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terça-feira, 26 de abril de 2022

DESCARTES, ESPIRITUALISMO RACIONAL E ESPIRITISMO


Realmente, Allan Kardec afirmou em prolegômenos, contido em O Livro dos Espíritos, que o conteúdo da obra foi por ele organizado e que a sua origem provém dos Espíritos superiores. Todavia, na mesma obra, em sua Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita, no item I, asseverou que o Espiritismo é uma espécie do gênero filosófico Espiritualismo Racional, ocasião em que explica a expressão Filosofia Espiritualista.

Portanto, hoje, vamos trazer informações que refutam as alegações dos incautos que asseveram discordar da Teoria Moral da Autonomia, consignada por Allan Kardec nas obras fundamentais do Espiritismo, em razão da afirmação sobre a origem da Doutrina dos Espíritos.

De fato, os Espíritos superiores são a origem pura e cristalina, mas, nem Kardec, nem os Espíritos que trabalharam na equipe do Espírito da Verdade afirmaram que o seu trabalho não era fruto de esforço coletivo ainda maior, onde todos servem, aprendem e intuem, em todos os tempos (encarnados ou não).

Àqueles que duvidam, citamos a afirmação de Emmanuel sobre livro e conhecimento, verbis:

"O livro representa vigoroso imã de força atrativa, plasmando as emoções e concepções de que nascem os grandes movimentos da humanidade, em todos os setores da Religião e da Ciência, da opinião e da técnica, do pensamento e do trabalho. Por esse dínamo de energia criadora, encontramos os mais adiantados serviços de telementação, porquanto, a imensas distâncias, no espaço e no tempo, incorporamos as ideias dos Espíritos superiores que passaram por nós, há séculos". (Pensamento e Vida, Cap. 4, Instrução. Chico / Emmanuel).

É claro que Renatus Cartesius, mais conhecido como Renê Descartes (1596-1650), não pode ser classificado como um espiritualista racional, vez que seus principais interesses eram a matemática, a ciência, a epistemologia e a metafísica. Foi influenciado por Platão, Pitágoras, Aristóteles, Sexto Empírico, Pirro, Agostinho, Aquino, Anselmo, Ockham, Francisco Sanches, Suárez, Scotus, Mersenne, Montaigne e outros. Sua escola e tradição foi o cartesianismo e o racionalismo, principalmente. Contudo, pedimos vênia para colacionar, com adaptações, o resumo e remissões feitas por P. F. - A. JAFFRE (in História da Philosophia, 4ª Edição, 1886), a seguir, na intenção de lançar luz acerca do fato de que o conhecimento é construído. Os Espíritos superiores fizeram validar ou refutar teorias que já existiam ao tempo de Kardec, incorporando elementos de conhecimento que não havia sido pensados (servir, intuir, instruir).

A doutrina de Descartes ensina que:

A alma é uma substância imaterial, cuja natureza simples nos é revelada pela consciência unicamente. Sua essência é o pensamento atual. A alma não está em todo o corpo; sua sede é na glândula pineal. As ideias são adventícias para as coisas sensíveis, inatas para as coisas suprassensíveis e absolutas, factícias para as coisas que concebemos em nossa imaginação.

O juízo é formado pela vontade e não pela inteligência. A evidência não está nas coisas; está no espírito que percebe claramente as relações das ideias. As sensações não são perceptíveis. São impressões puramente fisiológicas e estamos certos de que os corpos são reais, por uma propensão invencível proveniente de Deus.

As paixões principais são em número de seis. A admiração é a primeira. São postas em movimento pelos espíritos animais. O animal não é vivificado por uma alma dotada de sensibilidade. É uma máquina, um autômato.

A existência de Deus é provada por nosso ato de duvidar, que é uma imperfeição; pela própria imperfeição de todo nosso ser; pela ideia do infinito, cuja causa se quer saber; por esta mesma ideia que encerra necessariamente a existência de seu objeto.

Os atributos divinos são todos deduzidos da infinita perfeição de Deus, comparada às qualidades completas das criaturas. A Vontade divina goza de uma liberdade de todo o ponto indiferente. Sua potência é absoluta, podendo mudar a essência metafísica das coisas.

