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quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

CENÁRIO SOCIAL E AMBIENTE POLÍTICO QUE PRECEDE AO 'NASCIMENTO DE KARDEC'.

 

     

Antes do advento de Kardec para o mundo, por meio da sua memorável primeira edição de O Livro dos Espíritos, a França do século 19 vivia um turbulento cenário social e, diante das ideias progressistas, o ambiente político era de constante tensão.

Em 1850, a igreja aumentava consideravelmente o seu poder sobre as escolas. Desse modo, a instituição era contrária aos ideais republicanos que queriam escolas que preparassem trabalhadores leigos para o serviço público.

Como já expusemos, havia uma concorrência muito forte entre regimes políticos, cujo cenário se modificava em questão de breve tempo. Na área da educação ocorria a disputa entre o grupo defensor de línguas clássicas e o grupo defensor do ensino técnico; No campo da religião, havia unanimidade. Apesar de uns reclamarem a religião obrigatória ao povo e outros não, todos queriam uma EDUCAÇÃO MORAL.

Defendia-se e se compreendia a educação moral no contexto da necessidade de ensinar aos jovens e aos adultos as regras de ordem social, de autoridade e de propriedade. Acima das questões ideológicas, que deveriam reger o sistema educacional, havia consenso quanto aos objetivos e recursos.

Nesse contexto concorriam dois tipos de instituições de ensino:

a. A dos nobres (ricos); e,

b. A do povo (pobres).

Para os primeiros (classe dominante), o programa era a cultura clássica e o conhecimento científico; Aos segundos (os pobres), a educação básica ligada ao sentimento moral e obediência.

O método de ensino nesse período pode ser assim resumido:

  • Professores limitando a espontaneidade dos alunos;
  • Autoridade baseada na disciplina para conter protestos e revolta;
  • Liberdade de pensamento apreciada somente para adultos, não para crianças e jovens;
  • Inexistência de espaço para discussão com professores sobre qualquer tema.
Rivail estava presente nesse contexto e participava ativamente sobre as discussões do novo sistema educacional francês que tentava romper  com o velho, que resistia, o que implicava em grande dificuldade para se consolidar.

Entre várias questões que defendeu, uma merece destaque: Rivail considerou como um dos maiores problemas das instituições educativas a falta de educação moral. Segundo ele, essa educação é que é capaz de proporcionar elementos para a criança se tornar um cidadão honesto e de boa vontade.

Demonstrando sua maneira de ver a questão, Rivail apresenta o sistema hierárquico da aristocracia que constituiu a história humana: aristocracia da força; aristocracia da lei; aristocracia do dinheiro; As quais deram lugar para a aristocracia da razão.

No seu livro destinado ao primeiro grau da instrução primária, Catecismo Gramatical da Língua Francesa (Editado em Sévres), Rivail irá demonstrar o que pensava sobre educação. Resumindo, Rivail vai declarar:

  1. Educação é uma ciência única;
  2. A causa de pessoas ensinarem de forma inadequada é a FALTA DE ESTUDOS ESPECIALIZADOS;
  3. Poucas pessoas avaliam o verdadeiro objetivo da educação porque não compreendem o que é educação;
  4. Muitos não compreendem o que a educação pode ser;
  5. Muitos não compreendem o que fazer para que a educação melhore;
  6. A educação, no século 19, não é uma ciência totalmente constituída, cujas bases não estão ainda definidas.

Para melhorar o sistema de educação e do ensino público, Rivail propôs:

  • Criar uma escola de teoria e prática pedagógica, como são as de direito e de medicina;
  • A duração do tempo de estudos seria em 3 (três) anos. O primeiro dedicado ao estudo da teoria;  o segundo para teoria e prática; e o terceiro somente destinado à prática.

Em 1850 surgem as últimas obras pedagógicas de Rivail. Há paralelos e vinculações entre o pensamento e produção literária de Rivail com a proposta espírita, conforme é passível de observação nos comentários de Kardec e no ensino dos Espíritos. São dois períodos de vida da mesma pessoa. Ambos baseados nos mesmos ideais. Portanto, a Doutrina Espírita é rica em valores educativos.

