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segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

O MINISTÉRIO DE JESUS EM JERUSALÉM À LUZ DO ESPIRITISMO


No capítulo 5 do Evangelho de João, pela tradução de Haraldo Dutra Dias, vamos encontrar o seguinte título da perícope composta pelos versículos 19 a 47: Discurso sobre a obra do filho. No comentário de F. F. Bruce, da série Cultura Bíblica, editora Vida Nova, o título é O Ministério em Jerusalém.

O versículo 19 começa relatando que Jesus respondeu. Mas, respondeu a quem? É importante saber que nos versículos anteriores, 17 e 18, fora efetuada a conclusão do relato referente ao tema A Cura do Enfermo no Tanque Bethzatha (ou Betsaida).

O fato é que um homem, doente há mais de 30 anos, jazia num catre, uma espécie de cama de viagem, dobrável, rustica e pobre. Ele era paralítico. Jesus, vendo-o, questiona se ele queria ficar curado. Ao contrário de responder à pergunta, o homem começa choramingar e reporta sua dificuldade de se jogar no tanque (considerado 'milagroso'), pois não havia quem pudesse atirá-lo no mesmo e, na sua condição, não haveria como competir com os demais.

Jesus, então, ordena que ele se levante e ande. Foi o que aconteceu. Sem tanque, sem água milagrosa, somente pelo verbo.

Pois bem, o ser humano é muito estranho. Veja o desenrolar da história. Essa ocasião era um dia de sábado. Segundo a Lei Mosaica, vigente à época, o trabalho era proibido. Nesse caso, considerando trabalho qualquer atividade humana. Assim sendo, para os "fiscais da lei", pouco importava se era ou não paralítico, o caso é que naquele dia ele não poderia ser visto carregando seu catre. Os judeus, vendo-o, acusaram-no de cometer um ato ilícito.

E não é que o ingrato tenta se safar e aponta alguém da multidão como sendo quem o mandou fazer isso! Em meio a tanta gente ele não sabia identificar quem era.

No entanto, um novo encontro acontece. Agora, ele se depara com Jesus no Templo, o qual o adverte de que após ter se tornado são, não deveria pecar novamente para que algo pior não ocorresse.

Parece que esse homem não ouviu bem a advertência e foi até os judeus e 'dedurou' Jesus, afirmando que fora ele quem o curou. Era, talvez, um sábado atípico, pois, os judeus se depararam agora com dois casos de "trabalho ilícito" no sábado: o ex-paralítico carregando a cama e esse tal Jesus 'curando'.

Pois bem. Os judeus foram até Jesus confrontá-lo sobre o motivo pelo qual fazia essas coisas no sábado (por que não na sexta, ou no domingo?). Jesus dá uma resposta curiosa: "Meu Pai Trabalha, eu também trabalho".

Foi o estopim para acusá-lo de cometer blasfêmia, pois, para eles Jesus se tratava como filho de Deus e se comparava a Ele. Segundo eles, Jesus deveria submeter-se à Lei humana (no caso, a de Moisés).

É nesse contexto que tem início a próxima perícope do versículo 19. Então, Jesus vai responder a essa acusão de blasfemar e desobedecer à Lei mosaica referente ao sábado.

Vamos, agora, examinar o conjunto de razões apresentadas por Jesus, bem como o fato narrado e suas circunstâncias, suas implicações, o ensino de Jesus e como poderíamos sugerir uma proposta de interpretação à Luz do Espiritismo. Pedimos que o (a) leitor (a) tenha em mãos o texto dos versículos 19 a 47 do capítulo 5 do Evangelho de João.

Primeiramente, parece que Jesus explica o mecanismo da cura:

1. Não faz nada de si mesmo e só faz o que viu Deus fazendo;

2. Faz as coisas de forma semelhante ao fazer divino, ou seja, inspirado pelo AMOR DIVINO;

Há um processo evolutivo. Espíritos da hierarquia de Jesus estão em comunhão com Deus. Possuem um conhecimento amplo das Leis Naturais. Compreendem tanto as leis que regem o mundo físico como as leis que regem o mundo espiritual. São Espíritos puros que veem e compreendem Deus.

3. Jesus compreende e aplica os conceitos do magnetismo animal, ou seja, soergue a vontade do enfermo e lhe potencializa as propriedades biológicas de regeneração e cura do corpo físico. Manipula com clareza e compreensão os fluidos espirituais por meio do seu pensamento e sua vontade. Para tanto, usa o seu perispírito que possui densidade equivalente ao seu grau de adiantamento moral e promove o magnetismo espiritual (sugerimos o estudo do capítulo 14, Os Fluidos, da obra A Gênese de Allan Kardec).