A essência da matéria consiste na extensão. É divisível ao infinito. Seus elementos primários são átomos, ou corpúsculos invisíveis, posto que extensos. Não existe vácuo entre os corpos, e este mundo projeta-se sem fim no espaço infinito. O espírito e a matéria não podem atuar diretamente um sobre o outro. Daí a teoria das causas ocasionais. Todos os movimentos se explicam pela lei dos turbilhões.

Deus manifesta o seu pensamento e toda a luz criando uma matéria inerte, enchendo todo o espaço e imprime-lhe um movimento. Este movimento se comunica, porque não existe vácuo, a todas as partes da matéria. Não podendo as partes da matéria se movimentar em linha reta por causa dos obstáculos, fazem movimento circulares.

Sendo desigualmente densas e não podendo girar em torno de um só centro, formam outros movimentos em torno de centros diversos, chamados turbilhões.


A CONSTRUÇÃO COLETIVA DO CONHECIMENTO (servir, aprender, intuir).

Em palestra pessoal, via aplicativo de mensagens, com Paulo Henrique de Figueiredo, esse nos trouxe importantes esclarecimentos, demonstrando que sistemas de Descartes, ou mesmo de Spinoza, não foram adotados pelo Espiritualismo racional. Mas, salta aos olhos, o fato de que as civilizações se sucedem ao influxo da herança mental (Emmanuel).

Passamos a colacionar a seguir os comentários de Paulo Henrique de Figueiredo, na íntegra:

"A psicologia espiritualista experimental, iniciada por Maine de Biran, qualifica a ação da alma como fato psicológico, baseado na ação das suas faculdades. A vontade é a força da alma. Dessa forma, o espiritualismo do século 19 pressupõe três substâncias, Deus, alma e matéria. São temas das ciências metafísicas: Teodiceia, psicologia racional e cosmologia. Fazem parte das ciências filosóficas. Essas ciências não adotam sistemas, como de Espinoza e Descartes, mas estruturam em teoria as hipóteses relacionadas aos fatos experimentais da introspecção. No sistema de Espinoza, há uma só substância, Deus. Sua ideia é panteísta. Descartes, por sua vez, estabelece a matéria criada por Deus, e depois regida mecanicamente. E a alma como substância imaterial, agindo no corpo (que seria como um autômato) por meio de "espíritos animais", uma espécie de vapor orgânico vital. A psicologia espiritualista, se organizou com uma finalidade moral e social" [26/04/2022].

Convidamos os corações amigos para meditarem sobre o acima articulado.

Uberaba-MG, 26.04.2022
Beto Ramos.

domingo, 28 de novembro de 2021

O MODELO DE EDUCAÇÃO MORAL PARA APRENDER A APRENDER

 


Você já parou para pensar sobre a sua mente? Como ela funciona? O que é? E como as coisas se apresentam para cada indivíduo em particular?


Não espere respostas simples para questões complexas. Nesse campo de indagações é sempre possível produzir uma variedade de contradições. Talvez, seria bom advertir: não espere respostas. Se assim é, convido para refletirmos juntos.

Podemos afirmar, com certeza, que a mente humana é ativa e não um mero recipiente que se possa preencher com informações passivamente.

O ser humano possui a qualidade única do autorreconhecimento. Como indivíduo, olha para o mundo promove e uma série incontável de relações, correlações, observações, análises, comparações, julgamentos, dúvidas, sistematizações, perguntas, problematizações (ufa!), etc.

A mente humana é organizada para sistematizar o que o ser humano vivencia, partindo de intuições, instituindo categorias, atribuindo sentido a todos os dados que o inundam e que chegam ininterruptamente por meio dos sentidos físicos.

Talvez por isso Hume, um pensador, afirmou que o conhecimento é construído a partir da experiência vivenciada pelo ser humano por meio dos sentidos físicos. No entanto, Kant, outro filósofo, afirmou que sem o aparato mental 'a priori' (ou inato), que dá início a todo o processo da experiência, a própria experiência seria impossível. O ser humano, então, cria a própria vivência do mundo.

Assim sendo, existem conceitos aplicados que são o resultado de experiências passadas (do aprendizado, digamos assim). Mas, sem dúvida, há outros que PRECEDEM essas experiências. São conceitos e ideias 'a priori', anteriores, também denominadas INATAS, pois, nascemos com elas (e.g. noções de espaço e tempo).