O Livro dos Espíritos, primeira obra de Rivail sob o pseudônimo Allan Kardec, estrutura-se na proposta da grade curricular que se estudava no campo da Filosofia Espiritualista Racional do século 19, como se observa das informações colhidas no Tratado Elementar de Filosofia, de autoria de Paul Janet.

Quem se der ao trabalho de estudar seriamente o pensamento de Rivail e o conteúdo da Doutrina Espírita verificará, por exemplo, nas questões 685.a, 797, 872, 914 e 917, de O Livro dos Espíritos, os paralelos e vinculações que acabamos de citar.

(Continua...)


Uberaba-MG, 06/01/2021
Beto Ramos


FONTE BIBLIOGRÁFICA:

FIGUEIREDO, Paulo Henrique. Revolução Espírita - a teoria esquecida de Allan Kardec. São Paulo: Maat, 2016.

INCONTRI, Dora; GRZYBOWSKI, Przemyslaw. Kardec Educador - Textos Pedagógicos de Hippolyte Léon Denizard Rivail. São Paulo: Editora Comenius (e-book).

segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

KARDEC, ANTES DE TUDO, RIVAIL "O EDUCADOR".


Caso se pergunte a alguém, preferencialmente aos espíritas, quem foi Kardec, certamente para uns a resposta será: o organizador do espiritismo; e, para outros, o codificador do espiritismo.

É curioso dizer, mas, Allan Kardec, o organizador da Doutrina Espírita, foi alguém que nasceu em 18/04/1857 e com a idade adulta de  aproximadamente 52 anos. É que esse nome é um pseudônimo. Na verdade, antes do advento de Kardec para o mundo, viveu outro homem.

É imperativo saber:

KARDEC FOI, ANTES DE TUDO, RIVAIL, O EDUCADOR.

Mais da metade da vida de Rivail, depois Kardec, foi dedicada à educação da juventude. Sua vida foi influenciada por destacados pedagogos, que lhe serviram de modelo e inspiração (assista o vídeo em nossa plataforma).

No século 19, Rivail foi considerado um ESPECIALISTA em assuntos de ensino. Por meio de suas obras, ele dialogava com alunos, professores e outros profissionais do ensino e da educação, além de influentes personagens da área jurídica e administrativa do sistema educacional francês.

O movimento espírita conhece pouco ou quase nada de Kardec. Mas, Rivail, o educador, não é mencionado como tal e nem há ênfase da sua importância para o mundo que se pretende regenerar.

Nessa reflexão não estamos aludindo ao título educador, mas quem é, o que fez, qual o tamanho de sua obra e a proeminência de Rivail para a França do século 19 no campo da educação.

Quem foi o pedagogo Rivail? Como se desenvolveram seus conceitos de ensino e educação? Qual sua proposta para educar o povo?

Talvez a primeira questão a ser abordada seria o esquecimento de quem foi Rivail. O primeiro 'culpado' disto é ele próprio. Rivail pretendeu isso. Pode-se imaginar que objetivou proteger pessoas; não quis usar seu prestígio para divulgar o espiritismo; não desejou ofuscar a nascente ciência-filosófica, seu conteúdo e sua importância.

Sobre Rivail e Kardec, possuindo muito em comum, destaca-se que ambos obtiveram sucesso com as obras que publicaram. No entanto, Kardec abordou com bastante clareza temas que Rivail não discutiu com a mesma profundidade.

Quem foi Rivail antes de O Livro dos Espíritos? Foi alguém que dedicou um grande período de sua vida ao trabalho pedagógico. Trabalhou com o ensino e a educação, publicou livros específicos e artigos com considerações profundas acerca dos problemas dessa área do conhecimento.

Se você desejar conhecer a história da família de Rivail, sua infância e formação, acesse os endereços abaixo (o número 1 possui 3 partes) e leia tudo:

1. A HISTÓRIA DO ESPIRITISMO...

2. A VIDA DE RIVAIL NO CAMPO...

3. INFÂNCIA E INFLUÊNCIA DO MEIO NA OBRA...

4. YVERDON-LES-BAINS: RIVAIL E PESTALOZZI SE ENCONTRAM

Após deixar Yverdon Rivail seguirá carreira no campo da educação, pela qual dedicará sua vida. Abaixo, um breve histórico:

1823 - Lança sua primeira obra pedagógica: Curso Prático e Teórico de Aritmética Segundo os Princípios de Pestalozzi, com modificações.

