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segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

KARDEC, ANTES DE TUDO, RIVAIL "O EDUCADOR".


Caso se pergunte a alguém, preferencialmente aos espíritas, quem foi Kardec, certamente para uns a resposta será: o organizador do espiritismo; e, para outros, o codificador do espiritismo.

É curioso dizer, mas, Allan Kardec, o organizador da Doutrina Espírita, foi alguém que nasceu em 18/04/1857 e com a idade adulta de  aproximadamente 52 anos. É que esse nome é um pseudônimo. Na verdade, antes do advento de Kardec para o mundo, viveu outro homem.

É imperativo saber:

KARDEC FOI, ANTES DE TUDO, RIVAIL, O EDUCADOR.

Mais da metade da vida de Rivail, depois Kardec, foi dedicada à educação da juventude. Sua vida foi influenciada por destacados pedagogos, que lhe serviram de modelo e inspiração (assista o vídeo em nossa plataforma).

No século 19, Rivail foi considerado um ESPECIALISTA em assuntos de ensino. Por meio de suas obras, ele dialogava com alunos, professores e outros profissionais do ensino e da educação, além de influentes personagens da área jurídica e administrativa do sistema educacional francês.

O movimento espírita conhece pouco ou quase nada de Kardec. Mas, Rivail, o educador, não é mencionado como tal e nem há ênfase da sua importância para o mundo que se pretende regenerar.

Nessa reflexão não estamos aludindo ao título educador, mas quem é, o que fez, qual o tamanho de sua obra e a proeminência de Rivail para a França do século 19 no campo da educação.

Quem foi o pedagogo Rivail? Como se desenvolveram seus conceitos de ensino e educação? Qual sua proposta para educar o povo?

Talvez a primeira questão a ser abordada seria o esquecimento de quem foi Rivail. O primeiro 'culpado' disto é ele próprio. Rivail pretendeu isso. Pode-se imaginar que objetivou proteger pessoas; não quis usar seu prestígio para divulgar o espiritismo; não desejou ofuscar a nascente ciência-filosófica, seu conteúdo e sua importância.

Sobre Rivail e Kardec, possuindo muito em comum, destaca-se que ambos obtiveram sucesso com as obras que publicaram. No entanto, Kardec abordou com bastante clareza temas que Rivail não discutiu com a mesma profundidade.

Quem foi Rivail antes de O Livro dos Espíritos? Foi alguém que dedicou um grande período de sua vida ao trabalho pedagógico. Trabalhou com o ensino e a educação, publicou livros específicos e artigos com considerações profundas acerca dos problemas dessa área do conhecimento.

Se você desejar conhecer a história da família de Rivail, sua infância e formação, acesse os endereços abaixo (o número 1 possui 3 partes) e leia tudo:

1. A HISTÓRIA DO ESPIRITISMO...

2. A VIDA DE RIVAIL NO CAMPO...

3. INFÂNCIA E INFLUÊNCIA DO MEIO NA OBRA...

4. YVERDON-LES-BAINS: RIVAIL E PESTALOZZI SE ENCONTRAM

Após deixar Yverdon Rivail seguirá carreira no campo da educação, pela qual dedicará sua vida. Abaixo, um breve histórico:

1823 - Lança sua primeira obra pedagógica: Curso Prático e Teórico de Aritmética Segundo os Princípios de Pestalozzi, com modificações.

12/1823 - Lançamento da obra completa, uma vez que a anterior tinha apenas 16 páginas. Recomenda o livro a professores e mães que desejassem ensinar para as crianças as regras básicas de aritmética.

1825 - Se torna diretor de uma escola de 1º grau, fundada por ele em Paris. Para essa ocasião publica um livreto de 8 páginas.

1826 - Fundou a instituição Rivail, um instituto técnico, onde aplicou o método de Pestalozzi, o qual funcionou por 9 anos.

1830 - Traduz, para o alemão, "Aventuras de Telêmaco", cujo autor foi François de Salignac de La Mothe Fénelon, na qual acresceu comentários para uso em educandários, entre outros, como objeto de estudos comparados de línguas. Rivail era poliglota e dominava várias línguas.

1831 - Rivail recebeu um prêmio pela obra "Memorando sobre o seguinte problema: qual é o sistema de estudo mais conveniente às necessidades da época atual?".

1832 - Se casa com Amélie Boudet e fundam um educandário para moças nas proximidades de Paris, que foi dirigida por Amélie.

14/08/1834 - Rivail profere discurso na distribuição de prémios em sua escola. No mesmo apresenta noções importantes da pedagogia que praticava.

