidade de comunicações simultâneas com um padrão inteligente. Não era nenhum fato esparso ou aleatório. O que ficou evidente para aquele pesquisador é que, por trás das manifestações, havia um plano amplo e complexo. Rivail tratou de os reunir num todo coerente.

Além do mais foi possível constatar que, no mesmo período em que ocorria uma revolução científica e moral na Terra, era oferecido pela iniciativa dos Espíritos, em todo o planeta, um conhecimento que a humanidade não seria capaz de descobrir sozinha. Tratava-se do ensino dos Espíritos.

Na obra Viagem Espírita de 1862, Allan Kardec vai responder uma importante questão: "Qual foi o meu papel? Nem o de inventor, nem o de criador. Vi, observei, estudei os fatos com cuidado e perseverança; coordenei-os e lhes deduzi as consequências; eis toda a parte que me cabe; aquilo que fiz outro poderia ter feito em meu lugar; [...] será a obra da minha vida até meu último dia, porque na presença de um objetivo tão importante, todos os interesses materiais e pessoais se apagam como pontos diante do infinito".

Não podemos amesquinhar o Espiritismo com a ideia menor de que não se trata de uma ciência-filosófica como propôs Kardec no campo da Teoria do Conhecimento. Por suas obras podemos indagar sobre a magnitude do seu trabalho, bem como da posição que o Espírito que animou sua personalidade ocupa na hierarquia/escala evolutiva dos Espíritos.

Observamos na sua pesquisa que ele delimitou claramente o tema, especificou o problema de modo a saber o que pesquisar, não foi um generalista, apresentou como hipóteses soluções provisórias para os problemas, justificou o porquê de fazer a sua pesquisa, deixou claro o seu objetivo demonstrando o que queria com a mesma.

Ao que parece, Kardec usou entre os seus procedimentos e técnicas de pesquisa, a metodologia empírico-analítica. E, o que é extraordinário, não deixou de apresentar seu referencial teórico. Como exemplo deste citamos, em o Evangelho Segundo o Espiritismo, a dissertação sobre o DEVER, cuja fonte é: LÁZARO, PARIS, 1863.

Além do mais, é possível distinguir no trabalho de Kardec a presença de um conjunto de verbos que regeram e estiveram presentes durante todo o seu trabalho. Veja-se o quadro:

Conhecimento

Compreensão

Aplicação

Análise

Síntese

Avaliação

Apontar

Descrever

Aplicar

Analisar

Coordenar

Apreciar

Assinalar

Discutir

Demonstrar

Calcular

Conjugar

Aquilatar

Citar

Explicar

Empregar

Comparar

Construir

Avaliar

Definir

Expressar

Esboçar

Contrastar

Criar

Calcular

Escrever

Identificar

Ilustrar

Criticar

Enumerar

Escolher

Inscrever

Localizar

Interpretar

Debater

Esquematizar

Estimar

Marcar

Narrar

Inventariar

Diferenciar

Formular

Julgar

Relacionar

Reafirmar

Operar

Distinguir

Listar

Medir

Registrar

Revisar

Praticar

Examinar

Organizar

Selecionar

Relatar

Traduzir

Traçar

Experimentar

Planejar

Validar

Sublinhar

Transcrever

Usar

Investigar

Reunir

Valorar

Poderíamos indagar se, na organização da Doutrina dos Espíritos, Kardec deixou de lançar mão das ações representadas por cada conjunto de verbos que compõem a estrutura da sua pesquisa, uma vez que, conforme asseverou na obra Viagem Espírita, seu trabalho foi de conhecimento, compreensão, aplicação, análise, síntese e avaliação.

E você, qual sua opinião sobre a pesquisa científica realizada por Allan Kardec?

Uberaba-MG, 08/07/2022
Beto Ramos

quarta-feira, 6 de julho de 2022

VONTADE, SENTIMENTO E DEVERES: A FORÇA DA ALMA


É natural pensar que vontade seria o mero querer, hipótese da satisfação do desejo. No entanto, esse é o pensamento vulgar. A análise mais profunda sobre o tema nos proporciona responder a essa indagação: o que é a vontade? A vontade é o poder de decidir a ação, sem constrangimento de uma força externa ou da força das paixões.

Nesse sentido, quando há um arrastamento em decorrência da paixão, designamos como desejo. Se for o caso de uma influência externa, chamamos de coação. Portanto, somente no caso em que a vontade é exercida sem interferência de nenhuma ordem é que a escolha é livre.

Mas, os indivíduos não possuem autonomia da vontade por meio de uma graça divina. Há uma verdadeira luta contra os obstáculos internos (os arrastamentos das paixões) e contra os obstáculos externos (leis que regulam as relações sociais e determinam o fazer e o não fazer em razão das próprias leis, costumes e tradições, entre outros fatores). Essa luta resulta na força da alma.