12/1823 - Lançamento da obra completa, uma vez que a anterior tinha apenas 16 páginas. Recomenda o livro a professores e mães que desejassem ensinar para as crianças as regras básicas de aritmética.

1825 - Se torna diretor de uma escola de 1º grau, fundada por ele em Paris. Para essa ocasião publica um livreto de 8 páginas.

1826 - Fundou a instituição Rivail, um instituto técnico, onde aplicou o método de Pestalozzi, o qual funcionou por 9 anos.

1830 - Traduz, para o alemão, "Aventuras de Telêmaco", cujo autor foi François de Salignac de La Mothe Fénelon, na qual acresceu comentários para uso em educandários, entre outros, como objeto de estudos comparados de línguas. Rivail era poliglota e dominava várias línguas.

1831 - Rivail recebeu um prêmio pela obra "Memorando sobre o seguinte problema: qual é o sistema de estudo mais conveniente às necessidades da época atual?".

1832 - Se casa com Amélie Boudet e fundam um educandário para moças nas proximidades de Paris, que foi dirigida por Amélie.

14/08/1834 - Rivail profere discurso na distribuição de prémios em sua escola. No mesmo apresenta noções importantes da pedagogia que praticava.

Na instituição que fundou, física e química eram matérias obrigatórias, além de literatura, geografia, história, gramática, escrita, leitura, desenho geométrico, etc., abordando, também, anatomia e fisiologia.

1834 - Fechou o seu instituto, vendendo-o para passar a trabalhar como contador e tradutor de livros, além de elaborar programas de estudos para alunos de escolas do subúrbio.

1835 - 1840 - Dirigiu cursos populares gratuitos de Química, Física, Astronomia e Anatomia Comparada.

1848 - Rivail dirigiu o Liceu Polimático. Ministrou cursos de Fisiologia, Astronomia, Química e Física. Produziu manuais didáticos, planos, exercícios, compilações de métodos para professores e pais, projetos para políticos e pedagogos.

Ao longo dos textos e livros publicados, Rivail demonstra percepções distintas de sua época. História para ele não se limita a datas e parentescos familiares. Era necessário estudar costumes, descobertas, progressos da arte e da ciência em períodos sucessivos. Estudar canto era tão necessário quanto a leitura.

Nesse período Rivail já afirmava que houve o tempo da força bruta como lei, hoje é o mesmo com a força do espírito; Que, quem aprende, trabalha por sua própria felicidade. Foi reconhecido como um dos melhores gramáticos de seu tempo na França. Era um cientista e pertenceu a diversos institutos, devidamente diplomado.

No período de produção de Rivail, a situação do sistema escolar da Europa Ocidental evoluiu influenciada por mudanças progressistas da sociedade.

A política caminhava em direção à democracia. E isso requeria mudanças nas atividades do meio intelectual, no sentido de possibilitar aos cidadãos adquirir conhecimentos necessários à utilização do seu poder. A democracia dependia dos programas educativos.

É nesse cenário que surge a ideia da obrigatoriedade e gratuidade da instrução pública, a princípio para o ensino de primeiro grau. Além disto, o ensino técnico reclamava o seu lugar. O segundo grau se caracterizou pelo estudo de línguas vivas e não clássicas.

Nessa conjuntura, há o distanciamento das escolas e as igrejas. A ideia era a cultura se tornar leiga e o Estado assumir o poder sobre ela. Nesse tocante importa recordar as características do ensino dominado pelos religiosos:

  • A língua era o latim;
  • O viver era baseado na ideia cristã;
  • O objetivo era o aluno enfrentar problemas administrativos e econômicos;
  • O programa de estudos continha muitos elementos de religião;
  • Os professores, frequentemente, eram clérigos;
  • As mentes eram formadas para obedecerem às igrejas e ao Estado;
  • Em universidades, apenas teólogos, juristas e médicos recebiam ensino especializado; e,
  • Havia tratamento diferenciado para os sexos nesse período.

De maneira geral, a Europa, sobretudo Suíça e Alemanha, com algum alcance sobre as colônias inglesas e os Estados Unidos, buscavam desenvolver métodos ativos e intuitivos, que permitissem aos alunos participarem do processo de ensino e acompanhar a descoberta da verdade junto aos professores.