Na instituição que fundou, física e química eram matérias obrigatórias, além de literatura, geografia, história, gramática, escrita, leitura, desenho geométrico, etc., abordando, também, anatomia e fisiologia.

1834 - Fechou o seu instituto, vendendo-o para passar a trabalhar como contador e tradutor de livros, além de elaborar programas de estudos para alunos de escolas do subúrbio.

1835 - 1840 - Dirigiu cursos populares gratuitos de Química, Física, Astronomia e Anatomia Comparada.

1848 - Rivail dirigiu o Liceu Polimático. Ministrou cursos de Fisiologia, Astronomia, Química e Física. Produziu manuais didáticos, planos, exercícios, compilações de métodos para professores e pais, projetos para políticos e pedagogos.

Ao longo dos textos e livros publicados, Rivail demonstra percepções distintas de sua época. História para ele não se limita a datas e parentescos familiares. Era necessário estudar costumes, descobertas, progressos da arte e da ciência em períodos sucessivos. Estudar canto era tão necessário quanto a leitura.

Nesse período Rivail já afirmava que houve o tempo da força bruta como lei, hoje é o mesmo com a força do espírito; Que, quem aprende, trabalha por sua própria felicidade. Foi reconhecido como um dos melhores gramáticos de seu tempo na França. Era um cientista e pertenceu a diversos institutos, devidamente diplomado.

No período de produção de Rivail, a situação do sistema escolar da Europa Ocidental evoluiu influenciada por mudanças progressistas da sociedade.

A política caminhava em direção à democracia. E isso requeria mudanças nas atividades do meio intelectual, no sentido de possibilitar aos cidadãos adquirir conhecimentos necessários à utilização do seu poder. A democracia dependia dos programas educativos.

É nesse cenário que surge a ideia da obrigatoriedade e gratuidade da instrução pública, a princípio para o ensino de primeiro grau. Além disto, o ensino técnico reclamava o seu lugar. O segundo grau se caracterizou pelo estudo de línguas vivas e não clássicas.

Nessa conjuntura, há o distanciamento das escolas e as igrejas. A ideia era a cultura se tornar leiga e o Estado assumir o poder sobre ela. Nesse tocante importa recordar as características do ensino dominado pelos religiosos:

  • A língua era o latim;
  • O viver era baseado na ideia cristã;
  • O objetivo era o aluno enfrentar problemas administrativos e econômicos;
  • O programa de estudos continha muitos elementos de religião;
  • Os professores, frequentemente, eram clérigos;
  • As mentes eram formadas para obedecerem às igrejas e ao Estado;
  • Em universidades, apenas teólogos, juristas e médicos recebiam ensino especializado; e,
  • Havia tratamento diferenciado para os sexos nesse período.

De maneira geral, a Europa, sobretudo Suíça e Alemanha, com algum alcance sobre as colônias inglesas e os Estados Unidos, buscavam desenvolver métodos ativos e intuitivos, que permitissem aos alunos participarem do processo de ensino e acompanhar a descoberta da verdade junto aos professores.

A França de Rivail, contudo, era um país onde prevalecia a Tradição. Pesava o senso de hierarquia social e da aristocracia. Em meio a isso surgem os serviços públicos e as profissões liberais, dentre às quais pertencia o gênero de trabalho braçal.

Dessa forma, ao contrário de avançar, tornou-se um obstáculo ao desenvolvimento. Escolas de segundo grau, por exemplo, não buscaram desenvolver uma educação que servisse às pessoas "menos importantes".

Por outro lado, a industrialização francesa fez surgirem condições favoráveis à educação pública. O aprendizado era visado pelos ricos que desejavam que alguns operários se instruíssem, adquirindo e aperfeiçoando sua capacidade técnica. Surge, também, a necessidade de garantir cuidados às crianças para que seus pais pudessem trabalhar durante o dia.

Mas, sendo um país profundamente católico e com ligação umbilical com a igreja, a transformação das escolas em instituições leigas encontra muita resistência. Pensava-se que a direção tomada pela evolução do sistema educacional era nocivo aos católicos, privilegiando os demais credos.

A igreja resistia.

Por meio do partido liberal, controlava as Universidades e cuidava de interesses próprios. Em 1850, a igreja aumenta seu poder sobre as escolas. Passa a ser permitido que criem e desenvolvam seus educandários.

A igreja era contra os republicanos que queriam escolas que preparassem trabalhadores leigos para o serviço público. No século 19 francês verificava-se a concorrência entre diferentes regimes políticos. Tudo se transformava em questão de breve tempo: governos, ministros e leis.

(Continua...)