4. Jesus afirma que Deus opotunizará a todos ali presentes conhecerem e realizarem coisas ainda maiores do que a cura do paralítico.

5. Porque o Pai levanta e vivifica os mortos, Jesus, sendo Espírito Puro, vivifica quem quiser. Ou seja, ele conquistou a plenitude de suas faculdades espirituais.

Trata-se do magnetismo de cura, onde o Espírito que conhece e compreende a manipulação dos fluidos, usa seu pensamento e sua vontade para soerguer a vontade de um doente.

No caso, quem são esses mortos? São as pessoas que desconhecem as Leis Naturais, praticam a moral do interesse. São aqueles que não se ocupam do autoesclarecimento. Vejamos o paralítico. O que ele representa? Um morto, isto é, alguém inerte, insensível consigo mesmo, sem ânimo para QUERER alguma coisa. Questionado por Jesus se quer ser curado, o que ele responde? ABSOLUTAMENTE NADA. Sua resposta não vem com um: EU QUERO!

O paralítico tinha alguma vontade, mas não a vontade necessária. Jesus, devido à sua posição espiritual na escala espírita, soergueu a pífia vontade do paralítico (afinal ele estava próximo ao tanque com algum propósito, mesmo inconscientemente).

6. O texto dá uma lição importante. Nem castigo, nem recompensa. À exceção de Jesus, todos os demais envolvidos na narrativa possuem as falhas humanas naturais do processo evolutivo. A lição é de autonomia, pois"o Pai não julga a ninguém, mas deu todo o juízo ao filho".

Claro que Jesus falou de si mesmo, mas falou para toda a humanidade, senão vejamos:

a. Quem avalia as próprias ações são os próprios Espíritos. Jesus afirma que Deus não julga os seus atos, mas lhe facultou a razão, a inteligência para tanto.

b. Ensina que a responsabilidade provém das escolhas que fizer. A razão de cada um dirá se são boas ou más ações. Esse é o julgamento que cada um faz individualmente.

c. Deus mostra como agir, Jesus age de acordo com o exemplo divino. Todos recebem o dom da vida de Deus. Jesus escolhe agir com o mesmo amor que aprende com o amor de Deus.

d. Trata-se da moral autônoma. Enquanto os judeus escolhem agir julgando a vida alheia, isto é, o que pode e o que não pode, o dia que pode e aquele que não, Jesus julga a si mesmo e escolhe ser útil.

e. Ao curar o paralítico, agiu movido pelo dever de ser útil. Diante da Lei mosaica da época quanto ao sábado, ESCOLHEU O ATO DO DEVER MORAL e PRATICOU A CARIDADE DESINTERESSADA.

Diante da lei humana, isto é, da justiça dos homens, escolheu a caridade: benevolência, indulgência e perdão.

Até aqui, conforme o Espiritismo, vimos os seguintes temas manifestos:

  • Lei de reencarnação;
  • Livre-arbítrio;
  • Autonomia;
  • Magnetismo animal;
  • Uso racional da vontade e do pensamento;
  • Ato do dever moral;
  • Caridade desinteressada; e
  • Magnetismo espiritual.

Aprendemos que todos tem direito à escolha. Há açoes humanas que se assemelham ao AMOR DE DEUS e há, também, aquelas que dele se distanciam. Vejamos que tudo que há na criação aproveita aos justos e aos injustos. Deus age desinteressado na contrapartida humana. Cada um é senhor de si para imitar a Deus ou não.

7. Jesus assume a condição de missionário, isto é, vem à Terra com um propósito. Trata-se do ESCLARECIMENTO sobre o mundo espiritual, sobre a dupla natureza do ser humano: corpo e Espírito. Portanto, podemos tirar lições desta narrativa.

LIÇÃO DA VIDA ETERNA (1): Jesus anuncia que o processo de reencarnação, em dado momento, encerra-se, pois, todos vão ascender na escala evolutiva. Para tanto, é necessário:

- Ter Jesus como modelo na ação cotidiana;

- Ter uma Fé Racional em Deus, que é Pai, não castiga, não recompensa e propõe "a cada um segundo suas obras", em conformidade sempre com as Leis Naturais.

- Só há céu/inferno ou julgamento para quem desconhece o mundo espiritual, as leis que o regem e a dupla natureza humana (trata-se aqui de esclarecimento).

