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quarta-feira, 31 de agosto de 2022

CONTEÚDO DA OBRA VIAGEM ESPÍRITA EM 1862

  

Neste ano de 2022 (dois mil e vinte e dois, em pleno século XXI (21) completam-se 160 (cento e sessenta) anos da famosa viagem espírita de Allan Kardec pela França.

Na verdade, como registra o próprio organizador do Espiritismo, ocorreram 03 (três) viagens. Na primeira delas, no ano de 1860, Kardec limitou-se a visitar apenas Lyon e algumas outras cidades que se encontravam no trajeto. Em 1861, além de Lyon, a visita se estendeu à cidade de Bordeaux.

Finalmente, em 1862, a excursão que durou 06 (seis) semanas, teve um percurso de 1.158 (mil cento e cinquenta e oito) quilômetros e Kardec visitou mais de 20 (vinte) cidades, assistindo e participando de mais de 50 (cinquenta) reuniões.


Dessa última viagem resultou uma magnífica obra da lavra de Allan Kardec. Voyage Spirite en 1862 traduzida do francês por Wallace Leal V. Rodrigues, editada e lançada em português pela Casa Editora O Clarim. Trata-se de uma obra que traz importante conteúdo doutrinário.

Nesse sentido, na condição de obra doutrinária, parece se tratar de um livro pouco estudado pelos grupos espíritas, porquanto é mais usado para algum tipo de informação de viés histórico. Todavia, confessa Kardec que o objetivo da viagem era de instrução; de um lado para orientar a quem tivesse necessidade e, de outro, para a própria instrução do organizador do Espiritismo.

O conteúdo desse livro está dividido em 04 (quatro) partes, a saber:

I. Impressões gerais

  • Kardec se mostra grato pelo acolhimento benevolente que recebeu durante a viagem, embora reconheça que esse é direcionado à doutrina espírita, sem a qual, afirma, [ele] nada seria, tampouco seria objeto de preocupação;
  • Constatou que a doutrina penetrou corações em razão de pregações contrárias dos adversários;
  • Verificou que a difusão do espiritismo partia mais da classe média, mais esclarecida ou de mediana cultura, do que das classes incultas; Do meio seguia para cima ou para baixo;
  • Constatou a marcha progressiva do ensino dos Espíritos;
  • Observou o número incalculável de Espíritas que nada viram para aderir à doutrina, mas que a estudaram e a compreenderam; Sobre esse fato Kardec afirmou: "Isto prova que emprestam maior atenção ao fundo do que à forma. Para eles a filosofia é o principal; as manifestações constituem mero acessório". (pg. 31);
  • Kardec constatou que crer é muito, mas não é suficiente. É preciso que o espírita seja transformado [filosofia espírita como estilo de vida];
  • As numerosas reuniões que assistiu proporcionaram a Kardec constatar o ambiente propício para comunicações e instruções dos bons Espíritos. Adverte nesse sentido que "reuniões desta natureza se multiplicarão [...] à medida em que a verdadeira finalidade do Espiritismo for melhor compreendida". (pg. 33);
  • Verificou que crianças educadas nos princípios espíritas adquirem uma capacidade de raciocinar precoce, que as torna infinitamente mais fáceis de serem conduzidas;
  • Percebeu que os casos de obsessão são mais raros entre os que fizeram estudo prévio e atento de O Livro dos Médiuns e se identificaram com os princípios nele contidos (vigilância, atenção e predisposições morais para não atrair e ao mesmo tempo afastar Espíritos suspeitos);
  • Na ocasião verificou algo interessante: que o excesso de prudência é melhor que o excesso de confiança na análise das comunicações.
II. 03 (três) discursos pronunciados nas reuniões gerais de Lyon e Bordeaux.

III. Instruções particulares sobre os seguintes assuntos:

  • Manobras dos adversários contra o Espiritismo;
  • Sinal ou senha para reconhecimento entre espíritas;
  • O perigo do Espiritismo para classes pouco esclarecidas;
  • Por que o Espiritismo tem inimigos;
  • Progresso silencioso do Espiritismo;
  • Publicações feitas em nome do Espiritismo por pseudo adeptos;
  • A crença de que o Espiritismo é obra do demônio;
  • Evocação dos mortos;
  • Espíritas e médiuns e a advertência de que haveria falsos Cristos e falsos profetas;
  • Sobre a formação de grupos espíritas;
  • Quanto aos cultos e práticas exteriores.
IV. Projeto de Regulamento para uso de grupos e pequenas sociedades.
  • Objetivo: manter unidade e princípios de ação.
Como se verifica do resumo ora apresentado, uma bússola para indicar o caminho, que deve ser explorado com o cuidado do estudante sério, há nesta obra profundo conteúdo de cunho doutrinário, que merece nossa meditação, reflexão e aplicação prática.