Essa força que a vontade adquire em um longo processo se apresenta na forma de coragem, que nada mais é que uma espécie de virtude que faz o indivíduo enfrentar os perigos para cumprir um dever. Ora, para exercitar essa virtude (coragem), o indivíduo precisa escolher enfrentar os perigos necessários e evitar os perigos inúteis.

Age com coragem o indivíduo que suporta as adversidades. Nesse caso, entende-se que o mesmo agiu com paciência. É preciso esclarecer que a racionalidade e a meditação proporcionam ao indivíduo não confundir a força da alma (paciência e coragem) com a ridícula obstinação.

Algumas características físicas ajudam a compreender se o indivíduo agiu com paciência na adversidade e com moderação na prosperidade. Em qualquer dos casos, a força da alma mantém o indivíduo sempre igual: sua alma é igual, a sua fronte permanece a mesma e o seu rosto sempre sereno.

No entanto, o indivíduo que se enfurece rápido e se apazígua em seguida (caráter irascível), ou aquele que conserva por muito tempo o seu ressentimento (caráter vingativo), não atingiu a força da alma, portanto, não adquiriu as virtudes necessárias que permitem fazer uma escolha livre.

A liberdade humana é o fundamento das ações, uma parte essencial na prática da moral, que junto à faculdade da razão, colocam o ser humano em condição superior aos demais seres da criação. Essa condição se apresenta na figura da dignidade humana, a qual se traduz no dever de respeito em si mesmo, como no fazer respeitar em si pelos outros.

O justo sentimento da dignidade humana, segundo Paul Janet na obra Pequenos elementos da moral, pode ser compreendido na forma a seguir, onde o autor elabora a diferença entre orgulho e soberba para melhor compreensão:

ORGULHO

SOBERBA

- Proíbe humilhar

- Proíbe deixar humilhar

- Sentimento exagerado que se tem das próprias vantagens e da superioridade sobre os outros.

- Relação com o sagrado e o divino no ser humano.

- Relação com o próprio indivíduo; cresce e aumenta a partir das próprias misérias.

- Não quer ser oprimido.

- Quer oprimir o outro.

- Nobre.

- Brutal; Insolente.

A virtude que se opõe à soberba é a modéstia. Trata-se do justo sentimento sobre o que se vale e do que não vale. Aquele que é modesto, também é humilde. Humildade não é  rebaixamento, mas um sentimento de reconhecimento da própria fraqueza.

Quem é humilde não se humilha, não se rebaixa e não se deprecia, respeita a si mesmo e reconhece o próprio tamanho e importância, é digno de si mesmo e respeita nos outros a própria dignidade. O humilde lembra que é apenas um ser humano, assim como todos os demais.

Estes fragmentos são apenas alguns fundamentos que se podem encontrar na Filosofia Espiritualista Racional. Se chegou até aqui, por favor, deixe seu comentário e até o próximo encontro.

Uberaba-MG, 06/07/2022.
Beto Ramos.

segunda-feira, 20 de junho de 2022

O AGENTE MORAL, SUAS PAIXÕES E VÍCIOS.

 

Retomando a ideia a partir do nosso último artigo, é importante ter sempre em mente que os caracteres humanos não são imutáveis. Todos estão sujeitos a inclinações boas ou más. LIBERDADE é FORÇA MORAL. Há uma NATUREZA EXTERIOR AO CORPO que provoca ou desperta PAIXÕES. As paixões se tornam HÁBITOS e influenciam no CARÁTER. Deste, advém os IMPULSOS, que tudo move sem ser movido.

A liberdade está em ceder ou não aos desejos e controlar ou não os impulsos. Todo AGENTE MORAL é LIVRE e, por isso, RESPONSÁVEL POR SUAS AÇÕES. Todavia, há condições para a responsabilização moral. Trata-se do conhecimento do bem e do mal e da liberdade de ação.

Nesse caso, seria lícito questionar quem é o agente moral. Seria apenas aquele que escolhe fazer o bem? Aquele que não dá vasão aos seus impulsos? Compreendemos que a condição que se deve observar no agente moral é: trata-se de uma alma encarnada livre? Isto é, uma alma encarnada que pode fazer escolhas?

O verdadeiro agente moral é aquele que está sujeito às inclinações boas ou más, que possui liberdade para escolher e que, finalmente, poderá ser responsabilizado pelos seus atos. Destarte, ninguém será punido em razão de ter agido coercitivamente (alguém o obriga a fazer ou deixar de fazer alguma coisa), tampouco aquele que agiu ou não por ignorância (faz ou deixa de fazer alguma coisa desconhecendo quaisquer resultados).