LIÇÃO DA RESSURREIÇÃO: Jesus fala sobre passar da morte para a vida. No seu ministério fica claro que se trata de compreender o propósito da existência humana:

  • Igualdade;
  • Fraterniadade;
  • Solidariedade.

Há os mortos que vão ouvir o ensino de Jesus desde o seu ministério; Há aqueles que vão demorar um pouco mais. Mas, todos vão ouvir. Os que já conseguem ouvir são os que incluem os outros, se preocupam com eles, não agem como máquinas. Aqueles que ainda não conseguem ouvir agem pelas formas exteriores e TEMEM a DEUS. Quem ouve Jesus AMA A DEUS.

LIÇÃO DA CURA (a vida em si mesmos): Deus é, tem todos os atributos e perfeições. É vida em si mesmo (Deus não adoece). Jesus testemunha que todos possuem vida em si mesmos. A autocura, tema inicial da narrativa, reclama pensamento e vontade esclarecida.

Mas, essa condição é uma conquista progressiva do Espírito, como foi a de Jesus que, sendo filho de Deus, e afirmando Deus Pai, declara que TODOS SOMOS IRMÃOS.

LIÇÃO PARA VIGIAR A SOBERBA: Quem ouve e pratica o ensino de Jesus agora, progride. Avança. Mas, o progresso é uma Lei divina. Não haverá seleção, castigo, recompensa, céu ou inferno, pois, chegará a hora para que cada um desperte-se para ouvir essa voz (são as leis gravadas na consciência do Espírito humano).

Que voz é essa? É voz que te inspira a praticar o ATO DO DEVER MORAL, da CARIDADE DESINTERESSADA. É a voz que lhe conduz para as ESCOLHAS DIFÍCEIS EM BENEFÍCIO DO PRÓXIMO. É a voz da sensação de amor profundo e da felicidade alcançada nessas ocasiões.

LIÇÃO DA MIGRAÇÃO E DA EMIGRAÇÃO DOS ESPÍRITOS: A lei de progresso é inexorável. O planeta progride. Os bons ficam no planeta regenerado ou vão a outros acaso tenham atingido patamar mais alto. Aqueles que ainda lutam contra o processo evolutivo, vão ajudar no progresso de planetas semelhantes aos seus desejos e às suas paixões (sobre os mortos que ouvirão a voz do filho agora e a hora de ouvir que chegará para aqueles que estão nos sepúlcros - relação com o progresso intelecto-moral das gerações).

LIÇÃO DA VERDADE: Cada um só pode afirmar e fazer juízo de qualquer coisa a partir do esclarecimento que já atingiu acerca das coisas. O nível espiritual de Jesus é do Espírito que não luta contra as leis naturais. A vontade soberana de Deus estabeleceu essas leis, e à isso ele se conforma.

LIÇÃO DA MATURIDADE DO ESPÍRITO: Por que Jesus não aceita testemunho humano acerca de si mesmo? Pelo fato de não sofrer qualquer influência da matéria. Sabe que o ser humano é falível. Veja como agiu o paralítico que, mesmo curado de sua doença de 30 anos, não exitou em acusar a Jesus para se eximir da culpa que lhe seria atribuída ao ser surpreendido carregando a cama. Foi movido pelo medo.

LIÇÃO DA SALVAÇÃO: O conhecimento liberta. As lições de Jesus visam demonstrar um meio eficaz de acelerar o processo evolutivo. Seguindo seu exemplo os erros e os equívocos não são cometidos. Quem havia se desviado do caminho (pecou), agora, retorna em direção ao alvo (salvação).

LIÇÃO DA COMUNHÃO COM O PAI: Muitos afirmam manter relação direta com Deus. Jesus afirma que essa possibilidade só é possível para Espíritos que já atingiram sua hierarquia espiritual.

Os humanos NUNCA ouviram a VOZ DE DEUS. NUNCA VIRAM SUA APARÊNCIA. Para eles nem a palavra de Deus é permanente, pois, são inferiores e falíveis, agem pela moral do interesse e, de um lado, não possuem fé, ou, de outro, se ela existe não é racional.

LIÇÃO DO JULGAMENTO: A humanidade busca a glória humana e não glória em Deus. Seu nome é usado em vão na Terra.

Não há, no mundo espiritual, acusadores; o acusador de cada um é a própria consciência. Os judeus passaram a vida acusando os outros com base na Lei mosaica; Jesus afirma que serão por ela acusados. É que, cada um cria para si mesmo o mundo que procura (criações fludicas).