E você, já estudou essa obra Viagem Espírita em 1862? Caso a resposta seja positiva, qual sua opinião e sua impressão? Registre aí nos comentários. Se ainda não leu, não sabe o que está perdendo. Até nosso próximo encontro.

Uberaba - MG, 31/08/2022.
Beto Ramos.

segunda-feira, 29 de agosto de 2022

EXPLICAR, SIGNIFICAR E DEFINIR: compreendendo as diferenças sutis.

 

Um dos maiores cuidados expressados por Kardec para realizar sua pesquisa era, sem sombras de dúvidas, não bombardeá-la com os naturais preconceitos humanos. Nesse caso, estamos tratando especificamente dos sistemas preconcebidos. Para bem se compreender, trata-se de não eivar a pesquisa de um vício muito comum: partir de uma ideia formada para valida-la na pesquisa. Não estamos tratando das hipóteses, pois essas são comuns nas pesquisas, constituindo as variáveis encontradas acerca do tema, assunto ou objeto investigado.

Na pesquisa espírita, Kardec sempre tinha cuidado para abordar todos os pontos que se referiam ao objeto de estudo. Sua conclusão vinha a posteriori, nunca a priori. Eis a diferença entre uma ideia pré-concebida de outra nova e inédita ou, ao menos, não pensada ou difundida. É com base nessas premissas que iremos argumentar.

Estudando a obra O Que é o Espiritismo vamos nos deparar com uma conversa entre Kardec e um religioso, o qual indaga sobre o fato de o Espiritismo não discutir certos dogmas da igreja, mas admitir pontos rechaçados por aquela crença. O organizador do Espiritismo anuncia que esse, de fato, não contesta ou discute certos dogmas, mas termina a frase com a expressão: "em princípio" (Iniciação Espírita; Kardec, Allan. O Que é o Espiritismo, pg. 119. Editora Edicel. Sobradinho-DF, 14ª Edição).

Depreende-se disto que o Espiritismo não veio para uma disputa no mundo, mas, para o debate e o enriquecimento das ideias. O ponto importante da resposta ao padre e informado por Kardec nesse diálogo citado é o seguinte. Verbis:

"Se tivesse lido tudo o que escrevi sobre o assunto, teria observado que ele [o Espiritismo] se limita a dar-lhes uma interpretação lógica e mais racional do que a que lhes é dada vulgarmente".

Prossegue na resposta afirmando e exemplificando:

"É assim, por exemplo, que ele [o Espiritismo] não nega em absoluto o purgatório; demonstra, ao contrário, a sua necessidade e sua justiça; mas faz mais ainda, define-o"

Nesse ponto vamos nos deparar com uma encruzilhada no processo de interpretação: como o Espiritismo trata os tais dogmas da igreja, porquanto não os nega, como informa o religioso na sua pergunta?

Uma importante lição apresentada pelos Espíritos na Obra O Livro dos Espíritos, mormente quanto ao nosso vocabulário, instrumento utilizado para articular palavras no processo de transmissão do pensamento, é: "entendei-vos quanto às palavras".

Portanto, é importante observar que Kardec esclarece que o Espiritismo faz duas coisas distintas:

a. Dar uma interpretação lógica e mais racional aos dogmas do que a que lhes é dada vulgarmente;

b. Ir além da interpretação vulgar e definir certos termos.


Nesse sentido, é importante observar que há diferenças sutis entre o significado das expressões explicar, significar e definir.

1. O que é explicar?

* Tornar claro e compreensível algo que é obscuro ou ambíguo.

* Expor, explanar, fazer entender, dar explicação.

* Ser a origem, a razão ou o motivo de alguma coisa ("uma coisa explica a outra").

* Interpretar o sentido de algo.


2. O que é significar?

* Ter o significado ou sentido de algo; Querer dizer.

* Exprimir; Traduzir; Dar a entender, mostrar.

* Fazer conhecer, participar, comunicar.

* Possuir determinado significado, denotar, designar (dar nome a).


3. O que é definir?

* Estabelecer limites, delimitar.

* Indicar o verdadeiro sentido, a significação precisa.

* Fixar com precisão; Expor com clareza.

* Manifestar explicitamente; revelar.

