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terça-feira, 26 de abril de 2022

DESCARTES, ESPIRITUALISMO RACIONAL E ESPIRITISMO


Realmente, Allan Kardec afirmou em prolegômenos, contido em O Livro dos Espíritos, que o conteúdo da obra foi por ele organizado e que a sua origem provém dos Espíritos superiores. Todavia, na mesma obra, em sua Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita, no item I, asseverou que o Espiritismo é uma espécie do gênero filosófico Espiritualismo Racional, ocasião em que explica a expressão Filosofia Espiritualista.

Portanto, hoje, vamos trazer informações que refutam as alegações dos incautos que asseveram discordar da Teoria Moral da Autonomia, consignada por Allan Kardec nas obras fundamentais do Espiritismo, em razão da afirmação sobre a origem da Doutrina dos Espíritos.

De fato, os Espíritos superiores são a origem pura e cristalina, mas, nem Kardec, nem os Espíritos que trabalharam na equipe do Espírito da Verdade afirmaram que o seu trabalho não era fruto de esforço coletivo ainda maior, onde todos servem, aprendem e intuem, em todos os tempos (encarnados ou não).

Àqueles que duvidam, citamos a afirmação de Emmanuel sobre livro e conhecimento, verbis:

"O livro representa vigoroso imã de força atrativa, plasmando as emoções e concepções de que nascem os grandes movimentos da humanidade, em todos os setores da Religião e da Ciência, da opinião e da técnica, do pensamento e do trabalho. Por esse dínamo de energia criadora, encontramos os mais adiantados serviços de telementação, porquanto, a imensas distâncias, no espaço e no tempo, incorporamos as ideias dos Espíritos superiores que passaram por nós, há séculos". (Pensamento e Vida, Cap. 4, Instrução. Chico / Emmanuel).

É claro que Renatus Cartesius, mais conhecido como Renê Descartes (1596-1650), não pode ser classificado como um espiritualista racional, vez que seus principais interesses eram a matemática, a ciência, a epistemologia e a metafísica. Foi influenciado por Platão, Pitágoras, Aristóteles, Sexto Empírico, Pirro, Agostinho, Aquino, Anselmo, Ockham, Francisco Sanches, Suárez, Scotus, Mersenne, Montaigne e outros. Sua escola e tradição foi o cartesianismo e o racionalismo, principalmente. Contudo, pedimos vênia para colacionar, com adaptações, o resumo e remissões feitas por P. F. - A. JAFFRE (in História da Philosophia, 4ª Edição, 1886), a seguir, na intenção de lançar luz acerca do fato de que o conhecimento é construído. Os Espíritos superiores fizeram validar ou refutar teorias que já existiam ao tempo de Kardec, incorporando elementos de conhecimento que não havia sido pensados (servir, intuir, instruir).

A doutrina de Descartes ensina que:

A alma é uma substância imaterial, cuja natureza simples nos é revelada pela consciência unicamente. Sua essência é o pensamento atual. A alma não está em todo o corpo; sua sede é na glândula pineal. As ideias são adventícias para as coisas sensíveis, inatas para as coisas suprassensíveis e absolutas, factícias para as coisas que concebemos em nossa imaginação.

O juízo é formado pela vontade e não pela inteligência. A evidência não está nas coisas; está no espírito que percebe claramente as relações das ideias. As sensações não são perceptíveis. São impressões puramente fisiológicas e estamos certos de que os corpos são reais, por uma propensão invencível proveniente de Deus.

As paixões principais são em número de seis. A admiração é a primeira. São postas em movimento pelos espíritos animais. O animal não é vivificado por uma alma dotada de sensibilidade. É uma máquina, um autômato.

A existência de Deus é provada por nosso ato de duvidar, que é uma imperfeição; pela própria imperfeição de todo nosso ser; pela ideia do infinito, cuja causa se quer saber; por esta mesma ideia que encerra necessariamente a existência de seu objeto.

Os atributos divinos são todos deduzidos da infinita perfeição de Deus, comparada às qualidades completas das criaturas. A Vontade divina goza de uma liberdade de todo o ponto indiferente. Sua potência é absoluta, podendo mudar a essência metafísica das coisas.