Jesus ensinou que as escrituras não possuem vida eterna, mas há informação a esse respeito nelas e não foram investigadas; disse que Moisés escreveu a seu respeito, mas eles não pesquisaram o assunto.

Segundo Jesus, o problema humano é de esclarecimento, mas acima de tudo... MORAL.

LIÇÃO DA VIDA ETERNA (2): Não há vida eterna nas coisas exteriores, como no caso das escrituras. Elas não constituem a palavra de Deus. Sua palavra se expressa na Sua Criação. A vida eterna é atingida ao se buscar imitar os atos de Jesus, o qual imita Deus, isto é, agir movido pela moral do dever e praticar a caridade desinteressada.

É assim que se nutre do AMOR DE DEUS em si mesmo. É assim que se encontra vida em si mesmo.

A vida eterna virá quando o olhar humano não mirar as coisas materiais, exteriores, e nem exortar o poder da riqueza, poder material. A vida eterna virá quando o ser humano se conscientizar que é ESPÍRITO.


Uberaba-MG, 06/12/2021
Beto Ramos.

APONTAMENTOS DOUTRINÁRIOS EM ESPIRITISMO

 

No estudo aprofundado do Espiritismo vários pontos, não é incomum, passam e não são notados ou se o são, não são meditados.

Observamos, por exemplo, que o Espiritismo não definiu o princípio inteligente. Do ponto de vista conceitual, temos que o espírito é o princípio inteligente do universo e vice-versa. No entanto, do ponto de vista doutrinário, para o Espiritismo a ALMA em si, ou melhor, o ELEMENTO ESPIRITUAL, continua sendo uma abstração. Isto quer dizer que o princípio inteligente não foi isolado para observação.

Se para o ser humano é assim, vejamos para os Espíritos. Sabemos que nem todos os Espíritos já atingiram a capacidade cognitiva que lhes permitam estudar o Espírito. Aqueles que alcançaram essa condição estudam o Espírito em si, mas, individualizado pelo seu perispírito.

Explicando! É por meio do perispírito que os Espíritos percebem o mundo e expressam sua vontade, seu pensamento e o seu sentimento. É a partir de seus fenômenos que as relações entre o Espírito e seu perispírito podem ser estudadas.

Conforme declarou Kardec em O Livro dos Espíritos, a Doutrina Espírita é resultado do ensino dos Espíritos superiores. Portanto, o Espiritismo é uma ciência com método e teoria próprios para estudar os fenômenos espíritas.

Destarte, uma opinião fundamentada sobre a Doutrina Espírita é fruto do trabalho daquele que busca conhecer o seu objeto de estudo, os fatos sobre os quais estabelece suas hipóteses, seu método, a teoria historicamente estabelecida, as causas e as leis que sua teoria revela.

No Livro Segundo de O Livro dos Espíritos, estes vão ensinar sobre o Mundo Espírita ou dos Espíritos, já n'O Livro dos Médiuns, Segunda Parte, capítulo 7, magníficas informações serão apresentadas sob o título Laboratório do Mundo Invisível. Por sua vez, na obra A Gênese, em seu capítulo 14, as instruções serão a respeito dos fluídos.

Estudando essas obras e os capítulos mencionados será possível compreender um pouco mais e melhor acerca dos fluidos espirituais, como os Espíritos os manipulam e como percebem o mundo espiritual.


Uberaba-MG, 06/12/2021
Beto Ramos

domingo, 28 de novembro de 2021

O MODELO DE EDUCAÇÃO MORAL PARA APRENDER A APRENDER

 


Você já parou para pensar sobre a sua mente? Como ela funciona? O que é? E como as coisas se apresentam para cada indivíduo em particular?


Não espere respostas simples para questões complexas. Nesse campo de indagações é sempre possível produzir uma variedade de contradições. Talvez, seria bom advertir: não espere respostas. Se assim é, convido para refletirmos juntos.

Podemos afirmar, com certeza, que a mente humana é ativa e não um mero recipiente que se possa preencher com informações passivamente.

O ser humano possui a qualidade única do autorreconhecimento. Como indivíduo, olha para o mundo promove e uma série incontável de relações, correlações, observações, análises, comparações, julgamentos, dúvidas, sistematizações, perguntas, problematizações (ufa!), etc.

A mente humana é organizada para sistematizar o que o ser humano vivencia, partindo de intuições, instituindo categorias, atribuindo sentido a todos os dados que o inundam e que chegam ininterruptamente por meio dos sentidos físicos.