* Tomar decisão a respeito; decidir, decretar.


Note-se que não é trabalho confortável buscar compreender o que, de fato, foi comunicado pelo texto de Kardec, o qual serve de objetivo para nossa reflexão.

Significar e definir estão no campo da indicação positiva e determinante de alguma coisa que não possui o significado, nem estava fixado com precisão. Trata-se de revelação e da indicação do sentido verdadeiro de alguma coisa. Resumindo, significar é TER o sentido de algo, enquanto definir é indicar o sentido verdadeiro.

Por outro lado, explicar está no campo da elucidação de algo mal interpretado, obscuro, incerto, duvidoso ou vago. Nesse caso, a significação existe, mas o termo é ambíguo, deixa dúvidas, carece ser INTERPRETADO.

Se estivermos corretos quanto à afirmação de Kardec, depreende-se que o Espiritismo trouxe esclarecimentos sobre questões sem significação formal, imprecisas, sem sentido ou indefinidas, além de elucidar pontos obscuros, duvidosos, vagos ou incertos.

Destarte, o Espiritismo executou, na sua função de trazer esclarecimentos, uma dessas ações, por assim dizer: explicar, significar/definir. Nesse passo, parece incorreto usar a expressão ressignificar, o que denota substituir uma coisa pela outra. O nosso estudo, ora apresentado como ensaio, não conduz a uma afirmação nesse último sentido.

Após se inscrever por aqui, deixe seu comentário e enriqueça a pesquisa que só terá sentido se for resultado do trabalho coletivo.

Até o próximo artigo.

Uberaba-MG, 29 de agosto de 2022.
Beto Ramos.

quinta-feira, 18 de agosto de 2022

O ESPIRITISMO E A SOLUÇÃO DE PROBLEMAS DE ORDEM PSICOLÓGICA, MORAL E FILOSÓFICA.

 

"A Doutrina Espírita contém a solução de um certo número de problemas do mais alto interesse, de ordem psicológica, moral e filosófica". (O Que é o Espiritismo - Preâmbulo).


Todo aquele que estuda o espiritismo, certamente, já se deparou com essa afirmação de Allan Kardec em um de seus magistrais resumos da Doutrina Espírita. É importante sempre buscar agregar conhecimento em torno daquelas palavras, termos e frases usadas pelo organizador do Espiritismo, pois disto decorre e depende a compreensão adequada do edifício espírita.

Somente nessa frase, antes destacada, já podemos encontrar razões  suficientes para uma meditação profunda. Vamos, portanto, refletir sobre as expressões usadas: psicológica, moral e filosófica.

Nessa breve exposição procuraremos demonstrar onde, entre outras fontes da lavra do professor, estão contidos os desenvolvimentos de Kardec conforme cada campo do saber citados na frase objeto do estudo, segundo a compreensão que temos de cada um deles. Vejamos:


PSICOLOGIA

1. São os estados e processos mentais do indivíduo:

- O estado mental do Espírito, como aprendemos na Obra O Céu e o Inferno, refere-se ao estado feliz ou infeliz do Espírito, encarnado ou não;

- Esses estados em que se encontram representam o céu para o Espírito Feliz e o inferno para o Espírito Infeliz.

2. Trata do comportamento do indivíduo, como de sua interação com o ambiente físico e social:

- O comportamento do Espírito, sua interação com o mundo espiritual, como percebe e compreende esse ambiente está em conformação com sua elevação e o conhecimento adquirido; Disso decorre o modo como interage com os demais Espíritos (Escala Espírita, O Livro dos Espíritos).

Além do mais, tudo isto se reflete no mundo físico, uma vez que o Espírito reencarna, se comporta e interage com as pessoas segundo o seu caráter (União do Princípio Espiritual e da Matéria, Cap. 11, Gênese Espiritual, A Gênese).


MORAL

São as bases que guiam a conduta do Espírito, ensinando a melhor forma de agir e se comportar dentro de uma sociedade:

Em O Livro dos Espíritos encontramos qual a definição de moral dada pelos Espíritos, como o Espírito deve se comportar em relação aos semelhantes e perante Deus, bem como a própria distinção do bem e do mal (Questão 629 e seguintes).