Pode-se dizer que as estruturas mentais do ser humano precedem as experiências. O que vale indagar se, no mundo da matéria, vivenciamos as coisas como elas são ou como aparecem para nós? Anote aí que vemos e interagimos com as coisas dentro do limite tempo e espaço. Deus, por exemplo, não está limitado pelo espaço, nem pelo tempo.

Hegel afirmou que as ideias nascem e evoluem gradualmente na direção de um sentido melhor e de uma compreensão maior da realidade.

É lícito questionar: todos os indivíduos que estão sendo bombardeados pelas ideias e conceitos possuem a mesma maturidade intelectual?

Vale dizer que uma ideia não é algo estático, nem fora do tempo, aguardando ser descoberta. Uma ideia provém de conhecimento, o qual é um processo cultural, histórico e dinâmico.

Historicamente, houve algúem que não gostou nada dessa coisa de 'mundo das ideias' e afirmou que o mundo dos fenômenos é ilusão, pois, o ser humano é controlado por seus desejos, que comanda tudo. Trata-se de Shopenhauer. Para ele, os seres humanos querem dar significado à propria existência (como algo superimportante), mas no fim possuem a só urgência de satisfazerem seus desejos.

Discordamos. Quando se fala em mente, logo se está pensando em consciência e liberdade. É aí que se busca descobrir ou construir um conceito ou significado de existência. Em um mundo de incertezas, o que dá sentido à vida são as escolhas feitas pelo indivíduo.

Cada um, todavia, será envolto nas próprias verdades (subjetivas). Isso leva cada um a agir, fazendo ou deixando de fazer uma coisa ou outra. Tudo baseado na sua intrínseca visão de mundo. 

A cosmovisão é o resultado de como o indivíduo vivencia suas experiências. Essa vivência se ampara nas construções mentais que, por sua vez, consideram as ideias inatas e as aprendidas [apreendidas?].

Se a personalidade sofre a influência de suas ideias inatas, o indivíduo não é resultado de uma só vida. Se já viveu traz o resultado de suas experiências em vários campos e é capaz de aprender em razão de novas vivências. Desse modo, pode ser influênciado tanto para o bem quanto para o mal.

Haveria, pois, a possibilidade de que todo indivíduo possa reconhecer essa sua 'dupla existência'? Numa palavra, os conflitos sociais, advindos dessa variedade de concepções de mundo, poderiam ser paulatinamente solucionados?

A resposta é positiva. Essa tentativa já foi implementada e obteve sucesso enquanto durou. O Espiritualismo Racional propôs um modelo educacional visando a moral da sociedade. Partiu da mudança de paradigma universitário, promovendo a formação de professores, no sentido de chegar à educação de jovens.

O método científico propõe como bases desse processo educativo:

1. Ensinar a pensar; objetivando formar o pensamento racional; ofertando a disciplina LÓGICA;

2. Ensinar a aprender; objetivando que o indivíduo se encontre com a verdade presente em sua consciência; ofertando a disciplina MORAL;

3. Ensinar a ser criativo; objetivando despertar o sentimento do bem e do belo; ofertando a disciplina ESTÉTICA.

Enfim, a proposta é de construção coletiva: aprender a aprender. Trabalhar, verdadeiramente, a causa dos conflitos sociais.

Nesse modelo não pode haver uma dominação conceitual impositiva. É preciso respeitar a liberdade e a experiência individual. A ideia é que cada um possa investigar procedendo uma análise, estabelecendo fatos para remontar as causas.

O Espiritismo moderno complementa o movimento espiritualista proclamando o elemento espiritual, após constatá-lo com clareza e esclarecendo sem evasivas. Compreende-se, assim, que para a Doutrina Espírita a evolução moral é um passo natural do desenvolvimento da humanidade.

Beto Ramos, Uberaba-MG, 28/11/2021.

Fonte principal de pesquisa:
FIGUEIREDO, Paulo Henrique de. AUTONOMIA - a história jamais contada do espiritismo. São Paulo: FEAL, 2019.

terça-feira, 23 de novembro de 2021

O ATO DO DEVER MORAL E A CARIDADE DESINTERESSADA

Quem não tem dúvidas, certamente, é porque não estuda. E, por falar nisto, vejamos quantas perguntas estão presentes apenas em uma proposta de reflexão. Por aqui, falando de ato do dever moral e a caridade desinteressada, podemos começar indagando:

  • O que é ato?
  • O que é moral?
  • O que é dever?
  • Onde podemos encontrar tais temas?