Talvez por isso Hume, um pensador, afirmou que o conhecimento é construído a partir da experiência vivenciada pelo ser humano por meio dos sentidos físicos. No entanto, Kant, outro filósofo, afirmou que sem o aparato mental 'a priori' (ou inato), que dá início a todo o processo da experiência, a própria experiência seria impossível. O ser humano, então, cria a própria vivência do mundo.

Assim sendo, existem conceitos aplicados que são o resultado de experiências passadas (do aprendizado, digamos assim). Mas, sem dúvida, há outros que PRECEDEM essas experiências. São conceitos e ideias 'a priori', anteriores, também denominadas INATAS, pois, nascemos com elas (e.g. noções de espaço e tempo).

Pode-se dizer que as estruturas mentais do ser humano precedem as experiências. O que vale indagar se, no mundo da matéria, vivenciamos as coisas como elas são ou como aparecem para nós? Anote aí que vemos e interagimos com as coisas dentro do limite tempo e espaço. Deus, por exemplo, não está limitado pelo espaço, nem pelo tempo.

Hegel afirmou que as ideias nascem e evoluem gradualmente na direção de um sentido melhor e de uma compreensão maior da realidade.

É lícito questionar: todos os indivíduos que estão sendo bombardeados pelas ideias e conceitos possuem a mesma maturidade intelectual?

Vale dizer que uma ideia não é algo estático, nem fora do tempo, aguardando ser descoberta. Uma ideia provém de conhecimento, o qual é um processo cultural, histórico e dinâmico.

Historicamente, houve algúem que não gostou nada dessa coisa de 'mundo das ideias' e afirmou que o mundo dos fenômenos é ilusão, pois, o ser humano é controlado por seus desejos, que comanda tudo. Trata-se de Shopenhauer. Para ele, os seres humanos querem dar significado à propria existência (como algo superimportante), mas no fim possuem a só urgência de satisfazerem seus desejos.

Discordamos. Quando se fala em mente, logo se está pensando em consciência e liberdade. É aí que se busca descobrir ou construir um conceito ou significado de existência. Em um mundo de incertezas, o que dá sentido à vida são as escolhas feitas pelo indivíduo.

Cada um, todavia, será envolto nas próprias verdades (subjetivas). Isso leva cada um a agir, fazendo ou deixando de fazer uma coisa ou outra. Tudo baseado na sua intrínseca visão de mundo. 

A cosmovisão é o resultado de como o indivíduo vivencia suas experiências. Essa vivência se ampara nas construções mentais que, por sua vez, consideram as ideias inatas e as aprendidas [apreendidas?].

Se a personalidade sofre a influência de suas ideias inatas, o indivíduo não é resultado de uma só vida. Se já viveu traz o resultado de suas experiências em vários campos e é capaz de aprender em razão de novas vivências. Desse modo, pode ser influênciado tanto para o bem quanto para o mal.

Haveria, pois, a possibilidade de que todo indivíduo possa reconhecer essa sua 'dupla existência'? Numa palavra, os conflitos sociais, advindos dessa variedade de concepções de mundo, poderiam ser paulatinamente solucionados?

A resposta é positiva. Essa tentativa já foi implementada e obteve sucesso enquanto durou. O Espiritualismo Racional propôs um modelo educacional visando a moral da sociedade. Partiu da mudança de paradigma universitário, promovendo a formação de professores, no sentido de chegar à educação de jovens.

O método científico propõe como bases desse processo educativo:

1. Ensinar a pensar; objetivando formar o pensamento racional; ofertando a disciplina LÓGICA;

2. Ensinar a aprender; objetivando que o indivíduo se encontre com a verdade presente em sua consciência; ofertando a disciplina MORAL;

3. Ensinar a ser criativo; objetivando despertar o sentimento do bem e do belo; ofertando a disciplina ESTÉTICA.

Enfim, a proposta é de construção coletiva: aprender a aprender. Trabalhar, verdadeiramente, a causa dos conflitos sociais.

Nesse modelo não pode haver uma dominação conceitual impositiva. É preciso respeitar a liberdade e a experiência individual. A ideia é que cada um possa investigar procedendo uma análise, estabelecendo fatos para remontar as causas.

O Espiritismo moderno complementa o movimento espiritualista proclamando o elemento espiritual, após constatá-lo com clareza e esclarecendo sem evasivas. Compreende-se, assim, que para a Doutrina Espírita a evolução moral é um passo natural do desenvolvimento da humanidade.