FILOSOFIA

O Espiritismo supera o senso comum no que se refere à realidade empírica e das aparências percebidas pelos sentidos físicos:

- O Espiritismo se relaciona com o conhecimento científico avaliando os campos do saber e contribui para o desenvolvimento de muitos ramos do saber (Revistas Espíritas);

- No campo da metafísica o Espiritismo supera as meras especulações e traz respostas sobre as verdades primeiras relativas a Deus, Alma e Matéria (O Livro dos Espíritos); Enquanto usa procedimentos argumentativos, lógicos e dedutivos, relaciona teoria e prática (O Livro dos Médiuns e O Céu e o Inferno);

- O Espiritismo apresenta as consequências éticas e psicológicas advindas das relações mantidas entre os Espíritos (Definição de O Que é o Espiritismo, Preâmbulo da obra de mesmo nome);

- A razão é a condutora da fé; O procedimento do Espiritismo é o método racional, vez que não traz teoria, doutrina ou sistema preconcebido (Folha de rosto da obra O Evangelho Segundo o Espiritismo). Tudo perpassa pelo método científico da observação (O Livro dos Médiuns, Revistas Espíritas e O Céu e o Inferno).

Vários desses pontos mencionados são abordados por Allan Kardec na Obra O Que é o Espiritismo. Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, ao apresentar a base da Autoridade da Doutrina Espírita, encontram-se as mesmas explicações ora desenvolvidas.

Como ciência-filosófica o Espiritismo superou o senso-comum e não se constituiu em sistema especulativo (O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Céu e o Inferno e Revistas Espíritas). Em O Livro dos Médiuns, como na obra O Céu e o Inferno, o Espiritismo trouxe a prática e a experimentação, inclusive a comprovação da estruturação filosófica da Doutrina Espírita (O Livro dos Espíritos).

As informações aqui compartilhadas são apenas fragmentos daquilo que o leitor poderá encontrar como desenvolvimento daquela frase inicial nas obras escritas por Allan Kardec.  Também, é fato, constituem-se em nossa interpretação do conteúdo exposto para estudo na Doutrina dos Espíritos.

Então, mãos à obra. Bons estudos.

Uberaba-MG, 18/08/2022.
Beto Ramos

terça-feira, 16 de agosto de 2022

CONFUSÃO OU CASUÍSMO? O MANDAMENTO É PARA AMAR O INIMIGO; TEM CRISTÃO QUE FALTOU NESSA AULA.

 

O Brasil, que se pretende coração do mundo e se arvora em pátria do evangelho, sem dúvida precisa laborar muito para mudar sentimentos e pensamentos, ocasião em que o comando do Espírito da Verdade poderá ser atendido quanto ao amor e a instrução, sem o que não há possibilidade alguma de regeneração. Afinal, a mudança começa no interior de cada um. É autonomia pura.

Chama nossa atenção, nos dias atuais, supostos religiosos, que na verdade não passam de seguidores de seitas, onde cultuam indivíduos e lugares, quando deveriam recordar o encontro de Jesus com a mulher samaritana, quando ensinou que DEUS é adorado em Espírito e Verdade (Jo 4:6-24).

Quem poderá afirmar-se Cristão quando esquece o básico: como amar a Deus sobre TODAS AS COISAS, aborrecendo a obra da Criação? Como, de fato, se dá o processo de redenção da alma humana? Certamente, a lei do 'tal e qual', conhecida legislação do 'olho-por-olho; dente-por-dente', não obteve sanção no Evangelho de Jesus.

Para alguns é preciso explicar muito. Então, vamos até o Evangelho Segundo Mateus (Mt 5:43) quando Jesus ensina: "Vocês ouviram o que foi dito: 'ame o seu próximo e odeie o seu inimigo'; Eu, porém, vos digo: ame o seu próximo como a ti mesmo".

Jesus estava falando do próximo ou do inimigo? Quem era o seu interlocutor na oportunidade (contexto judaico)? Jesus estava ensinando a partir de uma indagação de um 'doutor da lei' (advogado). Ele, em verdade, usando de um sofisma, buscava causar um equívoco de interpretação, a fim de cogitar a hipótese de que o texto não era claro, pois, não havia elucidação à dúvida: quem é o meu próximo?

No entanto, Jesus, um judeu, sabia que um grupo (uma seita do Mar Morto) seguia o seu próprio manual de disciplina, onde, no parágrafo inicial era assim lido: "... odiar tudo o que Ele rejeitou". Portanto, para aquele grupo, para a seita do Mar Morto, o próximo significava OUTRO MEMBRO DO GRUPO (da própria seita).