Uberaba-MG, 03/01/2021
Beto Ramos


FONTE BIBLIOGRÁFICA:

FIGUEIREDO, Paulo Henrique. Revolução Espírita - a teoria esquecida de Allan Kardec. São Paulo: Maat, 2016.

INCONTRI, Dora; GRZYBOWSKI, Przemyslaw. Kardec Educador - Textos Pedagógicos de Hippolyte Léon Denizard Rivail. São Paulo: Editora Comenius (e-book).



domingo, 26 de dezembro de 2021

O PASSE MAGNÉTICO NA OBRA DE ANDRÉ LUIZ (ESPÍRITO)


É comum ouvir relatos no meio espírita acerca do passe magnético. Principalmente quanto à sensações de que algo parece sair das mãos do magnetizador. Alguns dizem que houve aquecimento em suas mãos, outros que há certo formigamento.

Certos médiuns relatam terem 'visto energia ou fluido vital' sendo transmitido para o paciente. Fala-se, inclusive, de cores, entre outros argumentos para fundamentar uma ideia de que haveria 'alguma coisa sendo transferida do magnetizador para o paciente'.

Existem relatos de que essas afirmações estariam em acordo com o conteúdo das obras de André Luiz. Trata-se de um Espírito que se comunicou pela mediunidade de Francisco Cândido Xavier e que produziu uma obra de fôlego.

Primeiramente, é necessário esclarecer que há uma crítica importante às obras desse e de outros Espíritos, cujas mensagens não foram submetidas ao Controle Universal do Ensino dos Espíritos, método adotado por Allan Kardec a partir da ciência histórica que, ao seu turno, adotava o método dos testemunhos.

No Espiritismo, além dos testemunhos e relatos dos diversos Espíritos, por vários médiuns, desconhecidos entre si e em várias localidades espalhadas pelo planeta, Kardec, também, incluiu, conforme ensinou Paul Janet, a lógica, a razão e o bom-senso na análise das comunicações.

Feita essa ressalva, a intenção nesse texto não é criticar a obra do Espírito, mas, lado outro, aproximar os conceitos apresentados nos livros e demonstrar que há equívoco dos que defendem a ideia de 'alguma coisa sendo transmitida pelas mãos do magnetizador durante o passe', posto que esse não é, definitivamente, o que postulou André Luiz.

Para esse estudo pesquisamos em 02 (dois) livros de autoria de André Luiz, ditados pela via mediúnica à Francisco Cândido Xavier e 01 (hum) ditado a este e a outro: Waldo Vieira. Além de outra fonte bibliográfica principal que deixaremos ao final do texto.

Inicialmente, uma preciosa lição deve orientar o nosso trabalho e a sua leitura. Trata-se do que Kardec chamou de 'a perfeita compreensão'. O que deve permear toda investigação e etudo sério. Conforme ensinou o Codificador em O Evangelho Segundo o Espiritismo: 'não basta crer, é preciso antes compreender'.

Você sabia que André Luiz relata que um dos Espíritos instrutores a que teve acesso viveu na França, conheceu Mesmer e, após, em nova reencarnação apreciou os trabalhos realizados por Allan Kardec? Que o seu interesse era pela mediunidade e o magnetismo?

Verifique, ainda, que sobre os fenômenos mediúnicos de psicografia, 'incorporação e materialização', André Luiz afirma que estudou apenas 'de leve', o que, confessa, é muito pouco em razão da complexidade da mediunidade.

Partindo para o tema proposto, veja que André Luiz demonstra que há equívoco nas afirmações de quem adota a teoria de transferência de fluidos entre magnetizador (no Brasil denominado 'passista') e o paciente. Nas palavras de um dos instrutores há o esclarecimento de que todo fenômeno mediúnico tem por base a mente.

Além disto, usa a expressão 'arrojar a energia atuante do próprio pensamento', cujo resultado é criar em torno do indivíduo o ambiente psíquico que é particular a cada um. Perceba, ainda, o processo: a interação entre indivíduos ocorre pela 'energia mental'. E, o mais importante: é a mente do Espírito quem imprime vontade e direção ao pensamento.

 
André Luiz narra que as ideias, isto é, o produto dos pensamentos resultantes da vontade do Espírito, cuja direção é impressa, transmite-se por onda e em frequência própria. Não é outro o conceito de Mesmer quanto ao magnetismo animal. Veja que não há relato de nada sendo transferido de um indivíduo para outro. Fala-se tão somente em PENSAMENTO.