A França de Rivail, contudo, era um país onde prevalecia a Tradição. Pesava o senso de hierarquia social e da aristocracia. Em meio a isso surgem os serviços públicos e as profissões liberais, dentre às quais pertencia o gênero de trabalho braçal.

Dessa forma, ao contrário de avançar, tornou-se um obstáculo ao desenvolvimento. Escolas de segundo grau, por exemplo, não buscaram desenvolver uma educação que servisse às pessoas "menos importantes".

Por outro lado, a industrialização francesa fez surgirem condições favoráveis à educação pública. O aprendizado era visado pelos ricos que desejavam que alguns operários se instruíssem, adquirindo e aperfeiçoando sua capacidade técnica. Surge, também, a necessidade de garantir cuidados às crianças para que seus pais pudessem trabalhar durante o dia.

Mas, sendo um país profundamente católico e com ligação umbilical com a igreja, a transformação das escolas em instituições leigas encontra muita resistência. Pensava-se que a direção tomada pela evolução do sistema educacional era nocivo aos católicos, privilegiando os demais credos.

A igreja resistia.

Por meio do partido liberal, controlava as Universidades e cuidava de interesses próprios. Em 1850, a igreja aumenta seu poder sobre as escolas. Passa a ser permitido que criem e desenvolvam seus educandários.

A igreja era contra os republicanos que queriam escolas que preparassem trabalhadores leigos para o serviço público. No século 19 francês verificava-se a concorrência entre diferentes regimes políticos. Tudo se transformava em questão de breve tempo: governos, ministros e leis.

(Continua...)


Uberaba-MG, 03/01/2021
Beto Ramos


FONTE BIBLIOGRÁFICA:

FIGUEIREDO, Paulo Henrique. Revolução Espírita - a teoria esquecida de Allan Kardec. São Paulo: Maat, 2016.

INCONTRI, Dora; GRZYBOWSKI, Przemyslaw. Kardec Educador - Textos Pedagógicos de Hippolyte Léon Denizard Rivail. São Paulo: Editora Comenius (e-book).



domingo, 26 de dezembro de 2021

O PASSE MAGNÉTICO NA OBRA DE ANDRÉ LUIZ (ESPÍRITO)


É comum ouvir relatos no meio espírita acerca do passe magnético. Principalmente quanto à sensações de que algo parece sair das mãos do magnetizador. Alguns dizem que houve aquecimento em suas mãos, outros que há certo formigamento.

Certos médiuns relatam terem 'visto energia ou fluido vital' sendo transmitido para o paciente. Fala-se, inclusive, de cores, entre outros argumentos para fundamentar uma ideia de que haveria 'alguma coisa sendo transferida do magnetizador para o paciente'.

Existem relatos de que essas afirmações estariam em acordo com o conteúdo das obras de André Luiz. Trata-se de um Espírito que se comunicou pela mediunidade de Francisco Cândido Xavier e que produziu uma obra de fôlego.

Primeiramente, é necessário esclarecer que há uma crítica importante às obras desse e de outros Espíritos, cujas mensagens não foram submetidas ao Controle Universal do Ensino dos Espíritos, método adotado por Allan Kardec a partir da ciência histórica que, ao seu turno, adotava o método dos testemunhos.

No Espiritismo, além dos testemunhos e relatos dos diversos Espíritos, por vários médiuns, desconhecidos entre si e em várias localidades espalhadas pelo planeta, Kardec, também, incluiu, conforme ensinou Paul Janet, a lógica, a razão e o bom-senso na análise das comunicações.

Feita essa ressalva, a intenção nesse texto não é criticar a obra do Espírito, mas, lado outro, aproximar os conceitos apresentados nos livros e demonstrar que há equívoco dos que defendem a ideia de 'alguma coisa sendo transmitida pelas mãos do magnetizador durante o passe', posto que esse não é, definitivamente, o que postulou André Luiz.

Para esse estudo pesquisamos em 02 (dois) livros de autoria de André Luiz, ditados pela via mediúnica à Francisco Cândido Xavier e 01 (hum) ditado a este e a outro: Waldo Vieira. Além de outra fonte bibliográfica principal que deixaremos ao final do texto.