No ensino de Jesus, essas palavras não se referiam somente a indivíduos, nem a grupo de indivíduos que  compartilhavam das MESMAS CRENÇAS. Tratava-se de amar os inimigos. A chave de interpretação está contida na língua hebraica. O Hebraico bíblico possui as palavras 'próximo' e 'mau'. Nesse caso, o significado da expressão mau, também, pode significar inimigo. Ocorre que tais expressões possuem AS MESMAS CONSOANTES reish (ר) e ayin (ע). Essas palavras diferem apenas quanto às vogais. O curioso é que O TEXTO NÃO USAVA ESSAS VOGAIS.

Portanto, é preciso interpretar lendo as palavras conforme escritas naquele texto (sem as vogais). A lição trazida pela Torah carece de uma interpretação radical. E é isso que Jesus faz: interpreta a lei literalmente. Veja que Jesus questiona o doutor da lei se ele não conseguia ver/ler, NAS PALAVRAS DA TORAH, o mandamento de AMAR TANTO O PRÓXIMO QUANTO OS INIMIGOS.

Recordamos que, perguntado, Jesus respondeu que veio cumprir a Lei e não destruí-la. Baseado no ensino da torah Jesus dá uma lição única, que ecoa até os nossos dias. Quem tiver ouvidos de ouvir, ouça; quem tiver olhos de ver, veja.

Jesus, um judeu, precisa ser estudado em conformidade com o contexto judaico. Allan Kardec, ao seu turno, na Introdução de O Evangelho Segundo o Espiritismo, também, advertiu aos espíritas para fazerem o mesmo: estudar o contexto judaico do novo testamento para compreender mais e melhor sua verdadeira missão como verdadeiro espírita. Não nos enganemos, o ensino é claro: o verdadeiro cristão, o verdadeiro ser humano de bem e o verdadeiro espírita, são uma e única coisa (independente da profissão de fé, pois, o espiritismo é filosofia; é uma ideia; um estilo de vida).

Talvez, seria possível propagar essa reflexão para grupos não espíritas, livres-pensadores e até para os religiosos, principalmente para as ovelhas que estão se perdendo pelo caminho. No ensino de Jesus você não encontra ódio; encontra perdão, indulgência e benevolência PARA COM TODOS. Não há espírito sectário, nem de vingança. O Deus do Cristo é um DEUS DE AMOR.

Que possamos fazer uma grande reflexão diante do conteúdo ora compartilhado.

Uberaba-MG, 16/08/2022
Beto Ramos

sexta-feira, 12 de agosto de 2022

DEVERES DE FAMÍLIA: ESPIRITUALISMO RACIONAL E ESPIRITISMO.

Certamente o espírita irá se recordar que há uma dissertação interessante ditada pelo Espírito Santo Agostinho na obra O Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo XIV - Honra a Teu Pai e a Tua Mãe, cujo tema A Ingratidão dos Filhos e os Laços de Família, entre outros assuntos, solicita a compreensão do grande papel da humanidade quando um corpo é gerado.

O Espírito recorda que o objetivo da alma que vem do mundo espiritual e reencarna em um corpo é o progresso. Nesse passo, adverte-se que é preciso que cada um tome conhecimento dos próprios deveres, pois, trata-se de uma missão auxiliar aquela alma.

Quais são esses deveres? São os deveres relativos à educação que deve ser dada ao Espírito que reencarna, tendo como meta o aperfeiçoamento do mesmo, bem como sua felicidade futura.

Eis, então, o ponto que nos interessa. Mas, antes, vamos, rapidamente, recordar que na Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita, no item I de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec explica que "como especialidade 'O Livro dos Espíritos' contém a Doutrina Espírita; como generalidade liga-se ao Espiritualismo, do qual apresenta uma das fases. Essa razão porque traz sobre o título as palavras: Filosofia Espiritualista".

Dito isto, voltemos ao tema proposto nesse artigo, vejamos se, de fato, a questão referente aos deveres dos pais foi tratada em obras e dissertações dos filósofos espiritualistas. Nesse sentido, trazemos à colação o desenvolvimento desse tema pelo filósofo e escritor francês Paul Alexandre René Janet na obra Pequenos Elementos da Moral. Nela o autor trata dos deveres da família e disserta sobre as seguintes relações: do marido e da mulher; dos pais com os filhos; dos filhos com os pais; e, dos filhos entre si. Lembrando que essa obra veio a lume no século 19.

São destacados na obra os seguintes deveres que decorrem dessas relações: conjugal; paternal/maternal; filial; fraternal. Ainda, segundo Paul Janet, nessa relação familiar, há uma quinta classe de deveres: a domesticidade (patrões e empregados e vice-versa).