Partindo do final, esses temas pertencem à filosofia, à psicologia, ao espiritualismo racional e ao espiritismo, entre outras áreas do conhecimento e do saber.

Daí, outra pergunta: o que propõe o espiritualismo racional quanto ao ato, à moral e ao dever? Por que propõe? Qual a compreensão de moral anterior à proposta feita pelo espiritualismo racional?

Perceba que nossa jornada não será fácil. Vamos começar definindo e delimitando.

Ato, do latim actus, tem sentido de movimento; impulso. Ator é aquele que age, isto é, quem produz o ato. Esse, por sua vez, é o exercício da faculdade de agir. Ato, também considerado, pode ser o que se faz ou o que se deixa de fazer.

A ética definiu o ato como uma ação guiada por uma consciência livre e consciente. Outros campos, como filosofia e direito, também buscaram suas definições (se o leitor tiver interesse, busque o significado).

Quanto à moral, a filosofia ensina que se trata de cada um dos sistemas variáveis de leis e valores estudados pela ética. Tais leis e valores são diferentes conforme cada sociedade e seus comportamentos. Nessa categoria temos o que é proibido, permitido, desaconselhado, ideal e etc.

Segundo Kant, dever é o guia da AÇÃO MORAL do indivíduo. Nesse caso o indivíduo possui no dever o imperativo categórico. Fundado na raiz racional, o dever moral é um código de conduta auto imposto pelo indivíduo como um verdadeiro dever ser.

O dever moral, como sistema, é constituído basicamente pela VONTADE. Seu fundamento é a AUTONOMIA DA VONTADE, isto é, a liberdade.

Quando o estudante espírita se aprofundar na teoria espírita, cujo fundamento é o livre-arbítrio, vontade, autonomia, dever, moral, ato e ato do dever moral, não ficarão obscurecidos e serão facilmente compreendidos. Assim esperamos.

Importante destacar a evolução do pensamento recuperando a história. Igreja e religiões ancestrais pregavam, diversamente do espiritualismo racional e do espiritismo, uma MORAL DA SUBMISSÃO. O materialismo, como modelo de pensamento, defendia a MORAL DO UTILITARISMO. Em ambos os casos, como concepção, a MORAL era compreendida pelo prisma do INTERESSE. Nesse caso, o ser humano é passivo. Não há um ATO LIVRE, nem CONSCIENTE, isto é, todo ato visa a um interesse de quem age. Esse interesse se resume em angariar recompensa ou se livrar de um castigo.

O materialismo surgiu em face de uma tensão provocada pelo radicalismo fanático da igreja. E o motivo é bem simples: a igreja lutava contra a razão. Mas, ao seu turno, o materialismo vem como princípio da negação de tudo. Inaugura a incredulidade absoluta e com muita energia. É essa incredulidade que irá causar um vazio angustiante na sociedade (no caso da França, o período dessa tensão será caracterizado pela Revolução Francesa).

Nesse cenário de vazio e angústia o Espiritualismo Racional retomará o estudo das ciências morais a partir de uma psicologia experimental espiritualista (inédita e singular na história da ciência). O título Espiritualismo Racional foi usado para se diferenciar da tradição ancestral religiosa.

Esse movimento se caracterizou por:

  • Adotar a metodologia científica;
  • Buscar fazer com que o sucesso científico no estudo da matéria se repetisse no estudo do ser humano;
  • Compreender as leis naturais que fundamentam esse estudo.

Resumindo: substituir a fé cega por uma racional.

Importante ressaltar três momentos importantes para o movimento espiritualista racional, a saber:

a. O Espiritualismo Racional toma as ciências morais na universidade;

b. Passou a ser matéria fundamental da Escola Normal na formação de professores;

c. Segue como objeto de estudo, também, nos liceus e colégios franceses.

A partir daí, o movimento espiritualista racional seguiu pelo mundo, com destaque para Portugal, Espanha, países da América Latina e Brasil.

É preciso conhecer um pouco mais da história para fazer a correta conexão desse movimento com o Espiritismo, visto que a mesma é afirmada por Allan Kardec.

Falemos, então, sobre a moral da liberdade. Nem a submissão da igreja, nem o utilitarismo do materialismo. De um ser humano passivo, a moral racional busca um ser humano ativo e, portanto, propõe: 

"O ato moral é caracterizado por ser livre e consciente e é definido como o ATO DO DEVER, sem lugar para castigo ou recompensa".