A essência da matéria consiste na extensão. É divisível ao infinito. Seus elementos primários são átomos, ou corpúsculos invisíveis, posto que extensos. Não existe vácuo entre os corpos, e este mundo projeta-se sem fim no espaço infinito. O espírito e a matéria não podem atuar diretamente um sobre o outro. Daí a teoria das causas ocasionais. Todos os movimentos se explicam pela lei dos turbilhões.

Deus manifesta o seu pensamento e toda a luz criando uma matéria inerte, enchendo todo o espaço e imprime-lhe um movimento. Este movimento se comunica, porque não existe vácuo, a todas as partes da matéria. Não podendo as partes da matéria se movimentar em linha reta por causa dos obstáculos, fazem movimento circulares.

Sendo desigualmente densas e não podendo girar em torno de um só centro, formam outros movimentos em torno de centros diversos, chamados turbilhões.


A CONSTRUÇÃO COLETIVA DO CONHECIMENTO (servir, aprender, intuir).

Em palestra pessoal, via aplicativo de mensagens, com Paulo Henrique de Figueiredo, esse nos trouxe importantes esclarecimentos, demonstrando que sistemas de Descartes, ou mesmo de Spinoza, não foram adotados pelo Espiritualismo racional. Mas, salta aos olhos, o fato de que as civilizações se sucedem ao influxo da herança mental (Emmanuel).

Passamos a colacionar a seguir os comentários de Paulo Henrique de Figueiredo, na íntegra:

"A psicologia espiritualista experimental, iniciada por Maine de Biran, qualifica a ação da alma como fato psicológico, baseado na ação das suas faculdades. A vontade é a força da alma. Dessa forma, o espiritualismo do século 19 pressupõe três substâncias, Deus, alma e matéria. São temas das ciências metafísicas: Teodiceia, psicologia racional e cosmologia. Fazem parte das ciências filosóficas. Essas ciências não adotam sistemas, como de Espinoza e Descartes, mas estruturam em teoria as hipóteses relacionadas aos fatos experimentais da introspecção. No sistema de Espinoza, há uma só substância, Deus. Sua ideia é panteísta. Descartes, por sua vez, estabelece a matéria criada por Deus, e depois regida mecanicamente. E a alma como substância imaterial, agindo no corpo (que seria como um autômato) por meio de "espíritos animais", uma espécie de vapor orgânico vital. A psicologia espiritualista, se organizou com uma finalidade moral e social" [26/04/2022].

Convidamos os corações amigos para meditarem sobre o acima articulado.

Uberaba-MG, 26.04.2022
Beto Ramos.

quinta-feira, 21 de abril de 2022

A EXATA COMPREENSÃO DO QUE É: FAZER O BEM E FAZER O MAL

Segundo o Livro Terceiro, capítulo 1, A lei Divina ou Natural, especialmente no item 3, subtítulo O Bem e o Mal, na questão 629, Allan Kardec indagou aos Espíritos Superiores: que definição se pode dar à moral?

Os Espíritos então responderam que a moral é a regra da boa conduta e portanto da distinção entre o bem e o mal. E, explicando, afirmaram que "O homem se conduz bem quando faz tudo tendo em vista o bem e para o bem de todos, porque então observa a lei de Deus".

Para compreender a distinção do bem e do mal por si mesmo, segundo os Espíritos, a humanidade foi dotada da faculdade denominada inteligência, o que lhe permite discernir um do outro.

A ideia central esposada nesse campo do estudo filosófico, sem dúvida, está insculpida na máxima evangélica: "Não faças a outrem aquilo que não quererias que te fizessem; faze a outrem aquilo que quererias que te fizessem".

Portanto, o campo de investigação está naquilo que foi designado por Paul Alexandre Rene Janet (1823-1899), em seu Tratado Elementar de Filosofia (1885), como MORAL SOCIAL, isto é, os deveres que a humanidade tem reciprocamente, que em resumo é: fazer o bem, não fazer o mal.