Indo direto ao ponto, quais são os deveres dos pais? Diz Paul Janet: ao educar os filhos, os pais devem tudo fazer para que não haja duas espécies de comandos contraditórios, mas apenas um único e mesmo poder manifestado na sua essência. Na sua investigação Paul Janet afirma que os pais conduzem os filhos em razão das seguintes necessidades deles: fraqueza da criança; impotência física; incapacidade intelectual; incapacidade moral.

O filósofo ainda afirma algo maravilhoso: não há direito de vida e morte sobre os filhos, pois o poder paterno tem origem no interesse da criança. Destarte, todos os deveres dos pais, segundo ensina Paul Janet, voltam-se para uma FORMAÇÃO DO CARÁTER, ou seja, para EDUCAÇÃO MORAL.

Vamos perceber que esse autor não aquiesce com a heteronomia, isto é, a educação moral heterônoma que prevê castigos físicos no processo de educação para os pais.

Por fim, demonstrando a ligação entre espiritismo e espiritualismo racional, vamos encontrar nessa obra de Paul Janet, as seguintes informações sobre a educação moral das crianças: a instrução é para o Espírito e a educação é para o caráter.

A instrução tem como efeito útil aumentar os recursos do indivíduo tornando-o apto à diversas coisas; trata-se de um capital. Além disto, eleva e enobrece a natureza humana. É a razão que diferencia o ser humano do animal; o esclarecimento estende e realça a razão. Em Paul Janet, a instrução não se confunde com a educação moral ao iluminar a razão e, por isso, é parte dela.

A formação do caráter não se faz só pela ciência, mas pela persuasão, autoridade, exemplo e pela ação moral em todos os instantes. Assim sendo, educação combina energia, doçura, constrangimento e liberdade.

Concluindo. Para Paul Janet, criar uma criança pelo temor é compará-la a um animal, mas não se deve ter fraqueza excessiva. Portanto, nem autoridade despótica e nem fraqueza em excesso.

Estas são as considerações que apresentamos para a meditação do leitor quanto aos deveres da família, as proposições do espiritismo e as proposições da filosofia espiritualista. Queremos saber a sua opinião. Deixe um comentário e acrescente informações, sugestões e críticas.

Até o próximo artigo.

Uberaba-MG, 12/08/2022.
Beto Ramos.

terça-feira, 9 de agosto de 2022

KANT: A RAZÃO HUMANA E A PROPOSIÇÃO CAUSA E EFEITO.

Em 1781, no prefácio de sua A Crítica da Razão Pura, Immanuel Kant refere-se a um dilema importante concernente á razão humana. É que esta possui esferas de cognição. Neste sentido, a razão humana deve analisar e não recusar certas questões, as quais se apresentam conforme a sua natureza.

Todavia o que se verifica é o fato de que a razão não consegue responder a todas as indagações. Existem dilemas que transcendem todas as faculdades da mente.

Essa dificuldade, afirma Kant, não provém de uma falha da mente. Ele explica que a análise inicia-se por princípios que não podem ser dispensados no campo da experiência. Tais princípios tem sua verdade e suficiência fundamentados na própria experiência. O problema, destaca, é que esses princípios, em razão das leis de sua própria natureza, vão subindo a condições de análises cada vez mais altas e remotas.

Portanto, os trabalhos desenvolvidos pela razão humana ficam incompletos. É que novas perguntas NUNCA deixam de surgir. Segundo Kant, é preciso recorrer a princípios que transcendem a região da experiência. Porém, o processo proposto é visto pelo senso comum com desconfiança, resultando em confusão e contradição.

Defendendo sua proposta, Kant destaca que os motivos que levam à essa confusão e contradição ocorre em razão de que a atenção é fixada em conjecturar a presença de erros latentes, quando, na verdade, o indivíduo não se dá conta de sua INCAPACIDADE de os descobrir.

Simplificando. No processo de análise, usando as esferas cognitivas e não recusando nenhuma questão, é necessário observar que o indivíduo iniciou a reflexão usando os princípios indispensáveis no campo da experiência. Ocorre que há limites empíricos e a mente não os respeita, ultrapassando-os. Com isso, se torna impossível TESTAR aquilo que transcendeu os limites da experiência pelos mesmos critérios em que os resultados desta são testados.

Para resolver esse dilema das intermináveis competições, do que pode ou não pode ser testado, Kant propõe recorrer a outros princípios cuja arena se denomina METAFÍSICA. E os seus contraditores incorrem num problema curioso; apesar da crítica que fazem à metafísica, sempre usam declarações e proposições metafísicas.