Os pensadores do Espiritualismo Racional definem que o DEVER é o FUNDAMENTO da CARIDADE. É que, enquanto a JUSTIÇA é o cumprimento do dever (estabelecido pelo grupo social), a CARIDADE está LIVRE para AGIR sem vínculo a qualquer INTERESSE.

O bem moral supõe o bem natural que lhe é anterior e lhe serve de fundamento. Funciona assim: agir em prol de um bem moral é uma escolha racional, pois:

  • Não há busca de obediência a Deus, nem é resultado do medo ou do castigo;
  • Nada de imposição, seja por Deus ou pela sociedade.

O bem moral consistirá, conforme ensina Paul Janet (1886), em preferir:

  • O que há de melhor em nós em detrimento do que há de inferior;
  • Os bens da alma em detrimento aos bens do corpo;
  • A dignidade humana em detrimento da servidão das paixões animais;
  • As nobres afeições do coração em detrimento das inclinações de um vil egoísmo.
Indaga-se, nesse sentido: Onde está presente a LEI MORAL, uma vez que essa é o GUIA DO ATO DO DEVER MORAL?

Segundo se observará, está presente na natureza do ser, isto é, em sua consciência. Portanto, o pressuposto para o AGIR do indivíduo pelo BEM MORAL é que aceite a lei moral presente em sua consciência como verdadeira e lhe reconhecer a aplicação necessária em cada caso particular.

A consciência, lugar onde a lei moral está presente, é definida como a faculdade de reconhecer a lei moral e aplicá-la a TODAS as circunstâncias que se apresentem. Consciência é o ATO DO ESPÍRITO pelo qual aplicamos a um caso particular, a uma AÇÃO a se praticar ou já praticada, AS REGRAS GERAIS DADAS PELA MORAL.

O despertar dessas leis morais, presentes na consciência não surge como por mágica. As regras gerais da moral vão permear um conceito criado pelo Espiritualismo Racional: a regeneração da humanidade. Por ele se postula o direito primordial à educação ativa, que compreende:

  • A conquista de oportunidade para todos;
  • Criar um novo mundo, pelo ato solidário e pela nova educação transformadora.

São postulações por LIBERDADE, onde há direito de:

  • Pensamento (ensino livre);
  • Consciência (liberdade de crença); e,
  • Moral (dever).

É preciso recordar que o termo LIBERDADE é uma construção do pensamento liberal, o qual possui significado especial para o Espiritualismo Racional e para o Espiritismo.

O movimento liberal francês pretendia estabelecer no ambiente social uma RELIGIÃO NATURAL e um DEUS FILOSÓFICO, todo AMOR E JUSTIÇA, sem o exclusivismo das seitas que causa divisão. Trata-se, portanto, do LIBERALISMO ÉTICO. Aqui se compreende a ideia anterior, isto é, liberdades individuais da alma: de pensamento, de crença e de escolha do ato moral.

Em 1868, na Revista Espírita, Kardec afirmou que o Espiritismo é uma Doutrina Liberal. Essa doutrina preconiza:

  • Emancipar a inteligência pela liberdade de consciência;
  • Combater a fé cega por meio do livre exame como base essencial de toda crença séria.
É assim que a compreensão da expressão fora da caridade não há salvação, em Espiritismo, será compreendida como um princípio de união e fraternidade universais, único que pode por um termo aos antagonismos dos povos e das crenças.

Atualmente, a caridade é compreendida como sinônimo de assistencialismo. Para Kardec, o termo tinha outro significado. Baseado no Espiritualismo Racional representa o AGIR PELO DEVER. Uma ação livre, mas consciente, totalmente intencional, com plena compreensão da lei moral.

A caridade é um princípio orientador do AGIR INTEGRAL DO SER. Em Kardec não é atividade complementar, não é comportamento acessório. 

Como afirmado, a humanidade, para regenerar-se, sofrerá um despertar dessas leis morais presentes em cada consciência por meio da educação. O ato do dever, que é o fenômeno moral, é analisado pela MORAL TEÓRICA, uma das disciplinas estudadas nas universidades do século 19 na França em uma ciência filosófica: o Espiritualismo Racional.