Na imagem a seguir temos uma inteligência emissora do pensamento e uma receptora deste:



Quanto à sintonia, questão trabalhada por Allan Kardec junto aos Espíritos Superiores, a fim de solucionar a maior ou menor facilidade de comunicação, ou mesmo sua impossibilidade, além de curas instantâneas ou dificuldades em apenas aliviar uma dor física, André Luiz não reporta nada diferente, mas, deixa claro que a sintonia ocorre por meio de ondas, as quais assimilamos, em razão das quais imprimimos a direção.

Alerta, inclusive, para a questão do conhecimento do tipo de onda mental que assimilamos. Portanto, uma magnetização deve ser precedida de uma anamnese do paciente.

Interessante que André Luiz traz "algo novo" para a questão do passe magnético e da cura, o que não se constituirá em 'novidade' no sentido pejorativo. Apenas introduz as descobertas científicas ao assunto. Kardec falou em contato molecular. André Luiz fala em contato celular, coforme veremos a seguir.

Antes de prosseguirmos, em razão de que há muitos adeptos da tese de 'transmissão de alguma coisa do passista para o paciente', é necessário verificarmos alguns conceitos importantes na obra de André Luiz, vejamos:

A matéria é energia tornada visível, que, ao seu turno, é força divina que utilizamos nos mundos onde a matéria se expressa em variados estados de vibração. Ficou meio confuso? É que os Espíritos utilizam os fluidos espirituais ou perispirituais. Como eles usam? Através da vontade que movimenta o pensamento gerando o turbilhão de forças por meio da indução.

Se você está pensando na aula de física, não é outra coisa. É física pura:


Veja que André Luiz utilizou a expressão matéria mental para referir-se a fluidos espirituais e perispirituais. Verifique, agora, o que diz Allan Kardec a respeito:


Lembra que falamos que Allan Kardec referiu-se ao contato entre perispírito e corpo físico por meio de moléculas? Pois bem, no século 19, entre os anos 1840 a 1870, estudava-se as células. André Luiz vai incorporar a ciência no conceito, mas, não modificará em hipótese alguma o que foi ensinado pelos Espíritos Superiores acerca do processo de cura.

E, é bom lembrar, Kardec sempre afirmou que no avanço da ciência, o Espiritismo estaria em conformidade com esta.

Vamos, agora, encaminhar a questão para o passe magnético e a cura. Observaremos que André Luiz compreende o processo conforme o que foi ensinado pelos Espíritos Superiores. Na obra A Gênese verifica-se  interação entre o perispírito e o corpo físico, bem como a causa de certas doenças ser a má natureza dos fluidos espirituais que o Espírito mantém contato e os transmite para o corpo físico:



Veja que André Luiz no livro Evolução em Dois Mundos observa a teoria celular, isto é, o contato do perispírito com o corpo físico ocorre por meio dos bilhões de células que compõem cada órgão e possuem funções exclusivas e trabalhos específicos.

O comando desses bilhões de células é do Espírito:

Importante esclarecer que os espíritas que defendem que o Espiritismo não preconiza a Teoria Moral Autônoma e que Francisco Xavier teria recebido mensagens contrárias a essa teoria, ficando silente e não denunciando, parece, a nosso sentir, estarem equivocados. Não há denúncia mais perfeita que publicar um livro onde há a seguinte mensagem:


Se ainda paira alguma dúvida, perceba que a dor física não passa de sofrimento meramente físico, o qual constitui-se em alarme para que se inicie o procedimento de socorro físico ou espiritual. Nesse caso temos: sofrimento moral no Espírito e sofrimento físico no encarnado.


Para encerrar esse trabalho vamos colacionar como ocorre o processo de autocura na obra de André Luiz. Se você é partidário da teoria do fluido vital, pela qual "alguma coisa é transferida pelo magnetizador ao paciente", certamente isso não deve ser creditado como culpa de André Luiz. Sua teoria é outra, veja:


Verifique que a questão da vontade e do pensamento, com o fim de restaurar a confiança do paciente para soerguer sua vontade e este, autonomamente, inicie o processo de cura comandando seus bilhões de células, é o mesmo da Teoria Espírita e da Teoria de Mesmer quanto à cura pelo passe magnético.


Deixamos aqui a nossa contribuição e esperamos ter deixado claro que NÃO HÁ NA TEORIA ESPÍRITA, NA TEORIA DE MESMER E NA TEORIA DE ANDRÉ LUIZ, transferência de fluido vital do magnetizador para paciente. Também não há transferência de energia. Não se opera transfusão de nada.