Inicialmente, uma preciosa lição deve orientar o nosso trabalho e a sua leitura. Trata-se do que Kardec chamou de 'a perfeita compreensão'. O que deve permear toda investigação e etudo sério. Conforme ensinou o Codificador em O Evangelho Segundo o Espiritismo: 'não basta crer, é preciso antes compreender'.

Você sabia que André Luiz relata que um dos Espíritos instrutores a que teve acesso viveu na França, conheceu Mesmer e, após, em nova reencarnação apreciou os trabalhos realizados por Allan Kardec? Que o seu interesse era pela mediunidade e o magnetismo?

Verifique, ainda, que sobre os fenômenos mediúnicos de psicografia, 'incorporação e materialização', André Luiz afirma que estudou apenas 'de leve', o que, confessa, é muito pouco em razão da complexidade da mediunidade.

Partindo para o tema proposto, veja que André Luiz demonstra que há equívoco nas afirmações de quem adota a teoria de transferência de fluidos entre magnetizador (no Brasil denominado 'passista') e o paciente. Nas palavras de um dos instrutores há o esclarecimento de que todo fenômeno mediúnico tem por base a mente.

Além disto, usa a expressão 'arrojar a energia atuante do próprio pensamento', cujo resultado é criar em torno do indivíduo o ambiente psíquico que é particular a cada um. Perceba, ainda, o processo: a interação entre indivíduos ocorre pela 'energia mental'. E, o mais importante: é a mente do Espírito quem imprime vontade e direção ao pensamento.

 
André Luiz narra que as ideias, isto é, o produto dos pensamentos resultantes da vontade do Espírito, cuja direção é impressa, transmite-se por onda e em frequência própria. Não é outro o conceito de Mesmer quanto ao magnetismo animal. Veja que não há relato de nada sendo transferido de um indivíduo para outro. Fala-se tão somente em PENSAMENTO.

Na imagem a seguir temos uma inteligência emissora do pensamento e uma receptora deste:



Quanto à sintonia, questão trabalhada por Allan Kardec junto aos Espíritos Superiores, a fim de solucionar a maior ou menor facilidade de comunicação, ou mesmo sua impossibilidade, além de curas instantâneas ou dificuldades em apenas aliviar uma dor física, André Luiz não reporta nada diferente, mas, deixa claro que a sintonia ocorre por meio de ondas, as quais assimilamos, em razão das quais imprimimos a direção.

Alerta, inclusive, para a questão do conhecimento do tipo de onda mental que assimilamos. Portanto, uma magnetização deve ser precedida de uma anamnese do paciente.

Interessante que André Luiz traz "algo novo" para a questão do passe magnético e da cura, o que não se constituirá em 'novidade' no sentido pejorativo. Apenas introduz as descobertas científicas ao assunto. Kardec falou em contato molecular. André Luiz fala em contato celular, coforme veremos a seguir.

Antes de prosseguirmos, em razão de que há muitos adeptos da tese de 'transmissão de alguma coisa do passista para o paciente', é necessário verificarmos alguns conceitos importantes na obra de André Luiz, vejamos:

A matéria é energia tornada visível, que, ao seu turno, é força divina que utilizamos nos mundos onde a matéria se expressa em variados estados de vibração. Ficou meio confuso? É que os Espíritos utilizam os fluidos espirituais ou perispirituais. Como eles usam? Através da vontade que movimenta o pensamento gerando o turbilhão de forças por meio da indução.

Se você está pensando na aula de física, não é outra coisa. É física pura:


Veja que André Luiz utilizou a expressão matéria mental para referir-se a fluidos espirituais e perispirituais. Verifique, agora, o que diz Allan Kardec a respeito:


Lembra que falamos que Allan Kardec referiu-se ao contato entre perispírito e corpo físico por meio de moléculas? Pois bem, no século 19, entre os anos 1840 a 1870, estudava-se as células. André Luiz vai incorporar a ciência no conceito, mas, não modificará em hipótese alguma o que foi ensinado pelos Espíritos Superiores acerca do processo de cura.

E, é bom lembrar, Kardec sempre afirmou que no avanço da ciência, o Espiritismo estaria em conformidade com esta.