Todavia, não é tão simples quanto parece, sendo necessária uma profunda reflexão, da qual tentaremos nos desincumbir. A priori, tem se compreendido que, de modo geral:

a. O bem vincula-se a 'dar prazer a alguém';

b. O mal vincula-se a 'fazer alguém sofrer';

Nesse sentido, Janet constrói o seu pensamento sobre o tema questionando: fazer o bem é entregar os objetos do desejo a alguém? Por exemplo: dar travesseiro macio ao preguiçoso, vinhos ao ébrio, maneiras e rosto afável ao velhaco mentiroso, um bom pulso ao sujeito violento?

Tudo isto satisfaria as paixões desses indivíduos. Mas, seria isto, então, fazer o bem? E, lado outro, fazer o mal é constranger as paixões alheias ou causar dor? Por exemplo, o cirurgião que corta a gangrena, o dentista que extrai o dente e o pai que educa o filho?

Nesse sentido, compreender o que é fazer o bem e fazer o mal é questão mais profunda. Um sofrimento causado pode proporcionar o bem (dor que causa prazer), enquanto o prazer que satisfaz paixões pode proporcionar o mal (prazer que causa dor).

Voltemos, assim, à máxima evangélica. Como compreender que não devemos fazer ao outro aquilo que não queremos que nos faça e fazer ao outro aquilo que desejamos que nos seja feito? Ora, em geral, ninguém quer ser punido ou corrigido, mas quer que seus vícios e suas paixões sejam satisfeitos.

É uma realidade. Contudo, Paul Janet, esclarece que esta interpretação rasa não provém dos indivíduos que já possuem a LEI DO DEVER. Neles, o sentimento é outro. É que o Evangelho não nos convida à tibieza e complacência. A ideia é outra: trata-se de uma VERDADE MORAL. Ou seja, a verdadeira e BOA VONTADE. E, nesse caso, não se trata da vontade das paixões, isto é, da MÁ VONTADE.

Carecemos, para bem compreender o assunto, fazer diferença entre os verdadeiros bens e os bens aparentes (falsos), os verdadeiros males e os males aparentes (falsos).

Vale questionar: quais são os males verdadeiros e os males aparentes quando se recomenda a NÃO FAZER O MAL?

Em Paul Janet vamos compreender que:

1. VERDADEIROS BENS: independem do prazer e se recomendam pela utilidade e pelo valor moral (Exemplo: saúde e educação).

2. FALSOS BENS: consistem exclusivamente no prazer (exceto no que diz respeito à utilidade e ao valor moral).

3. VERDADEIROS MALES: ferem o interesse (bem entendido) e a moral dos demais (Exemplo: miséria e corrupção).

4. MALES APARENTES: são momentaneamente sofridos, mas compensados por vantagens posteriores (Exemplo: medicamentos e repreensão da conduta).

Entramos, pois, no campo do DEVER MORAL. O bem aos outros deve ser compreendido como o bem entendido interesse deles, isto é, o BEM MORAL.

Em relação a si mesmo, o indivíduo não deve ter como FIM das ações praticadas, o interesse próprio. E, nesse ponto, Janet adverte para que esse raciocínio não seja estendido para os outros.

A FELICIDADE própria buscada, ensina o filósofo, NÃO TEM QUALQUER VALOR MORAL. Buscar a FELICIDADE ALHEIA, ao contrário, pode ter VALOR MORAL, desde que não se engane quanto ao VERDADEIRO sentido da palavra FELICIDADE.

Em Paul Janet, FELICIDADE não é confundida como uma SENSUALIDADE falaz e transitória. Finalmente, a máxima cristã deve ser compreendida como: uma VONTADE ESCLARECIDA que só queira para si o que estiver conforme o INTERESSE bem entendido e a virtude.

"Fazer aos outros quanto quereríamos que se nos fizesse, não lhes fazer aquilo que não quereríamos que se nos fizesse", resume perfeitamente a MORAL SOCIAL.

Uberaba-MG, 21/04/2022.
Beto Ramos.


FONTE:

JANET, Paul. Tratado Elementar de Filosofia. Domínio público. Pode ser encontrado na internet em PDF.

quinta-feira, 7 de abril de 2022

VIGIAR E PUNIR X ORAR E VIGIAR

 


Desde tempos imemoriais, as sociedades buscaram desenvolver sistemas judiciários e coercitivos para a defesa de direitos privados e públicos. Foi assim que, julgando tais sistemas adequados e necessários, puniam aqueles que consideravam injustos agressores por meios vários.