O que será "inoculado no paciente" é o pensamento do magnetizador, o qual precisa que esse pensamento seja assimilado (sintonia). O processo ocorre por meio da vontade que coloca esse pensamento em movimento, sendo transmitido por meio de ondas eletromagnéticas. Quem fica pensando em "transferir alguma coisa de si para o outro", certamente, não estará pensando na coisa correta que é:
"DESEJO QUE A VONTADE DO MEU (MINHA) IRMÃO (IRMÃ) SEJA FORTALECIDA NO BEM E QUE ELE QUEIRA DETERMINAR AO SEU CASULO CELULAR QUE INICIE O PROCESSO DE RESTAURAÇÃO DA HARMONIA ORGÂNICA PERDIDA. QUE O PACIENTE, A PARTIR DE AGORA, SÓ MANTENHA ESSE FOCO NO PENSAMENTO".
Agora que você já sabe como é o processo, poderá fazer um trabalho eficaz junto aos pacientes que serão magnetizados. Faça uma entrevista antes, veja qual é o sofrimento físico do paciente e analise o sofrimento moral porventura existente. Com essas informações você poderá direcionar seu pensamento por meio de sua vontade permanente no bem para alívio ou cura do órgão ou órgãos afetados do paciente.

Isto não é tudo, mas é um caminho.

Uberaba-MG, 26/12/2021
Beto Ramos.

FONTES BIBLIOGRÁFICAS:
FIGUEIREDO, Paulo Henrique. Antonomia - a história jamais contada do Espiritismo. São Paulo: FEAL, 2019.
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo.
________. A Gênese. São Paulo: FEAL, 1868 (2018).
________. O Livro dos Médiuns.
XAVIER, Francisco C.; VIEIRA, Valdo. Evolução em Dois Mundos. Brasília: FEB, 2013.
________. Nos Domínios da Mediunidade. Brasília: FEB, 2013.
________. Mecanismos da Mediunidade. Brasília: FEB, 2013.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

A CURA PELO PASSE MAGNÉTICO

 

Para a MEDICINA tradicional a doença e a cura vêm de causas externas. O ser humano é bombardeado pelo meio em que está situado e será o que lhe rodeia, coisas visíveis ou invisíveis a olho nu, que vão lhe causar os males físicos. Pelo mesmo raciocínio, a cura somente poderá advir de causas igualmente externas (remédios, chás, sangrias, amputações, radiações e outras tantas estratégias).

No século 19 acreditava-se que CURAR SERI EXPULSAR O MAL DO CORPO. E, somente por TRATAMENTOS feitos por MÉDICOS poderiam ‘expulsar’ esse mal. A lógica é a mesma de certas religiões para as quais havia a hipótese de que certos males seriam causados por demônios, os quais, também, precisavam ser expulsos do corpo do individuo. E, somente, religiosos habilitados poderiam EXORCIZAR o indivíduo.

Esse é o cenário do século 19 em que o Espiritismo moderno chegou à Terra:

Figura 1

Para bem se compreender melhor o assunto CURA PELO PASSE MAGNÉTICO é necessário voltar ao século 18 para conhecer a figura de FRANZ ANTON MESMER.

Mesmer nasceu em Constança, na Suábia, região que hoje pertence à Alemanha, no dia 23 de maio do ano de 1734. De família católica, em 1743, foi encaminhado pelos pais a um monastério em Constança onde, durante alguns anos, estudou línguas, literatura clássica e música.


Em 1750 ingressou na Universidade da Companhia de Jesus na Baviera onde estudou filosofia chegando ao doutorado. Ali encontrou as obras de Galileu, Descartes, Leibniz, Kepler, Newton e outros.

Em 1754 iniciou o curso de teologia na Universidade da Baviera e cinco anos depois, na Universidade de Viena da Áustria, dedicou seu 1º ano na instituição ao estudo das leis e se transferiu depois para o curso de medicina, considerado o melhor da Europa.

Depois de seis anos de estudo conquistou o Doutorado com a sua Dissertatio physico-medica de planetarum influxu (Dissertação físico-médica sobre a influência dos planetas), sob a égide de Newton e talvez de Paracelso. Em sua dissertação usa pela primeira vez o conceito de fluido universal.

Figura 2


O primeiro tratamento por meio do magnetismo animal feito por Franz Anton Mesmer teve início em 1773. A paciente foi uma parenta de sua esposa e amiga da família Mozart, Franziska Esterlina, uma senhorita de vinte e nove anos, bastante debilitada.