Beto Ramos, Uberaba-MG, 28/11/2021.

Fonte principal de pesquisa:
FIGUEIREDO, Paulo Henrique de. AUTONOMIA - a história jamais contada do espiritismo. São Paulo: FEAL, 2019.

terça-feira, 23 de novembro de 2021

O ATO DO DEVER MORAL E A CARIDADE DESINTERESSADA

Quem não tem dúvidas, certamente, é porque não estuda. E, por falar nisto, vejamos quantas perguntas estão presentes apenas em uma proposta de reflexão. Por aqui, falando de ato do dever moral e a caridade desinteressada, podemos começar indagando:

  • O que é ato?
  • O que é moral?
  • O que é dever?
  • Onde podemos encontrar tais temas?

Partindo do final, esses temas pertencem à filosofia, à psicologia, ao espiritualismo racional e ao espiritismo, entre outras áreas do conhecimento e do saber.

Daí, outra pergunta: o que propõe o espiritualismo racional quanto ao ato, à moral e ao dever? Por que propõe? Qual a compreensão de moral anterior à proposta feita pelo espiritualismo racional?

Perceba que nossa jornada não será fácil. Vamos começar definindo e delimitando.

Ato, do latim actus, tem sentido de movimento; impulso. Ator é aquele que age, isto é, quem produz o ato. Esse, por sua vez, é o exercício da faculdade de agir. Ato, também considerado, pode ser o que se faz ou o que se deixa de fazer.

A ética definiu o ato como uma ação guiada por uma consciência livre e consciente. Outros campos, como filosofia e direito, também buscaram suas definições (se o leitor tiver interesse, busque o significado).

Quanto à moral, a filosofia ensina que se trata de cada um dos sistemas variáveis de leis e valores estudados pela ética. Tais leis e valores são diferentes conforme cada sociedade e seus comportamentos. Nessa categoria temos o que é proibido, permitido, desaconselhado, ideal e etc.

Segundo Kant, dever é o guia da AÇÃO MORAL do indivíduo. Nesse caso o indivíduo possui no dever o imperativo categórico. Fundado na raiz racional, o dever moral é um código de conduta auto imposto pelo indivíduo como um verdadeiro dever ser.

O dever moral, como sistema, é constituído basicamente pela VONTADE. Seu fundamento é a AUTONOMIA DA VONTADE, isto é, a liberdade.

Quando o estudante espírita se aprofundar na teoria espírita, cujo fundamento é o livre-arbítrio, vontade, autonomia, dever, moral, ato e ato do dever moral, não ficarão obscurecidos e serão facilmente compreendidos. Assim esperamos.

Importante destacar a evolução do pensamento recuperando a história. Igreja e religiões ancestrais pregavam, diversamente do espiritualismo racional e do espiritismo, uma MORAL DA SUBMISSÃO. O materialismo, como modelo de pensamento, defendia a MORAL DO UTILITARISMO. Em ambos os casos, como concepção, a MORAL era compreendida pelo prisma do INTERESSE. Nesse caso, o ser humano é passivo. Não há um ATO LIVRE, nem CONSCIENTE, isto é, todo ato visa a um interesse de quem age. Esse interesse se resume em angariar recompensa ou se livrar de um castigo.

O materialismo surgiu em face de uma tensão provocada pelo radicalismo fanático da igreja. E o motivo é bem simples: a igreja lutava contra a razão. Mas, ao seu turno, o materialismo vem como princípio da negação de tudo. Inaugura a incredulidade absoluta e com muita energia. É essa incredulidade que irá causar um vazio angustiante na sociedade (no caso da França, o período dessa tensão será caracterizado pela Revolução Francesa).

Nesse cenário de vazio e angústia o Espiritualismo Racional retomará o estudo das ciências morais a partir de uma psicologia experimental espiritualista (inédita e singular na história da ciência). O título Espiritualismo Racional foi usado para se diferenciar da tradição ancestral religiosa.

Esse movimento se caracterizou por:

  • Adotar a metodologia científica;
  • Buscar fazer com que o sucesso científico no estudo da matéria se repetisse no estudo do ser humano;
  • Compreender as leis naturais que fundamentam esse estudo.

Resumindo: substituir a fé cega por uma racional.

Importante ressaltar três momentos importantes para o movimento espiritualista racional, a saber:

a. O Espiritualismo Racional toma as ciências morais na universidade;

b. Passou a ser matéria fundamental da Escola Normal na formação de professores;

c. Segue como objeto de estudo, também, nos liceus e colégios franceses.