Em 1864, na Revista Espírita, Allan Kardec afirmou que a MORAL DOS ESPÍRITOS superiores é a mesma dos espiritualistas racionais, isto é, A MORAL AUTÔNOMA, baseada no ATO DO DEVER, que é livre, consciente e VOLUNTÁRIO.

Indivíduos que escolhem novos hábitos, agindo por sua livre escolha de modo solidário, exercem o ATO DO DEVER e estabelecem a CARIDADE ao lado da JUSTIÇA.

Apesar da definição inicial é importante deixar claro: o que é o ato do dever ensinado para jovens, a partir de uma educação que o torna ativo e consciente do seu papel no mundo onde se busca a REGENERAÇÃO DA HUMANIDADE?

É o próprio AGIR do ser humano pelo ATO DO DEVER, que além de respeitar a justiça, PRATICA A CARIDADE, ou seja:

"proporcionar aos outros aquilo que desejaria pra si mesmo (a moral social)".

A MORAL PRÁTICA, nas ciências filosóficas admite a segunda divisão para os deveres:

  1. Deveres para com os animais;
  2. Para consigo mesmo;
  3. Para com os indivíduos; e
  4. Para com Deus.

Vamos encontrar correspondência entre essa proposta espiritualista racional em espiritismo. Essa classificação dos deveres, a divisão de temas e a abordagem conceitual da moral prática do Espiritualismo Racional estão presente na Doutrina Espírita. Na parte terceira de O Livro dos Espíritos, que trata das leis morais, encontraremos:

  • DEVERES PARA CONSIGO:
    - Lei do Trabalho

    - Lei de Conservação

    - Lei de Liberdade

  • DEVERES PARA COM OS OUTROS:
    - Deveres da família;

    - Casamento;

    - Pais, filhos, e sociais;

  • DEVERES PARA COM DEUS:
  - Imitação de Deus (buscar se aproximar de Deus indefinidamente);

    - Aperfeiçoamento do seu ser.


Para todos que conseguiram chegar até aqui, parabéns e obrigado.


NOSSA FONTE PRINCIPAL DE PESQUISA:

FIGUEIREDO. Paulo Henrique de. Autonomia - a história jamais contada do Espiritismo. São Paulo: FEAL, 2019 (exemplar digital Amazon).


Uberaba-MG, 23/11/2021.
Beto Ramos

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

A HISTÓRIA RECUPERADA DO ESPIRITISMO

 

Se pesquisarmos entre os espíritas quanto à origem da Doutrina Espírita, certamente, a maioria responderá que provém do ensinamento dos Espíritos superiores. Não é possível negar-se a idoneidade da informação quando encontramos a afirmação de Kardec quanto a O Livro dos Espíritos constituir-se em compêndio de seus ensinamentos que, escrito por ordem e sob ditado daqueles, estabelecem os fundamentos de um filosofia racional, contendo a expressão de seu pensamento e sofrido o seu controle.

Mas, seria lícito afirmar que tudo provém dessa única fonte? Na mesma obra citada, percebe-se o uso da expressão filosofia espiritualista logo na sua contracapa. Além de constar na introdução ao estudo da doutrina espírita que:

"Como especialidade "O Livro dos Espíritos" contém a Doutrina Espírita; como generalidade liga-se ao Espiritualismo, do qual apresenta uma das fases. Essa a razão porque traz sobre o título as palavras: Filosofia Espiritualista".

Se o Espiritismo é uma das fases do Espiritualismo, ao qual é ligado, como empreender o estudo do Espiritismo com parcial ou total desconhecimento do Espiritualismo? Eis aqui o equívoco que cometemos há muito tempo. Esse tempo de ignorância precisa ficar no passado e constar somente nos arquivos e anais da história do Espiritismo. Quanto a nós, vamos buscar contribuir para iluminar o debate.

O pesquisador Paulo Henrique de Figueiredo vem desempenhando importante papel no resgate da teoria moral espírita. Do seu AUTONOMIA: A HISTÓRIA JAMAIS CONTADA DO ESPIRITISMO, vamos extrair preciosas informações para contribuir com o retorno das águas do Espiritismo ao seu curso natural.