Com a pouca acolhida dada à sua descoberta, em 1775 Mesmer se determinou a nada mais realizar publicamente em Viena. Viajou para diversos países da Europa anunciando a sua descoberta (Suábia, Baviera, Suíça, Hungria e outros países). Publicou uma Carta ao povo de Frankfurt, que representa uma importante fase do desenvolvimento de sua teoria. Em 5 de janeiro, publicou em jornais e panfletos uma Carta a um médico estrangeiro esclarecendo a terapia do magnetismo animal.

Em 1776, Mesmer deixou de fazer uso do ímã como simples condutor do magnetismo animal, para evitar mal-entendidos por parte dos médicos e físicos. Continuou a usar água, garrafas e barras de ferro. Publicou Cartas sobre a cura magnética, esclarecendo a sua tese de doutorado, e as enviou, como divulgação, a alguns médicos. No ano seguinte, Mesmer aceitou como paciente a famosa pianista Maria Theresia Von Paradis, curando sua cegueira e gerando controvérsias.

PROCESSO DO MESMERISMO:

A teoria e a prática da cura proposta por Mesmer considerava o uso de um método com os seguintes recursos:

  •        Passes
  •        Água fluidificada
  •        Imposição de mãos

Mesmer propôs que “a vontade forte de uma pessoa bem intencionada sobre outra doente, pelo contato ou não, e até a certa distância, pode fazer agir uma força vital do “mesmerizador” sadio dotado deste poder sobre outra pessoa dinamicamente”.

Para esse processo são necessários sintonia e vontade para incitar o processo natural de cura próprio do paciente.

Em suas pesquisas Mesmer descobre que era possível provocar o sonambulismo em outra pessoa, cujos sentidos ganham uma profunda ampliação. Em uma das experiências feitas com o grão de pão demonstrou a ampliação da percepção por meio da constatação dos sabores: farinha, sal, fermento, etc. (tudo em separado).

As faculdades ampliadas detectadas no sonâmbulo foram:

  •    Visão à distância
  •    Previsão de fatos futuros
  •   Exames internos de doentes (o sonâmbulo via o interior do organismo)
  •    Descrição de doença
  •    Sugestão de tratamento
  •    Previsão a cura

Mesmer chamou isto de lucidez sonambúlica. O objeto de seus estudos era a alma, por meio do método científico, não havendo nada sobrenatural, nem espírito de sistema.

Constatou-se que a alma age por meio da VONTADE sobre o corpo, como FONTE DE FORÇA necessária para RESTABELECER A SAÚDE. Mesmer descobriu que o princípio da cura está no próprio indivíduo. O processo de cura é de dentro para fora. É no organismo do indivíduo doente que se inicia, intimamente, o processo de cura.

Conforme a Teoria Geral todos os fenômenos naturais (luz, som, eletricidade, calor, etc.) seriam propagados por meio de uma VIBRAÇÃO, nos diversos graus de fluidez do FLUIDO UNIVERSAL.

Em toda a teoria de Mesmer sobre o magnetismo animal, a ação da VONTADE e sua PROPAGAÇÃO por um meio material constitui o PONTO CENTRAL de toda a teoria. VONTADE E PENSAMENTO PROVOCAM VIBRAÇÕES DE AGENTE GERADOR, o que produz efeito à distância por meio de ondas do meio, que se espalham pelo espaço.

Mesmer partiu da teoria cogitada por Newton, onde o movimento animal (isto é, os movimentos musculares) é provocado por vibrações do meio, excitados pelo cérebro pelo poder da vontade, propagados pelo meio de fibras sólidas muito tênues, transparentes, uniformes dos nervos para os músculos, para contraí-los e dilatá-los.

E esse, também, é o conceito da Doutrina Espírita. Segundo Kardec, em A Gênese, de 1868, o fluido perispiritual é o traço de união entre Espírito e Matéria. Durante sua união com o corpo, é o veículo do pensamento do Espírito para transmitir MOVIMENTO ÀS DIFERENTES PARTES DO ORGANISMO, os quais atuam SOB O IMPULSO DE SUA VONTADE, e para REPERCUTIR NO ESPÍRITO AS SENAÇÕES PRODUZIDAS PELOS AGENTES EXTERNOS. Tem por fios condutores os nervos.

De acordo com a ciência do magnetismo animal A CURA não ocorre por ação de uma substância, mas pela SINTONIA, isto é, CONCORDÂNCIA ENTRE DUAS VONTADES, a do magnetizador e a do paciente, motivando a FORÇA NATURAL DO ORGANISMO para restabelecer a SAÚDE. Esse é o princípio essencial. Entre o Espiritismo e o Magnetismo o laço de união fundamental é a TEORIA DA VONTADE. Em 1861, Kardec afirmou que a vontade desempenha papel capital em todos os fenômenos do magnetismo. A vontade participa não como um ser, uma substância ou uma propriedade da matéria, mas, como um atributo do espírito, o ser pensante encarnado ou errante.