Processos punitivos variados, desde a violência física, onde o corpo do indivíduo era supliciado de maneiras cruéis e terríveis até que se chegou nos sistemas penitenciários dos tempos modernos.

Os injustos agressores, conforme o sistema legal primitivo, eram agredidos como medida de justiça. Na prática, era a replicação da lei de talião, expressão que é, na verdade, a corruptela da lei do 'tal e qual': 'olho por olho, dente por dente'.

Até Deus era usado para fundamentar esse sistema de castigos. Alegava-se que o motivo dos suplícios físicos era a salvação da alma do infrator. Perceba a presença da moral heterônoma. O castigo ou a recompensa é externa. O comportamento individual é determinado por 'vontades' externas ao indivíduo. Alguma coisa como 'vontade da maioria' em detrimento da 'vontade individual'.

Chegados ao século 21 permitimo-nos refletir:

- A humanidade está regenerada? Os indivíduos compreenderam como devem agir em relação uns com os outros? Há fraternidade e solidariedade imperando entre povos e nações do mundo? O sistema de castigo e recompensa impediu que os indivíduos desenvolvessem vícios e fossem arrastados por suas paixões? A educação individual se traduz na inclusão do outro?


A CURA PELA EDUCAÇÃO

Parece que a sociedade ainda não se libertou das amarras à tensão entre heteronomia e autonomia, ou moral exterior e moral da liberdade, que em última síntese é o mesmo que: vigiar e punir (leis humanas) x orar e vigiar (leis divinas).

Em que pese, no campo do direito penal, mudar expressões como 'castigo de delinquentes' para 'recuperação de infratores', ou 'punir criminosos' para 'readaptar delinquentes', fazendo crer que o objetivo, nos dias atuais, é tratar esses indivíduos obedecendo os princípios de dignidade e liberdade humanas, a sociedade não logrou êxito nas suas medidas correcionais contra criminosos.

Como base para nossa meditação, pedimos vênia para transcrever parte do texto desenvolvido por Kardec e os Espíritos Superiores na questão 685 de O Livro dos Espíritos, verbis

"[...] há um elemento, que se não costuma fazer pesar na balança e sem o qual a ciência econômica não passa de simples teoria. Esse elemento é a educação, não a educação intelectual, mas a educação moral. Não nos referimos, porém, à educação moral pelos livros e sim à que consiste na arte de formar os caracteres, à que incute hábitos, porquanto a educação é o conjunto dos hábitos adquiridosConsiderando-se a aluvião de indivíduos que todos os dias são lançados na torrente da população, sem princípios, sem freio e entregues a seus próprios instintos, serão de espantar as consequências desastrosas que daí decorrem? Quando essa arte for conhecida, compreendida e praticada, o homem terá no mundo hábitos de ordem e de previdência para consigo mesmo e para com os seus, de respeito a tudo o que é respeitável, hábitos que lhe permitirão atravessar menos penosamente os maus dias inevitáveis. A desordem e a imprevidência são duas chagas que só uma educação bem entendida pode curar. Esse o ponto de partida, o elemento real do bem-estar, o penhor da segurança de todos".

Que possamos preparar mentes e corações para o conhecimento dessa arte; que, verdadeiramente, seja objeto de nossas investigações a compreensão e a prática da mesma. O mundo não mudará por meio de milagre, coisas místicas ou sobrenaturais. Também não vai mudar com base em regras e estratégias humanas, onde alguns se arvoram em autoproclamarem-se divindades.

A verdadeira mudança inicia-se a partir de uma educação bem entendida. A humanidade está doente.

A educação é a cura.

Uberaba-MG, 07/04/2022.
Beto Ramos.

DESTAQUE DA SEMANA

A DOUTRINA DOS ESPÍRITOS NÃO É ASSUNTO QUE SE ESGOTA EM UMA PALESTRA

  EM SUAS VIAGENS KARDEC MINISTRAVA ENSINOS COMPLEMENTARES AOS QUE JÁ POSSUIAM CONHECIMENTO E ESTUDO PRÉVIO. Visitando a cidade Rochefort, n...