É preciso remontar ao ambiente francês criado pelo iluminismo que prepara ideias revolucionárias, de onde surge o rompimento radical com as teorias da igreja com o aparecimento das ideias materialistas que, mesmo com a tentativa de retorno ao regime antigo, um grupo denominado ideólogos passaram a determinar a produção do conhecimento universitário e conduziram o pensamento filosófico para o campo do ceticismo materialista.

Como os materialistas explicariam a existência humana?

Investigando o fenômeno do comportamento humano por meio de análises psicológicas das faculdades humanas, estudando a linguagem, o juízo e a vontade, perceberemos que na busca da origem e a extensão do conhecimento humano surge a ideologia como ciência. A princípio, investigando o ato de pensar, teorizou-se que estaria associado ao juízo, como um sentir que há relação entre as coisas, com o desejo, como um sentir que quer algo, e com a sensação, com um sentir algo atual e presente por meio dos órgãos. Concluindo, desse modo, que sentir é o mesmo que existir.

Para tanto, envolveria a solução denominada motilidade, importando em sentir a diferença entre o "objeto externo" e "si mesmo". A formação da personalidade humana resultaria de uma cadeia de ideias no conhecimento das coisas. O indivíduo, zerado no nascimento, tornaria pensante pelos hábitos que se condicionou pela repetição.

Percebemos aí a inexistência do senso moral e a desnecessidade de fazer o bem aos outros sem limites.

Por fim, o ser humano estaria em busca da satisfação de seus desejos, movido apenas pelo instinto de preservação, comandado pela dor e pelo prazer. Nesta escola de pensamento a educação forma personalidade e comportamento por meio de punição e recompensa, no interesse da sociedade.

Mas, não podemos perder de vistas: estamos no campo do pensamento científico.

Não havia motivos, até então, para que se fizesse oposição a argumentos lógicos e razoáveis. No entanto, surgirá uma crise. É nesse momento que há mudança de paradigmas, pois, a teoria que parecia estar completa apresenta-se equivocada, uma vez que não explica fenômenos que fazem parte do seu objeto de estudo. A mudança de paradigma é resumida assim por FIGUEIREDO: "[...] a ciência do homem após a Revolução Francesa evoluiu de um corpo que pensa porque sente, para uma alma que pensa usando o corpo como seu instrumento". (grifo nosso).

Segundo FIGUEIREDO, Maine de Biran (1766-1824), questionará a teoria da motilidade, pois, desafiado pelo Instuto da França (1802) a responder qual a influência do hábito sobre a faculdade de pensar?, partindo da hipótese materialista, reconhece na fisiologia os intrumentos da sensibilidade, mas vendo o ser humano como alma e corpo, reconhecerá que as faculdades são da alma e não do corpo. Esse pensador conceituará o ser humano como duplo, ativo e livre. Para Biran o ser humano é uma alma encarnada.

Nesse reduzidíssimo resumo, sem qualquer ideia de esgotar, mas, na esperança de impulsionar a investigação da ciência, pode-se perceber que há toda uma psicologia precursora do Espiritismo. Não podemos estudar o Espiritismo com a visão de nosso tempo.

É preciso contextualizá-lo no período que antencedeu e mesmo durante o século 19. Várias ideias antes elaboradas e muitos conceitos fundamentais que já estavam desenvolvidos foram tomados como base por Allan Kardec.

Se buscarmos estudar a ciência filosófico-espírita vamos encontrar todo um mundo desvendado por Kardec. O mundo das consequências morais, a partir do reconhecimento do Espírito como a "alma desencarnada".

O método da observação, ao seu turno, também não é orginal do Espiritismo, mas foi por ele que Kardec passou à observação dos fenômenos espíritas.

Em breve faremos novas incursões e traremos mais informações relevantes, principalmente o fato de que jovens e adultos estudavam o Espiritualismo Racional como currículo escolar na França do século 19.

FONTE: FIGUEIREDO, Paulo Henrique de. Autonomia: a história jamais contada do espiritismo. São Paulo: FEAL, 2019.

Uberaba-MG, 03/11/2021.
Beto Ramos

DESTAQUE DA SEMANA

A DOUTRINA DOS ESPÍRITOS NÃO É ASSUNTO QUE SE ESGOTA EM UMA PALESTRA

  EM SUAS VIAGENS KARDEC MINISTRAVA ENSINOS COMPLEMENTARES AOS QUE JÁ POSSUIAM CONHECIMENTO E ESTUDO PRÉVIO. Visitando a cidade Rochefort, n...