A faculdade de cura se explica pela ação do Espírito sobre a matéria elementar. Até certo limite, o Espírito pode lhe modificar as propriedades.

A compreensão do passe nos dias atuais não é condizente com a teoria, observação, experimento e práticas do magnetismo animal de Mesmer. Isso se explica em razão de que alguns magnetizadores se diziam seus discípulos. No entanto, defendiam posições diferentes.

Um deles, DELEUZE, não possuindo conhecimento de conceitos da Física, como o de potencial de força, não abordava o assunto no sentido dos debates entre movimento ondulatório e mecânico. Deleuze, afirmava que os efeitos produzidos são unicamente devidos à natureza, cuja ação é reforçada pela ação do magnetizador.


LAFONTAINE, um magnetizador que fazia oposição à união entre magnetismo e Espiritismo, apoiado pela Igreja, defendeu a teoria do fluindo vital. Esse e outros magnetizadores foram denominados FLUIDISTAS. Nunca viram ou experimentaram pela observação tal teoria, mas, combatiam a ideia de cura baseada na TEORIA DA VONTADE. Para estes, o fluido vital era a CAUSA dos EFEITOS MAGNÉTICOS.

O fato é que o caminho contrário ao proposto por Mesmer se dava em razão de que a comunidade científica das ciências naturais não aceitavam quaisquer questões psicológicas. Lafontaine preferiu negar a verdade para que o magnetismo fosse aceito pela comunidade científica. Algo parecido com o que ocorreu com Galileu sobre o fato de a Terra girar. Por outro lado, Mesmer faz parte do grupo dos que não abandonam a verdade, como é o caso de Giordano Bruno.

Em suma, Lafontaine negava o fenômeno mediúnico. Dizia que a natureza é a do sonambulismo e afirmava não existir comunicação com o mundo dos Espíritos, visto que essa era impossível. Na opinião dos magnetizadores fluidistas materialistas, afastando os conceitos de vontade, alma e pensamento, a ação mecânica e curativa de uma substância acumulada pelo magnetizador é transmitida ao paciente, que a absorve.

Esta é a TEORIA DA SUBSTÂNCIA MATERIAL baseada na Teoria do Fluido Vital de Claude Nicolos Le Cat, que estudou as sensações nos amputados. 

O seu método de pesquisa era a observação, a imaginação e a produção de hipóteses.


Importante ressaltar como e porque se usava a expressão FLUIDO. Essa ideia surgiu para explicar os fenômenos observados repetidamente, considerando a comunicação à distância. Essa comunicação ocorria por “algum meio”. E, a esse, deram o nome de FLUIDO. É daí que surgem os nomes fluido animal, vital, elétrico, etc.

A hipótese fundamental dessa teoria é que a natureza era composta por forças observáveis. Essas forças foram concebidas como SUBSTÂNCIAIS ESPECIAIS. Sua composição era de ÁTOMOS (esferas duras, invisíveis, que possuíam cada uma delas propriedades das diferentes forças).

Para explicar o CALOR pensavam que a sensação causada no indivíduo era provocada por essas esferas, as quais formavam a substância denominada FLUIDO CALÓRICO. Laplace e Lavoisier admitiam essa hipótese para explicar TODOS OS FENÔMENOS DA NATUREZA.

Trata-se de uma TEORIA MATERIALISTA. Perceba que o átomo, a substância, o fluído, tudo é matéria, sendo que a sua transmissão, isto é, ALGO FLUINDO, é toda material, nada psicológico. Flui porque é considerada SUBSTÂNCIA. Segundo EINSTEIN, o calor NÃO É substância, nem mesmo sem peso.

No magnetismo animal a natureza física do universo está relacionada com ESTADOS DE VIBRAÇÃO nos diversas fases de um PLENO, isto é, TODA MATÉRIA SEM QUE EXISTAM VAZIOS. Os sentidos humanos apreendem as vibrações dos meios. Para Mesmer o fluido cósmico é o conjunto de todas as séries da matéria, que é dividida pelo movimento interno, ou seja, o movimento das partículas entre si.

O universo, portanto, está fundido e reduzido a uma única massa. A essência do fluido cósmico é sua fluidez. Não possui nenhuma propriedade, não é elástico e não tem peso. É o meio apropriado para determinar as propriedades de todas as todas as ordens da matéria.

HIPÓTESE è FLUIDO VITAL / EXEMPLO: FLUIDO CALÓRICO

Figura 3


As propriedades são consideradas próprias dessa qualidade do átomo.