Assim sendo, o agente moral é todo aquele passível de ser responsabilizado moralmente. O julgamento/juízo é interno/íntimo e supõe exame de consciência, a qual carece estar desperta e o indivíduo não poderá estar no estado de inocência. A sanção (penalização) para o agente moral depende, então, de o mesmo possuir conhecimento do bem e do mal e ter liberdade de ação entre um e outro (fazer/não fazer o bem; fazer/não fazer o mal).

Corrigir maus hábitos e dominar suas paixões são empreendimentos do agente moral. Demanda esforço e vontade bem dirigida. Não há nenhum arrastamento que seja irresistível; é necessário que se tenha vontade de resistir. Essa resistência supõe o conhecimento de si mesmo. Então, como essas paixões se desenvolvem?

Segundo a Filosofia Espiritualista Racional, o processo dá-se da seguinte forma:

a. Afetos naturais e inevitáveis da alma:

  • inclinações;
  • tendências.

b. Movimentos violentos e desordenados:

  • paixões propriamente ditas.

c. Hábitos incorporados ao caráter:

  • vícios.

Vejamos o processo em que, partindo de afeto natural, passando pela paixão, chega-se ao hábito. O indivíduo tende, naturalmente, à conservação; trata-se do instinto de conservação. Por essa tendência desenvolve o amor à vida (natural).

Eis que, influenciado pelas circunstâncias, idade, doenças ou temperamento, o indivíduo exacerba o amor à vida. Por isso, desenvolve uma paixão: é o MEDO DA MORTE.

Finalmente, passa a não enfrentar nenhuma situação em face do medo que desenvolveu. Chegamos, portanto, ao hábito, isto é, o indivíduo desenvolveu a COVARDIA; O hábito se tornou um vício.

Outro exemplo que facilita a compreensão do processo é com relação à conservação natural. Para viver o indivíduo sente FOME e SEDE (são os apetites). Tudo deve ser saciado na justa medida. Se o indivíduo passa a comer e beber além da conta (abusa dos apetites) desenvolve paixões; Estas, por sua vez se transformam nos vícios da GULA e da EMBRIAGUÊS.

Os afetos naturais e inevitáveis são princípios importantes, que devem ser objeto de análise constante do indivíduo. A Filosofia Espiritualista Racional oferece o seguinte quadro: 

PRINCÍPIOS

VÍCIOS

Amor a si

Egoísmo

Estima p/ si mesmo

Orgulho e vaidade

Amor à liberdade

Espírito de revolta

Amor ao poder

Ambição

Instinto de propriedade

Avidez, cupidez, paixão pelo ganho

Paixão pelo jogo ou desejo de ganhar por meio do azar

Desejo de ganhar + temor de perder = avareza

Existem, também, as inclinações relativas a outros indivíduos, que precisam ser observadas para que NÃO caminhem para o campo dos vícios: 

PRINCÍPIOS

VÍCIOS

Desejo de agradar ou benevolência   

Complacência

Desejo de elogiar

Adulação

Desejo de estima

Hipocrisia

As paixões e os vícios são doenças da alma. A cura é apenas o querer. A dificuldade reside na ocupação da alma com a paixão. Nesse caso, é preciso desviar o espírito para outros objetos. Bossuet, citado por Paul Janet, ensina que "não se detém o curso do raio, mas, dele é possível desviar". É preciso que o indivíduo desvie sua atenção. Aquele que se nutre desde cedo com afeições honestas tem maior chance de vencer uma paixão.

Há, segundo a Filosofia Espiritualista Racional, meios de substituir um mal hábito por um bom hábito:

1. Se jogar na extremidade oposta do defeito; Encontrar o equilíbrio na elasticidade razoável e natural do objeto; Ficar atento para não recair no vício;

2. Evitar começar tarefas muito difíceis. Proceder gradualmente e segundo as próprias forças para vencer no empreendimento de substituição; É sabido que a preguiça não se cura com trabalho excessivo, mas sim um pouco a cada dia, até adquirir o hábito do trabalho;

3. Escolher a ocasião para adquirir a virtude nova, buscando a disposição íntima e exercitar a energia da vontade.

4. Não confiar que o mau pendor foi vencido em definitivo; Fazer exame de consciência, se ocupar com boas leituras, meditar, estar em boas companhias, escutar bons conselhos e escolher um grande modelo.

No próximo encontro vamos conversar sobre os deveres e suas classes. Até lá.

Uberaba-MG, 20/06/2022
Beto Ramos

FONTE BIBLIOGRÁFICA: JANET, Paul. Pequenos Elementos da Moral. Edição do Kindle (Amazon).

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