A partir daí, o movimento espiritualista racional seguiu pelo mundo, com destaque para Portugal, Espanha, países da América Latina e Brasil.

É preciso conhecer um pouco mais da história para fazer a correta conexão desse movimento com o Espiritismo, visto que a mesma é afirmada por Allan Kardec.

Falemos, então, sobre a moral da liberdade. Nem a submissão da igreja, nem o utilitarismo do materialismo. De um ser humano passivo, a moral racional busca um ser humano ativo e, portanto, propõe: 

"O ato moral é caracterizado por ser livre e consciente e é definido como o ATO DO DEVER, sem lugar para castigo ou recompensa".

Os pensadores do Espiritualismo Racional definem que o DEVER é o FUNDAMENTO da CARIDADE. É que, enquanto a JUSTIÇA é o cumprimento do dever (estabelecido pelo grupo social), a CARIDADE está LIVRE para AGIR sem vínculo a qualquer INTERESSE.

O bem moral supõe o bem natural que lhe é anterior e lhe serve de fundamento. Funciona assim: agir em prol de um bem moral é uma escolha racional, pois:

  • Não há busca de obediência a Deus, nem é resultado do medo ou do castigo;
  • Nada de imposição, seja por Deus ou pela sociedade.

O bem moral consistirá, conforme ensina Paul Janet (1886), em preferir:

  • O que há de melhor em nós em detrimento do que há de inferior;
  • Os bens da alma em detrimento aos bens do corpo;
  • A dignidade humana em detrimento da servidão das paixões animais;
  • As nobres afeições do coração em detrimento das inclinações de um vil egoísmo.
Indaga-se, nesse sentido: Onde está presente a LEI MORAL, uma vez que essa é o GUIA DO ATO DO DEVER MORAL?

Segundo se observará, está presente na natureza do ser, isto é, em sua consciência. Portanto, o pressuposto para o AGIR do indivíduo pelo BEM MORAL é que aceite a lei moral presente em sua consciência como verdadeira e lhe reconhecer a aplicação necessária em cada caso particular.

A consciência, lugar onde a lei moral está presente, é definida como a faculdade de reconhecer a lei moral e aplicá-la a TODAS as circunstâncias que se apresentem. Consciência é o ATO DO ESPÍRITO pelo qual aplicamos a um caso particular, a uma AÇÃO a se praticar ou já praticada, AS REGRAS GERAIS DADAS PELA MORAL.

O despertar dessas leis morais, presentes na consciência não surge como por mágica. As regras gerais da moral vão permear um conceito criado pelo Espiritualismo Racional: a regeneração da humanidade. Por ele se postula o direito primordial à educação ativa, que compreende:

  • A conquista de oportunidade para todos;
  • Criar um novo mundo, pelo ato solidário e pela nova educação transformadora.

São postulações por LIBERDADE, onde há direito de:

  • Pensamento (ensino livre);
  • Consciência (liberdade de crença); e,
  • Moral (dever).

É preciso recordar que o termo LIBERDADE é uma construção do pensamento liberal, o qual possui significado especial para o Espiritualismo Racional e para o Espiritismo.

O movimento liberal francês pretendia estabelecer no ambiente social uma RELIGIÃO NATURAL e um DEUS FILOSÓFICO, todo AMOR E JUSTIÇA, sem o exclusivismo das seitas que causa divisão. Trata-se, portanto, do LIBERALISMO ÉTICO. Aqui se compreende a ideia anterior, isto é, liberdades individuais da alma: de pensamento, de crença e de escolha do ato moral.

Em 1868, na Revista Espírita, Kardec afirmou que o Espiritismo é uma Doutrina Liberal. Essa doutrina preconiza:

  • Emancipar a inteligência pela liberdade de consciência;
  • Combater a fé cega por meio do livre exame como base essencial de toda crença séria.
É assim que a compreensão da expressão fora da caridade não há salvação, em Espiritismo, será compreendida como um princípio de união e fraternidade universais, único que pode por um termo aos antagonismos dos povos e das crenças.

Atualmente, a caridade é compreendida como sinônimo de assistencialismo. Para Kardec, o termo tinha outro significado. Baseado no Espiritualismo Racional representa o AGIR PELO DEVER. Uma ação livre, mas consciente, totalmente intencional, com plena compreensão da lei moral.

A caridade é um princípio orientador do AGIR INTEGRAL DO SER. Em Kardec não é atividade complementar, não é comportamento acessório. 