Figura 4


Para os partidários da teoria do fluido vital, as propriedades curativas estariam relacionadas com a própria natureza dos átomos dessa imaginária substância especial, sendo ela própria a cura. Nesse caso, o processo se dá por meio de uma quantidade de fluido acumulada no magnetizador que seria transferida por meio de EMISSÃO para o paciente carente dessa substância. A ação, nessa hipótese, estaria relacionada apenas com a quantidade que seria transferida. Os defensores da teoria concluem que, sendo algo físico, os atos mecânicos são possíveis, ou seja: acumular, guardar e transferir. ESSA HIPÓTESE É FALSA.

Figura 5



Aplicando a teoria do fluido cósmico (Mesmer) ao magnetismo animal (Mesmer):

HIPÓTESE è FLUIDO UNIVERSAL:

As propriedades dos fluidos estão relacionadas com a ação do magnetizador. O magnetizador GERA o MOVIMENTO. Esse movimento é uma ONDA, que terá a FREQUÊNCIA equivalente ao TIPO DE PENSAMENTO do magnetizador. Sua POTÊNCIA está relacionada com a FORÇA DA VONTADE empregada pelo magnetizador. É o movimento gerado pelo magnetizador que induz a VONTADE do PACIENTE. A causa da cura do paciente está no esforço do seu organismo em promover seu próprio reequilíbrio. 

Figura 6


Resumindo:

Figura 7


Os fatos envolvidos nesse processo são fisiológicos e psicológicos. Enquanto a teoria de Mesmer propõe uma união entre fenômenos do mundo físico e moral para um mesmo agente gerador, que corresponde aos fenômenos observados pelos Espíritos Superiores no mundo espiritual, os teóricos fluidistas derivaram várias práticas formais sem fundamento no fenômeno, tais como:

1. Limite de quantidade de fluido a ser transmitida.

2. Risco de o magnetizador ficar sem estoque, adoecer ou se esgotar.

3. Colocar as mãos do paciente para cima para o fluido penetrar mais facilmente.

4. Pensar no mau direcionamento do fluido, que passaria ao lado do paciente.

5. Cada magnetizador fluidista passa a criar um ‘sistema próprio’.


Percebemos que todas essas práticas formais não passam de rituais. E é nesse sentido que é preciso recordar a ciência filosófico-espírita que não adota NENHUM tipo de ritual ou formalidade.

No Brasil, compreende-se o passe como sendo um fluído vital se desprendendo do magnetizador, projetando-se para fora, sendo dirigido para o corpo do paciente que, o absorvendo, obterá o efeito curativo dessa substância. Essa é a teoria dos magnetizadores fluidistas do século 19. Mas, não é essa a teoria de Mesmer.

Os princípios do magnetismo animal são diferentes. Além disto, a compreensão do passe no Brasil é diferente do ensino dos Espíritos na obra de Kardec. É preciso lembrar, uma vez mais que a Doutrina dos Espíritos possui caráter progressivo. Não basta ler uma obra e pensar que já sabe o que é e como é alguma coisa. É necessário saber o que foi dito pelos Espíritos Superiores, o que foi objeto de experimento de Allan Kardec e o que está registrado nas obras Espíritas.

Figura 8

Os defensores da corrente fluidista (a mesma defendida no Brasil) deixam de lado o princípio espiritual, quando não o negam absolutamente. Para essa corrente tudo se relaciona com a ação do fluido material e, por isto, estão em oposição de princípios com os espíritas.

Na RE de 1867, Kardec explicou que os magnetizadores fluidistas imaginam os efeitos do magnetismo como uma ação de um fluido fisiológico material, sem relação nenhuma com a alma.

O magnetismo animal de Mesmer não promoveu a teoria do fluido nervoso vital ou magnético, que se desprende do nosso corpo, projeta-se para fora e transporta-se em caso de necessidade através do espaço.

Para saber mais sobre o fluído cósmico universal e como se passam os fenômenos no mundo espiritual, bem como conhecer o papel da vontade e do pensamento no processo de cura, de acordo com a prática espírita e com o ensino dos Espíritos Superiores, é preciso estudar a 2ªParte do Livro dos Médiuns, especialmente o capítulo 8, Laboratório do Mundo Invisível, além do capítulo 14, os fluídos, de A Gênese de 1868.

Uberaba-MG, 22/12/2021.
Beto Ramos

Fonte de pesquisa principal:
FIGUEIREDO, Paulo Henrique de. AUTONOMIA – A história jamais contada do Espiritismo. São Paulo: FEAL, 2019.

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