Vamos, agora, encaminhar a questão para o passe magnético e a cura. Observaremos que André Luiz compreende o processo conforme o que foi ensinado pelos Espíritos Superiores. Na obra A Gênese verifica-se  interação entre o perispírito e o corpo físico, bem como a causa de certas doenças ser a má natureza dos fluidos espirituais que o Espírito mantém contato e os transmite para o corpo físico:



Veja que André Luiz no livro Evolução em Dois Mundos observa a teoria celular, isto é, o contato do perispírito com o corpo físico ocorre por meio dos bilhões de células que compõem cada órgão e possuem funções exclusivas e trabalhos específicos.

O comando desses bilhões de células é do Espírito:

Importante esclarecer que os espíritas que defendem que o Espiritismo não preconiza a Teoria Moral Autônoma e que Francisco Xavier teria recebido mensagens contrárias a essa teoria, ficando silente e não denunciando, parece, a nosso sentir, estarem equivocados. Não há denúncia mais perfeita que publicar um livro onde há a seguinte mensagem:


Se ainda paira alguma dúvida, perceba que a dor física não passa de sofrimento meramente físico, o qual constitui-se em alarme para que se inicie o procedimento de socorro físico ou espiritual. Nesse caso temos: sofrimento moral no Espírito e sofrimento físico no encarnado.


Para encerrar esse trabalho vamos colacionar como ocorre o processo de autocura na obra de André Luiz. Se você é partidário da teoria do fluido vital, pela qual "alguma coisa é transferida pelo magnetizador ao paciente", certamente isso não deve ser creditado como culpa de André Luiz. Sua teoria é outra, veja:


Verifique que a questão da vontade e do pensamento, com o fim de restaurar a confiança do paciente para soerguer sua vontade e este, autonomamente, inicie o processo de cura comandando seus bilhões de células, é o mesmo da Teoria Espírita e da Teoria de Mesmer quanto à cura pelo passe magnético.


Deixamos aqui a nossa contribuição e esperamos ter deixado claro que NÃO HÁ NA TEORIA ESPÍRITA, NA TEORIA DE MESMER E NA TEORIA DE ANDRÉ LUIZ, transferência de fluido vital do magnetizador para paciente. Também não há transferência de energia. Não se opera transfusão de nada.

O que será "inoculado no paciente" é o pensamento do magnetizador, o qual precisa que esse pensamento seja assimilado (sintonia). O processo ocorre por meio da vontade que coloca esse pensamento em movimento, sendo transmitido por meio de ondas eletromagnéticas. Quem fica pensando em "transferir alguma coisa de si para o outro", certamente, não estará pensando na coisa correta que é:
"DESEJO QUE A VONTADE DO MEU (MINHA) IRMÃO (IRMÃ) SEJA FORTALECIDA NO BEM E QUE ELE QUEIRA DETERMINAR AO SEU CASULO CELULAR QUE INICIE O PROCESSO DE RESTAURAÇÃO DA HARMONIA ORGÂNICA PERDIDA. QUE O PACIENTE, A PARTIR DE AGORA, SÓ MANTENHA ESSE FOCO NO PENSAMENTO".
Agora que você já sabe como é o processo, poderá fazer um trabalho eficaz junto aos pacientes que serão magnetizados. Faça uma entrevista antes, veja qual é o sofrimento físico do paciente e analise o sofrimento moral porventura existente. Com essas informações você poderá direcionar seu pensamento por meio de sua vontade permanente no bem para alívio ou cura do órgão ou órgãos afetados do paciente.

Isto não é tudo, mas é um caminho.

Uberaba-MG, 26/12/2021
Beto Ramos.

FONTES BIBLIOGRÁFICAS:
FIGUEIREDO, Paulo Henrique. Antonomia - a história jamais contada do Espiritismo. São Paulo: FEAL, 2019.
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo.
________. A Gênese. São Paulo: FEAL, 1868 (2018).
________. O Livro dos Médiuns.
XAVIER, Francisco C.; VIEIRA, Valdo. Evolução em Dois Mundos. Brasília: FEB, 2013.
________. Nos Domínios da Mediunidade. Brasília: FEB, 2013.
________. Mecanismos da Mediunidade. Brasília: FEB, 2013.

DESTAQUE DA SEMANA

A DOUTRINA DOS ESPÍRITOS NÃO É ASSUNTO QUE SE ESGOTA EM UMA PALESTRA

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