Como afirmado, a humanidade, para regenerar-se, sofrerá um despertar dessas leis morais presentes em cada consciência por meio da educação. O ato do dever, que é o fenômeno moral, é analisado pela MORAL TEÓRICA, uma das disciplinas estudadas nas universidades do século 19 na França em uma ciência filosófica: o Espiritualismo Racional.

Em 1864, na Revista Espírita, Allan Kardec afirmou que a MORAL DOS ESPÍRITOS superiores é a mesma dos espiritualistas racionais, isto é, A MORAL AUTÔNOMA, baseada no ATO DO DEVER, que é livre, consciente e VOLUNTÁRIO.

Indivíduos que escolhem novos hábitos, agindo por sua livre escolha de modo solidário, exercem o ATO DO DEVER e estabelecem a CARIDADE ao lado da JUSTIÇA.

Apesar da definição inicial é importante deixar claro: o que é o ato do dever ensinado para jovens, a partir de uma educação que o torna ativo e consciente do seu papel no mundo onde se busca a REGENERAÇÃO DA HUMANIDADE?

É o próprio AGIR do ser humano pelo ATO DO DEVER, que além de respeitar a justiça, PRATICA A CARIDADE, ou seja:

"proporcionar aos outros aquilo que desejaria pra si mesmo (a moral social)".

A MORAL PRÁTICA, nas ciências filosóficas admite a segunda divisão para os deveres:

  1. Deveres para com os animais;
  2. Para consigo mesmo;
  3. Para com os indivíduos; e
  4. Para com Deus.

Vamos encontrar correspondência entre essa proposta espiritualista racional em espiritismo. Essa classificação dos deveres, a divisão de temas e a abordagem conceitual da moral prática do Espiritualismo Racional estão presente na Doutrina Espírita. Na parte terceira de O Livro dos Espíritos, que trata das leis morais, encontraremos:

  • DEVERES PARA CONSIGO:
    - Lei do Trabalho

    - Lei de Conservação

    - Lei de Liberdade

  • DEVERES PARA COM OS OUTROS:
    - Deveres da família;

    - Casamento;

    - Pais, filhos, e sociais;

  • DEVERES PARA COM DEUS:
  - Imitação de Deus (buscar se aproximar de Deus indefinidamente);

    - Aperfeiçoamento do seu ser.


Para todos que conseguiram chegar até aqui, parabéns e obrigado.


NOSSA FONTE PRINCIPAL DE PESQUISA:

FIGUEIREDO. Paulo Henrique de. Autonomia - a história jamais contada do Espiritismo. São Paulo: FEAL, 2019 (exemplar digital Amazon).


Uberaba-MG, 23/11/2021.
Beto Ramos

ÉTICA, MORAL E SOCIEDADE...

 

Aristóteles falou, para Nicômaco, de uma ação voluntária e moral do indivíduo. Algo diferente da política.

Maquiavel observou com mais clareza a realidade e enxergou o essencial atrás de meras aparências, reconhecendo que a política é, antes de tudo, o exercício de escolha.

Weber, também, viu uma pseudo ética protestante se aliando ao "espírito" do capitalismo.

Mas, antes, Hobbes falou da matéria, forma e poder de um Estado eclesiástico e civil: seria o verdadeiro LEVIATÃ. Não obstante, acusar o ser humano de ser o "lobo" dele mesmo.

Platão sonhou com a República e Rousseau fundamentou esse contrato social.

Dividindo poderes, propondo estabelecer uma base harmônica do contrato na república, Montesquieu tratou de falar sobre o espírito das leis.

Nietzsche, observando tudo do alto daquilo que alguns entenderam como loucura, entreviu uma complexidade e, diferente de Aristóteles, buscou saber sobre a genealogia da moral: o que move o ser humano?

Kafka contou a história de um processo e Foucalt, diante de um julgamento histórico da civilização, cujo sistema é o de vigiar e punir os que teimam em mostrar que a igualdade plena se encontra nas diferenças, demonstrou a violência nas prisões.

Mas, contemporaneamente, é Bandeira de Melo que irá alertar: há um conteúdo jurídico no princípio da igualdade.

Se não amor e respeito bastante para compreender o conteúdo divino da igualdade entre os direfentes, os filósofos precisam continuar espalhando seu amor à sabedoria, pois, ainda agora, a CRISE DA HUMANIDADE É MORAL.

Uberaba-MG, 23/11/2021.
Beto Ramos.

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