É certo que, se nenhum conhecimento antecede a experiência, mas começa com ela, nem tudo surge da experiência. Existe um conhecimento independente totalmente da experiência sensível, que é o conhecimento 'a priori'. A intuição pode ser dada 'a priori' e não se distingue de uma mera concepção pura. Sendo fruto da experiência, o conhecimento empírico é 'a posteriori'.

Kant afirma que há uma infinidade de cognições que nada mais são que elucidações ou explicações do que, embora de maneira confusa, já foi pensado em nossas concepções, mas são valorizadas como novas introspecções. Não há nada novo, pois, grande parte dos negócios da razão consiste na análise das concepções que já possuímos dos objetos.

O processo intelectivo é permeado por julgamentos e o conhecimento advém por dois tipos: analíticos e sintéticos. No primeiro caso, nada se acrescenta na concepção do sujeito; esse é analisado em suas concepções constituintes (pensadas no sujeito). No segundo caso, acrescentamos à concepção do sujeito um predicado que não estava contido nele e que nenhuma análise poderia ter descoberto nele.

Quando dizemos que 'todos os corpos ESTÃO estendidos', estamos diante de um julgamento analítico, uma vez que usamos a concepção que fazemos de corpo e das suas características, tais como: extensão, impenetrabilidade, forma, etc.

Já, quando falamos que 'todos os corpos SÃO pesados', afirmamos algo sobre o sujeito da oração, cujas concepções não estão contidas uma na outra, mas pertencem uma à outra, pois, peso é uma característica que se conecta à extensão, impenetrabilidade e forma, embora sejam distintas. Nesse caso, o julgamento é sintético.

O mesmo se dá com a proposição "tudo que acontece tem uma causa". Penso numa existência que um certo tempo antecede a partir da concepção 'algo que acontece'. Mas, onde está a concepção de CAUSA? Essa concepção indica algo completamente fora e diferente do 'aquilo que acontece'. Logo, a concepção de causa não está contida na concepção 'aquilo que acontece'.

A causa é o 'x' da questão. É o desconhecido sobre o qual repousa o entendimento quando se acredita que encontrou. Está fora da concepção do sujeito, isto é, trata-se de um predicado estrangeiro ao sujeito. Pelo raciocínio julgamos que há uma conexão entre ambos. Tratam-se de duas representações e não do resultado da experiência. São elas: causa e efeito.

Assim sendo, a universalidade não pode ser dada pela experiência, mas como puras concepções 'a priori', as quais são a expressão da necessidade.

Por fim, conforme Kant, dos juízos sintéticos, ou proposições aumentativas, depende todo o objetivo de nosso conhecimento especulativo 'a priori'. Os julgamentos analíticos são importantes e necessários, mas servem apenas para chegar à clareza de concepções necessárias para uma análise segura e prolongada.

Isso, por si só, é uma aquisição real do conhecimento. Nas ciências teóricas da razão, os julgamentos sintéticos 'a priori' estão contidos como princípios.

Contribua apresentando sugestões e críticas, buscando um melhor aproveitamento da construção do conhecimento coletivo.

Uberaba-MG, 09/08/2022.
Beto Ramos.


quarta-feira, 3 de agosto de 2022

QUAL É O OBJETO DE ESTUDO DO ESPIRITISMO?

 

Uma das primeiras dúvidas que me foram se apresentando durante o aprofundamento do estudo da Doutrina Espírita, sem dúvida, é quanto a princípio inteligente. Seria ele o objeto de estudo da doutrina? Se a resposta fosse positiva, qual razão levou Kardec a apresentar poucas questões fazendo referência ao assunto?

Observando a disposição do conteúdo de O Livro dos Espíritos vemos que:

a. No Livro Primeiro, sobre as causas primárias, capítulo 1, destacam-se 14 perguntas a respeito de Deus;

b. No capítulo 2, quanto aos elementos gerais do Universo, temos 04 questões; sobre espírito e matéria temos 39 questões, sendo que outras 02 tratam do espaço universal;

c. Ainda, no capítulo 2, no assunto elementos gerais do Universo, são reservadas para o princípio inteligente do universo 07 questões;

Não posso deixar de registrar qual foi minha surpresa. Seriam 'apenas' 07 questões? Essas seriam o suficiente? Que motivos teria o organizador do Espiritismo para não aprofundar no assunto?

Foi estudando a Obra A Gênese, especialmente o Capítulo 11 - Gênese Espiritual, item 23, que me deparei com importante esclarecimento de Allan Kardec sobre esse assunto. Vejamos o que registrou:

"Conforme a opinião de alguns filósofos espiritualistas, o princípio inteligente, distinto do princípio material, se individualiza, se elabora, passando pelos diversos graus da animalidade. É aí que a alma se ensaia para a vida e desenvolve, pelo exercício, suas primeiras faculdades. Seria, por assim dizer, seu período de incubação. Chegando ao grau de desenvolvimento que essa fase comporta, ela recebe as faculdades especiais que constituem a alma humana. Haveria, assim, filiação espiritual, como há corporal. Esse sistema, baseado sobre a grande lei de unidade que preside a criação, corresponde, é preciso convir, à justiça e à bondade do Criador. Dá uma saída, um alvo, um destino aos animais, que não seriam mais seres deserdados, mas encontrariam no futuro que lhes está reservado uma compensação a seus sofrimentos".

Importante destacar no texto transcrito ipsis litteris que Kardec apresenta uma teoria espiritualista, um sistema como ele mesmo diz, a qual afirma haver uma coerência interna quando analisada em razão dos atributos divinos. No entanto, veja que, em seguida, trará importantes informações que nos interessam para reflexão do tema proposto.

"O que constitui o homem espiritual não é sua origem, mas os atributos especiais dos quais está dotado quando entra na humanidade; atributos que o transformam e fazem dele um ser distinto, como o fruto saboroso é distinto da raiz amarga de onde saiu. Por ter passado pela fieira da animalidade, o homem não seria menos homem; não seria animal, como o fruto não é a raiz, ou o sábio não é o disforme feto, pelo qual veio ao mundo".

Destacamos nessa parte do texto, como também na anterior citada, que Kardec usa um determinado formato de linguagem. Trata-se do futuro do pretérito, isto é, um tempo verbal conjugado no modo indicativo, que pode expressar incerteza, surpresa e indignação. Essa forma é usada para se referir a algo que PODERIA ter acontecido posteriormente a uma situação no passado. Percebemos que Kardec usa esse tempo verbal expressando INCERTEZA.

Assim sendo, Kardec não valida a teoria, mas, faz um preâmbulo a seu respeito, afastando quaisquer sombra de dúvidas acerca da origem da hipótese, como, também, quem são seus defensores. A seguir, é possível perceber com clareza solar qual a solução que Kardec dá para o tema em questão e qual será o campo delimitado para se tornar objeto da sua pesquisa:

"Mas, esse sistema levanta numerosas questões, cujos prós e contras NÃO É OPORTUNO DISCUTIR AQUI NEM EXAMINAR as diferentes hipóteses feitas sobre esse assunto. SEM PROCURAR A ORIGEM DA ALMA E AS ETAPAS PELAS QUAIS TENHA PASSADO, vamos considerá-la ao entrar na humanidade, ponto em que está dotada de senso moral e do livre-arbítrio e começa a exercer responsabilidade por seus atos".

Recordando que as mencionadas faculdades especiais que constituem o homem espiritual, ser espiritual ou, ainda, ser humano (encarnado ou desencarnado) são: razão, vontade e imaginação.

Mas, o importante registro é que o Espiritismo não investiga a origem da alma, não estuda as etapas pelas quais ela tenha passado, e, também, não se ocupa do homem espiritual no período em que é Espírito simples e ignorante, isto é, aquele que entrou na humanidade, mas está com nulidade intelecto-moral. Essa fase, inclusive, segundo Kardec na Revista Espírita de 1864, dura um período que vai da primeira encarnação até a centésima, talvez milésima, até que o Espírito tenha consciência clara de si mesma.

A fase em que alma será considerada como objeto de estudo do Espiritismo é aquela em que está dotada de senso moral e do livre-arbítrio, quando faz escolhas e começa a EXERCER responsabilidade pelos próprios atos. Poderíamos especular que essa fase seria a daqueles Espíritos que se encontram já em planetas de provas e expiações e não nos orbes destinados a Espíritos primitivos. Mas, não passa de especulação mesmo. O que é necessário compreender é qual o objeto de estudo do Espiritismo: trata-se do Espírito que tem consciência clara de si mesmo.

Esperamos ter contribuído para o estudo desse assunto, uma vez que vemos muitos se debruçarem sobre fases das quais a Doutrina Espírita não se ocupa. Dessa forma, muitas discussões improdutivas podem ser dispensadas para dar lugar a várias outras que precisamos investigar, estudar, aprender e compreender.

Uberaba-MG, 03 de Agosto de 2022.
Beto Ramos.

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